Saíde Adaulá – Wikipédia, a enciclopédia livre

Saíde Adaulá
Emir de Alepo
Reinado 991-1002
Antecessor(a) Sade Adaulá
Sucessor(a) Lulu, o Velho
 
Morte janeiro de 1002
  Alepo, Síria
Casa Hamadânida
Pai Sade Adaulá
Religião Islão xiita

Abu Alfadail Saíde Adaulá foi o terceiro governante hamadânida do Emirado de Alepo. Sucedeu seu pai Sade Adaulá em 991, mas por todo seu reinado o poder permaneceu nas mãos do antigo camareiro de Sade, Lulu, o Velho, cuja filha Saíde foi casado. Em seu reinado o Califado Fatímida repetidamente tentou conquistar Alepo, mas foi impedido apenas pela intervenção do Império Bizantino. A guerra durou até 1000, quando um tratado de paz foi concluído, garantindo a existência de Alepo como Estado-tampão entre os dois poderes. Finalmente, em junho de 1002, Saíde morreu, possivelmente envenenado por Lulu, e Lulu assumiu o controle de Alepo em seu nome.

Vida e reinado

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Árvore genealógica dos hamadânidas
Histameno de Nicéforo II (r. 963–969) e Basílio II (r. 976–1025)

O pai de Saíde, Sade Adaulá, conseguiu com dificuldade assegurar algum controle sobre seus domínios e manteve uma autonomia precária ao manobrar entre o Império Bizantino o Califado Fatímida do Egito, e o Império Buída no Iraque, alternando entre guerra e reconhecendo a suserania de cada um dos poderes.[1][2][3] O uma vez orgulhoso emirado, que sob Ceife Adaulá, avô de Saíde, incluía todo o norte da Síria e boa parte da Jazira, agora foi reduzido à região em torno de Alepo. A posição doméstica de Sade era precária, e seu Estado estava empobrecido e militarmente impotente. Depois da paz bizantino-fatímida de 987-988, veio a depender novamente dos bizantinos, e foram as tropas bizantinas que ajudaram-no a derrotar uma tentativa patrocinada pelos fatímidas para tomar Alepo conduzida pelo antigo governador hamadânida Baquejur em abril de 991.[4][5]

Após a morte de Sade Adaulá em dezembro de 991, seu jovem filho Abu Alfadail, conhecido pelo lacabe de "Saíde Adaulá", tornou-se emir. Saíde estava sob a influência de seu ministro-chefe e mais tarde sogro Lulu, o Velho, que continuou a apoiar a aliança com os bizantinos. Muitos de seus rivais, ressentindo seu poder, desertaram à morte de Sade para os fatímidas, que agora recomeçaram seus ataques contra Alepo.[4][5] Como M. Canard escreve, "a história do reinado [de Saíde Adaulá] é quase exclusivamente aquela das tentativas do Egito fatímida de ganhar o Emirado de Alepo, que foram antagonizadas pelo imperador bizantino".[6]

Encorajado pelas deserções hamadânidas, o califa Alaziz lançou um primeiro ataque em 992, sob o governador de Damasco, o turco Manjutaquim. O general invadiu o emirado, derrotou em junho uma força bizantina sob o duque de Antioquia Miguel Burtzes e liderou o cerco de Alepo. Ele falhou em conduzir com vigor o cerco, e a cidade foi facilmente capaz de resistir até, na primavera de 993, após 13 meses de campanha, Manjutaquim ser forçado a retornar para Damasco devido a falta de suprimentos.[6][7] Na primavera de 994, Manjutaquim lançou outra invasão, novamente contra Burtzes na Batalha do Orontes, tomou Homs, Apameia e Xaizar e sitiou Alepo por 11 meses. O bloqueio foi mais efetivo desta vez e logo causou uma severa falta de suprimentos. Saíde Adaulá sugeriu a rendição para Manjutaquim, mas a determinação de Lulu permitiu aos defensores resistirem até a chegada súbita de Basílio II (r. 976–1025) na Síria em abril de 995. Basílio, que estava conduzindo campanha na Bulgária, respondeu aos apelos hamadânidas por ajuda, e cruzou a Ásia Menor em apenas 16 dias como chefe de um exército de 13 000 homens; sua chegada causou pânico no exército fatímida: Manjutaquim incendiou seu acampamento e retirou-se para Damasco sem luta.[5][8][9][10]

Dinar de Ceife Adaulá (r. 945–967)
Dinar do califa Alaziz (r. 975–996)

Saíde e Lulu apareceram diante do imperador em pessoa como sinal de gratidão e submissão, e em troca ele removeu o pagamento de tributo anual.[6][8] O interesse de Basílio na Síria era limitado, contudo, e logo após uma breve campanha na qual conduziu um ataque infrutífero contra Trípoli, retornou para Constantinopla. Alaziz, por outro lado, preparou-se para uma grande guerra contra os bizantinos, mas seus preparativos foram interrompidos com sua morte em outubro de 996.[9][10] A contenda bizantino-fatímida sobre a Síria continuou, com sucessos alternados. Em 995, Lulu fez termos com Alaziz e reconheceu-o como califa, e por alguns anos a influência fatímida sobre Alepo cresceu. Em 998, Lulu e Saíde tentaram tomar a fortaleza de Apameia, mas foram frustrados pelo novo duque bizantino, Damião Dalasseno. A derrota e morte de Dalasseno em batalha com os fatímidas logo depois causou outra intervenção de Basílio no ano seguinte, que estabilizou a situação e fortaleceu a segurança de Alepo ao colocar uma guarnição bizantina em Xaizar. O conflito terminou com outro tratado em 1001 e a conclusão de uma trégua por 10 anos.[6][11][12]

Em janeiro de 1002, Saíde morreu, embora segundo a tradição relatada por ibne Aladim, foi envenenado por uma de suas concubinas em nome de Lulu. Junto com seu filho Almançor, Lulu assumiu o poder direto, de início como guardião ostensivo de Alboácem Ali e Abu Almali Xarife, filhos de Saíde, até 1003/1004, quando exilou-os no Egito. Ao mesmo tempo, um dos irmãos de Saíde, Abu Alhaija, fugiu, disfarçado de mulher, à corte bizantina.[6][8][13] Lulu foi um governante capaz que manteve a balança entre o Império Bizantino e o Califado Fatímida, mas depois de sua morte em 1008/1009, Alepo gravitou consideravelmente em direção ao último. Uma tentativa de restauração fatímida, liderada por Abu Alhaija, falhou, e em 1015/1016 Almançor ibne Lulu foi deposto, terminando os últimos vestígios do governo hamadânida em Alepo.[14][15][16][17]

Referências

  1. Canard 1971, p. 129–130.
  2. Kennedy 2004, p. 280–281.
  3. Stevenson 1926, p. 250–251.
  4. a b Kennedy 2004, p. 281.
  5. a b c Stevenson 1926, p. 251.
  6. a b c d e Canard 1971, p. 130.
  7. Whittow 1996, p. 379–380.
  8. a b c Canard 1986, p. 820.
  9. a b Whittow 1996, p. 380.
  10. a b Kennedy 2004, p. 325.
  11. Stevenson 1926, p. 252.
  12. Whittow 1996, p. 380–381.
  13. Stevenson 1926, p. 254.
  14. Kennedy 2004, p. 281–282.
  15. Canard 1971, p. 130–131.
  16. Stevenson 1926, p. 254ff.
  17. Whittow 1996, p. 381.
  • Canard, M. (1986). Bosworth, C. E.; van Donzel, E.; Lewis, B.; Pellat, Ch, ed. The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume V: Khe–Mahi. Leida: E. J. Brill. ISBN 90-04-07819-3 
  • Kennedy, Hugh N. (2004). The Prophet and the Age of the Caliphates: The Islamic Near East from the 6th to the 11th Century (Second ed. Harlow, RU: Pearson Education Ltd. ISBN 0-582-40525-4 
  • Stevenson, William B. (1926). «Chapter VI. Islam in Syria and Egypt (750–1100)». In: In Bury, John Bagnell. The Cambridge Medieval History, Volume V: Contest of Empire and Papacy. Nova Iorque: The Macmillan Company