Vico Thompson – Wikipédia, a enciclopédia livre

Assembleia de fundação do Eden Juventudista. No fundo, de pé, o poeta Vico Thompson, ao seu lado, sentada, a primeira presidente Ida Sartori Paternoster.

Vico Parolini Thompson (Caxias do Sul, 1899São Paulo, 14 de agosto de 1935) foi um empresário, professor, jornalista e poeta brasileiro.

Era filho de João Thompson e Ignez Parolini. Sua mãe pertencia a uma família tradicional da cidade e seu pai era um destacado empresário do ramo dos transportes. Vico inicialmente pretendeu ser padre, mas sua saúde frágil impediu a realização do projeto. Então passou a colaborar nos negócios de sua família e voltou-se para a vida cultural e a literatura, onde viria a deixar sua marca mais importante.[1]

Deu aulas no Colégio Murialdo de Ana Rech e em escolas do Distrito de Vila Seca, organizou a biblioteca da Associação dos Comerciantes,[1] foi fundador e presidente da Congregação Mariana, ligada às Damas de Caridade,[2] fundador do Patronato São Francisco, instituição para jovens com fins moralizantes e recreativos,[3] colaborador do jornal O Regional[4] e membro do Ateneu Caxiense.[5] Também foi 2º secretário do Esporte Clube Juventude.[6]

Vico Thompson foi uma figura importante no mundo das letras e da intelectualidade caxiense em um período em que a cultura local começava a se estruturar.[1][7] Deixou as coleções de poemas Revoadas Virgens (1923), Ideais em Flor (1924) e A Caravana do Silêncio (1926).[5] Sua vocação inicial para o sacerdócio manifestou-se na temática religiosa de boa parte de sua produção e na sua associação com organizações beneficentes ligadas à Igreja.[8][9] Foi apreciado orador e várias vezes louvado na imprensa da época por suas poesias, chamado de "poeta mavioso", "grandemente admirado",[8] "um artista da fé e do amor".[10] Dom Aquino Correa, bispo de Cuiabá, dedicou-lhe um soneto.[11] J. Pio assim se referiu a ele:

"Para comentar, embora ligeiramente, as Revoadas Virgens do jovem poeta Vico Thompson dir-se-ia ser necessário envergar a castíssima túnica branca das vestais, essas que em idades clássicas desvelaram pela sagrada chama. [...] E tal é a candura, tal a piedade que emanam dos versos límpidos e perfeitos do recente livro, que deles tratar com vestes profanas seria enodoá-los. A mais ingênua e a mais pura das donzelas acredito que não lograria inspiração mais terna, nem mais cândida emoção do que o sr. Vico Thompson ao escrever, quiçá com tinta roubada aos anjos. [...] Entretanto, o novo poeta não é apenas doçura. Há também no seu livro de estreia — cuja versatilidade de formas poéticas vem atestar o seu absoluto domínio sobre quaisquer dificuldades técnicas — rubros tons épicos, onde vibram ressonâncias de metais e tambores".[9]

Também foi marcante sua atuação no Éden Juventudista, agremiação cultural e beneficente feminina fundada em 1926 junto ao Recreio da Juventude por ele e um grupo de senhoritas da "fina flor da sociedade caxiense",[12] pela primeira vez admitindo as mulheres na organização de atividades oficiais do clube.[13][1] Nas palavras de Rodrigo Lopes, "graças ao empenho do poeta, o Recreio da Juventude rompeu os costumes de uma época bastante conservadora, permitindo a contribuição feminina na organização de diversas atividades culturais". A primeira diretoria do Éden foi composta de Ida Paternoster (presidente), Léa Spada (1ª secretária), Vênus de Mello (2ª secretária), Omar Piccoli (1ª tesoureira) e Hermínia Pauletti (2ª tesoureira). No Conselho Fiscal, Natália Benetti, Rina Ártico, Alice Pasetti, Verônica Rosina e Flora Fabris.[1]

Seu obituário enfatizou sua inteligência e sua dedicação à cultura,[14] e foi biografado na revista Terra Fluminense de 1937. Apesar da fama que ganhou em vida, sua obra poética hoje está muito esquecida.[1] Contudo, foi nomeado patrono da cadeira nº 12 da Academia Caxiense de Letras como um dos pioneiros da literatura caxiense,[5] e seu nome batiza uma rua na cidade. Sua vida foi enfocada no livro Vultos da Cultura e Arte de Caxias do Sul, de Salvador Hoffmann e Nelly Veronese Mascia, e sua atuação no Éden Juventudista foi recuperada várias vezes nas últimas décadas.[1][15][7][16][13]

Referências

  1. a b c d e f g Lopes, Rodrigo. "Vico Thompson e o Éden Juventudista". Pioneiro, 26/12/2014
  2. "Congregação Mariana". Correio Colonial, 17/10/1926
  3. "Patronato S. Francisco". O Momento, 15/02/1934
  4. "Vico Thompson". O Regional, 07/11/1927
  5. a b c Adami, João Spadari. História de Caxias 1864-1970. Paulinas, 1971
  6. "S. C. Juventude". O Momento, 15/03/1934
  7. a b Hoffmann, Salvador & Mascia, Nelly Veronese. Vultos da cultura e arte de Caxias do Sul. Caxias do Sul, 1991
  8. a b "Poesias". O Regional, 16/04/1927
  9. a b Pio, J. "Revoadas Virgens". O Brasil, 09/02/1924
  10. "Germano, Januário. "A proposito de um livro". O Regional, 27/11/1927
  11. "Soneto". O Regional, 24/07/1926
  12. "Baile". Jornal Caxias, 01/04/1929
  13. a b Rigon, Roni. “Mulheres no Juventude”. Pioneiro, 29/12/1997
  14. "Falecimentos". O Momento, 22/08/1935
  15. "Recreio da Juventude: 75 anos de um grande clube". In: Revista do Recreio da Juventude, 1987; II (6)
  16. "Recreio da Juventude 85 Anos: 1912 – 1997”. Caderno especial. Pioneiro, 29/12/1997