Espiritualidade – Wikipédia, a enciclopédia livre

A espiritualidade pode ser definida como uma "propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio".[1] A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa.[2]

Segundo diversas confissões religiosas, a espiritualidade traduz o modo de viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o transcendental. Cada doutrina religiosa comporta uma dimensão específica a esta descrição geral; mas, no aspecto religioso, pode-se traduzir a espiritualidade como uma 'dimensão do homem', como ser naturalmente religioso, e que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração.[3]

Alguns autores, porém, defendem a existência de uma espiritualidade inclusive em meio ao ateísmo. André Comte-Sponville fala de uma "espiritualidade sem Deus" no sentido de uma abertura para o ilimitado, um reconhecimento de sermos seres relativos, mas abertos para o absoluto. Seria o reconhecimento da dimensão misteriosa e ilimitada da existência, que não precisaria passar por alguma explicação religiosa; uma experiência que vai além do intelecto.[4]

Atualmente, a espiritualidade tem sido bastante estudada no que se refere às suas relações com a saúde humana.[2][5] [6] A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem aprofundando as investigações sobre a espiritualidade enquanto constituinte do conceito multidimensional de saúde; atualmente, o bem-estar espiritual vem sendo considerado mais uma dimensão do estado de saúde, junto às dimensões corporais, psíquicas e sociais.[7] [8] [9]

Espiritualidade contemporânea

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O termo "espiritual" é frequentemente utilizado em contextos em que o termo "religioso" era anteriormente utilizado. A espiritualidade contemporânea é também designada por "espiritualidade pós-tradicional" e "espiritualidade New Age".[10] Hanegraaf distingue dois movimentos da Nova Era: a Nova Era em sentido restrito, com origem em meados do século XX em Inglaterra e com raízes na teosofia e na antroposofia, e a Nova Era em sentido lato, que surgiu no final da década de 1970.

Caraterísticas

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A espiritualidade contemporânea centra-se nos "valores e significados mais profundos pelos quais as pessoas vivem".[11][12] Inclui frequentemente a ideia de uma realidade superior ou supostamente imaterial. Trata-se de uma viagem interior que permite descobrir a essência da própria existência.

Nem todas as concepções modernas de espiritualidade incluem ideias transcendentes. A espiritualidade secular dá ênfase a ideias humanistas de carácter moral (qualidades como o amor, a compaixão, a paciência, a tolerância, o perdão, o contentamento, a responsabilidade, a harmonia e a preocupação com os outros).[13] Trata-se de aspectos da vida e da experiência humana que ultrapassam uma visão puramente materialista do mundo, mas que não implicam necessariamente a crença numa realidade sobrenatural ou num ser divino. No entanto, muitos humanistas (por exemplo, Bertrand Russell, Jean-Paul Sartre), que valorizam claramente os aspectos não materiais, sociais e virtuosos da vida, rejeitam este uso do termo "espiritualidade" como sendo demasiado amplo.

Experiência espiritual

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A experiência espiritual desempenha um papel central na espiritualidade contemporânea.[14] Tanto os autores ocidentais como os asiáticos popularizaram o conceito.[15][16][17] Importantes autores ocidentais do início do século XX que estudaram o fenómeno da espiritualidade e as suas obras incluem William James, The Varieties of Religious Experience (1902) e Rudolf Otto, especialmente The Idea of Holiness (1917).

Referências

  1. GUIMARÃES, Hélio Penna. «O impacto da espiritualidade na saúde física» (PDF). Rev. Psiq. Clín 
  2. a b Saad, Marcelo. «Espiritualidade baseada em evidências» (PDF). Acta Fisiátrica 
  3. BROWN, G. Spirituality: history and perspectives
  4. COMTE-SPONVILLE, André (2007). O espírito do ateísmo: introdução a uma espiritualidade sem Deus. São Paulo: WMF Martins Fontes 
  5. GUIMARÃES, HÉLIO PENNA. «O impacto da espiritualidade na saúde física» (PDF). Rev. Psiq. Clín 
  6. PANZIN, RAQUEL GEHRKE. «Qualidade de vida e espiritualidade» (PDF). Rev. Psiq. Clín. 
  7. Pedrão, Raphael de Brito. «Nursing and spirituality» (PDF). Einstein 
  8. FARIA, Juliana Bernardes de; SEIDL, Eliane Maria Fleury. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: revisão da literatura. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 18, n. 3, p. 381-389, Dec. 2005 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722005000300012&lng=en&nrm=iso>. access on 04 Sept. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722005000300012.
  9. PERES, Julio Fernando Prieto; SIMAO, Manoel José Pereira; NASELLO, Antonia Gladys. Espiritualidade, religiosidade e psicoterapia. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo , v. 34, supl. 1, p. 136-145, 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000700017&lng=en&nrm=iso>. access on 04 Sept. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832007000700017.
  10. «Trajectories to the New Age» (PDF). repub.eur.nl. Consultado em 28 de janeiro de 2025 
  11. «Spiritual Values». theintactone.com. Consultado em 28 de janeiro de 2025 
  12. «Spiritual Meanings». asknebula.com. Consultado em 28 de janeiro de 2025 
  13. «What is Natural (or Secular) Spirituality?». continuingcreation.org. Consultado em 28 de janeiro de 2025 
  14. «Buddhist Modernism and the Rhetoric of Meditative Experience». brill.com. Consultado em 28 de janeiro de 2025 
  15. «Translating the Zen Phrase Book» (PDF). www.thezensite.com. Consultado em 28 de janeiro de 2025 
  16. «Taoist Tai-Chi: An Intersection of Western Spiritual Culture and Chinese Religion» (PDF). www.queensu.ca. Consultado em 28 de janeiro de 2025 
  17. «Spirituality». www.tibetanbuddhistencyclopedia.com. Consultado em 28 de janeiro de 2025