Terceira guerra judaico-romana – Wikipédia, a enciclopédia livre

Terceira guerra judaico-romana
Guerras judaico-romanas

Judeia no primeiro século
Data 132–136 (tradicionalmente Tisha B'Av de 135);
Local Província da Judeia
Desfecho Vitória romana. Romanos escravizaram muitos judeus da Judeia, massacraram muitos judeus, suprimiram a religião judaica e autoridade política, baniram os judeus de Jerusalém, e renomearam Judeia para Síria Palestina.
Beligerantes
Império Romano Judeus da Judeia
Comandantes
Adriano
Quinto Tineio Rufo
Sexto Júlio Severo
Publício Marcelo
Tito Hatério Nepos
Quinto Lólio Úrbico
Simão Barcoquebas
Aquiba
Forças
Legio X Fretensis
Legio VI Ferrata
Legio III Gallica
Legio III Cyrenaica
Legio XXII Deiotariana
Legio X Gemina
Total de forças das 12 legiões;
60 000-120 000
300 000 judeus
+ 100 000 milicianos
Baixas
Muitos mortos, Legio XXII Deiotariana destruída (por Dião Cássio). 580 000 judeus mortos (população civil), 50 cidades fortificadas e 985 vilas arrasadas (por Dião Cássio).

Terceira guerra judaico-romana, também chamada de Revolta de Barcoquebas (Bar Kokhba), foi uma rebelião de judeus contra o Império Romano, que explodiu na Judeia, em 132. Para os historiadores que não incluem a Guerra de Kitos entre as guerras judaico-romanas, esta teria sido a segunda guerra dos judeus contra o domínio romano.

Há muita incerteza acerca da causa imediata dessa revolta, pois dela só possuímos documentação esparsa e não-contemporânea (Dião Cássio[1] e Eusébio),[2] além de algumas descobertas arqueológicas nas grutas dos desertos da Judeia.

O que se sabe é que ela ocorreu após a viagem do imperador Adriano, pelo Oriente, entre os anos 130 e 131, ocasião em que ele deixou claro seu propósito de revitalizar o helenismo enquanto esteio cultural do Império Romano, naquela região. Entre seus planos estava a reconstrução de Jerusalém como uma cidade helenística e onde, sobre o monte do templo, seria erguido um santuário dedicado a Júpiter Capitolino, decisão que feriu os sentimentos religiosos dos judeus.

Este parece ter sido o estopim da revolta na Judeia,[nt 1] embora Dião Cássio afirme que ela já vinha sendo preparada, a partir das comunidades da Diáspora, desde o levante de 115 (Segunda guerra judaico-romana).

Quando a revolta começou, os romanos foram apanhados de surpresa. Grupos de judeus armados emboscaram coortes da Legio X Fretensis, infligindo-lhes pesadas perdas. Ato contínuo, a fortaleza romana em Cesareia foi atacada e parcialmente destruída.

Como um rastilho de pólvora, a revolta se espalhou por toda a província, com os rebeldes fabricando e reunindo armas, e fortificando cidades.

O legado imperial, Quinto Tineio Rufo, que governava a Judeia, mostrou-se incapaz de sufocar o levante, e mesmo quando o governador da província romana da Síria, Publício Marcelo, recebeu ordens para ajudá-lo, e deslocou a Legio II Traiana Fortis e a Legio VI Ferrata para a Judeia, não foi possível impedir que os amotinados tomassem Jerusalém.

Filho da Estrela

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A essa altura, evidenciou-se, entre os combatentes judeus, a liderança de um jovem comandante, Simão bar Coziba, em quem o rabino Aquiba reconheceu o "Mashiach" (Messias) davídico, aguardado ansiosamente, e lhe trocou o nome para "Barcoquebas" (filho da estrela). À frente de seus comandados, Simão entrou em Jerusalém, foi saudado como "Príncipe de Israel", e proclamou a independência do estado judeu. Moedas foram cunhadas com os dizeres "Primeiro ano da libertação de Jerusalém" e "Primeiro ano da redenção de Israel".

Pelas cartas e outros vestígios arqueológicos descobertos nos desertos a oeste do mar Morto, tem-se uma ideia do tipo de guerra que os rebeldes empreenderam contra os romanos, atuando em pequenos grupos, atacando o inimigo de emboscada e refugiando-se em cavernas. "Em cada penhasco, em cada rochedo, ocultava-se um guerrilheiro judeu, impiedoso e desesperado, que não tinha nem esperava misericórdia".[3] Comunidades de gentios desprotegidos, tais como os descendentes dos veteranos da Legio XV Apollinaris, que se tinham estabelecido em Emaús, em 71, foram atacadas e dizimadas sem piedade. Por cerca de três anos e meio, esses guerrilheiros atacaram os romanos — legionários e civis.

Essas cartas também mostram o controle que Simão exercia sobre o povo das aldeias: confisco de cereais, recrutamento compulsório e outras medidas coercitivas.[4] a exemplo das praticadas na primeira guerra judaico-romana.

Reação romana

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A situação tornou-se tão séria que Adriano despachou para a Judeia seu melhor general, Sexto Júlio Severo, que estava governando a Britânia. Contando com dez legiões, além de tropas auxiliares (ao todo, cerca de cem mil homens), Severo usou a mesma tática dos guerrilheiros judeus: dividiu suas forças em grupos de pequenas unidades móveis, comandadas por tribunos e centuriões, formando grupos de reação rápida que podiam responder prontamente, sempre que chegavam relatórios de atividades de guerrilha. Além disso, localizou e cercou os redutos rebeldes, obrigando-os à rendição ou à morte por fome.

Dião Cássio nos diz que cerca de 50 esconderijos dos rebeldes foram localizados e eliminados. Diz também que 985 vilas judias foram destruídas na campanha e 580 mil judeus mortos pela espada (além dos que morreram por fome).[5]

Até que, em 135, Severo finalmente encurralou Barcoquebas em Betar, seis milhas a sudoeste de Jerusalém.[nt 2] Apesar da tenacidade de seus defensores, o reduto foi invadido e os romanos massacraram todos que encontraram. Foi o fim do "Filho da Estrela" e da terceira revolta judaica.

Terminada a guerra, a Judeia estava devastada. Dião Cássio descreve-a como "quase um deserto". Centenas de milhares de judeus morreram lutando, de fome ou por doenças. Prisioneiros judeus abarrotavam os mercados de escravos, aviltando os preços dos cativos ("Um escravo tornou-se mais barato do que um cavalo"[6]). Os inaptos ao trabalho eram enviados aos circos, para servir de entretenimento a plateias sanguinárias, que apreciavam vê-los ser retalhados pelas lâminas dos gladiadores ou dilacerados pelas presas de animais selvagens.

Os romanos também sofreram perdas consideráveis. Em 135, ao informar ao senado sobre o fim da guerra, o imperador Adriano, preferiu omitir a fórmula habitual: "Eu e as legiões estamos bem".

Jerusalém foi reconstruída de acordo com o projeto do imperador, recebendo o nome de Élia Capitolina,[nt 3] onde os judeus ficaram proibidos de entrar, sob pena de morte, enquanto o nome da província foi mudado de Judeia para Síria Palestina.

Além disso, um édito imperial que combatia a prática da mutilação, equiparou a circuncisão à castração, proibindo os judeus de praticá-la. E, como os recalcitrantes se valessem de argumentos religiosos, ficaram também proibidos o ensinamento da Torah e a ordenação de novos Rabinos. Aquiba negou-se a obedecer, continuando a dirigir o povo judaico. Surpreendido ensinando a Torah, pagou com a vida sua fidelidade à Lei Mosaica.

Notas

  1. De acordo com Eusébio, os excessos do governador romano (massacres, confisco de bens, etc), em muito contribuíram para aguçar o clima de revolta.
  2. Restos da muralha circundante romana, desenterrados por arqueólogos, podem ainda ser vistos no local.
  3. "Élia" refere-se ao imperador, cujo nome gentílico era Élio.

Referências

  1. Dion Cassio I xis 12-14
  2. Eusébio. História Eclesiástica iv, 6,8.
  3. Allegro, John. The Chose People. London. Hodder and Stoughton Ltd, 1971. P.234
  4. Allegro, John. The Chose People. London. Hodder and Stoughton Ltd, 1971.
  5. Dion Cassio I xis 14
  6. Borger, Hans. Uma história do povo judeu, vol.1. São Paulo. Ed. Sefer, 199
  • Bowder, Diana - Quem foi quem na Roma Antiga, São Paulo, Art Editora/Círculo do Livro S/A,s/d
  • Allegro, John - The Chose People, London, Hodder and Stoughton Ltd, 1971.
  • Borger, Hans - Uma história do povo judeu, vol.1, São Paulo, Ed. Sefer, 1999.


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