Relações exteriores da China – Wikipédia, a enciclopédia livre
As relações exteriores da China são desenhadas sobre tradições que remontam a China imperial da Dinastia Qing e das Guerras do Ópio, apesar da sociedade chinesa ter passado por muitas revoltas radicais nos últimos dois séculos e meio.
O objetivo da política externa chinesa é manter uma China forte, independente, poderosa e unida, e uma das grandes potências mundiais. O estabelecimento da política externa chinesa afirma que não há, na busca deste objetivo, nenhuma ambição hegemônica ou belicista.
A República Popular da China mantém a completude da soberania, então o governo de Pequim não permite qualquer estado com o qual tenha relações diplomáticas ter relações diplomáticas com Taiwan (República da China), Governo do Tibete no exílio ou grupos do Movimento Independentista do Turquestão Oriental (Xinjiang).
Suas relações exteriores são a maneira como a República Popular da China interage com as demais nações e organizações estrangeiras. Como uma das grandes potências e uma superpotência emergente, a política externa da China é de extrema influência no cenário global. A China declara oficialmente que "procura uma política internacional e independente de paz" e define os alcances de seus esforços como sendo "a preservação da independência, soberania e integridade territorial, criando um desenvolvimento internacional favorável para a reforma do país e a construção da modernização, mantendo a paz mundial e o desenvolvimento comum".[1] Um exemplo de decisão diplomática firmada nos termos "soberania e integridade territorial" é o não envolvimento diplomático com qualquer país que reconheça a República da China, não reconhecida como um Estado soberano por Pequim.[2][3][4] A República Popular da China é membro de inúmeras organizações internacionais; detendo posições importantes como a Membresia permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os objetivos da diplomacia chinesa eram expansionistas por defenderem uma revolução comunista mundial antes do fim da Revolução Cultural.[5] Na década de 1970, a China assumiu a vaga de Taiwan através da Resolução 2758. Como uma potência nuclear, o país assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares no contexto das Nações Unidas. A política externa atual da China é marcada pelas alianças estratégicas com os países vizinhos e outras potências mundiais para o alcance de seus interesses nacionais, criando um desenvolvimento favorável à sociedade chinesa.[6]
Questões internacionais
[editar | editar código-fonte]A China faz fronteira com quatorze países (por terra) e 7 países (por mar). Somente a Rússia possui tantas nações limítrofes (14 fronteiras terrestres e 12 marítimas). Muitas disputas territoriais têm crescido e sido solucionadas, enquanto outras permanecem sem determinação. Recentemente, estas questões têm sido politizadas pelos Estados Unidos como parte de sua "política de contenção da China"[7] e especialmente na Política externa de Barack Obama.
Não reconhecimento
[editar | editar código-fonte]Os seguintes países não reconhecem a República Popular da China como um Estado legítimo e soberano. Pelo contrário, estes países reconhecem a República da China como o Estado representante do povo chinês.
País | Reconhecimento anterior | Período anterior ao Não reconhecimento |
---|---|---|
Essuatíni | 1968 | |
Vaticano | 1950 | |
Ilhas Marshall | 1990 - 1998 | |
Palau | ||
Belize | 1987 - 1989 | |
Guatemala | 1960 | |
Haiti | 1965 | |
Paraguai | 1957 |
Disputas territoriais
[editar | editar código-fonte]As disputas territoriais com outros países incluem:[8]
- As reivindicações oficiais da República da China ou Taiwan de ser reconhecida como o governo legítimo da "Grande China", com o governo de jure de toda a China continental e Mongólia Exterior, controlados pela República Popular da China e pela Mongólia. Por outro lado, Pequim reivindica o controle sobre a Ilha de Taiwan e os arquipélagos de Kinmen e Matsu.
- Dez localidades ao longo do rio Yalu estão em disputa com a Coreia do Norte.
- Disputa de fronteira com a Índia; a Índia reivindica o controle de Aksai Chin, perdida após a Guerra Sino-Indiana de 1962, enquanto a China reivindica grande parte do estado de Arunachal Pradesh.
- A China, assim como Taiwan, reivindica o controle sobre as Ilhas Senkaku, atualmente administradas pelo Japão.
As disputas territoriais citadas acima entre a República Popular da China e a República da China variam da questão de qual governo é o governo legítimo da China. Taiwan, que se auto-declara como o Estado sucessor da Dinastia Qing, não renunciou a nenhum dos territórios sob controle de outras nações (incluindo a Mongólia), mas não têm manifestado interesse em fortalecer sua posição. A RPC, que herdou as disputas, têm solucionado muitas delas através de acordos e tratados bilaterais com a Rússia e a própria Mongólia. A este respeito, as disputas territoriais na região podem ser consideradas como de Taiwan com os países vizinhos.
A Bloomberg News relata que estas disputas estariam minando as tentativas da China de desviar seus vizinhos da influência norte-americana.[9] Devido à ausência de aliados naturais ou nações amigas, a China tendeu mais à sua força militar para solucionar tais disputas. A China têm marcado aumentos percentuais duplos em seu orçamento militar nos anos recentes, embora com o declínio de seu crescimento econômico de 1.4% para 1.3% entre 2006 e 2011.[10] Em 2013, isto fez com que até mesmo as Filipinas convidasse de volta os investidores norte-americanos e japoneses.[11]
Em maio de 2015, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos Ashton Carter advertiu a China a suspender a construção de ilhas artificiais no Mar do Sul.[12][13]
Drogas ilícitas
[editar | editar código-fonte]A legislação chinesa sobre drogas é rígida e a sentença de morte para os narcotraficantes é comum. Muitos estrangeiros foram condenados à morte por tráfico de drogas pelas autoridades chinesas.[14][15]
A China tornou-se um importante ponto de transbordo para a heroína produzida na região do Triângulo Dourado do Sudeste Asiático. O governo enfrenta também um aumento problemático no consumo de drogas pela população. A China é um país de origem dos precursores, apesar das novas regulamentações sobre a sua grande indústria química.[8]
Adesão a organizações internacionais
[editar | editar código-fonte]Participação em organizações internacionais:[8]
A República Popular da China possui membresia permanente, o que lhe garante o poder de veto, no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Até o ano de 1971, a República da China (Taiwan) detinha a vaga, porém o governo chinês de Pequim obteve a remoção da ilha e assumiu sua vaga, com apoio da União Soviética e outras nações socialistas e do Reino Unido, França e algumas nações do Terceiro Mundo.
A República Popular da China é membro nas seguintes organizações:
- Organização das Nações Unidas (ONU)
- Assembleia Geral e Conselho de Segurança das Nações Unidas
- FAO
- ACNUR
- UNESCO
- Banco Africano de Desenvolvimento
- Banco Asiático de Desenvolvimento
- Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN)
- Banco de Desenvolvimento do Caribe
- Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC)
- Grupo dos 20 (G20)
- Grupo dos 77
- Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)
- Fundo Monetário Internacional (FMI)
- Comitê Olímpico Internacional (COI)
- Associação Latino-Americana de Integração (ALADI)
- Movimento Não Alinhado (MNA)
- Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ)
- Organização para Cooperação de Xangai
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- Organização Mundial do Turismo (OMT)
- Comitê Zangger
Relações multilaterais
[editar | editar código-fonte]África
[editar | editar código-fonte]Com a crescente influência da China no mundo moderno, Pequim intensificou seus esforços na África. O foco da China na África não é recente. Nos anos de 1960 e 1970, o interesse chinês estava centrado em construir uma ideologia solidária. Após a Guerra Fria, as relações chinesas envolvem mais interesses pragmáticos como comércio, investimentos e energia.[16] O comércio sino-africano quadruplicou entre 2000 e 2006. A China é o terceiro maior parceiro comercial do continente africano, sendo superada apenas por Estados Unidos e França, e o segundo maior exportador de bens produzidos no continente. Isto está claramente à frente do antigo poder colonial britânico em ambas as categorias.[17] A hesitação de algumas nações do Ocidente em envolver-se com países considerados pobres no campo de direitos humanos, como o Sudão, têm permitido à China uma oportunidade de cooperação econômica.[18]
O estabelecimento de relações sino-africanas modernas remonta à década de 1950, quando a China assinou o primeiro tratado bilateral com Argélia, Egito, Guiné, Somália, Marrocos e Sudão. Zhou Enlai realizou uma visita de Estado pelo continente africana entre dezembro de 1963 e janeiro de 1964. Neste período, as relações refletiam mais a política exterior chinesa em geral: a China "começou a cultivar laços e oferecer suporte econômico, técnico e militar ao países africanos e aos movimentos separatistas encorajando guerras de independência e revoluções como parte de uma frente única internacional contra as super potências".
- Diplomacia
No início, as relações bilaterais modernas foram afetadas principalmente pela Guerra Fria e a ideologia de Comunismo. A China originalmente fortaleceu suas ligações com o Congresso Nacional Africano, na África do Sul, porém como as relações sino-russas deterioraram-se, o governo chinês passou a apoiar o Congresso Pan-Africanista. A China adotou vários princípios, entre os quais apoiar movimentos de independência e simultaneamente investir em infraestrutura no continente. A República Democrática da Somália manteve, por muito tempo, relações positivas com a União Soviética durante a Guerra Fria. Quando a Somália decidiu pela criação da Grande Somália, recebeu apoio do governo soviético ao anexar a região de Ogaden, resultando na Guerra de Ogaden. Pouco tempo após, com a retirada do apoio soviético, o país aliou-se à China. Durante todo este período de Guerra Fria, poucas outras pequenas nações fecharam alianças com a China, como o Burundi sob o governo de Michel Micombero.
A situação política de Taiwan têm sido um ponto-chave para a República Popular da China. Em 1971, o apoio de nações africanas foi crucial para a entrada da RPC nas Nações Unidas, assumindo a vaga deixada por Taiwan. Contudo, enquanto muitas nações africanas como Argélia, Egito e Zâmbia tenderam seu apoio somente à política chinesa, outros como Essuatíni, Burkina Faso e São Tomé e Príncipe são mais voltados ao governo em Taipei. Buscando uma vaga permanente no Conselho de Segurança, a Nigéria, o maior país africano, recebe apoio da China[19] enquanto o Egito é apoiado pelos Estados Unidos.
Desde 1997, cerca de 40 chefes de Estado africanos visitaram a China. O encontro ministerial, Fórum para a Cooperação China-África (FOCAC), realizado em Pequim em outubro de 2000 foi o primeiro diálogo multilateral entre a China e a África.
Mundo árabe
[editar | editar código-fonte]As relações sino-árabes se estendem historicamente desde o Califado, com importantes rotas de comércio e boa relações diplomáticas. Seguinte à era do Imperialismo, as relações sino-árabes foram suspensas por séculos seguidos, até a independência de ambos nos séculos XIX e XX. Atualmente, as relações foram intensificadas e elevadas a um nível diferente, com o Fórum de Cooperação Sino-Árabe (SACF) apoiando a China e as nações da Liga Árabe a estabeleceram novas parcerias no campo econômico e cultural em uma era de crescente globalização.
Américas
[editar | editar código-fonte]Os anos recentes têm testemunhado o crescimento da influência econômica e política chinesa na América e no Caribe. Durante sua visita de Estado ao Brasil, Chile, Argentina e Cuba em 2004, Hu Jintao anunciou uma medida de investimento de 100 bilhões de dólares ao longo da década seguinte.[20][21][22] Por exemplo, Cuba têm recorrido às empresas chinesas em detrimento das americanas para modernizar seu sistema de transporte - um investimento de mais de 1 bilhão de dólares, perseguindo a tendência de favorecer o regime socialista dos dois países.[23] Desde 2005, a China é o segundo maior parceiro comercial de Cuba, atrás somente da Venezuela. Além disso, Pequim busca ampliar seus contatos militares na região.[24]
Em 2004, a China aderiu à Organização dos Estados Americanos como membro-observador.[25] Em 2008, a China aderiu ao Banco Interamericano de Desenvolvimento como financiador.[26] E desde então, têm sido convidado recorrente do Grupo do Rio, Comunidade Andina e da Comunidade do Caribe.
Referências
- ↑ «Ministry of Foreign Affairs of the People's Republic of China»
- ↑ Williams, David (8 de janeiro de 2008). «China-Taiwan tussle in Bim politics». BBC News
- ↑ Ninvalle, Pete (27 de abril de 2007). «China halts St. Lucia works». BBC News
- ↑ Erikson, Daniel (8 de janeiro de 2010). «China in the Caribbean: The New Big Brother». Star Publishing Company[ligação inativa]
- ↑ MLM Revolutionary Study Group (janeiro de 2007). «Chinese Foreign Policy during the Maoist Era and its Lessons for Today» (PDF). Marxists.org
- ↑ Zhongping, Feng; Jing, Huang (Junho de 2014). «China's strategic partnership diplomacy: engaging with a changing world» (PDF). FRIDE. Consultado em 23 de abril de 2017. Arquivado do original (PDF) em 1 de agosto de 2017
- ↑ Klare, Michael T. (20 de abril de 2006). «Containing China: The US's real objective». Asia Times
- ↑ a b c «China». CIA World Factbook
- ↑ «China's Charm Blitz in 'Shambles' Over Regional Spats». Bloomberg News. 27 de setembro de 2010
- ↑ «China Raising 2012 Defense Spending to Cope With Unfriendly 'Neighborhood'». Bloomberg News. 4 de março de 2012
- ↑ Keck, Zachary (19 de fevereiro de 2015). «Made in China: A US-Japan-Philippines Axis». The Diplomat
- ↑ «Defense secretary's warning to China: U.S. military won't change operations». The Washington Post. 27 de maio de 2015
- ↑ «Secretário americano de Defesa pede que China interrompa construção de ilhas artificiais». O Globo. 27 de maio de 2015
- ↑ «British media angry with drug dealers in China was sentenced to death ask for diplomatic pressure»
- ↑ «Veja países que adotam a pena de morte por tráfico de drogas». Gazeta Online
- ↑ «China's Influence in Africa: Implications for the United States». The Heritage Foundation. Consultado em 23 de abril de 2017. Arquivado do original em 8 de março de 2010
- ↑ «Western concern at China's growing involvement in Africa». International Committee of the Fourth International
- ↑ «Political Warfare in Sub-Saharan Africa: U.S. Capabilities and Chinese Operations in Ethiopia, Kenya, Nigeria, and South Africa» (PDF). Strategic Studies Institute, U.S. Army War College. Março de 2007
- ↑ Nigeria: UN Security Council: China Backs Nigeria
- ↑ «China's Influence in the Western Hemisphere». The Heritage Foundation. Consultado em 23 de abril de 2017. Arquivado do original em 22 de janeiro de 2009
- ↑ «China moving to replace US influence in Americas». Consultado em 17 de maio de 2019. Arquivado do original em 16 de maio de 2008
- ↑ «Caribbean sees China acquire more influence». Consultado em 23 de abril de 2017. Arquivado do original em 14 de março de 2007
- ↑ «Cuba turns to China for transport needs». United Transportation Union. Consultado em 23 de abril de 2017. Arquivado do original em 22 de julho de 2011
- ↑ «China increasing military ties in America as law restricts US military». GlobalSecurity.org
- ↑ «CP/RES. 867 (1424/04)». Organização dos Estados Americanos. 26 de maio de 2004
- ↑ «China integrará o Banco Interamericano de Desenvolvimento». Embaixada da República Popular da China no Brasil. 24 de outubro de 2008
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Chen, J. China and the West (Hutchinson, 1979).
- Chris Zambelis and Brandon Gentry, "China Through Arab Eyes: American Influence in the Middle East," Parameters, Vol. XXXVIII, No. 1, Spring 2008, pp. 60–72. [1]