Tengri – Wikipédia, a enciclopédia livre
Tengri (turco antigo: ; em turco: Tanrı; proto-turco *teŋri / *taŋrɨ; alfabeto mongol: ᠲᠨᠭᠷᠢ - Tngri; mongol: Тэнгэр - Tenger) é um dos nomes da divindade principal da religião dos primeiros povos túrquicos (xiongnu, hunos, protobúlgaros) e mongóis (xianbei).
A devoção a Tengri é por vezes chamada de Tengriismo, cujas divindades principais são o Pai Céu (Tengri/Tenger) e Mãe Terra (Eje/Gazar Eej) e que mistura princípios de xamanismo, animismo, totemismo e culto aos ancestrais.
Nome
[editar | editar código-fonte]A mais antiga forma do nome está preservada nos anais chineses do século IV a.C. numa descrição das crenças dos xiongnu e aparece como 撑犁/Cheng-li, que se supõe ser uma transcrição para o chinês de Tängri[a]. Stefan Georg (2001) sugeriu uma origem ienisseiana primordial, derivada de *tɨŋgVr- ("alto"). Alternativamente, uma etimologia altai reconstruída a partir de *T`aŋgiri ("juramento" ou "deus"), enfatiza a divindade ao invés de o seu domínio sobre o céu[1].
A forma turca, Tengri, foi atestada no século XI por Mahmud al-Kashgari. No turco moderno, a palavra derivada Tanrı é utilizada genericamente para "deus" ou para o Deus abrâmico, e é costumeiramente utilizada pelos muçulmanos turcos para se referir a Deus em turco como uma alternativa ao termo árabe Alá.
História
[editar | editar código-fonte]Tengri era o deus nacional dos goturcos, chamado de "deus dos turcos" (Türük Tängrisi)[2]. Os clãs goturcos baseavam seu poder num mandato de Tengri e eram geralmente aceitos como filhos do deus e seu representante na terra. Eles utilizavam títulos como tengricute, kutluġ ou Cutalmixe baseados na crença de que eles detinham o kut, o poderoso espírito concedido a eles por Tengri[3].
Tengri era também a principal divindade adorada pela classe governante dos povos das estepes centro-asiáticas entre os séculos VI e IX (povos turcos, mongóis e magiares)[4]. Porém, ele perdeu importância quando o grão cãs uigures proclamaram o maniqueísmo como a religião estatal no século VIII[5].
Mitologia
[editar | editar código-fonte]Tengri era o principal deus do panteão turco e controlava a esfera celeste[6], compartilhando características com o deus do céu indo-europeu *Dyeus, cuja religião reconstruída é mais parecida com a dos primeiros turcos do que com a de qualquer outro povo do Oriente Médio ou da região do Mediterrâneo[7].
O mais importante testemunho contemporâneo da adoração a Tengri são as Inscrições de Orcom, em turco antigo, do século VIII. Escritas no alfabeto de Orcom, estas inscrições preservam um relato das origens mitológicas dos turcos. Dedicadas a Kul Tigin, elas incluem passagens (na tradução do Comitê de Linguística do Ministério da Cultura e Informação da República do Cazaquistão[8]) como:
“ | "Quando o céu azul [Tengri] acima e a terra marrom abaixo foram criados, entre eles um homem foi criado. Sobre os seres humanos, meus ancestrais Bumim e Istemi governaram. Eles governaram as pessoas pelas leis turcas, eles as lideraram e venceram"(face 1, linha 1) "Tengri cria a morte. Todos os seres humanos foram criados para morrer"(face 2, linha 9) "Você morreu (lit.: 'saiu voando') até que Tengri lhe dê a vida novamente"(face 2, linha 14) | ” |
Notas
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Sergei Starostin, Altaic etymology
- ↑ a b Jean-Paul Roux, Die alttürkische Mythologie, p. 255
- ↑ Käthe Uray-Kőhalmi, Jean-Paul Roux, Pertev N. Boratav, Edith Vertes. "Götter und Mythen in Zentralasien und Nordeurasien"; section: Jean-Paul Roux: "Die alttürkische Mythologie" ("Old Turkic Mythology") ISBN 3-12-909870-4
- ↑ Yazar András Róna-Tas , Hungarians and Europe in the early Middle Ages: an introduction to early Hungarian history, Yayıncı Central European University Press, 1999, ISBN 978-963-9116-48-1, p. 151.
- ↑ Buddhist studies review, Volumes 6-8, 1989, p. 164.
- ↑ Abazov, Rafis. "Culture and Customs of the Central Asian Republics". Greenwood Press, 2006. page 62
- ↑ Mircea Eliade, John C. Holt, Patterns in comparative religion, 1958, p. 94.
- ↑ Inscrições de Orcom
References
[editar | editar código-fonte]- Brent, Peter. The Mongol Empire: Genghis Khan: His Triumph and his Legacy. Book Club Associates, London. 1976.
- Sarangerel. Chosen by the Spirits. Destiny Books, Rochester (Vermont). 2001
- Schuessler, Axel. ABC Etymological Dictionary of Old Chinese. University of Hawaii Press. 2007.
- Georg, Stefan. „Türkisch/Mongolisch tängri “Himmel/Gott” und seine Herkunft“, "Studia Etymologica Cracoviensia 6, 83-100
- Bruno J. Richtsfeld: Rezente ostmongolische Schöpfungs-, Ursprungs- und Weltkatastrophenerzählungen und ihre innerasiatischen Motiv- und Sujetparallelen; in: Münchner Beiträge zur Völkerkunde. Jahrbuch des Staatlichen Museums für Völkerkunde München 9 (2004), S. 225–274.
- Yves Bonnefoy, Asian mythologies, University of Chicago Press, 1993, ISBN 978-0-226-06456-7, p. 331.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Rafael Bezertinov (2000). «Trecho da obra Tengrianizm: Religion of Turks and Mongols» (em inglês). Consultado em 27 de outubro de 2013
- Andrei Vinogradov (2003). «Jang in the contextof Altai religious tradition» (PDF) (em inglês). Consultado em 27 de outubro de 2013. Arquivado do Ak original Verifique valor
|url=
(ajuda) (PDF) em 24 de agosto de 2006 - «Templo de Tengri» (em inglês). Consultado em 27 de outubro de 2013. Arquivado do Virtual original Verifique valor
|url=
(ajuda) em 3 de abril de 2010 - «Tengri» (em inglês). Consultado em 27 de outubro de 2013