Zózimo Bulbul – Wikipédia, a enciclopédia livre

Zózimo Bulbul
Nome completo Jorge da Silva
Nascimento 21 de setembro de 1937
Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro
Morte 24 de janeiro de 2013 (75 anos)
Rio de Janeiro
Ocupação Ator, cineasta, diretor, produtor e roteirista

Zózimo Bulbul nome artístico de Jorge da Silva (Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1937 — Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2013) foi um ator, cineasta, produtor e roteirista brasileiro. Um dos maiores expoentes da Cinematografia afro-brasileira nas décadas de 60 e 70, Zózimo Bulbul fez da história do povo negro no Brasil o seu caminho através do cinema. Como ator de cinema, trabalhou em mais de 30 filmes, atuou em clássicos como Terra em transe, Compasso de Espera e As Filhas do Vento. Em 1969, se tornou o primeiro negro a ser protagonista de uma novela brasileira, Vidas em Conflito da TV Excelsior.[1] Em 1974 estreou como diretor com o curta em preto e branco Alma no Olho. Como produtor e roteirista, ele realizou até 2009 inúmeros curtas e um longa, todos com o foco na valorização da cultura negra no Brasil.[2]

Morreu em 24 de janeiro de 2013 em consequências de um câncer no colo do intestino.[1][3]

Zózimo Bulbul, ator e diretor de cinema tem sua carreira iniciada em meados dos anos 60. Sua formação é no CPC da UNE. Todos os seus filmes são importantes para a preservação e memória da cultura afro. São todos filmes que procuram denunciar as diferenças, a solidão, a discriminação e a desigualdade que o povo negro ainda vive no país, mas sempre com um olhar de luta e de desafio.[2]

Anos 60 e início da carreira como ator

[editar | editar código-fonte]

Zózimo Bulbul começou sua carreira como ator nas peças encenadas pelo Centro Popular de Cultura da UNE, nos anos de 1960. Ainda nos anos 60, iniciou sua carreira no cinema, como ator, tendo sido seu primeiro trabalha com Leon Hirszman no segmento "Pedreira de São Diogo" do filme Cinco Vezes Favela de 1962. Também, atuando neste filme estava Abdias do Nascimento, figura importante para Zózimo como para a militância política negra de forma geral, criador do teatro experimental negro, foi uma influência artística e política para a afirmação de uma arte militante negra.[4][5] Nas palavras do cineasta e pesquisador mineiro Joel Zito Araújo:

“É possível ver uma continuidade entre a obra cinematográfica e a ação artística e militante de Zózimo Bulbul com a herança deixada pelo também falecido senador Abdias do Nascimento, criador do Teatro Experimental Negro (TEN) nos anos de 1940. Foram metas comuns aos dois denunciar o falso mito da democracia racial, combater a discriminação contra o negro e promover sua autoestima. É o que podemos ver tanto na obra dramatúrgica e plástica de Abdias Nascimento quanto nos filmes de Zózimo Bulbul.” [6]

Zózimo, despontou como ator nos anos áureos do Cinema Novo, tendo atuado em filmes muito importantes na História do Cinema Brasileiro. Em 1963 trabalhou no filme Ganga Zumba de Cacá Diegues, em 1967 em Terra em transe de Glauber Rocha e o filme de 1968 A Compadecida de George Jonas.

Em 1969, foi o primeiro negro a ser protagonista de uma novela brasileira, Vidas em Conflito da TV Excelsior.[1][5]

Início da carreira como diretor

[editar | editar código-fonte]

Insatisfeito com a condição reservada aos negros nas telas decidiu escrever e dirigir seus próprios filmes.[5] Em 1974, dirige o curta metragem em preto e branco “Alma no Olho”, uma reflexão sobre a vinda dos africanos para a diáspora ao som de John Coltrane. O título foi inspirado no livro do líder dos Panteras Negras Eldridge Cleaver, Alma no Exílio. O livro de Cleaver foi publicado em 1968 nos EUA e no Brasil em 1971. Tornou-se leitura corrente entre os intelectuais negros brasileiros, quase todos, naquele momento, antenados com os movimentos políticos que ocorriam na África e nos EUA. Aliás, nesse sentido, reflete totalmente o ideário da negritude afro-americana na história e na trilha sonora: a música “Kulu Se Mama”, de Julian Lewis, executada por John Coltrane entra em “off”, enquanto o ator (Bulbul), através de pantomimas, conta a história da diáspora negra, desde a África até os dias atuais.[7]

Dedicado ao saxofonista John Coltrane, Alma no Olho é um dos poucos filmes que absorveu na época as influências do protesto negro norte-americano. Embora a parcela mais ativa dos militantes negros brasileiros já tivesse construído uma agenda política informada do ideário da negritude pelo menos desde o final da década de 60.. A reflexão sobre a experiência dos negros urbanos e de suas lutas políticas nos filmes brasileiros é praticamente ausente. Nesse sentido, Alma no Olho é absolutamente moderno e aponta para uma representação do negro descolada do culturalismo nacionalista quase sempre elitista e conservador.[7]

Em 1988 lança o seu longa metragem “Abolição”, que propõe uma reflexão crítica sobre a então comemoração dos 100 anos da abolição da escravatura, registrando para a posteridade as imagens e o pensamento dos mais importantes personagens do movimento negro brasileiro na segunda metade dos anos de 1980. Dirigiu também inúmeros curtas, sempre com um olhar para o negro na sociedade brasileira: “Aniceto do Império” (1981), “Samba no Trem” (2000), “Pequena África” (2002), entre outros. No ano de 2010, a convite do Presidente do Senegal, Zózimo realizou o filme “Renascimento Africano”, que mostra o Senegal nas comemorações dos 50 anos de independência.[5][4]

Centro Afro Carioca de Cinema

[editar | editar código-fonte]

Em 2007, fundou o Centro Afro Carioca de Cinema, aonde vem desenvolvendo um trabalho de referência para a Cinematografia Afro Brasileira. Um trabalho de conscientização, memória e incentivo a novos caminhos, de aumento de autoestima e da compreensão do mundo através da arte Cinematográfica, onde são realizadas Oficinas, debates, seminários, mostra de filmes nacionais e internacionais, lançamentos de livros entre outras ações.[5] Os Encontros de Cinema Negro são o principal legado de Zózimo no Centro Afrocarioca e representam um marco na história do Cinema Negro no país, pois não só retomam uma discussão sobre a consolidação do campo das cinematografias negras no mundo como também significam um posicionamento político a respeito destas produções. Pois na perspectiva de Bulbul não havia dúvida: para ter filme exibido em seus Encontros, o/a realizador/a tinha de ser negro/a. Cinema Negro, tal como ele concebia, era o fruto de subjetividades negras projetadas na tela.[8]

Ano Título Personagem
2010 O papel e o mar João Cândido Felisberto
5x Favela - Agora por Nós Mesmos Homem do bar
2005 As Filhas do Vento Marcos Evangelista de Souza (velho)
2004 O Veneno da Madrugada Carmichael
2003 Oswaldo Cruz - O Médico do Brasil Prata Preta
2002 A Selva Procópio
1988 Natal da Portela
1987 Tanga (Deu no New York Times?) Militar
1984 Quilombo Homem da pedra
1982 A Menina e o Estuprador Pedro
1980 Giselle Jorge
1980 Parceiros da Aventura Grevista
1979 A Deusa Negra Babatunde
1975 Ana, a Libertina Negro
1974 El encanto del amor prohibido
Brutos Inocentes João Capataz
Pureza Proibida Chico
1973 Compasso de Espera Jorge
1971 Quando as Mulheres Paqueram Carlos[9]
1970 A Guerra dos Pelados Vitorino
O Palácio dos Anjos Embaixador do Senegal
República da Traição
1969 O Cangaceiro sem Deus Ariranha
A Compadecida Frade/Manuel
1968 O Engano Amante
O Homem Nu Homem da mudança
1967 Terra em Transe Repórter
Garota de Ipanema Jovem na praia
El Justicero Dudu da Briga
Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz
1966 Onde a Terra Começa
1965 O Grande Sertão
1963 Ganga Zumba
1962 Cinco Vezes Favela
  • 2010 Renascimento Africano
  • 2006 Referências
  • 2006 Zona Carioca Do Porto
  • 2005 República Tiradentes
  • 2002 Pequena África
  • 2001 Samba No Trem
  • 1988 Abolição
  • 1981 Aniceto Dia De Alforria
  • 1973 Alma No Olho
Ano Título Personagem
1996 Xica da Silva Caetano
1994 Memorial de Maria Moura
1969 Vidas em Conflito Rodney

Referências

  1. a b c «Morre no Rio o diretor e ator Zózimo Bulbul». G1. 24 de janeiro de 2013. Consultado em 24 de janeiro de 2013 
  2. a b «Zózimo Bulbul» (em francês). AfriCultures. Março de 2011. Consultado em 1 de julho de 2018 
  3. «Morre, aos 75 anos, o ator e diretor Zózimo Bulbul». UOL. 24 de janeiro de 2013. Consultado em 24 de janeiro de 2013 
  4. a b «A história do cineasta Zózimo Bulbul». Revista Raça. 17 de outubro de 2016. Consultado em 1 de julho de 2018 
  5. a b c d e f «O Cinema de Zózimo Bulbul». Centro Afro Carioca de Cinema. 2013. Consultado em 1 de julho de 2018 
  6. «Depoimento de Joel Zito de Araujo sobre Zózimo Bulbul». Revista Raça. 6 de novembro de 2016. Consultado em 1 de julho de 2018 
  7. a b «Morre o ator e cineasta Zózimo Bulbul, aos 75 anos». Geledés - Instituto da Mulher Negra. 24 de janeiro de 2013. Consultado em 1 de julho de 2018 
  8. «Zózimo Bulbul e o Cinema Negro». Ficine. 2013. Consultado em 1 de julho de 2018 
  9. «Quando as Mulheres Paqueram». Cinemateca Brasileira. Consultado em 2 de dezembro de 2019 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]