Seguro, são e consensual – Wikipédia, a enciclopédia livre

Homem praticando petplay. Dentro do BDSM, todas as ações devem ser consentidas.

Seguro, são e consensual (SSC) é um princípio do BDSM. A frase significa que todas as atividades precisam ser seguras e todos os envolvidos precisam estar aptos a consentir.[1] O consenso é o que torna claro a distinção ética e legal entre BDSM e crimes como abuso emocional[2] e violência doméstica.[3]

A frase foi cunhada dentro do Gay Male S/M Activists (GMSMA), com o uso mais antigo dentro sendo de 17 de agosto de 1983, em documento assinado por Bob Gillespie e Martin Berkenwald. De acordo com David Stein, "seguro" e "são" vieram do lema usado para as celebrações do Dia da Independência dos Estados Unidos. Os termos também foram usados por Tony DeBlase para o Chicago Hellfire Club para práticas sadomasoquistas, mas o GMSMA foi a primeira organização a usá-los junto com o termo "consensual". O termo tornou-se popular durante os anos 80, principalmente após a Marcha Nacional em Washington para o Direito das Lésbicas e Gays em 1987, onde foi usado como slogan em estandartes e camisetas.[4]

O SSC foi originalmente criado para diferenciar o BDSM da patologia.[5] Os primeiros grupos de sadomasoquismo eram acusados de praticarem atos como assassinato, violência doméstica e abuso infantil. Por isso, ele foi criado para diferenciar práticas sexuais que podiam se encaixar dentro da estrutura social e do bem-estar dos participantes de práticas indefensáveis ou ao menos questionáveis.[4] O termo sai do pressuposto de comunidade, onde uma pessoa que não siga as regras estabelecidas é expulsa dos grupos de BDSM.[6]

Os termos do SSC são vagos e tentam criar uma cultura de consenso, ao invés de regras rígidas dentro da comunidade. Eles significam o seguinte:

  • Seguro: quando há o conhecimento da prática e objetos usados, assim como a prevenção de riscos
  • São: a capacidade dos envolvidos de tomar decisões, com cada indivíduo sabendo separar a fantasia da realidade
  • Consensual: acordo entre os participantes sobre o que será praticado e sobre como o ato poderá chegar ao fim se assim desejarem.[7]

De acordo com David Stein, "Aqueles com poucas ou nenhuma ligação com a luta para trazer o S/M para fora das sombras — que é tido como garantido nos clubes de BDSM de hoje em dia em toda a grande cidade e em imagens fetichistas por toda a mídia de massa — tendem a aplicar o slogan de maneira simplista, e o usam até mesmo para contrariar alguém cujas práticas o ofendem por seja lá qual for o motivo".[4]

Alguns criticam que o SSC e o risk-aware consensual kink (RACK) contribuíram para a "baunilhificação" do BDSM.[5]

Referências

  1. Henkin, Bill; Holiday, Sybil (1996). Consensual Sadomasochism: How to Talk about it and how to Do it Safely (em inglês). [S.l.]: Daedalus Publishing. p. 64. ISBN 978-1-881943-12-9 
  2. Chris Bodenner (29 de novembro de 2016). «The Line Between BDSM and Emotional Abuse». The Atlantic (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2024. Cópia arquivada em 6 de julho de 2024 
  3. Samantha Pegg (12 de dezembro de 2018). «BDSM: when is sadomasochism an act of domestic violence?». Iol (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2024. Cópia arquivada em 6 de julho de 2024 
  4. a b c David Stein (7 de agosto de 2019). «Origins of "SAFE SANE CONSENSUAL"». Brame's Educator Directory (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2024. Cópia arquivada em 6 de julho de 2024 
  5. a b Wignall, Liam (dezembro de 2020). «Beyond safe, sane, and consensual: Navigating risk and consent online for kinky gay and bisexual men». Center of Positive Sexuality. Journal of Positive Sexuality (em inglês). 6 (2): 66–74. Consultado em 6 de julho de 2024 
  6. Facchini, Regina; Machado, Sarah Rossetti (agosto de 2013). «"Praticamos SM, repudiamos agressão": classificações, redes e organização comunitária em torno do BDSM no contexto brasileiro». Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Sexualidad, Salud y Sociedad (14): 195–228. ISSN 1984-6487. doi:10.1590/S1984-64872013000200014. Consultado em 6 de julho de 2024 
  7. Stein, David (1999). «"Safe Sane Consensual" - The Making of a Shibboleth» (PDF) (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2024