Roberto Alvim – Wikipédia, a enciclopédia livre
Roberto Alvim | |
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Secretário Especial da Cultura do Brasil | |
Período | 7 de novembro de 2019 a 17 de janeiro de 2020 |
Presidente | Jair Bolsonaro |
Antecessor(a) | Henrique Pires[1] |
Sucessor(a) | José Paulo Soares Martins (interino)[2] |
Dados pessoais | |
Nome completo | Roberto Rêgo Pinheiro |
Nascimento | 15 de maio de 1973 (51 anos) Rio de Janeiro, RJ |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | Casa das Artes de Laranjeiras |
Religião | católico romano[3] |
Profissão | dramaturgo |
Roberto Rêgo Pinheiro, conhecido pelo nome artístico Roberto Alvim (Rio de Janeiro, 15 de maio de 1973),[4] é um dramaturgo brasileiro. Co-fundador do Club Noir de São Paulo, exerceu os cargos de diretor geral da Fundação Nacional de Artes e de secretário especial da Cultura do Brasil no governo Jair Bolsonaro.[5]
Em janeiro de 2020, foi exonerado após publicar um vídeo institucional reproduzindo falas, ambientação e postura que remetiam ao político nazista Joseph Goebbels. Foi sucedido inteirinamente por José Paulo Martins[6] e efetivamente pela atriz Regina Duarte.[7]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Teatro
[editar | editar código-fonte]Roberto Alvim formou-se pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), onde também lecionou História do Teatro e Literatura Dramática, entre 2000 e 2004. Foi diretor do Teatro Ziembinski, no Rio de Janeiro, de 2005 a 2007.[5]
Fundou em 2006 a companhia Club Noir, em São Paulo, junto à atriz Juliana Galdino, sua esposa, desenvolvendo o estilo conhecido como "estética da penumbra". Recebeu o prêmio de melhor espetáculo no 5º Prêmio Bravo! Prime de Cultura com a encenação da peça O Quarto, de Harold Pinter.[5]
Política
[editar | editar código-fonte]Em 2017, após se curar de um tumor no intestino pelo que considerou um milagre, converteu-se do ateísmo ao catolicismo. Através da religião, aproximou-se dos escritos de Olavo de Carvalho e do pensamento conservador. Em 2019, foi apresentado pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB), ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).[4]
Em junho de 2019, foi convidado por Bolsonaro para ser diretor geral da Fundação Nacional de Artes (Funarte), instituição voltada para cultura. A nomeação foi elogiada pelo ator Carlos Vereza, enquanto Regina Duarte disse não aprovar totalmente o nome de Roberto Alvim.[8][9][10] Ao assumir o cargo na Funarte, fechou o Club Noir.[3]
Em outubro de 2019, deixou a Funarte ao ser nomeado por Jair Bolsonaro para o cargo de secretário especial da cultura, departamento do Ministério do Turismo.[11]
Em 17 de janeiro de 2020, foi exonerado após parafrasear Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, em um vídeo institucional da Secretaria de Cultura, o que gerou diversas manifestações de repúdio no Brasil e no exterior.[12][13] Ele foi substituído interinamente por José Paulo Martins,[6] mas a vaga foi posteriormente preenchida por Regina Duarte.[7]
Controvérsias
[editar | editar código-fonte]Fernanda Montenegro
[editar | editar código-fonte]Em setembro de 2019, ele provocou reações de artistas ao atacar a atriz Fernanda Montenegro, chamando-a de 'sórdida' e 'mentirosa' em publicação no Facebook, após a atriz se posicionar contra a censura nas artes. Em reportagens sobre a publicação de seu livro, Montenegro criticou a política das artes do governo Bolsonaro e fez um ensaio fotográfico no centro de uma fogueira de livros, uma alusão à queima de livros e à perseguição às bruxas.[14]
A 'intocável' Fernanda Montenegro faz uma foto pra capa de uma revista esquerdista vestida de bruxa […] Então acuso Fernanda de mentirosa, além de expor meu desprezo por ela, oriundo de sua deliberada distorção abjeta dos fatos […] Na entrevista, [ela] vilipendia a religião da maioria do povo, através de falas carregadas de preconceito e ignorância. Essa foto é ecoada por quase toda a classe artística como sendo um retrato fiel de nosso tempo, em postagens que difamam violentamente o nosso presidente.— Roberto Alvim[14]
Discurso inspirado em Goebbels e exoneração
[editar | editar código-fonte]Em 16 de janeiro de 2020, como secretário especial da Cultura do Ministério do Turismo, Alvim publicou nas redes sociais um vídeo institucional em que parafraseia trechos de um discurso feito a diretores de teatro em 1933 por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista.
A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.— Roberto Alvim[15]
A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.— Joseph Goebbels[16]:301
…a cultura não pode ficar alheia às imensas transformações intelectuais e políticas que estamos vivendo— Roberto Alvim[17]
…tampouco o cinema pode ficar alheio às imensas transformações intelectuais e políticas.— Joseph Goebbels[16]:301
Além disso, durante o vídeo em questão, a música de fundo era a ópera Lohengrin, de Richard Wagner, apreciada por Adolf Hitler,[18] bem como a disposição do cenário e o discurso foram apontados como muito similares à estética empregada pela propaganda nazista.[19]
O vídeo causou indignação da opinião pública. A Confederação Israelita do Brasil, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e o embaixador israelense no Brasil, Yossi Shelley pediram a demissão do secretário.[20][21][22][23] O vídeo também recebeu manifestações de repúdio de outros políticos de diversos partidos, de ministros do Supremo Tribunal Federal, de jornalistas e de personalidades da classe artística.[24]
O governo, inicialmente, declarou que não comentaria o episódio[25] e Bolsonaro considerou manter Alvim no cargo,[26] após este ter afirmado que a associação do vídeo com o nazismo teria sido mera coincidência.[27] Diante da ampla repercussão negativa, no entanto, Alvim foi exonerado.[28]
Alvim afirmou que apesar de a citação ter "origem espúria", as ideias refletidas no discurso são condizentes com o seu posicionamento e explicou que a filiação de Goebbels com o nacionalismo na arte é semelhante à sua, mas que não se pode depreender daí uma concordância sua com toda a parte espúria do ideal nazista. Mais tarde, declarou que desconhecia a origem da frase e que, se soubesse, jamais a teria empregado.[29] Por outro lado, segundo funcionários de sua assessoria, o secretário tinha consciência da autoria da frase e das semelhanças estéticas do vídeo com a propaganda nazista.[30] Posteriormente, Alvim declarou desconfiar de uma "ação satânica" no evento.[31][32]
O vídeo divulgava um edital sancionado por Alvim no valor de 20 milhões de reais, e que foi cancelado após a exoneração do secretário. O edital subsidiaria produções de filmes, quadrinhos, peças e exposições de arte.[33][34]
Um ano depois do incidente, em janeiro de 2021, Alvim emitiu nota através da coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, classificando o discurso como o maior erro de sua vida, explicou que não viu qualquer conotação nazista nele e que jamais o teria pronunciado se conhecesse sua "origem nefasta".[35][36] Alvim também declarou que havia deixado o Brasil sem intenções de retornar.[37]
Referências
- ↑ «É culto e católico fervoroso, diz Henrique Pires, ex-secretário especial da cultura, sobre Roberto Alvim». Gaúcha ZH. RBS. 7 de novembro de 2019. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Secretário interino da Cultura será José Paulo Soares Martins». O Globo. Globo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ a b «'Respondi a uma agressão violentíssima', diz diretor que ofendeu Fernanda Montenegro». Época. Globo. 27 de setembro de 2019. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ a b «Quem é Roberto Alvim, o artista convertido ao bolsonarismo que atacou Fernanda Montenegro». Época. Globo. 26 de setembro de 2019. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ a b c «Roberto Alvim – Biografia do dramaturgo». InfoEscola. Consultado em 11 de outubro de 2019
- ↑ a b Fernandes ', 'Augusto (17 de janeiro de 2020). «José Paulo Martins assume como secretário interino da Cultura». Acervo. Consultado em 13 de janeiro de 2022
- ↑ a b «Regina Duarte anuncia que aceitou convite de Bolsonaro para assumir Secretaria de Cultura». G1. Consultado em 2 de agosto de 2021
- ↑ «'Não posso dizer que aprovo esta nomeação', diz Regina Duarte sobre Roberto Alvim». A Tribuna. Consultado em 12 de novembro de 2019
- ↑ «Roberto Alvim será o novo diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte § Cultura». Estadão. O Estado de São Paulo SA. 18 de junho de 2019. Consultado em 7 de novembro de 2019
- ↑ Molica, Fernando (3 de outubro de 2019). «Roberto Alvim: Diretor da Funarte decide entregar teatro no Rio a companhia evangélica». Veja. Abril. Consultado em 7 de novembro de 2019
- ↑ «Bolsonaro nomeia dramaturgo Roberto Alvim para comando da Secretaria de Cultura». Folha de S.Paulo. 7 de novembro de 2019. Consultado em 8 de novembro de 2019
- ↑ «Roberto Alvim é demitido da Secretaria Especial da Cultura». O Globo. Globo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Vídeo de Roberto Alvim com discurso de ministro nazista ganha repercussão internacional». O Globo. Globo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ a b «Ofensa de diretor da Funarte a Fernanda Montenegro indigna classe artística». O Globo. Globo. 23 de setembro de 2019
- ↑ «Em vídeo, Alvim copia Goebbels e provoca onda de repúdio nas redes sociais». Folha de S.Paulo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ a b Longerich 2015.
- ↑ «Advogada afirma que descobriu 'ligação' de discursos de Alvim e nazista por acaso». UOL. Consultado em 18 de janeiro de 2020
- ↑ «Roberto Alvim copia discurso do nazista Joseph Goebbels e causa indignação». O Globo. Globo. 16 de janeiro de 2020
- ↑ «Discurso de Goebbels, ópera de Wagner e cruz medieval: os símbolos do vídeo que derrubou Roberto Alvim». Gaúcha ZH. RBS. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020
- ↑ «'Assombrosa inspiração nazista', diz Alcolumbre sobre fala de secretário nacional de Cultura». G1. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Confederação Israelita diz que 'discurso nazista' de Alvim é inaceitável». Folha de S.Paulo. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Rodrigo Maia diz que Alvim passou dos limites e pede afastamento». Folha de S.Paulo. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Mônica Bergamo: Embaixador de Israel no Brasil pressionou Bolsonaro por medida contra Alvim». Folha de S.Paulo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 13 de janeiro de 2022
- ↑ «Confira a repercussão da fala que levou à exoneração de Roberto Alvim». O Povo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020
- ↑ «Planalto diz que não comentará vídeo em que secretário copia Goebbels». Folha de S.Paulo. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Bolsonaro não queria demitir Alvim, mas foi convencido após ligação de Alcolumbre». Huffpost. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020
- ↑ «Bolsonaro cogitou manter secretário Alvim no cargo». Uol. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020
- ↑ «Bolsonaro exonera secretário da Cultura, que fez discurso com frases semelhantes às de ministro de Hitler». G1. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Discurso de Alvim com referências ao nazismo gera repúdio maciço nas redes». Deutsche Welle. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Secretário de Cultura sabia que frases eram de Goebbels, dizem assessores». G1. Globo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020
- ↑ «Roberto Alvim diz desconfiar de "ação satânica" em sua demissão». EXAME. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Roberto Alvim diz desconfiar de 'ação satânica' por trás de vídeo e de sua demissão». Folha de S.Paulo. 20 de janeiro de 2020. Consultado em 13 de janeiro de 2022
- ↑ «Governo suspende edital anunciado por Alvim em citação nazista». Valor Econômico. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Governo suspende edital anunciado por Alvim em vídeo associado ao nazismo». Folha de S.Paulo. 22 de janeiro de 2020. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Mônica Bergamo: Roberto Alvim diz que discurso nazista foi 'engano terrível' que 'quase me custou a vida'». Folha de S.Paulo. 8 de janeiro de 2021. Consultado em 9 de janeiro de 2021
- ↑ «Roberto Alvim chama discurso nazista de 'engano terrível', um ano após demissão». O Globo. 8 de janeiro de 2021. Consultado em 9 de janeiro de 2021
- ↑ Szpacenkopf, Marta. «Roberto Alvim diz que saiu do Brasil após demissão por vídeo nazista e defende o seu projeto». Lauro Jardim - O Globo. Consultado em 12 de janeiro de 2021
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Herf, Jeffrey (2014). Inimigo Judeu: Propaganda Nazista durante a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. [S.l.: s.n.] ISBN 978-8572838443
- Longerich, Peter (2015). Goebbels: A Biography. Nova Iorque: Random House. ISBN 978-1622315338