Quilombolas – Wikipédia, a enciclopédia livre
Quilombolas são habitantes de quilombos, um fenômeno típico das Américas. Inicialmente no período brasileiro da escravidão este termo representava os africanos escravizados e os afrodescendentes que fugiram dos engenhos de açúcar, fazendas e pequenas propriedades para formar os vilarejos chamados quilombos,[1] contemporaneamente este refere-se aos descendentes dessas pessoas que foram escravizadas, que vivem em comunidades rurais, suburbanas e urbanas caracterizadas pela agricultura de subsistência e por manifestações culturais que têm forte vínculo com o passado africano.[1][2]
Mais de quinze mil comunidades quilombolas espalhadas pelo território brasileiro mantêm-se atuantes, lutando pelo direito de propriedade de suas terras consagrado pela Constituição Federal desde 1988.[3] Tais comunidades estão dispersadas por boa parte do território brasileiro, sobretudo nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. O quilombo é considerado uma das primeiras formas de luta popular no Brasil, formado por pessoas em conflito com o sistema de governo colonial, que enfrentaram a opressão criando uma nova sociedade e economia.[4]
Comunidades quilombolas, juntamente com outros movimentos sociais camponeses articulados, nas últimas décadas conquistaram o direito à educação básica do campo. Trata-se de uma educação com características diferenciadas do ensino escolar tradicional, particularmente em relação ao regime de alternância.
Etimologia
[editar | editar código-fonte]O quilombola é a pessoa que reside no quilombo;[5] a etimologia do termo "quilombola" é controversa, fontes apontam que ele pode ser derivado do tupi "cañybó", que significa "aquele que foge muito",[6] ou de um termo bantu significando «acampamento guerreiro na floresta".[4]
De acordo com o linguista e lexicógrafo brasileiro Antenor Nascentes, o termo "quilombo" é um cruzamento com o termo tupi "canhembora" e, de acordo com o escritor e etnólogo brasileiro Óscar Ribas, este termo é o cruzamento com o termo quimbundo "kuambolola", que representa "surrupiar" ou "levar escondido".
No século XVI, eram denominados mocambos. O termo quilombo surge no final do século XVII, e, ao longo do século XVIII, ambos os termos eram adotados em documentos coloniais para caracterizar comunidades de fugitivos. Já no século XIX, há registros de que os quilombos não se localizavam apenas em áreas rurais, mas também em áreas urbanas, subúrbios das cidades escravistas.[7][nota 1]
Educação escolar
[editar | editar código-fonte]Segundo o parecer CNE/CEB nº 16 de 2012[8]
A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade cultural.
Comunidades remanescentes quilombolas
[editar | editar código-fonte]- 1.209 comunidades certificadas
- 143 áreas com terras já tituladas
- Estados com maior número de comunidades remanescentes quilombolas: Bahia (229), Maranhão (112), Minas Gerais (89) e Pará (81).[9]
Comunidades
[editar | editar código-fonte]Lista de comunidades quilombolas que receberam títulos de órgãos fundiários (federais, estaduais, municipais):[10][11]
- Abacatal-Aurá
- Abui
- Acapú
- Acaraqui
- África
- Água Fria
- Alto Ipixuna
- Alto Itacuruça
- Alto Pucurui
- Aningal
- Apui
- Araçá
- Aracuan de Baixo
- Aracuan de Cima
- Aracuan do Meio
- Arapapu
- Araquenbua
- Bacabal
- Bailique Beira
- Bailique Centro
- Baixinha
- Baixo Itacuruça
- Bananal
- Barra
- Barro Vermelho
- Bela Aurora
- Boa Vista
- Boa Vista do Cuminá
- Bom Remedio
- Caiana dos Crioulos
- Camiranga
- Campelo
- Campinho
- Campopema
- Carará
- Castainho
- Catanhaduba
- Conceição dad Crioulas
- Coração
- Costeiro
- Cuecê
- Cupu
- Curiaú
- Eira dos Coqueiros
- Espírito Santo
- Flexinha
- França
- Furnas da Boa Sorte
- Furnas do Dionísio
- Guarajá Miri
- Igarapé Preto
- Igarapé São João
- Igarapezinho
- Itacoã Miri
- Itamaoari
- Ivaporunduva
- Jarauacá
- Jauari
- Jenipapo
- Jenipaúba
- Jocojó
- Jurussaca
- Kalunga
- Laranjituba
- Mãe Cue
- Mangal
- Maria Ribeira
- Maria Rosa
- Mata
- Mata Cavalo
- Mocambo
- Mocorongo
- Nossa Senhora da Conceição
- Paca
- Pacoval
- Pancda
- Panpelônia
- Paraná do Abui
- Pedro Cubas
- Poção
- Porto Coris
- Porto dos Pilões
- Rio das Ras
- Rio Tauaré-Açu
- Sagrado
- Santa Fé
- Santa Maria de Mirindeua
- Santa Rita de Barreiras
- Santana
- Santo Antonio
- Santo Antonio dos Pretos
- Santo Cristo
- São Bernardo
- São José
- São Jose do Icatu
- São Pedro
- Serrinha
- Silêncio
- Tapagem
- Teófilo
- Terra Preta II
- Vale do Guaporé
- Varre Vento
- Varzinha
Outras comunidades (do Rio Grande do Sul)[12][13]:
- Algodão
- Alpes
- Areal – Guaranha
- Cambará
- Cantão das Lombas
- Caleira (São Gabriel - RS)
- Chácara Barreto
- Cerro do Ouro (São Gabriel - RS)
- Estância da Figueira
- Favila
- Moçambique
- Madeira
- Manoel Barbosa
- Monjolo (Serrinha)
- Morro Alto
- Mutuca
- Paredão
- Passo do Lourenço
- Passos do Brum
- Rincão do Santo Inácio
- Serrinha do Cristal
- Sítio Novo
- Várzea dos Baianos
- Vila do Torrão (Cantagalo)
- Von Bock (São Gabriel - RS)
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Calunga
- Negro (pessoa)
- Afro-brasileiro
- Movimento negro no Brasil
- Zumbi dos Palmares
- Quilombo dos Palmares
- História da escravidão
- Tráfico negreiro
- Abolicionismo
- Abolicionismo no Brasil
- Lei Áurea
- Escravidão
- Escravidão por dívida
- Escravidão na África
- Lista de livros com tema afro-brasileiro
- Museu Afro-Brasileiro
- Terras quilombolas no Brasil
- Carivaldina Oliveira da Costa
Notas
- ↑ Este artigo incorpora texto de um trabalho de conteúdo livre. Licenciado em CC-BY-4.0 Declaração da licença: Monteiro, Elaine; Reis, Maria Clareth Gonçalves (15 de julho de 2019). «Patrimônio Afro-Brasileiro no Contexto da Educação Escolar Quilombola». Educação & Realidade. ISSN 0100-3143. doi:10.1590/2175-623688369. Consultado em 27 de janeiro de 2022, Para aprender como acrescentar texto de licenças livres a artigos da Wikipédia, veja em agregar textos em licença livre na Wikipédia. Para mais informações sobre como reutilizar texto da Wikipédia, veja as condições de uso.
Referências
- ↑ a b Rio, UNIC (24 de março de 2020). «Combate ao racismo passa pela luta por propriedade, diz ativista brasileiro». Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio de Janeiro). Consultado em 18 de outubro de 2024
- ↑ «Educação Quilombola». Consultado em 4 de setembro de 2018
- ↑ Adm. do sítio (2008). «Visões quilombolas». Koinonia.org.br. Consultado em 10 de fevereiro de 2014
- ↑ a b Leite, Ilka Boaventura (dezembro de 2008). «O projeto político quilombola: desafios, conquistas e impasses atuais». Revista Estudos Feministas. 16 (3): 965–977. ISSN 0104-026X. doi:10.1590/S0104-026X2008000300015. Consultado em 5 de abril de 2020
- ↑ Pereira, Neuton Damásio (2015). «A trajetória histórica dos negros brasileiros : da escravidão a aplicação da lei 10639 no espaço escolar». Consultado em 18 de outubro de 2024
- ↑ FFLCH — USP (2005). «Glossário Sertanejo» (PDF). Cursos de tupi antigo e lingua geral (Nheengatu). Consultado em 10 de fevereiro de 2014
- ↑ Monteiro, Elaine; Reis, Maria Clareth Gonçalves (15 de julho de 2019). «Patrimônio Afro-Brasileiro no Contexto da Educação Escolar Quilombola». Educação & Realidade. ISSN 0100-3143. doi:10.1590/2175-623688369. Consultado em 27 de janeiro de 2022
- ↑ Custódio, Elivaldo Serrão; Foster, Eugénia da Luz Silva (9 de maio de 2019). «Educação escolar quilombola no Brasil: uma análise sobre os materiais didáticos produzidos pelos sistemas estaduais de ensino». Educar em Revista: 193–211. ISSN 0104-4060. doi:10.1590/0104-4060.62715. Consultado em 27 de janeiro de 2022
- ↑ «Educação Quilombola». Consultado em 4 de setembro de 2018
- ↑ TÍTULOS EXPEDIDOS ÀS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE 1995 ATÉ A ATUALIDADE, POR ÓRGÃOS FUNDIÁRIOS FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS E COM BASE EM DISTINTAS LEGISLAÇÕES APLICADAS (PDF). [S.l.]: Coordenação Geral de Regularização de Territórios Quilombolas / Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Resumo divulgativo
- ↑ ANDAMENTO DOS PROCESSOS - QUADRO GERAL EXCLUSIVAMENTE PROCESSOS ABERTOS NO INCRA, DE 2003 ATÉ A ATUALIDADE, NA VIGÊNCIA DO DECRETO 4.887/2003 (PDF). [S.l.]: Coordenação Geral de Regularização de Territórios Quilombolas / Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)
- ↑ Bairros, Fernanda Souza de (2017). Oficinas Culinárias em COMUNIDADES QUILOMBOLAS do Rio Grande do Sul: INGREDIENTES E MODO DE FAZER (PDF). Porto Alegre: Universidade federal do Rio Grande do Sul. 60 páginas. Consultado em 22 de maio de 2019 line feed character character in
|título=
at position 35 (ajuda) - ↑ Bairros, Fernanda Souza de (2013). (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR E ACESSO AOS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 137 páginas. Consultado em 22 de maio de 2019 line feed character character in
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at position 37 (ajuda)
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «2011 - ONU lança Ano Internacional para Afro-Descendentes». www.unmultimedia.org
- «Observatório Quilombola». www.koinonia.org.br
- «Programa Brasil Quilombola do governo federal». www.mda.gov.br
- «Fundação Cultural Palmares». www.palmares.gov.br
- «Comissão Pró-Índio do estado de São Paulo». www.cpisp.org.br
- «Cordel Quilombola». - tratando do tema em linguagem de cordel
- «Incra»