Teste nuclear norte-coreano de 2017 – Wikipédia, a enciclopédia livre
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No dia 3 de setembro de 2017 a Coreia do Norte realizou o sexto, e de longe o maior teste nuclear de sua história, o qual acredita-se que tenha sido feito com uma bomba de hidrogênio.[1]
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]As origens do programa nuclear norte-coreano remontam à Guerra da Coreia, travada de 1950 até 1953. Durante aquela guerra o General americano Douglas MacArthur planejou um ataque nuclear contra a Coreia do Norte e a China. Kim Il-Sung, o primeiro líder norte-coreano, chegou à conclusão de que seu país precisava desenvolver um arsenal nuclear.[2] Em 1959 a Coreia do Norte assinou um acordo de cooperação com a antiga União Soviética e três anos depois foi inaugurada a central nuclear de Yongbyon.[3]
Em 1994, a Coreia do Norte assinou com os Estados Unidos um acordo visando interromper atividades nucleares ilícitas. Contudo, o país jamais aderiu ao Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares (CTBT).[4] Em 2002, o complexo nuclear de Yongbyon foi reativado, e os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica foram expulsos do país. No ano seguinte, Pyongyang se retira do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Em 2005 o país anuncia já dispor de armas atômicas. O primeiro teste nuclear foi realizado em 2006, seguidos pelas detonações de 2009, 2013 e duas em 2016 (janeiro e setembro).[5][6]
Eventos
[editar | editar código-fonte]Após o teste nuclear de setembro de 2016, as tensões entre a Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos aumentaram drasticamente, especialmente após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Por várias vezes, o líder norte-coreano Kim Jong-un ameaçou atacar os americanos e seus aliados, inclusive com o uso de armas nucleares.[7][8]
Em 15 de abril de 2017, foi realizado uma grande parada militar em Pyongyang em homenagem a Kim Il-sung, fundador do país e avô do atual líder. Foram exibidos, dentre outros armamentos, mísseis de médio e longo alcance.[9] Nos meses seguintes, a Coreia do Norte realizou vários testes com mísseis. Dois deles sobrevoaram a ilha japonesa de Hokkaido, antes de caírem no mar.[10][11]
Em 10 de agosto, Kim Jong-un ameaçou lançar um ataque nuclear contra a Ilha de Guam, no Pacífico, onde os Estados Unidos mantêm importantes instalações militares.[12][13] Ao mesmo tempo, o presidente norte americano Donald Trump ameaçou atacar o hermético país com uma “força e fúria” nunca vistas.[14]
Em 2 de setembro, poucas horas antes do teste, a agência estatal norte-coreana KCNA mostrou uma foto de Kim Jong-Un inspecionando o que seria uma ogiva de fusão nuclear de dois estágios, que poderia ser transportada por um míssil. Segundo a KCNA, todos os componentes da bomba foram fabricados na Coreia do Norte.[15]
Às 03h30 UTC do dia 03 de setembro, o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) e a rede sismográfica mundial IRIS registraram um forte terremoto de magnitude 6,3 na área testes de Punggye-ri.[16][17] De imediato, autoridades sul-coreanas, japonesas e chinesas constataram que o sismo teve uma origem não natural.[18] Este tremor foi muito mais potente do que os registrados nos testes anteriores, e foi sentido em várias cidades na China, em Seul, em Vladivostok (Rússia) e até mesmo no Japão.[19] Cerca de oito minutos depois, outro abalo de menor intensidade (Magnitude 4,1) foi registrado nas proximidades do local da explosão. A origem desse segundo tremor é desconhecida, mas pode estar relacionada a um colapso do terreno em decorrência da detonação,[20] um deslizamento de terra ou a um rock burst, uma súbita e violenta fratura das rochas próximas ao local.[21] Explosões subterrâneas, especialmente nucleares, geram registros sismográficos bem diferentes de um terremoto natural.[22]
Logo em seguida, a televisão estatal norte-coreana confirmou que o país realizou um teste “bem-sucedido” com uma bomba termonuclear “de poder sem precedentes” que pode ser instalada em um míssil balístico intercontinental, e que confirma a capacidade nuclear do país.[23][24]
Ainda no dia 3, o secretário de defesa dos Estados Unidos James Mattis prometeu uma resposta "massiva, eficaz e esmagadora", a quaisquer ameaças norte-coreanas contra Washington ou seus aliados.[25] Simultaneamente, militares sul-coreanos realizaram treinamentos com mísseis ar-terra e balísticos.[26] Em 4 de setembro, após conversar com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, Trump reafirmou que está disposto a empregar todos os recursos disponíveis para proteger os Estados Unidos e seus aliados, inclusive com o uso de armas convencionais e nucleares.[27][28]
Em 5 de setembro, o embaixador da Coreia do Norte na ONU Han Tae-song declarou que as últimas atividades militares de seu país foram um "pacote de presentes" endereçados aos Estados Unidos, e que novos "pacotes" estariam por vir. No mesmo dia, Trump autorizou a venda de sofisticados equipamentos militares à Coreia do Sul e ao Japão, embora sem especificar quais seriam exatamente essas armas.[29] O presidente russo Vladimir Putin alertou que o uso de força militar contra a Coreia do Norte poderia resultar em uma catástrofe de proporção mundial, mas que aplicar novas sanções seria ineficaz. Da mesma forma, o governo chinês advertiu que apenas sanções não resolvem o grave problema, tampouco uma ação militar na região.[30] A ministra da defesa da França Florence Parly teme que Pyongyang consiga num curto espaço de tempo desenvolver mísseis capazes de atingir a Europa.[31]
No dia 6 de setembro, o site especializado 38 North revelou, baseado em imagens de satélite, que ocorreram vários deslizamentos de terra na região ao redor do teste. O topo da montanha Mantap, onde a bomba provavelmente foi detonada, também afundou visivelmente.[32] As experiências nucleares norte-coreanas sempre são conduzidas no interior de túneis escavados nas montanhas de Punggye-ri e devido às várias explosões no local, teme-se que a área esteja prestes a colapsar, o que poderia resultar em vazamentos radioativos.[33] De fato, foi detectado um leve aumento da radiação, na fronteira sino-coreana, próximo ao local de testes. Contudo, as autoridades chinesas não concluíram se o evento teve alguma relação com a explosão.[34] No mesmo dia, foi realizada uma grandiosa festa pelas ruas de Pyongyang, que contou com a presença de milhares de pessoas e incluiu até mesmo queima de fogos de artifício, para comemorar o teste nuclear e homenagear os cientistas envolvidos no polêmico programa nuclear norte-coreano.[35][36]
Em 7 de setembro, como forma de retaliação ao teste, o governo do México decidiu expulsar do país o embaixador norte-coreano Kim Hyong-gil, que também foi declarado persona non grata.[37][38] Alguns dias depois, os governos da Espanha e do Kwait também optaram por banir diplomatas da Coreia do Norte.[39]
No dia 9 de setembro, o governo norte-coreano promoveu um banquete e um concerto para celebrar o teste nuclear e também o 69° aniversário da criação do país. Acompanhado pela esposa Ri Sol-ju, por militares, cientistas do projeto nuclear e membros do Partido dos Trabalhadores da Coreia, Kim Jong-Un declarou que o último teste foi uma "grande vitória" conquistada "a custa do sangue" dos norte-coreanos, e também apelou para que os cientistas "redobrem" seus esforços para que a Coreia do Norte seja enfim reconhecida como uma potência nuclear.[40][41][42][43]
Em 10 de setembro, mais uma vez a Coreia do Norte ameaçou os Estados Unidos. A agência KCNA divulgou um comunicado do Ministério dos Negócios estrangeiros alertando que caso sejam aplicadas sanções mais duras contra o país, novas ações "duras" poderiam ser adotadas e que causariam o maior dos "sofrimentos e dores" da história dos Estados Unidos. O comunicado ainda classificou os americanos como "gângsteres".[44][45]
Em 11 de setembro, o Conselho de Segurança da ONU aprovou de forma unânime (15 votos a favor e nenhum contra) novas sanções contra a Coreia do Norte que incluem: limitar a importação de derivados de petróleo para 2 milhões de barris ao ano, a partir de 1° de janeiro de 2018; barrar a exportação de produtos têxteis; e fica também proibido a emissão de novas licenças de trabalho para trabalhadores norte-coreanos. A princípio os Estados Unidos defendiam medidas ainda mais duras, como embargar completamente o petróleo e o congelamento dos bens de Kim Jong-un, mas o texto final foi atenuado visando garantir o apoio de Rússia e China.[46][47][48] Isso porque esses três países, mais Reino Unido e França são membros permanentes do Conselho e tem o poder de vetar as resoluções.[49] Devido às novas sanções, o embaixador norte-coreano na ONU Han Tae-song ameaçou mais uma vez os Estados Unidos com "meios extremos" e disse que o governo americano está "obcecado" em sabotar o programa nuclear de Pyongyang.[50][51][52] Japão e Coreia do Sul também foram ameaçados, por terem apoiado as novas sanções.[53]
No dia 12 de setembro, militares sul-coreanos voltaram a realizar exercícios militares, onde foi empregado pela primeira vez o míssil de cruzeiro Taurus. No teste, o míssil atingiu com precisão um alvo a 400 quilômetros de distância. Se forem lançados de Seul, levariam apenas 15 minutos para chegar em Pyongyang.[54][55]
Em 13 de setembro, a Comissão de Segurança Nuclear da Coreia do Sul detectou na atmosfera traços do isótopo Xenônio-133. Essa substância se forma durante o processo de fissão nuclear. Contudo, não foram encontrados trítio ou outras substâncias relacionadas com a fusão nuclear.[56][57] No mesmo dia o site 38 North revelou imagens de satélite que mostram uma intensa movimentação na área de testes de Punggye-ri. Essas atividades podem estar relacionadas ao reparo dos túneis que foram danificados no último teste, ou até mesmo a preparação de uma nova experiência nuclear.[58][59]
No dia 23 de setembro, um novo tremor de magnitude 3,5 foi detectado na área de testes de Punggye-ri.[60] Autoridades sul-coreanas presumiram que o terremoto teve uma origem natural.[61][62] A princípio a China suspeitou de outro teste nuclear, mas depois também concluíram que o sismo não foi provocado por uma explosão.[63] Já para Lassina Zerbo, secretário-executivo da Organização do Tratado de Interdição Completa de Testes Nucleares (CTBTO), o abalo foi resultado de outro colapso na região, similar ao evento que sucedeu o teste do dia 3.[64][65][66][67] A 12 de outubro, ocorreu um novo colapso na região, gerando um tremor de magnitude 2,9.[68][69]
Em 31 de outubro, a agência de notícias sul-coreana Yonhap e a TV Asahi do Japão confirmaram a morte de cerca de 200 pessoas que trabalhavam na área de Punggye-ri, vítimas de um dos desmoronamentos de terra no local,[70][71][72] evidenciando que o solo na região ficou extremamente fragilizado após a última explosão.
A 21 de abril de 2018, Kim Jong-Un determinou o fim dos testes com armas nucleares, de mísseis e o fechamento da área de testes de Punggye-ri.[73]Um estudo feito por geólogos chineses confirmou que houve vários desmoronamentos nas proximidades da última e mais poderosa explosão, o que poderia justificar a decisão do líder norte-coreano de fechar a área.[74][75]
Em 11 de maio de 2018, um estudo feito pela Universidade de Berkeley foi publicado pela revista Science, revelando o tamanho do estrago que a explosão provocou no monte Mantap. Segundo o estudo, a bomba foi detonada a cerca de 400 - 600 metros abaixo do topo da montanha. A explosão foi forte o bastante para vaporizar granito no interior da montanha, resultando numa cavidade de cerca de 50 metros de diâmetro. O topo do Monte Mantap chegou a se elevar em mais de 2 metros, e logo em seguida abaixou cerca de meio metro, devido ao desmoronamento da cavidade formada pela explosão.[76]
Potência da explosão
[editar | editar código-fonte]O governo norte-coreano nunca revela a capacidade real de suas bombas. Levando-se em conta a intensidade do tremor, a potência dessa nova arma foi calculada inicialmente em 120 quilotons – 10 vezes mais potente do que a detonada no teste anterior, segundo autoridades sul-coreanas e japoneses, e tudo indica que o regime de Pyongyang de fato desenvolveu uma bomba de hidrogênio de dois estágios.[77]
Já a Universidade de Ciência e Tecnologia da China calculou um rendimento superior a 150 quilotons.[78]
Alguns dias depois, o ministério da defesa do Japão reavaliou a potência da bomba em 160 quilotons, baseados nos dados colhidos pelas estações de monitoramento da Organização do Tratado de Interdição Completa de Testes Nucleares (CTBTO)[79]
No dia 13 de setembro, o site especializado 38 North divulgou uma estimativa ainda mais assustadora: cerca de 250 quilotons.[58][80]
Em 2019, uma pesquisa publicada no Journal of Geophysical Research: Solid Earth calculou a potência explosiva entre 250 - 300 quilotons.[81][82]
Em outubro de 2019, pesquisadores da Agência Espacial Indiana ISRO calcularam, com base em imagens de satélite captadas do local da explosão, que a bomba teve um rendimento entre 245 - 271 quilotons.[83]
Um quiloton equivale à energia liberada pela detonação de 1 000 toneladas de TNT.[84] Para efeito de comparação, a bomba atômica que destruiu Hiroshima em 1945 tinha uma potência de 16 quilotons,[85] e uma ogiva W76 dos mísseis Trident possui um rendimento estimado em 100 quilotons.[86]
Considerando uma potência de 250 kt, se esta bomba fosse detonada no centro de Washington, todas as pessoas que estivessem em um raio de 5 quilômetros sofreriam queimaduras de terceiro grau.[87]
A dimensão do arsenal nuclear norte-coreano também é desconhecida. Segundo estimativas do governo dos Estados Unidos, a Coreia do Norte pode ter até 60 bombas nucleares.[88] Já para o físico Siegfried Hecker, o país teria estoques de urânio e plutônio para no máximo 25 ogivas.[89] Em 2018, calculou-se que a Coreia do Norte pudesse ter de 20 a 30 bombas.[90]
Reações Internacionais
[editar | editar código-fonte]O teste nuclear foi repudiado pela comunidade internacional.
- ONU: o secretário geral das Nações Unidas António Guterres classificou o evento como "profundamente desestabilizador".
- AIEA: O diretor-geral da agência, Yukiya Amano, classificou o teste como um ato "extremamente deplorável".[91]
- Estados Unidos: o Presidente Donald Trump alertou que a Coreia do Norte se tornou uma grande ameaça, e que o uso da força militar não estaria descartada.
- Japão: O primeiro-ministro Shinzo Abe disse que o teste foi uma "ameaça de segurança" e que compromete ainda mais a "paz e a segurança".
- França: o Presidente Emmanuel Macron pediu uma ação rápida do Conselho de Segurança da ONU.
- Rússia: Vladimir Putin insiste que se deve procurar uma solução pacífica para a situação.
- China: O governo chinês "condenou veementemente" o novo teste nuclear, frisando que a Coreia do Norte "ignorou" a oposição de toda a comunidade internacional.[92]
- Coreia do Sul: o presidente Moon Jae-In também pediu sanções mais drásticas ao vizinho do Norte, e também alertou que jamais permitirá que a Coreia do Norte avance com sua tecnologia nuclear.
- Reino Unido: O ministro das relações exteriores Boris Johnson classificou o teste como uma "imprudência".
- OTAN: A organização reprovou "energicamente" o novo teste e pediu à Pyongyang para interromper suas experiências nucleares.
- União Europeia: O teste foi uma "grave provocação" e exigiu que a RPDC abandone as armas de destruição em massa.[93]
- Brasil: através do Itamaraty, o governo brasileiro condenou de forma "veemente" o teste nuclear e exigiu que a Coreia do Norte cumpra com suas obrigações internacionais.[94]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Teste nuclear norte-coreano de 2006
- Teste nuclear norte-coreano de 2009
- Teste nuclear norte-coreano de 2013
- Teste nuclear norte-coreano de janeiro de 2016
- Teste nuclear norte-coreano de setembro de 2016
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