Tigranes (general de Cosroes II) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Tigranes.
Tigranes
Nacionalidade Império Sassânida
Ocupação General
Religião Zoroastrismo

Tigranes foi um oficial sassânida do final do século VI e começo do VII, ativo durante o reinado do Cosroes II (r. 590–628).

Tigranes (Tigrānēs; Τιγράνης, Tigránēs) é a forma latina e grega surgida do persa antigo *Tigrana (*Tigrāna) e do acadiano Tigranu (𒋾𒅅𒊏𒉡, Tīgranu). Hračʻya Ačaṙyan propôs que derivou por haplologia de *tigrarāna, supostamente significando "lutar com flechas" (cf. o persa antigo 𐎫𐎡𐎥𐎼𐎠𐎶, ⁠tigrām, “pontiagudo”, acusativo singular feminino),[1] que Ačaṙyan entendeu que derivou do avéstico 𐬙𐬌𐬖𐬭𐬀 (tiγra, "flecha") e sânscrito तिग्म (tigmá, "pontiagudo") e do avéstico 𐬭𐬇𐬥𐬀 (rə̄na, "batalha, luta") e sânscrito रण (raṇa, "batalha")).[2] Ele também comparou o grego antigo Tigrapates (Τιγραπάτης, Tigrapátēs, literalmente “mestre das flechas”) e, para a haplologia, o nome avéstico 𐬬𐬍𐬭𐬁𐬰 (vīrāz) de *vīra-rāz-.[3] J̌ahukyan considerou a explicação improvável.[4] É mais provável que decorra do iraniano antigo Tigrana (*Tigrāna-), uma formação patronímica com o sufixo *-āna- do nome *Tigra (*Tigrā-; lit. “delgado”), refletido no elamita Tigra (𒋾𒅅𒊏, Tīgra) e acadiano Tigra (𒋾𒅅𒊏𒀪, Tīgraʾ), da palavra discutida acima para "pontiagudo".[5][6][7] O nome foi tardiamente registrado em armênio como Tigrã (Տիգրան, Tigran).[2]

Soldo de Focas (r. 602–610)

Sua existência é atestada apenas na História de Taraunitis de João Mamicônio, obra considerada não fiável, e autores como Christian Settipani põe dúvida a sua existência.[8] Aparece no início do reinado do imperador Focas (r. 602–610), quando era zorapetes e o Cosroes II (r. 590–628) envia-o com 20 mil contra Taraunitis. Tão logo chegou em Apaúnia, convocou Simbácio I que enviou seu filho Vaanes III para ver o que queria. Após tomar ciência do que o general persa queria, Vaanes envia uma resposta a seu pai:[9]

Tigranes muitas vezes prometeu coisas boas, e muitas coisas más. Mas ele exige os restos do príncipe Musel e de seu pai Vaanes, bem como os restos da esposa de Vactangue e seu filho a quem Varazes matou em batalha'. Caso contrário', diz ele, 'eu irei para o lugar sagrado para sua fé, eu arrancarei e arruinarei isto e tornarei sua igreja em um templo de fogo e levarei você para a corte real.' Agora, isso é o que ele disse: 'Quer vir através de Astianena.' Eu irei junto com ele. Enquanto isso, reúna nossas forças, vá à igreja de São Precursor e implora aos clérigos que rezem por nós. Fica bem no Senhor.
 
João Mamicônio, História de Taraunitis, capítulo III.

Simbácio foi e reuniu as tropas - 9 040 homens. Eles foram e acamparam em Astianena numa aldeia chamada Gire num lugar bem regado. Tigranes veio e acampou em Honanqueque e enviou a Simbácio, dizendo: "Venha a mim sem medo e aceite de mim tesouros e grandeza. Eu colocarei uma coroa em sua cabeça e o tornarei o marzobã da Armênia. Só me dê os ossos de Musel e Vaanes". Mas Simbácio agarrou os emissários e, aquecendo um cuspe de ferro para incandescê-lo, colocou-o como uma coroa na testa do chefe dos emissários, dizendo: "Espere! Deixe-me ver que presentes receberei para o seu amor desde que coroei você". Então ordenou que todos os homens que vieram com o chefe dos emissários fossem tomados, e os armênios cortaram cabeças até a sexta hora do dia.[9]

Simbácio foi à montanha chamada Esremavair e acampou em frente a Tigranes. Assim que chegou a noite, seu filho Vaanes levantou-se e cortou a cabeça do filho de Tigranes e dos 3 príncipes que estavam na mesma tenda. Tomando suas cabeças, foi a seu pai. Então retornou ao mesmo lugar e secretamente entrou sob a aba da tenda de Tigranes. Agora, quando Tigranes viu a espada nua na mão de Vaanes, não se atreveu a chamar a atenção de ninguém, pensando que queria roubar o equipamento. Mas Vaanes de repente pegou um travesseiro, rapidamente jogou-o na boca de Tigranes e atacou-o. Outro servo de Vaanes entrou na tenda e cortou a cabeça de Tigranes. Então ele reuniu todos os móveis, pedras preciosas e espadas escolhidas e partiu. As tropas armênias ficaram encantadas e ofereceram grandes graças a Deus. De manhã, os persas procuraram Tigranes e seu filho e encontraram seus corpos penhasco abaixo.[9]

Referências

  1. Schmitt 2014, p. 254.
  2. a b Ačaṙyan 1942–1962, p. 146-147.
  3. Bartholomae 1904, col. 1454.
  4. J̌ahukyan 1981, p. 57-58.
  5. Tavernier 2007, p. 324.
  6. Zadok 2009, § 527, p. 303.
  7. Schmitt 2011, p. 364.
  8. Settipani 2006, p. 147.
  9. a b c Bedrosian 1985, Capítulo IV.
  • Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Տիգրան». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã 
  • Bartholomae, Christian (1904). Altiranisches Wörterbuch [Old Iranian Dictionary]. Estrasburgo: K. J. Trübner 
  • J̌ahukyan, Geworg (1981). «Movses Xorenacʻu "Hayocʻ patmutʻyan" aṙaǰin grkʻi anjnanunneri lezvakan aġbyurnerə [The Linguistic Origins of the Proper Names in the First Book of Movses Khorenatsi's 'A History of the Armenians']». Patma-banasirakan handes [Historical-Philological Journal]‎ (3) 
  • Schmitt, Rüdiger (2011). Iranische Personennamen in der griechischen Literatur vor Alexander d. Gr. (Iranisches Personennamenbuch. Band 5, Faszikel 5A. Viena: Editora da Academia Austríaca de Ciências 
  • Schmitt, Rüdiger (2014). Wörterbuch Der Altpersischen Königsinschriften [Dictionary of Old Persian Royal Inscriptions]. Viesbade: Reichert 
  • Tavernier, Jan (2007). «*Tigra-». Iranica in the Achaemenid Period (ca. 550–330 B.C.): Lexicon of Old Iranian Proper Names and Loanwords, Attested in Non-Iranian Texts. Lovaina e Paris: Peeters Publishers 
  • Zadok, Ran (2009). Iranische Personennamen in der neu- und spätbabylonischen Nebenüberlieferung (Iranisches Personennamenbuch, Band 7, Faszikel 1B. Viena: Editora da Academia Austríaca de Ciências 
  • Settipani, Christian (2006). Continuité des élites à Byzance durant les siècles obscurs. Les princes caucasiens et l'Empire du vie au ixe siècle. Paris: de Boccard. ISBN 978-2-7018-0226-8