Platibanda – Wikipédia, a enciclopédia livre

Casa típica do Algarve, no Sul de Portugal, com platibanda e chaminé algarvia.

Platibanda é o termo arquitectónico designa uma faixa vertical (muro ou grade) que emoldura a parte superior de um edifício e que tem a função de esconder o telhado.[1][2][3] Podendo ser utilizado em diversos tipos de construção, como casas e igrejas, tornou-se um ornamento característico durante o estilo gótico. É o principal elemento característico das casas típicas da região do Algarve, em Portugal.

Modernamente, é comum o uso de platibandas em casas que foram residenciais e passaram a abrigar algum tipo de comércio. Para esconder a antiga vocação do imóvel, moderniza-se a fachada e coloca-se uma platibanda (que pode ser uma parede mais alta que o telhado, para assim escondê-lo e tirar a aparência de casa).

Em Portugal, a ornamentação do coroamento das edificações foi utilizada amplamente entre o Romantismo até o início do século XX; e possuía o mesmo efeito das ornamentações de arquitetura inspirada na Antiguidade Clássica.[4] No Brasil, o neoclássico foi o estilo mais usado em um determinado período de tempo e "o uso da platibanda era regra absoluta".[5]

Platibanda do Hotel Ilhéus com iniciais, em Ilhéus-BA.
Platibanda da Antiga Farmácia Cabral com nome de empresa, em Ilhéus-BA.

A regra do estilo chegou ao ponto de que, em  1886, o  Código  de  Posturas de  São  Paulo indicou a obrigatoriedade nacional do uso de platibandas.[6] Naquela época, a arquitetura erudita tinha como uma de suas características o telhado em duas águas que, na frente da edificação, terminava em um pequeno beiral. Desse modo, a platibanda substituía o pequeno beiral e evitava a queda das águas do telhado sobre quem passasse pelas calçadas.[7] Ou seja, em princípio, as platibandas eram uma medida higienista, mas, com o tempo, a elas foram também incorporados diversos elementos decorativos.[6] No Recife-PE, o uso da platibanda passou a ser obrigatório ainda antes, a partir de 1830, quando o engenheiro alemão João Bloem foi contratado pela Câmara Municipal para coordenar a modernização urbana da cidade. O mesmo impôs "a reforma das biqueiras e a colocação de platibandas com cornijas".[6] Na cidade de Belém-Pará-Brasil, a norma foi imposta pela Secretaria de Obras do Município entre os anos 1900 e 1940, e exigia que o proprietário, para realizar qualquer melhoramento na edificação, também executasse a construção de platibandas com calhas.[6] Também o Código de Posturas da cidade do Salvador-BA, de 1921, foi publicado com os mesmos objetivos e, na postura de número 35, lê-se:

Platibanda de edificação em São Carlos-SP onde se vê um ano gravado.

[8] Essa mudança construtiva foi possível por conta da abertura dos portos brasileiros para o mercado mundial, que possibilitou a importação de equipamentos[6] e também elementos decorativos. No Brasil, as platibandas de prédios públicos e religiosos passaram a ser ornadas desde os anos 1800, inicialmente com ornamentos em pedra e depois em cerâmica, que indicavam a função da edificação, por meio do revivalismo. "Os ornamentos nas platibandas simbolizavam riqueza e erudição, por ser atribuídos à elite, desde a época Moderna".[4] Os ornamentos cerâmicos vitrificados provinham da Revolução Industrial na Europa, principalmente de fábricas portuguesas, e eram escolhidos em catálogos. Nos séculos XIX e XX, havia também elementos em cantaria ou argamassa, produzidos localmente, divulgados nos jornais e vendidos em armazéns locais e lojas de materiais de construção.[4]

A popularização dos ornamentos das platibandas chegou ao interior do Nordeste quando os construtores locais visitavam as capitais e se inspiravam em suas edificações.[4] Os ornamentos das platibandas refletiam não só os gostos dos construtores e dos proprietários, mas também são importantes fontes de dados históricos e identitários: muitas das platibandas apresentam a data da construção da edificação, signos da cultura dos primeiros proprietários, iniciais ou nomes dos estabelecimentos comerciais que ali funcionavam.[9]

Referências

  1. «Platibanda». Engenhariacivil.com. Consultado em 5 de fevereiro de 2020 
  2. S.A, Priberam Informática. «platibanda». Dicionário Priberam. Consultado em 7 de novembro de 2022 
  3. «Platibanda | Dicionário de Engenharia Civil». Consultado em 7 de novembro de 2022 
  4. a b c d Arruda, Tainá Chermont; Sanjad, Thais Alessandra Bastos Caminha (2017). «Ornamentos de platibanda em edificações de Belém entre os séculos XIX e XX: inventário e conservação». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material: 341–388. ISSN 0101-4714. doi:10.1590/1982-02672017v25n0310. Consultado em 7 de novembro de 2022 
  5. a b Marques Júnior, Arnaldo Ferreira (Coord.). Inventário de estilos arquitetônicos da cidade de Santos. Santos-SP: Ensino e Memória Produções Editoriais, outubro de 2011. Disponível em: https://www.santos.sp.gov.br/static/files_www/conselhos/CONDEPASA/inventrio_de_estilos_arquitetnicos_da_cidade_de_santos.pdf Acesso em: 06-11-2022.
  6. a b c d e Dantas, Hugo Stefano Monteiro; Cabral, Renata Campello (15 de dezembro de 2020). «ARQUITETURA POPULAR DE PLATIBANDA NORDESTINA: NOTAS SOBRE ENQUADRAMENTOS DISCURSIVOS E TERMINOLOGIAS». Mnemosine Revista (2): 110–123. ISSN 2237-3217. Consultado em 7 de novembro de 2022 
  7. CAL, Carmen Lúcia Valério. Esboço da evolução da arquitetura residencial em Belém na primeira metade do século XX. Revista do Tecnológico, v. 2, n. 1, janeiro/junho 1989. Disponível em: https://fauufpa.files.wordpress.com/2011/11/esboc3a7o-da-evoluc3a7c3a3o-da-arquitetura-residencial-em-belc3a9m-na-preimeira-metade-do-sc3a9culo-xx.pdf Acesso em: 06-11-2022.
  8. Costa, Aline de Caldas. Imaginário e percepção da paisagem pelo artesão: um olhar sobre as esculturas de fachadas com platibandas de Fabrício Küster. Culturas Populares, Revista Electrónica, v. 5, jul.-dez. 2007. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/58910066.pdf Acesso em: 06-11-2022.
  9. Silva, Marcos; Bispo, Isis Carolina Garcia. Enigmas do passado do nordeste brasileiro e sua exemplar presença na história de Cedro de São João, SE. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História, Fortaleza, 2009. Anais... Disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/anpuhnacional/S.25/ANPUH.S25.0141.pdf Acesso em: 06-11-2022.
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