Expedições no Rio Manduvirá – Wikipédia, a enciclopédia livre

Expedições no Rio Manduvirá
Parte da Campanha da Cordilheira na Guerra do Paraguai

Porto Naranjahai vista desde o rio Manduvirá
Data 5 de janeiro a 20 de agosto de 1869
Local Rio Manduvirá, Paraguai
Desfecho Vitória definitiva dos brasileiros
Beligerantes
Império do Brasil Paraguai Paraguai
Comandantes
Barão da Passagem Paraguai Solano López
Forças
1 corveta
2 couraçados
3 canhoneiras
5 monitores
6 lanchas
8 vapores
180 marinheiros
1 100 soldados
Baixas
1 morto
6 feridos
Todos os navios afundados ou destruídos
Mais de 100 mortos

As expedições no Rio Manduvirá foram as últimas operações que a Marinha Imperial Brasileira realizou na Guerra do Paraguai.[1] A frota imperial tinha como missão realizar explorações ao longo do rio e seus arroios, com o intuito de capturar ou destruir os navios remanescentes da armada paraguaia que haviam se refugiado. A esquadra brasileira era composta por dezoito navios entre encouraçados, monitores, canhoneiras e lanchas a vapor, enquanto a frota paraguaia possuía cerca de uma dezena de vapores. Foram realizadas o total de três expedições que se revelaram extremamente perigosas para os navios brasileiros pela sinuosidade do rio e pelos bloqueios criados pelos paraguaios.

Diversas vezes os navios encontraram obstruções feitas de madeiros de cascos dos navios afundados, grandes árvores empilhadas, canoas, correntes de ferro, carretas carregadas de pedras, criadas para atrasar a perseguição. Devido ao rio ser estreito, às vezes os navios tinha de voltar de popa, dada a impossibilidade de curvar e aproar. Na segunda expedição, considerada a mais violenta, a armada brasileira teve de enfrentar uma guarnição de 1 100 homens no Passo Guarayo, local muito bem fortificado. As expedições, que se iniciaram em janeiro de 1869 e terminaram em agosto do mesmo ano, foram responsáveis pelo aniquilamento da marinha paraguaia. Na década de 1970, foi criado no local um museu onde estão preservados alguns navios que foram recuperados do Manduvirá.

A marinha paraguaia tivera relevante participação em muitos eventos durante a guerra. Com o avanço da armada brasileira pelo Rio Paraguai, a esquadra contribuiu com o transporte de pessoas e materiais, como na retirada da fortaleza de Humaitá, construção das baterias de Fortín no rio Tebicuary e no forte de Angostura, além do abastecimentos dessas posições com recursos vindos do Paraguai e da ocupada província de Mato Grosso. Todavia, assim como o exército, a marinha de López sofreu com o retraimento de suas forças, pelas grandes perdas sofridas ao longo dos cinco anos de conflito.[2] Uma vez que os combates se encontravam no interior, na região das cordilheiras, López resolveu desarmar, no dia 28 de novembro de 1868, seus vapores até um número suficiente para acomodar uma pequena guarnição destinada a navegar nas águas do rio Manduvirá. Essa guarnição fora preparada para desembarcar a artilharia dos navios desarmados, colocá-las em carretas e se organizarem em um batalhão de 300 praças. A armada imperial brasileira destacou alguns navios e em três expedições capturaram ou destruíram o que restou da armada paraguaia.[3]

Primeira expedição

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Encouraçado Bahia por volta de 1870.

Em 28 de novembro, a armada brasileira iniciou um último bombardeio da capital paraguaia Assunção, destruindo um dos torreões do palácio presidencial e danificando diversos outros edifícios públicos, inclusive o estaleiro. A frota era composta pelos couraçados Bahia e Tamandaré e os monitores Alagoas e Rio Grande do Sul. Aproveitando-se da cheia, o alto comando naval organizou uma flotilha composta por alguns navios que participaram do bombardeio e outros: o couraçado Bahia, como navio capitânia, os monitores Alagoas, Ceará, Pará, Piauí, Santa Catarina e as canhoneiras Ivaí e Mearim, sendo comandados por Delfim Carlos de Carvalho, Barão da Passagem. A missão era de capturar ou destruir a pequena frota paraguaia que havia se refugiado, devido a tamanha desproporção de forças, no rio Manduvirá. A expedição se iniciou na madrugada do dia 5 de janeiro de 1869 e contava com o auxílio de um prático paraguaio, oficial de marinha de nome não registrado. Às 16h30, a frota fundeou na foz do Manduvirá.[3] Após rápido reconhecimento do local ficou decidido que o Bahia, Ivaí e Mearim deveriam permanecer ali para bloquearem a saída, uma vez que não tinham condições de navegar no rio considerado muito tortuoso.[4]

Logo no início, a frota encontrou muitas dificuldades. Após a troca da capitânia do Bahia para o Santa Catarina, os navios começaram a subir o rio no dia 6. O curso de água era tortuoso e a dificuldade de manobrar dos monitores fazia com que esses fossem de encontro às árvores e barrancos. Ao longo da perseguição, os paraguaios usaram de várias estratagemas para dificultar o avanço da frota imperial, como o afundamento dos próprios navios a fim de bloquearem a passagem. O primeiro avistamento dos inimigos se deu às 14h00, sendo o vapor Piravevé que servia como sentinela. Este era um dos oito navios que formavam a flotilha perseguida e que, segundo a edição de 19 de fevereiro de 1869 do Diário de Belém, eram tripulados por volta de 180 homens no total, sob o comando de Aniceto López. Diante deste primeiro contato o comandante Delfim Carlos de Carvalho ordenou a sua frota força total, porém foi somente às 18h00 que conseguiram alcançar os navios paraguaios. Do lado guarani a situação era de extrema desvantagem, pois suas embarcações não estavam artilhadas e mesmo que estivessem não eram páreos para os monitores encouraçados brasileiros, por isso não ofereceram resistência. Um dos primeiros navios que os imperiais encontraram a pique foi um escaler com seis tripulantes que, com bandeira branca estendida, se renderam aos brasileiros. Eles informaram que, sob ordem de López, estavam afundando navios desde a manhã daquele dia. Retornando a caça dos vasos inimigos, às 19h00 o Barão da Passagem ordenou a interrupção da marcha dos monitores, visto que os navios paraguaios entraram em um arroio do Manduvirá chamado de Iaguí, ainda mais estreito.[4]

No dia seguinte, o Barão da Passagem decidiu entrar no arroio. O sinuoso e estreito arroio mostrara ser mais dificultoso para navegar, somado as dificuldades criadas pelos marinheiros paraguaios que derrubavam inúmeras árvores de grande porte no leito e madeiros dos navios afundados. Após marcharem por três horas percorrendo pouco mais de 19 quilômetros, os imperiais encontraram o Paraguari posto a pique para bloquear a navegação. Isso significou o fim da perseguição, após verificarem que o obstáculo era insuperável. Visto que o arroio era muito estreito até mesmo para os pequenos monitores de 36 metros de comprimento, o retorno da frota teve de ser feito navegando de popa, uma vez que virar e aproar era impossível. No caminho de volta, encontraram o vapor Cotitey submerso; os monitores Ceará e Piauí despenderam consideráveis esforços na tentativa de rebocarem o vapor, tendo o Ceará que desencalhar duas vezes, devido a tamanha dificuldade. Diante da situação, decidiram abandonar o vapor e retornar. A flotilha alcançou as embarcações que estavam bloqueando o foz do Manduvirá apenas às 17h30 do dia 8 de janeiro.[4] Toda a frota iniciou o retorno para Assunção e, durante as manobras, o Pará bateu com a popa em um madeiro quebrando o leme, tendo de ser rebocado pelo Alagoas. A dificuldade encontrada nessa tarefa obrigou o Pará a descer o rio por seus próprios meios e, chegando ao rio Paraguai, pode ser rebocado com segurança pelo Ivaí até o arsenal de Assunção. No dia 9, às 10h30, todos os navios da primeira expedição se encontravam estacionados na capital paraguaia.[5]

Segunda expedição

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Elisiário Antônio dos Santos substituiu o Visconde de Inhaúma como comandante das forças navais no Paraguai.

Houve mudanças na maneira como seriam feitas os combates que estavam por vir, quando da troca do comando das forças navais; o Chefe de Esquadra Elisiário Antônio dos Santos substituiu Joaquim José Inácio, Visconde Inhaúma. Em um documento datado de 16 de abril de 1869 lavrado pelo príncipe Gastão, Conde D'Eu, foi oficializado a ativação da perseguição dos navios que se encontravam no Manduvirá. O reinício das operações foi facilitado pelas melhores condições climáticas como as constantes chuvas e o aumento do volume dos rios. Desde a última expedição, o Manduvirá continuava bloqueado,[5] agora pelo couraçado Colombo e a corveta Belmonte.[6] Para a segunda expedição, o comando da operação foi confiado ao comandante da primeira divisão Victório José Barbosa de Lomba;[5] o comando da flotilha foi dado ao comandante do Colombo, Capitão de Fragata Jerônimo Francisco Gonçalves. A nova frota era composta pelos seguintes navios: monitores Santa Catarina, Piauí e Ceará, comandados pelos primeiros-tenentes Antônio Severiano Nunes, Carlos Balthazar da Silveira e Antônio Machado Dutra respectivamente; lanchas a vapor Couto, João das Botas e Jansen Müller com as duas últimas comandadas pelo primeiro-tenente Gregário Ferreira de Paiva e segundo-tenente Affonso Augusto Rodrigues de Vasconcellos respectivamente. A frota tinha como práticos Bernadino Gustavino, Thomaz Almuri e Araújo e um médico, o doutor Oliveira Coutinho.[6]

A flotilha de Gonçalves iniciou a perseguição no dia 18 de abril. Nesta nova expedição, como conta Afonso Celso de Assis Figueiredo, durante o trajeto (pelo menos desde o segundo dia), os navios foram acompanhados por forças de cavalaria inimigas. Os navios levaram cerca de seis dias para atingirem a vila de Caraguatay; sempre a noite quando os navios fundeavam eram cuidadosamente vigiados. Neste trajeto as tropas paraguaias não os hostilizaram porque, segundo Bormann, eles tinham esperança de que pudessem cortar a retaguarda da frota e massacrarem completamente as guarnições na volta.[6] Ainda assim, no dia 20, um destacamento sob o comando do Capitão Fonseca Ramos que avançava ao longo do rio foi surpreendido por três linhas de atiradores inimigos, ocasionando a perda de quatro homens e deixando alguns feridos. O destacamento tinha como missão impedir que a coluna que acompanhava Solano López pelas cordilheiras fosse reabastecido pelo rio.[7] O acompanhamento da frota pelos paraguaios era possível devido as múltiplas curvas que o rio tinha, além da facilidade em perceber quando os navios estavam perto pelo avistamento dos altos mastros e a fumaça das chaminés. De acordo com os registros brasileiros, a frota percorreu cerca de 60 a 70 léguas ou 289,68 a 337,93 km, porém usando o Google Earth foi mensurada uma distância de 120,96 km da foz do Manduvirá até o local onde se encontrava a frota inimiga. Já no dia 24, começava a manifestar nos navios a falta de mantimentos, dificultada ainda pela distância que haviam percorrido. De imediato, o comandante ordenou que duas lanchas retornassem para buscar provisões. Tal retorno era perigoso pois a frota passara pela retaguarda de um acampamento inimigo e isso representava uma aflição para o comandante Gonçalves, uma vez que não se sabia se as lanchas haviam conseguido passar com segurança. As pequenas embarcações chegaram a foz do Manduvirá no dia 26 e, quando abastecidos, logo zarparam de volta rio acima.[6]

No dia 25, a frota brasileira avistou, a uma meia légua de distância, os navios paraguaios que estavam estacionados na Vila de Caraguatay, mas foram impedidos de avançarem mais por causa da baixa do rio que não permitia nem mesmo a navegação de uma pequena lancha, de acordo com o Diário de Belém do dia 4 de junho. O comandante Gonçalves decidiu avançar a pé até um passo próximo por onde passava gente e gado de onde podia observar os mastros das embarcações inimigas. Planejavam um assalto para destruir os vasos, porém foram cercados por um regimento de cavalaria apoiado por um de infantaria. Desesperados, Gonçalves e seus comandados conseguiram recuar para os monitores e se prepararam para a batalha. Mas os paraguaios não fizeram combate e permaneceram onde estavam. Diante da calmaria, os oficiais, vendo que o volume do rio continuava a diminuir, decidiram fazer algo inusitado: almoçaram à vista do inimigo e depois incendiariam os próprios navios antes de entregarem a eles, no caso de um ataque. Nessa situação, os brasileiros se encontravam em desvantagem, pois os monitores não dispunham de espaço para acomodar muitas tropas, além da baixa dos rios que não permitiam uma segura navegação. Os paraguaios, ao contrário, estavam muito bem defendidos e com numerosa guarnição. O fato é que os imperiais não podiam atacar. Mesmo assim, Gonçalves ordenou que a frota permanecesse ali até a chegada das lanchas que haviam retornado a foz do Manduvirá em busca de provisões e assim, numa possível cheia do rio, pudesse destruir as naves paraguaias. Este plano não foi concretizado pois, na noite do dia 26 ouvia-se o som de machados dos paraguaios cortando árvores próximo a divisão brasileira, num intuito de bloquear a retaguarda e logo no dia seguinte o comandante dá ordens para que a frota recue devido as preocupações quanto a proximidade dos paraguaios e falta de mantimentos visto que as lanchas ainda não haviam chegado. Uma vez que o rio era muito estreio, a frota teve de retornar navegando de popa.[8]

No retorno, a frota teve muita dificuldade para navegar devido às inúmeras árvores cortadas lançadas no rio, entupindo-o. Esta só não ficou completamente presa pois os navios saíram a tempo e interromperam os trabalhos de cortes dos paraguaios. Segundo Jourdan, a intenção dos paraguaios era de fazerem perder tempo.[9] As toras eram empilhadas umas as outras e amarradas com fortes guascas (tiras de couro). Coube ao Ceará a tarefa de desobstruir o caminho, efetuada à machadinha pela tripulação. Havia um plano paraguaio de fechar a volta dos monitores, que fora incumbido ao Capitão de Fragata Romualdo Nuñez, com um grande contingente. Apesar de uma incessante busca de uma local favorável a ação, o plano não foi concretizado devido a um não acordo entre os oficiais sobre como executá-lo. As duas lanchas com os mantimentos alcançaram a frota na tarde do dia 28 informando que haviam encontrado um ponto de fortificações sendo construído em passo guarayo. As lanchas foram atacadas por tiros de fuzilaria e tentativas de abordagem, tendo alguns feridos entre os tripulantes. Diante disso, a frota se apressou em ultrapassar aquela localidade, mas não lograram êxito devido às dificuldades impostas pelo rio, tendo de adiar para o dia seguinte uma nova tentativa.[10]

Passagem de Guarayo

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Representação artística de um monitor (classe Pará) da expedição.

No dia 29, entre 7 e 8 horas da manhã, o comandante da esquadra decidiu forçar a passagem de Guarayo. A esquadrilha estava diante da seguinte situação: as fortificações eram guarnecidas por 1 100 homens distribuídos entre as trincheiras de ambas as margens e com pelos menos duas peças de artilharia a disposição. Logo abaixo havia um bloqueio feito com vigas, árvores, canoas, correntes de ferro, cordas passadas quatro voltas e carretas cheias de pedra. Antes de iniciarem a passagem, os paraguaios haviam tentado destruir a lancha Jansen Müller fazendo descer dois torpedos na direção dela, enquanto esta estava a reconhecer a flutuação de uma viga. Ao tomar conhecimento, o primeiro tenente Vasconcellos sinalizou para o Ceará, que estava a sua popa, do perigo e zarpou a toda velocidade onde estava a esquadrilha para dar o aviso. Imediatamente a frota iniciou a passagem com rapidez,[11] tendo o Ceará como ponta de lança da esquadrilha, visto que suas máquinas eram mais potentes. Os monitores, que passaram a uma distância segura do Ceará, para não o atrapalhar, estiveram sob intenso fogo da artilharia ribeirinha, porém não responderam de imediato com seus canhões. Mesmo sob intenso fogo e os obstáculos do rio, o monitor Ceará conseguiu romper o bloqueio imposto pelo inimigo com o suporte de seus companheiros de esquadra.[12] Após vencerem os obstáculos, os monitores retornaram e ancoraram de frente ao inimigo, iniciando o bombardeio das posições fortificadas em ambas as margens. Os paraguaios responderam com viva fuzilaria de seus canhões[11] e cerca de 200 homens tentaram dar abordagem dos monitores. O combate durou cerca de cinco horas e resultou em grande mortalidade para os paraguaios. Cerca de cem dos que tentaram a abordagem foram mortos, além dos que estavam nas margens e outros que foram capturados. A derrota enfureceu López que ordenou a imediata prisão do comandante que permitiu a passagem dos imperiais.[13] Do lado dos brasileiros houve apenas uma morte e seis feridos dentre os quais se destaca o maquinista Júlio Raposo de Mello que foi atingido duas vezes e retirou uma das balas com as próprias mãos.[14]

Após a passagem, a esquadra se dirigiu a foz do Manduvirá e lá chegou por volta da tarde do dia 30, alcançando Assunção no mesmo dia finalizando assim a segunda expedição. Gonçalves foi louvado pelo imperador D. Pedro II por seu valor e acerto nesta operação. Porém o alto comando sofreu críticas de Artur Silveira de Motta, Barão de Jaceguai, pois o Barão da Passagem havia dito que os navios paraguaios estavam sendo afundados e a foz do rio estava completamente bloqueada então não se justificava tal expedição pois não havia como os resquícios da marinha paraguaia oferecer qualquer perigo a esquadra ancorada no rio Paraguai.[14]

Terceira expedição

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O rio estava bloqueado com o fim da segunda expedição e a lancha a vapor João das Botas realizou uma exploração de cerca de 50 km no dia 7 de julho sem encontrar nada. Pouco mais de um mês após essa exploração, tropas paraguaias se deslocaram com o intuito de atravessar o Manduvirá para se encontrarem com as tropas de López na cordilheira. Ciente dessa operação, o comandante Elisiário ordenou uma nova expedição com o objetivo de impedir tal travessia e comissionou as seguintes embarcações para a missão: canhoneira Iguatemi, lanchas a vapor Tebiquary, Inhaúma, Jejuy e o vapor-aviso Lindóia. Foi lhes dada a tarefa de navegar até onde fosse possível a fim de evitar a passagem das tropas inimigas. A nova flotilha partiu no dia 17 de agosto de 1869, tendo também como missão secundária "fazer voar" os vapores que ainda se encontravam internados desde janeiro no arroio Iaguí.[15]

O primeiro obstáculo encontrado pelos vapores, no dia 18, foi uma barreira erguida a pedra no leito do passo de Guarayo, com uma pequena passagem larga o suficiente para caber uma canoa. Rapidamente a guarnição iniciou os trabalhos para desobstruir este bloqueio. A partir do mastros, os marujos avistaram homens levando gados em direção da cordilheira, além de forças inimigas os seguindo os brasileiros desde as margens, assim como em outras expedições. Devido à baixa do rio, as lanchas tiveram de retornar.[nota 1] Retomando a expedição, a flotilha encontrou uma família de brasileiros que haviam sido capturados da província de Mato Grosso. São enviados a Assunção. No mesmo dia, uma vanguarda brasileira comandada pelo General Câmara dispersou alguns marinheiros paraguaios que, no caminho, atearam fogo nos vasos internados, num total de seis: o Piravevé, Anhambaí, Salto de Guairá, Apa, Paraná e Iporá. No dia 20 de agosto chegou o Conde d'Eu até o local onde ardiam os vapores.[15]

Consequências

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Vapor Anhambaí, um dos navios recuperados do Manduvirá. Está preservado no Parque Nacional Vapor Cué, Caraguatay.

A exceção de algumas explorações organizadas em setembro e outubro daquele ano, o rio Manduvirá foi declarado livre para a navegação até Rosário, se transformando em uma linha de comunicação com as tropas do exército. As expedições representaram um sério risco para a Marinha Imperial devida as extremas dificuldades que os navios enfrentaram, especialmente na segunda expedição, onde os combates foram mais violentos. Se o plano de Nuñez de fechar os monitores pela retaguarda tivesse sido concretizado, o resultado seria catastrófico para a armada.[16]

Os combates no rio selaram o fim da marinha de guerra paraguaia, pois os últimos navios que estavam em serviço foram destruídos tanto pelas mãos imperiais quanto a dos seus próprios marinheiros.[16] Na década de 1970 o governo paraguaio se organizou para recuperar alguns vapores que estavam, até aquela data, enterrados no local. Foi feito um trabalho de recuperação, catalogação e criação de um museu a céu aberto chamado de Vapor Cué, tendo como base os restos dos seis navios que estavam em um dos arroios do Manduvirá, o Iaguí.[17]

Notas

  1. A canhoneira Iguatemi navegou poucos quilômetros desde a foz, pois a água rasa o impedia de avançar, permanecendo em Passo Orqueta.[15]

Referências

  1. Marinha do Brasil 2017, p. -3-8-.
  2. Barros 2016, p. 75.
  3. a b Barros 2016, p. 76.
  4. a b c Barros 2016, p. 77.
  5. a b c Barros 2016, p. 78.
  6. a b c d Barros 2016, p. 79.
  7. Donato 1996, p. 399.
  8. Barros 2016, p. 80.
  9. Jourdan 1890, p. 188.
  10. Barros 2016, p. 81.
  11. a b Costa 1870, p. 240.
  12. Barros 2016, p. 82.
  13. Costa 1870, p. 241.
  14. a b Barros 2016, p. 84.
  15. a b c Barros 2016, p. 85.
  16. a b Barros 2016, pp. 85-87.
  17. Barros 2016, p. 87.
  • Barros, Aldeir Isael Faxina (2016). «A Marinha Imperial Brasileira no Manduvirá». Revista Marítima Brasileira. 136 (04/06). ISSN 0034-9860 
  • Costa, Francisco Felix Pereira da (1870). Historia da guerra do Brasil contra as Republicas do Uruguay e Paraguay. 4. Rio de Janeiro: Livraria de A.G. Guimãraes & C. OCLC 9225660 
  • Donato, Hernâni (1996). Dicionário das batalhas brasileiras 2 ed. São Paulo: Instituição Brasileira de Difusão Cultural. 593 páginas. ISBN 8534800340. OCLC 36768251 
  • Jourdan, Emílio Carlos (1890). Guerra do Paraguay. Rio de Janeiro: Typographia de Laemmert & C. 272 páginas 
  • Marinha do Brasil (2017). Apostila História Naval. Vila Velha: Escola de Aprendizes Marinheiros do Espírito Santo 

Ligações externas

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