Superconducting Super Collider – Wikipédia, a enciclopédia livre
O Superconducting Super Collider ou SSC foi um projeto não concluído de acelerador de partículas do governo dos Estados Unidos. A ideia para um novo e mais potente acelerador de partículas vinha sendo discutida na comunidade de física nuclear dos EUA desde os anos 70, e paineis com o governo para sua construção começaram em 1983. A construção começou em 1991, em Waxahachie, Texas, mas nunca foi concluída, com o projeto sendo cancelado ainda em 1993, com 22,5 km de túnel cavados e dois bilhões de dólares gastos (aproximadamente 3,8 bilhões em valores de 2022).
História
[editar | editar código-fonte]Contexto
[editar | editar código-fonte]Nos anos 70, os Estados Unidos lideravam a física nuclear, tendo recentemente descoberto os primeiros quarks. Os Estados Unidos já possuíam aceleradores de partículas - Fermilab, SLAC, o CESR, e o AGS. Porém, a Europa avançava na expansão do seu acelerador, o CERN, além de contar com o DESY, enquanto que a União Soviética também possuía aceleradores e competia por descobertas na área, e novas nações também trabalhavam em seus aceleradores, como o Japão com o KEK. Para manter a competitividade na área, os físicos norte-americanos discutiam a construção de um novo e mais potente acelerador.[1] Um dos principais proponentes era Leon Lederman, diretor do Fermilab e que viria a ser laureado com o Prêmio Nobel.[2] Ao longo de sua carreira, continuaria defendendo o SSC.[3][4]
No contexto da guerra fria o governo dos Estados Unidos vinha injetando dinheiro em projetos relacionados a física nuclear, perseguindo o desenvolvimento de armas nucleares como no projeto Manhattan, que custou 300 bilhões de dólares. Porém, pressões inflacionárias nos anos 70 e o movimento anti-guerra vinham reduzindo o apoio a tais projetos.[1]
Início
[editar | editar código-fonte]Nos anos 80 propostas mais concretas para a construção de um novo acelerador vinham sendo discutidas entre acadêmicos e o governo. Sob o apelido de "Desertron" almejava-se que o novo acelerador tivesse 40 TeV e um túnel de 30 km. Em 1984 o projeto foi dado um nome, Superconducting Super Collider (SSC), e um orçamento de 8,4 bilhões de dólares em valores atuais - um orçamento maior que o dos aceleradores anteriores, que estavam na casa de milhões de dólares.[1]
Uma preocupação era que os EUA teriam aceleradores demais, dispersando o financiamento e a mão de obra especilizada, enquanto que a Europa podia concentrar os esforços no CERN. Porém, os EUA queriam manter a liderança na área e para isso queriam um acelerador maior que os existentes e em solo americano, dessa forma não demonstraram interesse em unir esforços com os europeus no CERN, nem vice-versa.[1] Uma conferência entre o então presidente americano George H. W. Bush e o então primeiro-ministro japonês Kiichi Miyazawa que deveria discutir o apoio financeiro do país asiático ao acelerador foi cancelada devido a um incidente em que Bush vomitou em Miyazawa, e nunca mais foi agendada.[5]
A Universities Research Association (URA) submeteu uma proposta ao governo para liderar a criação do acelerador, com Roy Schwitters selecionado como diretor do projeto. Em 1987 um grupo de trabalho iniciou a seleção do local de construção do acelerador.[1]
Local e construção
[editar | editar código-fonte]A seleção do local para construção foi polêmica. Diversos estados se candidataram, nas esperança de que a construção no local geraria milhares de empregos, tanto temporários como permanentes, e houve amplo lobby no congresso e senado para tentar influenciar a seleção do local. Entre os candidatos na fase final de seleção estava uma cidade vizinha ao Fermilab em Illinois, favorita entre a URA por poder aproveitar a mão de obra especializada do local. Porém, a escolha final acabou sendo a cidade de Waxahachie, no Texas. Um possível motivo da escolha está relacionado a protestos de grupos ativistas de Illinois que ameaçavam uma batalha judicial contra a construção do acelerador no local por preocupações com resíduos nucleares (que o acelerador não gerava). Esses grupos tinham ganhado força na época, no contexto do desastre de Chernobyl.[1]
Após diversas trocas no comando do projeto, que, junto à ausência de um sistema de gerência de custos, levou a atrasos e aumento no orçamento necessário para construção, as obras começaram em 1991, e os túneis começaram a ser escavado sem 1993. Apenas dias depois do início dos trabalhos, um acidente causou o desabamento de uma porção de um túnel, matando um funcionário.[1]
Cancelamento
[editar | editar código-fonte]Contexto
[editar | editar código-fonte]Em 1993, após décadas de pesquisa e planejamento por parte do governo e da URA, o orçamento para a construção do túnel já havia saltado dos 8 bilhões originais para mais de 18 bilhões.[6] Unido a isso ocorreu também o colapso da União Soviética, o que tirava parte da motivação competitiva do projeto. Por fim, em paralelo ocorria a construção da Estação Espacial Internacional, outro projeto multi-bilionário sendo empregado pelo governo dos Estados Unidos que estava com o orçamento muito acima do original, e que não encontrava mais forte motivação do público e da comunidade científica norte-americana, dado o custo enorme e benefício científico ainda não claro. Por fim, o projeto não contava com apoio financeiro da comunidade internacional, que já trabalhava em outros aceleradores.[6]
Fim do projeto
[editar | editar código-fonte]Ao fim de 1993, e não sem uma batalha política, o congresso e o senado votaram por encerrar o projeto. No final das contas, 22,5 km de túnel foram cavados e dois bilhões de dólares gastos (aproximadamente 3,8 bilhões em valores de 2022).[6] Foram submetidos planos diversos para aproveitar a infraestrutura que havia sido construída, mas nenhum deles foi aprovado. Algumas empresas compraram partes da infraestrutura, mas a maior parte ficou abandonada.[1][7]
Referências
- ↑ a b c d e f g h Kolb, Adrienne; Hoddeson, Lillian; Riordan, Michael (2015). Tunnel Visions: The Rise and Fall of the Superconducting Super Collider. [S.l.]: University of Chicago Press
- ↑ Aschenbach, Joy (5 de dezembro de 1993). «No Resurrection in Sight for Moribund Super Collider : Science: Global financial partnerships could be the only way to salvage such a project. But some feel that Congress delivered a fatal blow.». Los Angeles Times. Consultado em 16 de janeiro de 2013.
Disappointed American physicists are anxiously searching for a way to salvage some science from the ill-fated superconducting super collider ... "We have to keep the momentum and optimism and start thinking about international collaboration," said Leon M. Lederman, the Nobel Prize-winning physicist who was the architect of the super collider plan
- ↑ Abbott, Charles (Junho de 1987). «Illinois Issues journal, June 1987». p. 18.
Lederman, who considers himself an unofficial propagandist for the super collider, said the SSC could reverse the physics brain drain in which bright young physicists have left America to work in Europe and elsewhere.
(direct link to article: [1] - ↑ Kevles, Dan (Inverno de 1995). «Good-bye to the SSC: On the Life and Death of the Superconducting Super Collider» (PDF). California Institute of Technology. Engineering & Science. 58 (2): 16–25. Consultado em 16 de Janeiro de 2013.
Lederman, one of the principal spokesmen for the SSC, was an accomplished high-energy experimentalist who had made Nobel Prize-winning contributions to the development of the Standard Model during the 1960s (although the prize itself did not come until 1988). He was a fixture at congressional hearings on the collider, an unbridled advocate of its merits
- ↑ David Appell (15 de outubro de 2013). «The Supercollider That Never Was». Scientific American
- ↑ a b c Weinberg, Steven (10 de maio de 2012). «The Crisis of Big Science». New York Review of Books(inscrição necessária)
- ↑ «Magnablend Reopens Former Superconducting Super Collider Facility In Waxahachie, TX». Business Facilities. 9 de agosto de 2013. Consultado em 18 de novembro de 2019