Hortênsia Mancini – Wikipédia, a enciclopédia livre

Hortênsia Mancini
Duquesa de Mazarin
Hortênsia Mancini
Retrato por Godfrey Kneller, 1671
Nascimento 6 de junho de 1646
  Roma, Estados Papais
Morte 2 de julho de 1699 (53 anos)
  Chelsea, Inglaterra
Marido Armand Charles de La Porte,
Duque de La Meilleraye
Descendência Marie Charlotte, Duquesa de Aiguillon
Marie Olypme, Marquesa de Bellefonds
Paul Jules, Duque de La Meilleraye
Pai Lorenzo Mancini
Mãe Geronima Mazzarini
Brasão

Hortênsia Mancini (em italiano: Ortensia Mancini; francês: Hortense Mancini; Roma, 6 de junho de 1646Chelsea, 2 de julho de 1699), Duquesa de Mazarin, foi uma das famosas sobrinhas do Cardeal Jules Mazarin, conhecidas como Mazarinettes, e amante do rei Carlos II de Inglaterra. Foi considerada a mulher mais bela do século XVII.

Foi trazida para Paris com a idade de seis anos e educada pelos cuidados do tio, o Cardeal Mazarino, que tinha por ela carinhos de pai. O Rei da Inglaterra Carlos II e o duque de Saboia Carlos Emanuel II pediram-na em casamento; mas o cardeal julgou melhor não aceitar a honra que lhe faziam dois soberanos procurando uma aliança consigo.

Filha de Jerónima Mazzarini e do Barão Michele Mancini, seu tio, o Cardeal Mazarino, casa-a a 1 de Março de 1661 com o Duque de La Meilleraye, com a condição que este toma-se o nome e as armas dos Mazarino. Nesta ocasião, recebeu do Cardeal os títulos de Duque de Mazarin, Duque de Mayenne, Príncipe de Château-Porcien, Conde de Ferrette, de Belfort, de Thann e de Rosemont, Barão de Altkirch, Senhor de Issenheim, e Marquês de Guiscard.

Desta união, nasceram quatro crianças :

  • Marie-Charlotte de La Porte de La Meilleraye (1662-1729), esposa do Marquês de Richelieu.
  • Marie-Anne de La Porte de La Meilleraye (1663-1720), Abadessa de Lys.
  • Marie-Olympe de La Porte de La Meilleraye (1665-1754), esposa do Marquês de Bellefonds.
  • Paul-Jules de La Porte-Mazarin (1666-1731), Duque de Meilleraye e de Mazarin, e herdeiro dos títulos de seus pais. Este teve dois filhos: Guy-Paul-Jules, Duque de Mazarin e Armande-Félicité, casada com o Marquês de Nesle. Três de suas filhas foram sucessivamente favoritas do Rei Luís XV entre 1733 e 1744.

Jamais união foi tão mal sucedida : Hortênsia, jovem, alegre e frívola, amava o mundo, onde se via rodeada por uma multidão de admiradores ; o Duque de Meilleraye, ao contrário, avarento e ciiumento, exagerado em sua devoção, fugia da sociedade e obrigava a mulher, cujo dote chegava a trinta milhões, a renunciar à permanência em Paris e de seguí-lo de cidade em cidade em consecutivos mandatos. Ela estabelecer-se-á assim com ele no "Grand-Logis" ("Grande Alojamento") de Mayenne.

A fuga para a Itália

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Hontênsia toma finalmente a decisão de libertar-se daquilo que chamava "uma escravidão odiosa"; e ela a executou com o auxílio de Filipe, Duque de Nevers, seu irmão, que lhe providenciou cavalos e uma escolta para levá-la até Roma, onde ela contava refugiar-se junto a sua irmã Maria Mancini.

Sua evasão tem lugar na noite de 13 de Junho de 1668. O Duque de Meilleraye, furioso com sua mulher, abre queixa contra seu cunhado, o Duque de Nevers, no Parlamento por haver favorecido a partida de Hortênsia, e obtem um mandato pelo qual estava autorizado a prender a mulher quando e onde o conseguisse. No entanto, Hortênsia, cansada das confusões que precisava suportar por parte de seus parentes, escreve ao marido rogando seu perdão e pedindo que a recebesse de volta, prometendo a partir daí seguir apenas seus conselhos; mas o Duque de Mailleraye responde que, somente após uma estadia da mulher por dois anos num convento, ele veria o que poderia fazer. O dinheiro que ela tinha logo esgotou-se : não lhe restavam senão pedrarias, que ela penhora por uma quantia bem inferior a seu valor; e ela retorna à França para solicitar uma pensão sobre os bens enormes que havia levado ao marido.

A proteção do Rei Luís XIV e do Duque de Saboia

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Hortênsia Mancini

O rei Luís XIV de França, que se havia declarado seu protetor, ficou tocado com sua situação ; ele a faz obter uma pensão anual de vinte e quatro mil libras para que volte para Roma, apesar da desaprovação do marido. Ela foge pouco tempo depois dessa cidade, com sua irmã. Separando-se desta última, ela se retira para Chambéry, onde permanece durante três anos na companhia de pessoas distintas por seu espírito e nascimento. Após a morte de Carlos Emanuel II, duque de Saboia, também declarado seu protetor, Hortênsia segue para a Inglaterra junto com o Abade de Saint-Réal, que tem com ela uma grande ligação.

Carlos II da Inglaterra

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O Rei Carlos II

O rei Carlos II a acolhe com boa vontade e lhe concede uma pensão de quatro mil libras esterlinas ; Hortênsia teria provavelmente substituído a Duquesa de Portsmouth no coração do monarca inglês, se não se tivesse mostrado sensível aos cuidados que lhe dedicava o Príncipe de Monaco. Carlos, irritado da preferência que Hortênsia parecia dedicar ao rival, suprimiu a pensão que lhe fazia ; alguns dias depois, Carlos restabelece a pensão, envergonhado por ter-se abandonado a um movimento de ciúme sem razão aparente.

A casa de Hortênsia torna-se logo ponto de encontro dos homens mais amáveis e espirituosos de Londres; entre os melhores espíritos que aí se reuniam citam-se Justel, Vossius, Leti e Saint-Evremond. A própria Hortênsia parece ocupar-se dos estudos com bastante ardor ; mas, ao gosto inocente pelas cartas sucede-se o do jogo de "bassete" (espécie de jogo de cartas): ela dedica suas noites ao jogo, perdendo quantias consideráveis sem possuir fundos suficientes e emprestando aos amigos. No entanto, cercada como estava por uma multidão de admiradores, decide-se finalmente a fazer uma escolha : lança seus olhos sobre o Barão de Banier, cavalheiro sueco de mérito raro. A preferência que lhe testemunha atiça o ciúme do Príncipe Filipe de Sabóia, seu sobrinho [1]; ele chama Banier para um duelo e o mata com um golpe de espada (1683)

Hortênsia fica bastante afetada por esta catastrofe ; faz atapetar seu quarto de negro e fica encerrada nele por diversos dias sem querer qualquer alimentação. Saint-Evremond, o melhor de seus amigos, tentou mostra-lhe o quanto seria prejudicial para ela submeter-se a uma dor tão excessiva. Ela espondeu que estava decidida a partir para a Espanha e acabar seus dias em um convento. Porém foi fácil provar a ela como ela jamais se acostumaria à vida regular e tranquila de uma religiosa.

A sociedade de Londres

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Hortênsia Mancini como Afrodite, de Jacob Ferdinand Voet

No entanto, com a saúde, Hortênsia recupera o gosto pelos prazeres e abre suas portas para a sociedade mais brilhante de Londres. A Revolução da Inglaterra, que trouxe para o trono Guilherme de Nassau, a priva da pensão que recebia, seu único recurso. O Duque de Mazarin aproveita-se desta circustância para lhe despejar um novo processo ; e obtêm, em 1689, um veredito que a declarava despojada de todos os seus direitos no caso de Hortênsia recusar-se a voltar para ele [2].

Hortênsia alega ter contraído dívidas e que não poderia sair da Inglaterra sem antes pagar seus credores. Tudo o que fala, tudo o que tenta é inútil ; ela vê seus móveis confiscados e ela vê-se exposta à maior penúria quando o Rei Guilherme, informado de sua situação, lhe assegura uma nova pensão de duas mil libras esterlinas. Hortênsia retoma então seus hábitos, passando o inverno em Londres e o verão em Chelsea, cidade à margem do Rio Tâmisa, onde desfruta dos prazeres do campo. É lá que ela cai doente no mês de Junho e morre em 2 de Julho de 1699. Em sua morte, os habitantes de Mayenne fazem celebrar uma missa por alma de sua duquesa e enviam ao duque e a seu filho uma carta de condolências.

Considerações finais

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Hortênsia ainda não havia perdido nada de sua beleza inicial. Sempre demonstrou bastante indiferença pela vida e nunca desmentiu os sentimentos que tinha sobre este aspecto. Era dotada de um espírito vivo e expressava-se de maneira bastante agradável, mas jamais teve a pretensão de passar por literata; prova disso é que permitia a Saint-Evremond de corrigi-la sobre erros de ortografia.

Foi a bisavó das quatro "Irmãs de Nesle", amantes sucessivas do Rei Luís XV de França e, por sua tataraneta, Louise d'Aumont, antepassada dos atuais príncipes de Monaco, a quem transmitiu seus diversos títulos.

As "Mémoires de la duchesse Mazarin" ("Memórias da Duquesa Mazarin") na verdade não são escritas por ela e sim obra do abade de Saint-Réal. Pierre Bayle, no entanto, não tem esta opinião; mas Desmaizeaux nos ensina que era proprietário de um exemplar da primeira e rara edição dessas memórias, de 1675, que haviam pertencido a Hortênsia e que estavam repletas de correções marginais feitas pela mão de St-Réal.

Estas "Memórias" foram reimpressas dentro do "Mélange curieux des meilleures pièces attribuées à St-Evremond" ("Coleção Curiosa das Melhores Peças Atribuídas a St-Evremond"), t. 2, e no "Recueil des œuvres de St-Réal" ("Conjunto das Obras de St-Réal"), t. 6.

Pode-se também consultar :

Foi publicado em Paris, em 1808, "La duchesse Mazarin, mémoires écrits par elle-même" ("A Duquesa Mazarin, Memórias Escritas por Ela Mesma"), in-8 et 2 vol. in-12. É uma reimpressão das "Memórias" feitas por St-Réal, e que foi desfigurada com inserções retiradas de diversas fontes que não merecem total confiança.

Referências

  1. Filho de Olímpia Mancini, segunda irmã de Hortênsia, casada com Eugênio Maurício de Saboia, Conde de Soissons
  2. Madame de Sévigné dizia, com St-Evremond, que a Duquesa de Meilleraye estava dispensada das regras comuns, para tal servindo como justificativa apenas a visão de M. de Meilleraye. Quando a aconselhavam a voltar para seu marido, ela repetia, como durante a guerra civil francesa : Nada de Mazarin ! Nada de Mazarin ! (Ver "la Lettre, de madame de Sévigné à sa fille" - "A Carta de Madame de Sévigné a sua filha " - datada de 27 de Fevereiro de 1671).