Transformada de Laplace – Wikipédia, a enciclopédia livre

Pierre-Simon Laplace.

Em matemática, a transformada de Laplace é uma transformada integral epónimo a seu descobridor, o matemático e astrônomo Pierre-Simon Laplace (/ləˈplɑːs/), que utilizou uma forma semelhante em seus trabalhos de Teoria da Probabilidade. A sua teoria foi desenvolvida mais a fundo entre o século XIX e o início do século XX por Matyáš Lerch, Oliver Heaviside e Thomas John I'Anson Bromwich.

A transformada gera uma função de variável (frequência) a partir de uma função de variável (tempo) e vice-versa.

Dada uma simples descrição matemática ou funcional de entrada ou saída de um sistema, a transformada de Laplace fornece uma descrição alternativa que, em um grande número de casos, diminui a complexidade do processo de análise do comportamento do sistema ou sintetiza um novo sistema baseado em características específicas. Nesse sentido, a transformada de Laplace converte uma equação diferencial em equação algébrica e uma convolução em multiplicação.

A atual aplicação da transformada (principalmente em engenharia) foi inicialmente descoberta durante a Segunda Guerra Mundial e substituiu o cálculo operacional.Quando fala-se em "transformada de Laplace" sem especificação, geralmente, refere-se à forma unilateral. A transformada de Laplace é originalmente definida pela forma bilateral, em que e . Assim, a transformada unilateral em que qualquer argumento é múltiplo da função de Heaviside, torna-se apenas um caso especial devido ao intervalo de domínio da função de Heaviside.A transformada de Laplace da função é uma função de , que representa a frequência. Utilizamos então como notação a letra maiúscula para a transformada e letra minúscula para a função.

Ex: ou .

Para calcular a transformada de Laplace de uma função aplicamos a integral e definimos algumas condições para podermos tirar o limite.

Ex:

, porém esse limite só existe se o .

Então conclui-se que:

Agora se considerarmos que realizando as integrações necessárias (por partes) concluímos que:

=

=

=

Com isso concluímos uma expressão para a transformada de :

A transformada de Laplace possui diversas aplicações na ciência e na tecnologia.

A transformada de Laplace ganhou esse nome em homenagem ao matemático e astrônomo Pierre-Simon Laplace, que usou uma transformada semelhante em um estudo sobre a teoria da Probabilidade.[1] No final do século XIX e início do século XX, a teoria de geração de funções começou a ser mais desenvolvida pelo matemáticos Mathias Lerch, Oliver Heaviside e Thomas Bromwich; no entanto, somente após a segunda guerra mundial que a transformada de Laplace foi difundida (principalmente na engenharia), substituindo o cálculo operacional de Heaviside. O responsável por ter apresentado as vantagens de utilizar a transformada foi o matemático Gustav Doetsch.

Antes dos estudos de Laplace, alguns métodos de transformadas integrais foram apresentadas, mas pouco desenvolvidos. A partir de 1744, Leonhard Euler investigou a existência de integrais da forma

com a intenção de resolver equações diferenciais, mas não perseguiu o conceito.

Admirador de Euler, Joseph Lagrange, procurou compreender também, em seus estudos sobre a função densidade, expressões da forma

.

Foram com as mesmas intenções de Euler de resolver equações diferenciais que em 1782 Laplace começou seu estudo sobre esse tipo de integrais. Entretanto, em 1785, Laplace deu um passo crucial ao desenvolvimento da teoria de transformadas integrais. Ao invés de focar somente em encontrar soluções de equações a partir do uso da integral, ele passou a aplicar a transformada de modo que fosse encontrada a solução da transformada em si e não da equação inicial. Para isso, Laplace utilizou uma integral da forma

.

Região de convergência

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Dada uma função em que a sua integral é dada por: , definida somente para números reais positivos, e se convergir para algum valor, a integral será a transformada de Laplace da função . Que é representada por .[2]

Condição de existência

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A integral que define a transformada de Laplace nem sempre converge e, nesse caso, dizemos que a função não possui transformada de Laplace. As funções e são algumas funções que não possuem transformada de Laplace.

Dizemos que uma função é de ordem exponencial se existem constantes , e tal que , . [2]

As funções , e são de ordem exponencial, pois

Tal teorema apresenta condições suficientes para existência da transformada de Laplace. Estas condições não são, contudo, necessárias. Por exemplo, a função não é contínua na origem(sequer é limitada quando ) mas admite uma transformada de Laplace.[2]

Comportamento no Infinito:


Demonstração: Por definição,


Estabelecendo u = s.t , obtemos:



Considerando que é limitada, existe tal que , portanto



Logo, quando resultando



Função de Heaviside

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Artigo principal: Função de Heaviside

A função de Heaviside é nula para um argumento negativo e unitária para um argumento positivo. Ela respeita a relação e pode ser definida como

Ao efetuar-se a mudança de variável , obtém-se a função de Heaviside com descontinuidade em :

Torna-se, naturalmente, importante notar que a função de Heaviside não existe em . Para isso, quando for necessário defini-la neste ponto, toma-se a "função rampa" como aproximação contínua:

Talvez a mais importante aplicação da função da Heaviside seja a função pulso.

Função Delta de Dirac

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Artigo principal: Delta de Dirac

Para entender matematicamente a função Delta de Dirac, é conveniente utilizar a função de Heaviside, com a condição de que , ou seja,Analogamente à função de Heaviside, para representar um impulso num instante de tempo que não zero, realiza-se um deslocamento na equação,Considera-se então o Delta como o limite da função em um curto curto intervalo de tempo, quando o parâmetro tende a zero, isto é,

Assim, define-se a função Delta de Dirac comoAlgumas propriedades fundamentais do Delta de Dirac para a transformada de Laplace são:

Artigo principal: Filtragem

Transformada do Delta de Dirac

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Artigo principal: Transformada de Laplace do Delta de Dirac

Aplicação do Delta de Dirac

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Uma aplicação em engenharia para a função Delta de Dirac, se dá na utilização da Equação do Helmholtz, usada para cálculos de um sistema de barragem albufeira, na qual o termo Albufeira significa uma área coberta de água, que foi retida pela construção de uma barragem ou até mesmo uma represa num rio, formando uma espécie de lago artificial. Pode ser também utilizada para modelagem de águas subterrânea principalmente de aquíferos, onde a função representa a vazão bombeada por um poço em um ponto específico.

Tabela de Teoremas e Propriedades

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Descrição Domínio do Tempo Domínio s Observações
LinearidadeProva pela lei básica de integração
Derivada no Domínio da frequência
Derivada Geral do Domínio da frequência forma geral da derivada de n
Derivadaf é assumido como uma função diferenciável, e sua derivada é assumida como sendo do tipo exponencial. Isso pode ser obtido pela integração por partes
Segunda derivada f é assumido duas vezes diferenciável e a segunda derivada para ser do tipo exponencial. Segue aplicando a propriedade diferenciação para f′(t).
N-ésima derivada f s assumido como sendo n-diferenciável, com enésima derivada do tipo exponencial. Segue por indução matemática.
Isso é deduzido usando a natureza da diferenciação de freqüência e convergência condicional.
Integração do Tempo u(t) e a função de Heaviside (u ∗ f)(t)e e a Convolução de u(t) e f(t).
Mudança de frequência
Mudança de Tempo u(t) função de Heaviside
escalamento de tempo
Multiplicação
Convolução Williams 1973
Conjugamento
Relação Cruzada
Função periódica f(t) é uma função periódica do período T então f(t) = f(t + T), para todo t ≥ 0. isto e o resultado da mudança do tempo e a propriedade series geométricas.

A transformada de Laplace possui inúmeras propriedades operacionais que permitem a existência tanto da transformada direta quanto da inversa, para uma ampla gama de funções observadas na ciência. Suas propriedades são:

A transformada de Laplace é um operador linear:

Demonstração (REAMAT):

Portanto, tem-se que:

Método das frações parciais para calcular transformadas inversas

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Artigo principal: Propriedade da transformada de Laplace da derivada


Suponha que P(X) e Q(x) são polinômios tais que o grau de P é menor que o grau de Q. O polinômio Q(x) pode ser fatorado em polinômios de graus um e dois:

com isso podemos encontrar constantes tais que:

esse método é usado para calcular integrais de funções racionais e transformadas inversas de Laplace.

Transformada de Laplace de uma derivada

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Artigo principal: Propriedade da transformada de Laplace da derivada

Transformada de Laplace de uma integral

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Artigo principal: Propriedade da transformada de Laplace da integral

Deslocamento no tempo

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Artigo principal: Propriedade do deslocamento no tempo

Deslocamento na frequência

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Artigo principal: Propriedade do deslocamento na frequência

Conhecida como deslocamento ou translação do eixo s, é possível conhecer a transformada de múltiplos exponenciais de uma função desde que conheçamos a sua transformada, isto é,

Teorema da Convolução

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Artigo principal: Teorema do produto de Convolução

Existindo duas funções contínuas por partes em , a convolução de f e g representada por f * g é definida pela integral:

Transformada de Laplace de uma função de período T

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Artigo principal: Transformada de Laplace de uma função periódica

Se é uma função contínua por partes, de ordem exponencial e periódica de período . Então a transformada de Laplace existe e é da forma:

Derivada da transformada de Laplace

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Se , então: .

Esta pode ser demonstrada usando a definição de transformada de Laplace:

Transformada de Fourier

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A transformada de Fourier continua e equivalente a avaliação bilateral da transformada de Laplace com argumentos imaginários [3]

A definição de Fourier requer o prefixo na função reversa da transformada de fourier. Esta relação entre as transformadas de Fourier e Laplace e comumente usada para determinar o espectro de frequência de um sinal ou de um sistema dinâmico. A relação acima é válida somente se a região de convergência de F(s) contem o eixo imaginário, .

Integral da transformada de Laplace

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A propriedade que define a integral da transformada de Laplace apresenta-se como:Esta pode ser demonstrada ao aplicar-se a integração à definição fundamental da transformada de Laplace:


Tabela de transformadas de Laplace

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Ver artigo principal: Lista de transformadas de Laplace

A tabela provê as transformadas de Laplace para as funções mais comuns de uma variável.[4][5] Para definições e exemplos, veja a nota explanatória no fim da tabela.

Porque a transformada de Laplace é um operador linear:

A transformada de Laplace de uma soma é a soma das transformadas de Laplace de cada termo.

A transformada de Laplace de um múltiplo de uma função é o múltiplo vezes a transformada de Laplace da função.

Tabela resumida de transformações

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Função Domínio de tempo

Laplace s-domínio

Região de Convergência Referência
impulso unitário todo s inspeção
impulso atrasado mudança de tempo do

impulso unitário

Degrau Unitário Re(s) > 0 integral do impulso unitário
Função Constante Re(s) > 0 Convolução
Degrau atrasado Re(s) > 0 mudança de tempo do

passo único

Função Rampa Re(s) > 0 integral do impulso

unitário duas vezes

n-ésima potência

( para n inteiro)

Re(s) > 0

(n > −1)

Integral do passo

único n vezes

q-ésima potência

(para q complexo)

Re(s) > 0

Re(q) > −1

[6][7]
Re(s) > 0 Deixe q = 1/n acima.
n-ésima potência com mudança de frequênciaRe(s) > −αIntegral do passo único

aplique a mudança de frequência

n-ésima potência atrasada

com mudança de frequência

Re(s) > −α Integral do passo único,

aplique a mudança de frequência, aplique a mudança de tempo

Decaimento exponencial Re(s) > −α Mudança de frequência do

passo único

Decaimento exponencial bilateral −α < Re(s) < α Mudança de frequência do

passo único

Exponencial genérica Re(s) > ln(a) Adaptação da transformada do decaimento exponencial
aproximação exponencial Re(s) > 0 passo único menos

decaimento exponencial

Seno Re(s) > 0 Bracewell 1978, p. 227
Cosseno Re(s) > 0 Bracewell 1978, p. 227
Seno hiperbólico Re(s) > |α| Williams 1973, p. 88
Cosseno hiperbólico Re(s) > |α| Williams 1973, p. 88
decaimento exponencial

onda senoidal

Re(s) > −α Bracewell 1978, p. 227
decaimento exponencial

onda cossenoidal

Re(s) > −α Bracewell 1978, p. 227
Logaritmo natural Re(s) > 0 Williams 1973, p. 88
Nota explicatória:

Usando a propriedade da linearidade e as relações/identidades trigonométricas, hiperbólicas e complexas, algumas transformadas de Laplace podem ser obtidas de outras mais rápida do que diretamente pela definição.

A unilateralidade da transformada de Laplace toma como entrada uma função cujo . Este é o motivo de todas as funções no domínio de tempo na tabela abaixo serem múltiplas da função de Heaviside, . As entradas desta tabela que envolvem um tempo de atraso são obrigadas a serem causais. Um sistema causal é um sistema em que a resposta ao impulso é nulo para todo tempo prévio a .

Domínio frequência

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Resistor no domínio frequência

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Pela lei de Ohm, o resistor é dado pela equação

Como R é uma constante, a transformada de Laplace desta equação é

em que

e

Indutor no domínio frequência

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A equação no domínio do tempo que relaciona a tensão terminal com a corrente terminal é

A transformada de Laplace desta equação é

Sendo assim, a corrente no indutor é

Capacitor no domínio frequência

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A corrente terminal em um capacitor inicialmente carregado até volts é

A transformada de Laplace desta equação é

ou

Aplicação: Oscilador Harmônico

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Seja um sistema massa mola de equação = , onde é a massa, é a constante de hooke para a mola e é a constante de atrito.

Os valores iniciais são:

= posição inicial

= velocidade inicial

Usando a propriedade da Transformada de Laplace de uma derivada temos:

- - + + - =.

Agora, isolando e supondo o termo forçante = 0, tem-se:


=


A solução do problema pode ser representado por =

O sistema massa mola pode ser dividido em cinco situações:

i) Oscilador harmônico forçado: Quando há força externa:

ii) Oscilador harmônico livre: Quando não há força externa:

iii) Subarmotecido livre: Quando

iv) Superamortecido livre ():

v) Criticamente amortecido livre :

Transformada de Laplace para séries de potências

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Temos a Função de Bessel de ordem zero dada por:

Calculando a transformada, temos:

Logo,

Podemos também demonstrar a transformada de uma função t(k) que leva à Função gama . Para k>0, temos que:

Onde:

Aplicando a Transformada de Laplace, temos:

Obtemos com a seguinte mudança de variáveis  :

Aplicações em equações diferenciais

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Fluxograma que representa o caminho para a obtenção de uma solução.

As diversas propriedades da transformada de Laplace possibilitam a transformação de um grande número de equações diferenciais ordinárias em simples equações algébricas lineares. Alguns tipos mais comuns de equações diferenciais são: Equação diferencial ordinária com coeficientes constantes

Artigo principal: Equações diferenciais ordinárias com coeficientes constantes

Exemplo: Equação diferencial ordinária com coeficientes não constantes

Artigo principal: Equações diferenciais ordinárias com coeficientes variáveis

Exemplo: Sistema linear de equações diferenciais ordinárias com coeficientes constantes

Artigo principal: Sistema linear de equações diferenciais ordinárias

Exemplo: Sistema linear de equações diferenciais ordinárias com coeficientes não constantes

Artigo principal: Sistema linear de equações diferenciais ordinárias

Exemplo:

Em muitas ocasiões são necessários valores iniciais para uma resolução numérica dessas equações diferenciais.


Aplicação em Circuitos RL e RC

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A aplicação da Transformação de Laplace para resolução de circuitos RL e RC é uma ferramenta interessante na resolução das equações diferenciais que expressam circuitos RC e RL, pois em determinados casos reduz a quantidade de análises e simplificações inerentes à resolução de circuitos baseado na Teoria de Circuitos. A exemplo do caso abaixo:

Considerando o circuito RL com duas malhas ao lado: