Sesto (Trácia) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Sesto Sestus Σηστός | |
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Mapa do Quersoneso da Trácia (designação antiga da atual península turca de Galípoli) | |
Localização atual | |
Localização de Sesto na Turquia | |
Coordenadas | 40° 13′ 00″ N, 26° 23′ 00″ L |
País | Turquia |
Província | Çanakkale |
Dados históricos | |
Região histórica | Quersoneso da Trácia |
Abandono | época romana |
Civilização | grega |
Sesto (em grego: Σηστός; romaniz.: Sestós; em latim: Sestus) foi uma antiga cidade grega situada na margem ocidental do trecho mais estreito do Helesponto (o atual estreito de Dardanelos, que liga o mar Egeu ao mar de Mármara).[1][2][3][4][5][6] Foi a principal cidade do Quersoneso da Trácia[7] (designação antiga da atual península turca de Galípoli) e situava-se em frente à cidade de Abidos,[1][2][3][4][5][6] a nordeste de Mádito e a leste do cabo Sestias.[8][nt 1]
Segundo a tradição, foi uma colónia eólia, fundada por naturais de Lesbos,[9] provavelmente no século VII a.C.[10] Durante vários séculos foi o local mais usado para ir da Europa para a Ásia Menor, até que os romanos mudaram as travessias para Galípoli (atual Gelibolu). O geógrafo grego Estrabão, citando a Ilíada,[11], escreveu que a região fazia parte do sétimo distrito dinástico de Troia, que abarcava a área entre o rio Esepo e a cidade de Abidos, e chamou troianos aos habitantes da região, porque todos os territórios em redor de Abidos estavam sob o domínio de Asio, descendente de Hirtaco, que além desta cidade e de Sesto, dominava Arisba, Percote e Practio.[12]
Sesto é famosa sobretudo pela lenda de Hero e Leandro, cuja protagonista morava na cidade, numa torre sobre o mar. Os poucos vestígios físicos da antiga cidade encontram-se a nordeste de Eceabat e a sudeste de Bigalı.
História
[editar | editar código-fonte]Heródoto descreveu Sesto como a praça-forte mais segura da região.[13] Segundo Teopompo, era pequena mas muito fortificada e estava ligada ao porto por muralhas com dois plethros (61 metros [de altura?])[14] O orador Pitolau chamou a Sesto o celeiro do Pireu, referindo-se à importância para Atenas da importação de cereais da região do Ponto.[15]
Sesto só começou a cunhar moeda aproximadamente em 300 a.C.[carece de fontes]
Em 480 a.C., o exército do xá aquemênida Xerxes I atravessou o estreito usando duas pontes de barcas, que depois ficaram conhecidos como "pontes de barcas de Xerxes".[16] Depois da Batalha de Mícale (479 a.C.), os atenienses quiseram recuperar o Quersoneso da Trácia e cercaram Sesto, onde o exército persa se tinha fortificado, mas não estava bem preparado para se defender. A importância de Sesto para os atenienses devia-se à sua situação estratégica, que permitia controlar a rota comercial do trigo proveniente das planícies cerealíferas da Ucrânia. A guarnição persa resistiu durante meses ao assédio, até que o exército ateniense comandado por Xantipo[16] logrou entrar na cidade na primavera de 478 a.C., quando a fome provocou a revolta dos habitantes. O governador persa Artaíctes e a maior parte dos persas fugiram de noite e os habitantes abriram as portas da cidade.[17] Essa derrota levou a que a guarnição persa de Sesto se rendesse e que a influência persa no Helesponto fosse significativamente reduzida. O controlo do Helesponto permitiu que o acesso do exército persa ao continente grego fosse impedido ao mesmo tempo que era restabelecido o comércio ateniense com o mar Negro com portos como Bizâncio.[carece de fontes]
Sesto figura nos registos da Liga de Delos como pólis tributária desde 446/445 a.C.[nt 2] e é mencionada em inscrições, juntamente com Alopeconeso, como tendo sido uma base da frota confederada que patrulhava as águas do Helesponto.[18] Permaneceu nessa liga, liderada por Atenas, até à Batalha de Egospótamos (405 a.C.). Lisandro, o general espartano que derrotou os atenienses nessa batalha, marchou contra os sobreviventes que conseguiram refugiar-se em Sesto, tomou a cidade e deixou partir os refugiados devido a um acordo,[19] Em consequência da derrota de Atenas na Guerra do Peloponeso, Sesto e outras cidades do Quersoneso passaram a ser aliadas de Esparta, que por sua vez era aliada dos persas.[carece de fontes]
8Quando rebentou a guerra entre Esparta e o Império Aqueménida, Sesto tomou o partido dos espartanos e recusou-se a obedecer à ordem de Farnabazo II (sátrapa persa da Frígia helespôntica) de expulsar a guarnição lacedemónia. Isso foi aproveitado em 393 a.C., durante a Guerra de Corinto, pelo estratego ateniense Conão para levantar um cerco à cidade, que não foi bem sucedido.[20]
Em 387 a.C., Sesto recuperou a independência nos termos do acordo de Paz de Antálcidas, que pôs termo à Guerra de Corinto, mas pouco tempo depois os persas voltaram a impor o seu domínio. Quando a cidade volta a ser mencionada nas fontes históricas, encontrava-se sob a alçada do sátrapa Ariobarzanes (368–330 a.C), que estava em guerra com Cotis, rei dos trácios odrísios. Este cercou Sesto em 365 a.C., mas teve que levantar o cerco quando chegaram as forças unidas do estratego anteniense Timóteo e do rei espartano Agesilau II.[21]
É possível que devido a esse apoio Ariobarzanes tenha dado Sesto a Atenas, talvez juntamente com mais alguma cidade, mas foi o sucessor de Cotis, Cersobleptes, que entregou todo o Quersoneso Trácio, incluindo Sesto, a Atenas, no ano 357 a.C.[carece de fontes] No entanto, a cidade recusava a submeter-se a Atenas, pelo que em 353 a.C. os atenienses enviaram Carés para conquistarem a cidade, que foi tomada de assalto e todos os habitantes masculinos foram executados.[22]
Embora não haja menções históricas para o período seguinte, a cidade não deve ter tardado a cair nas mãos dos macedónios. Foi em Sesto que Alexandre, o Grande reuniu as suas tropas para cruzar o Helesponto em direção à Ásia Menor. O rei Filipe V da Macedónia teve que retirar da cidade quando perdeu a Segunda Guerra Macedónica frente à República Romana. A retirada dos macedónios de Sesto foi um dos pedidos feitos ao romanos pelos ródios, a quem interessava o comércio livre em direção ao mar Negro.[carece de fontes]
Em 191 a.C., durante a guerra romano-síria, Sesto aliou-se a Antíoco III Magno e foi assediada pelo exército romano no ano seguinte, tendo-se rendido. Passou então a ser uma cidade romana. Deve ter desaparecido no fim do Império Romano, com os ataques dos godos.[carece de fontes]
Em 1810, Byron nadou desde Sesto até Abidos em quatro horas, recriando o feito de Leandro, e depois escreveu um poema sobre Leandro.[23] Este evento é comemorado todos os anos com um encontro de nadadores que fazem a travessia.[24]
Sítio arqueológico e localização
[editar | editar código-fonte]As ruínas da antiga Sesto localizam-se em Zemenic, perto da localidade de Jalowa e da baía de Ak Bachi Liman.[25] No cimo da colina que dominava o porto de Sesto encontram-se as ruínas da fortaleza bizantina de Zeménia, tomada por tropas otomanas às ordens do bei Orcano I (r. 1281–1359), que, vindas do lado anatólio dos Dardanelos, conseguiram penetrar na parte europeia.[26]
Notas
[editar | editar código-fonte]- Texto inicialmente baseado na tradução dos artigos «Sestos» na Wikipédia em castelhano (acessado nesta versão) e «Sestos» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
- ↑ Sesto, Mádito e o cabo Sestias situavam-se na península, no lado ocidental (europeu) do estreito do Helesponto, enquanto que Abidos se situava na margem oposta, na Ásia Menor.
- ↑ Inscriptiones Graecae I3 226.V.24 menciona a cidade como tributária mas não especifica qual era o phoros (tributo) que era pago.
Referências
- ↑ a b Heródoto, Histórias, Livro VII, Polímnia, 78 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ a b Tucídides, I.89.2
- ↑ a b Inscriptiones Graecae, II2 274.3; inscrição de meados do século IV a.C.
- ↑ a b Xenofonte, Helénicas, IV.8.5
- ↑ a b Éforo de Cime, fr. 155
- ↑ a b Ilíada, II.836
- ↑ Périplo de Pseudo-Cílax, 67
- ↑ Isaac 1986, p. 195.
- ↑ Pseudo-Escimno, 709–710
- ↑ Isaac 1986, p. 161.
- ↑ Ilíada, II.835–837
- ↑ Estrabão, XIII.1.7
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro IX, Calíope, 115 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Teopompo, fr.390
- ↑ Hansen & Nielsen 2004, p. 910.
- ↑ a b Heródoto, Histórias, Livro VII, Polímnia, 33 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro IX, Calíope, 118 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Braaden & McGregor, pp. 3-23.
- ↑ Diodoro Sículo, XIII.106.8
- ↑ Xenofonte, Helénicas, IV.8.6
- ↑ Xenofonte, Agesilau 2.26; Discurso XV 108, 112
- ↑ Diodoro Sículo, XVI.34.4
- ↑ The Works of Lord Byron
- ↑ Barr, Matt (30 de setembro de 2007). «The day I swam all the way to Asia» (em inglês). The Guardian www.theguardian.com. Consultado em 11 de julho de 2016
- ↑ Dearborn 1819, p. 42.
- ↑ Diccionario geográfico universal, p. 114
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]Fontes antigas
[editar | editar código-fonte]- Diodoro Sículo, Biblioteca histórica
- Éforo de Cime
- Estrabão, Geografia, Livro XIII, Capítulo 1, 7 [fr] [en] [en] [en]
- Homero, Ilíada
- Tucídides, História da Guerra do Peloponeso
- Xenofonte, Helénicas
- Xenofonte, Agesilau
- Périplo de Pseudo-Cílax
- Pseudo-Escimno
Fontes modernas
[editar | editar código-fonte]- Braaden, Donald William; McGregor, Malcolm Francis (1973), Studies in Fifth-Century Attic Epigraphy (em inglês)
- Dearborn, Henry Alexander Scammell (1819), A Memoir on the Commerce and Navigation of the Black Sea: And the Trade and Maritime Geography of Turkey and Egypt (em inglês), 2, Boston: Wells & Lilly, consultado em 21 de julho de 2016
- Hansen, Mogens Herman; Nielsen, Thomas Heine (2004), «Thracian Chersonesos», An Inventory of Archaic and Classical Poleis, ISBN 9780198140993 (em inglês), Oxford University Press
- Isaac, Benjamin H. (1986), The Greek Settlements in Thrace Until the Macedonian Conquest (em inglês), Brill, consultado em 21 de julho de 2016
- «Ak-Bachi-Liman», Diccionario geográfico universal, por una sociedad de literatos, S.B.M.F.C.L.D. (em espanhol), Barcelona: José Torner, 1834, consultado em 21 de julho de 2016
Written after swimming from Sestos to Abydos em The Works of Lord Byron (ed. Coleridge, Prothero). Poetry. Volume 3. no Wikisource em inglês.