Edifício de Ventura Terra – Wikipédia, a enciclopédia livre

Edifício de Ventura Terra
Edifício de Ventura Terra
Fachada principal do edifício
Informações gerais
Nomes alternativos Alexandre Herculano, 57-57C
Tipo Edifício residencial
Estilo dominante Ecletismo, Arte Nova
Arquiteto Miguel Ventura Terra(1902)
Construtor
Abílio Pereira de Campos (1902-1903)
Escultor
António Teixeira Lopes (1903)
Pintor de azulejo
Fábrica das Devesas (1903)
Fim da construção 1903 (121 anos)
Prémios
Precedido por
Palácio Lima Mayer
1902
Prémio Valmor
1903
Sucedido por
Casa Malhoa
1905
Proprietário inicial Miguel Ventura Terra
Função inicial Residencial
Proprietário atual Pública: estatal
Função atual Residencial
Número de andares 4
Património de Portugal
Classificação Logotipo Imóvel de Interesse Público
Ano 2006
DGPC 71065
SIPA 3100
Geografia
País Portugal Portugal
Cidade Lisboa Lisboa
Localização Rua Alexandre Herculano, 57-57C
Distrito Lisboa
Freguesia Santo António
Coordenadas 38° 43′ 13,83″ N, 9° 09′ 11,42″ O
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Localização em mapa dinâmico

Edifício de Ventura Terra, é um edifício localizado na Rua Alexandre Herculano, n.º 57-57C, na freguesia de Santo António, Lisboa.

Com projecto do arquitecto Miguel Ventura Terra, igualmente seu proprietário, ganhou o Prémio Valmor de 1903[1].

Das muitas construções terminadas na cidade de Lisboa durante o ano de 1903, a mais sonante talvez seja o Edifício de Ventura Terra, o edifício construído no terreno localizado na rua Alexandre Herculano, lado sul entre a rua do Vale e o largo do Rato. O proprietário do terreno e do edifício, era o arquitecto Miguel Ventura Terra, e foi o mesmo que projectou o edifício, que por satisfazer de modo geral as cláusulas estabelecidas impostas durante o legado do Visconde de Valmor, e por ser um objecto considerado belo e artístico, digno de uma capital como era Lisboa. Admirado pela sua rigorosidade na composição de linhas e de um original efeito decorativo resultante da harmonia entre a mancha dos suas intenções e motivos de várias cores e em relevo, que formavam uma perfeita composição juntamente com os menores detalhes que se dispõem em toda a construção. A obra teve uma especial atenção do júri, porque estava evidente neste edifício técnicas novas de construção, assim como utilização de materiais ou produtos nacionais, promovendo assim o azulejo que é muito utilizado nesta casa, factores que valeram ao arquitecto e a sua obra o Prémio Valmor em 1903.

O prédio foi legado pelo seu proprietários às Escolas de Belas Artes de Lisboa e do Porto «destinando o seu rendimento líquido para pensões a estudantes pobres das escolas que mostrem decidida vocação para as Belas-Artes»[1].

O Edifício de Ventura Terra, foi uma das primeiras construções da recente Avenida Alexandre Herculano, eixo de grande importância do engenheiro Frederico Ressano Garcia, que na altura era o engenheiro da Câmara Municipal de Lisboa. É um prédio de habitação projectado em 1902, e foi inaugurado em 1903. Um projecto do arquitecto Miguel Ventura Terra, onde o mesmo era o proprietário, ocupando o primeiro piso do edifício como sua própria residência, é uma obra única, apenas reproduzida pelo próprio arquitecto em posteriores trabalhos.

Em 2013, a casa passou a integrar conjuntamente o património privado da Universidade do Porto, da Universidade de Lisboa e da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, por despacho conjunto dos então ministros da Educação e Ciência e de Estado e das Finanças.

Em 11 de março de 2020, foi noticiado que a Universidade de Lisboa, com o intuito de vender o edifício, mandou retirar a placa que se encontrava na sua fachada em homenagem a Miguel Ventura Terra, tendo a mesma sido destruída durante a remoção.[2]

Pormenor do edifício, prémio Valmor em 1903

O edifício foi construído num terreno trapezoidal com um ligeiro declive, composto por quatro pisos e uma cave alta, tinha uma escala impositiva na época, a nível volumétrico, que de forma assumida tentava rentabilizar a exigência do solo, que serviria de aluguer económico elevado, a arquitectura atinge este objectivo, através da racionalidade funcional da planta dos fogos, um por cada piso, e particularidade da fachada que de imediato, espelha o seu destino social, forrada de blocos rectangulares, apresenta algum dinamismo dispondo-se de forma assimétrica, jogando subtilmente entre o ritmo horizontal, salientado pela sucessão linear das varandas de ferro forjado, e o impulso vertical dos grandes vãos, que desenham uma série de arcos que no seu ponto mais alto interrompem a linha recta da cimalha, a parte mais alta da cornija. Esta intenção formulada de forma teórica, é reforçada pela presença de diversos frisos decorativos azulejados. O que se evidencia em toda composição, é o controlo do desenho, que é pouco destacado na superfície dos vãos estreitos e alongados, protegidas por grades de madeira que modulam por diversas partes do edifício uma luz filtrada, e a expressão do plano de parede, liso e seco, animado pelas marcações de cor, pelos referidos grandes vãos que correspondem às salas principais, sem nunca comprometer a função e racionalidade do programa habitacional. A organização da planta revela um eixo da fachada posterior, fazendo uma ligação entre espaços colectivos do salão e da sala de jantar, dividido ortogonalmente em madeira, sendo que, os materiais que mais predominam neste edifício são: Alvenaria, pedra, ferro, madeira e azulejo. Este edifício foi vencedor do Prémio Valmor em 1903, no ano em que foi inaugurado. Sofreu algumas alterações mais tarde, em 1911, propôs-se umas trapeiras para dar mais luz ao sótão, no telhado. Em 1917, surge uma nova porta na cave; em 1936 houve pela escada de acesso e o corredor que isolam e fazem ligação entre as áreas de serviço e os quartos. E com este gesto cruciforme de elevada clareza, que lateralizava o lugar tradicionalmente utilizado para a escadaria, Miguel Ventura Terra incutia à cidade uma nova forma de habitar, onde a representação do interior leva vantagem como valor de intimidade. No piso 0 é enfatizado pela horizontalidade das guardas em ferro e pelos azulejos, os vãos são em grande parte estreitos e altos com venezianas. O piso 1 conta com um pé direito superior aos outros, e como já foi mencionado em cima, foi usado como residência própria do arquitecto. Remata a fachada uma cornija de pedra com dois grandes mísulas que disfarçam as descargas do arco. As fachadas, lateral direita, e posterior são revestidas com reboco e são pintadas. A fachada lateral esquerda foi construída um imóvel que tapa as suas frestas. A entrada do edifício é feita a meio piso, e apresenta as paredes feitas de gesso e cola, com melhor qualidade que os espaços da cave e da escada de serviço, a presença do elevador ocupam parte da bomba da escada. A cave dá acesso a um piso enterrado onde era armazenada a lenha para aquecimento. Cada piso tem um fogo com acesso vertical pela escada principal e pela escada de serviço, com excepção do piso 0. O interior dos fogos conta com um corredor paralelo à rua e ao longo do mesmo se distribuem os aposentos, deixando assim as zonas húmidas junto a fachada posterior. O tecto das salas de jantar e de estar, e do escritório em estuque, simulando vigamento de madeira, com friso vegetalista e para os azulejos da cozinha e da casa de banho, e por fim o sótão divide-se em dois fogos. As paredes do edifício são autoportantes em alvenaria, e com estrutura em ferro, e elementos estruturais e decorativos em pedra também, Pavimentação e cobertura ou telhados necessidade de reparar as paredes e pintura do edifício; em 1938 foram feitas obras com fim de conservar o exterior do edifício; em 1956 foi realizada uma pintura na fachada posterior; em 1957 nova pintura da empena da entrada; em 1994/1995, foi substituída as redes de água, gás e electricidade, instalação de contadores, limpeza da fachada principal e consolidação e restauro de inúmeras partes do edifício, neste mesmo ano foi instalado um elevador.[3]

Prémio Valmor 1903

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Das muitas construções terminadas na cidade de Lisboa durante o ano de 1903, a mais sonante talvez seja o Edifício de Ventura Terra, construído no terreno localizado na rua Alexandre Herculano, lado sul entre a rua do Vale e o largo do Rato. O proprietário do terreno e da casa, era o arquitecto Miguel Ventura Terra, e foi o mesmo que projectou o edifício, que por satisfazer de modo geral as cláusulas estabelecidas impostas durante o legado do Visconde de Valmor, e por ser um objecto considerado belo e artístico, digno de uma capital como era Lisboa. Admirado pela sua rigorosidade na composição de linhas e de um original efeito decorativo resultante da harmonia entre a mancha dos suas intenções e motivos de várias cores e em relevo, que formavam uma perfeita composição juntamente com os menores detalhes que se dispõem em toda a construção. A obra teve uma especial atenção do júri, porque estava evidente neste edifício técnicas novas de construção, assim como utilização de materiais ou produtos nacionais, promovendo assim o azulejo que é muito utilizado nesta casa, factores que valeram ao arquitecto e a sua obra o Prémio Valmor em 1903.[4]

Classificação

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Imóvel de Valor Concelhio

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O edifício foi classificado como imóvel de valor concelhio pelo artigo 2.º do Decreto do Governo n.º 8/83, de 24 de janeiro de 1983.[5]

Imóvel de Interesse Público

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O edifício foi reclassificado como imóvel de interesse público pela Portaria n.º 303/2006 (2.ª série), de 27 de janeiro de 2006, que, no seu preâmbulo, refere:

«Considerando que se trata de uma obra do arquitecto Miguel Ventura Terra, figura importante da produção arquitectónica lisboeta, pela forma pragmática e racionalista como abordou os seus programas, nomeadamente esta casa que construiu para nela residir, sendo um

óptimo exemplo da «arte nova» portuguesa, como ela foi entendida e praticada pelos arquitectos da geração de vocação europeia e urbana, nascidos pelos anos de 1860-1870;

Considerando que em 1903 lhe foi atribuído o Prémio Valmor, «por ser um belo tipo artístico, digno de uma capital como a nossa, com uma correctíssima composição de linhas e um original efeito decorativo»;
Considerando que nessa composição, de uma extrema descrição e elegância, as lógias marcam o ritmo da fachada, provocando uma assimetria, quer estrutural, quer decorativa, com diferentes soluções nas molduras dos vãos e nas varandas, com uma interessante utilização de frisos de azulejos que correm ao longo do prédio, por baixo da cimalha e marcando o primeiro andar, cujos temas estarão relacionados com o rio Tejo (ondas, gaivotas e tágides) e a luminosidade da cidade (girassóis e outras heliotrópicas);
Considerando que a sua classificação actual é manifestamente inadequada e desajustada, tendo em conta outros imóveis classificados, nomeadamente a Sinagoga de Lisboa, do mesmo autor e situada na vizinhança, que se encontra classificada como imóvel de interesse público[6]

Referências

  1. a b Bairrada 1988, pp. 55 a 58
  2. Moreira, Cristiana Faria. «Ventura Terra doou prédio para que todos pudessem aprender as belas-artes. Placa foi agora destruída». PÚBLICO. Consultado em 12 de março de 2020 
  3. VV, AA (2006). Miguel Ventura Terra - A Arquitectura enquanto Projecto de Vida. Lisboa: Câmara Municipal de Esposende. 220 páginas 
  4. Bairrada, Eduardo Martins (1988). Prémio Valmor 1902-1952. Lisboa: [s.n.] pp. 55–57 
  5. Decreto do Governo n.º 8/83, de 24 de janeiro de 1983
  6. Portaria n.º 303/2006 (2.ª série), de 27 de janeiro de 2006.
  • BAIRRADA, Eduardo Martins, Prémio Valmor, 1902 - 1952, Lisboa, 1988;
  • FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no Século XIX, vol. II, Lisboa, 1966;
  • A CONSTRUÇÃO MODERNA, ano V, nº 135, Lisboa, 1904;
  • PEDREIRINHO, José Manuel, História do Prémio Valmor, Lisboa, 1988.
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