Sakura (cerejeira) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Sakura (桜 / 櫻 ou さくら) são as cerejeiras ornamentais do Japão (incluindo a Prunus serrulata) e suas flores. A cereja (桜 ん ぼ, sakuranbo) vem de outra espécie do gênero Prunus.
Espécies
[editar | editar código-fonte]Existem mais de 600 variedades de sakura diferenciadas pelo número de pétalas, a cor das flores e as folhas jovens, ou o período de floração.[1][2] A cor das flores vai do branco ao vermelho escuro através de todos os tons de rosa pálido.[2]
Algumas das espécies de cerejeiras ornamentais mais comuns no Japão incluem:
- Prunus serrulata, a cerejeira do Japão
- Prunus speciosa, a cerejeira de Izu Ōshima cereja
- Prunus sargentii, a cerejeira de Ezo
- Prunus × yedoensis, a cerejeira Yoshino, híbrida da Prunus speciosa e da Prunus subhirtella 'Pendula' ou Prunus jamazakura.[3]
A variedade favorita dos japoneses é a cerejeira Yoshino (染井吉野, Somei yoshino). Suas flores são quase brancas, com o rosa mais pálido especialmente no tronco. Em geral, as pétalas dessas flores caem, ou melhor, "dispersam" (散る, chiru) uma semana antes das folhas aparecerem. Esta variedade é chamada assim por conta da aldeia de Somei (agora parte do distrito de Toshima, em Tóquio). De acordo com pesquisas genéticas, é um híbrido que foi desenvolvido em meados do século XIX na região de Edo (atual Tóquio).[3]
A yaezakura e a shidarezakura são outras variedades populares de cerejeiras japonesas. A yaezakura (Prunus serrulata F. purpurascens) possui grandes flores com mais de cinco pétalas densas e com um tom de rosa mais escuro. A shidarezakura (Prunus serrulata var pendula ou Prunus pendula Maxim), ou "cerejeira chorosa", tem ramos que se caem como os do salgueiro-chorão e carregam cascatas de flores rosa.[4]
Simbolismo
[editar | editar código-fonte]No Japão, as sakura simbolizam nuvens devido ao seu florescimento natural em massa, além de ser uma metáfora para a natureza efêmera da vida, e[5] um aspecto da tradição cultural Japonesa que é geralmente associado com a influência Budista,[6] e que está incorporado no conceito de Mono-no-aware.[7]A associação das sakura com o mono-no-aware data do estudioso do século XVIII Motoori Norinaga.[7] A transitoriedade das sakura, a delicada beleza e volatilidade, é geralmente associada com a mortalidade[5] e a graciosa e rápida aceitação do destino e karma; por esta razão, as sakura são ricamente simbólicas, e tem sido utilizadas geralmente na arte, no mangá, no anime e nos filmes, bem como em performances musicais para efeito de ambiente. Há pelo menos uma canção tradicional popular, originalmente destinada para o shakuhachi (flauta de bambu), chamada "Sakura". A flor também é representada em todos os tipos de bens de consumo no Japão, incluindo kimonos, papelaria e louça.
A Sakurakai ou Sociedade das Sakura foi o nome escolhido por jovens oficiais dentro do Exército Imperial Japonês em setembro de 1930 para sua sociedade secreta estabelecida com o objetivo de reorganizar o estado por meio de linhas militaristas totalitárias, via um golpe de estado militar se necessária.[8]
Durante a Segunda Guerra Mundial, as sakuras eram usadas para motivar o povo Japonês, para acender o nacionalismo e o militarismo entre as pessoas.[9]Mesmo antes da guerra, elas eram usadas em propagandas para inspirar o "espírito Japonês", como na música "Canção do Jovem Japão", que falava em "guerreiros" que estavam "prontos como a miríade de sakuras a dispersar-se".[10]Em 1932, a poesia de Akiko Yosano instigava os soldados Japoneses para sofrerem na China e comparava os soldados mortos com as sakuras.[11]Discussões de que os planos para a Batalha do Golfo de Leyte, envolvendo todas as embarcações Japonesas, poderiam expor o Japão a sério perigo se ela falhasse, foram contestadas com a alegação de que a Marinha seria permitida "florescer como flores da morte".[12] A última mensagem das forças em Peleliu (Palau) foi "Sakura, Sakura".[13] Os pilotos Japoneses as pintavam nos lados de suas aeronaves antes de embarcar em uma missão suicida, ou até mesmo levavam ramos de uma árvore com eles nas missões.[9] Uma sakura pintada no lado de um kamikaze simbolizava a intensidade e efemeridade da vida;[14] deste modo, a associação estética foi alterada de modo que as pétalas caindo representariam o sacrifício dos jovens em missões suicidas em honra ao imperador.[9][15] O primeira unidade kamikaze tinha uma subunidade chamada Yamazakura (sakuras selvagens).[15] O próprio governo chegou a encorajar as pessoas para acreditarem que as almas dos guerreiros caídos reincarnavam nas flores.[9]
Em suas empresas coloniais, o Japão Imperial geralmente plantava cerejeiras como "reivindicação do território ocupado como espaço Japonês".[9]
As sakura também são um símbolo prevalente no Irezumi, a tradicional arte das tatuagens Japonesas. Na arte das tatuagens, as sakura também são geralmente combinadas como outros símbolos clássicos Japoneses como nishikigois, dragões ou tigres.[16]
Lenda
[editar | editar código-fonte]Existe na Cultura Japonesa uma lenda sobre como nasceu a maravilhosa árvore : "Era um período de conflitos, repleto de batalhas sangrentas e mortes no Japão. Os senhores feudais e seus clãs travavam guerras intermináveis em busca de poder e glória. Os momentos de paz eram escassos. Valentes guerreiros perderam a vida deixando um cenário de desolação e dor. Em meio a este terrível cenário sangrento, havia um bosque que nem mesmo a guerra podia tocar. O lugar era lindo, repleto de árvores belas e frondosas que exalavam perfumes delicados e consolavam os atormentados sobreviventes. Embora a guerra avançasse, nenhum exército se atrevia a violar esse oásis em meio ao caos. Porém, neste paraíso repleto das mais belas árvores, havia uma que nunca florescia. Mesmo que demonstrasse estar viva, seus galhos eram secos e sem cor. Os animais nunca chegavam perto e a grama não crescia ao seu redor. Era uma árvore solitária.
Certo dia, uma ninfa celestial visitou a floresta e se deparou com a triste árvore. Comovida, declarou que iria ajudá-la a se tornar bela e radiante e lhe fez uma interessante proposta: ela usaria seu poder para criar um encantamento que permitiria à árvore sentir o que um coração humano sente. A ninfa acreditava que se a árvore experimentasse emoções verdadeiras ela voltaria a florescer. O encantamento duraria 20 anos e nesse período a árvore poderia se transformar em ser humano sempre que quisesse. Porém, se em 20 anos ela não fosse capaz de manifestar sua vitalidade, ela morreria. Cheia de esperança, a árvore se agarrou à proposta, transformou-se em humano e passou a viver entre os homens. Anos se passaram, mas a árvore se decepcionou, pois só via ódio e guerra à sua volta.
Um dia, ao chegar à beira de um riacho, viu uma jovem que buscava água com certa dificuldade. A árvore transformada em homem se aproximou e ofereceu ajuda. Sakura, além de linda era muito simpática. Eles conversaram bastante e a jovem demonstrou empatia pelos que sofrem com a guerra, porém demonstrou que acreditava que dias melhores estavam por vir. Quando Sakura perguntou seu nome, a árvore respondeu: “Yohiro”, que significa “esperança”. O casal tinha muita sintonia e se tornaram amigos próximos. Todos os dias eles se encontravam para conversar, cantar, ler e quanto mais o tempo passava, mais sentiam que queriam estar um ao lado do outro. E, assim, o relacionamento foi se fortalecendo e Yohiro decidiu confessar seus sentimentos a Sakura. Decidido declarou seu amor e também contou quem ele realmente era, ou seja, uma triste árvore que não conseguia florescer. Impactada com a confissão de Yohiro, Sakura não conseguiu emitir nenhum som. E como o prazo de 20 anos estava se esgotando, Yohiro voltou a ser árvore e passou a aguardar pelo seu inevitável destino. Entretanto, uma tarde, quando Yohiro menos esperava, a jovem Sakura apareceu no bosque e abraçando a árvore, também confessou seu amor. Nesse momento, a ninfa celestial reapareceu e fez uma proposta a Sakura: ela poderia permanecer humana e se despedir de Yohiro ou se uniria a ele na forma de árvore. Sakura não teve dúvidas, optou por ficar ao lado de Yohiro para sempre. Nesse momento, o milagre aconteceu. Os dois se tornaram um só e a triste árvore de outrora, finalmente floresceu, transformando-se na árvore Sakura “Cerejeira em flor”, a mais bela da floresta. Desde então, o sincero amor de Sakura e Yohiro perfuma os campos e jardins de todo Japão"[17].
Referências
- ↑ «Variedades de Cerejeiras». Japan Guide. Consultado em 9 de fevereiro de 2018
- ↑ a b «Sakura: as flores de cerejeira anunciam a chegada da primavera (em Francês)». Nippon.com. Consultado em 9 de fevereiro de 2018
- ↑ a b «O Arquipélago das Cerejeiras (em Francês)». Nippon.com. Consultado em 9 de fevereiro de 2018
- ↑ «Curiosidades e Lendas Sobre o Sakura». Japão em Foco. Consultado em 9 de fevereiro de 2018
- ↑ a b Choy Lee, Khoon. Japan—between Myth and Reality. 1995, page 142.
- ↑ Young, John & Nakajima-Okano, Kimiko. Learn Japanese: New College Text. 1985, page 268.
- ↑ a b Slaymaker, Douglas. The Body in Postwar Japanese Fiction. 2004, page 122.
- ↑ James L. McClain, Japan: A Modern History p 414 ISBN 0-393-04156-5
- ↑ a b c d e Ohnuki-Tierney, Emiko. Kamikaze, Cherry Blossoms, and Nationalisms. 2002, page 9-10.
- ↑ Piers Brendon, The Dark Valley: A Panorama of the 1930s, p441 ISBN 0-375-40881-9
- ↑ James L. McClain, Japan: A Modern History p 427 ISBN 0-393-04156-5
- ↑ John Toland, The Rising Sun: The Decline and Fall of the Japanese Empire 1936–1945 p 539 Random House New York 1970
- ↑ Meirion and Susie Harries, Soldiers of the Sun: The Rise and Fall of the Imperial Japanese Army p 424 ISBN 0-394-56935-0
- ↑ Sakamoto, Kerri: One Hundred Million Hearts. Vintage Book, 2004. ISBN 0-676-97512-7.
- ↑ a b Ivan Morris, The Nobility of Failure: Tragic Heroes in the History of Japan, p290 Holt, Rinehart and Winston, 1975
- ↑ «Cherry Blossom Tattoo Designs». Freetattoodesigns.org. Consultado em 10 de fevereiro de 2018
- ↑ Katayama, Sandra (5 Junho 2021). «Sakura, a árvore que nasceu da magia do Amor Verdadeiro». Jornal O Maringá. Consultado em 25 Julho 2021