João da Baiana – Wikipédia, a enciclopédia livre

João da Baiana
Informações gerais
Nome completo João Machado Guedes
Também conhecido(a) como João da Baiana
Nascimento 17 de maio de 1887
Origem Rio de Janeiro
País  Brasil
Morte 12 de janeiro de 1974 (86 anos)
Gênero(s) Samba
Filho(a)(s) Neoci
Instrumento(s) Pandeiro
Afiliação(ões) Conjunto dos Moles
Grupo do Louro
Oito Batutas
Grupo da Guarda Velha
Diabos do Céu

João Machado Guedes, mais conhecido como João da Baiana (Rio de Janeiro, 17 de maio de 1887 — Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1974), foi um compositor popular, cantor, passista e instrumentista brasileiro, reconhecido enquanto um dos pioneiros do samba sob diversos aspectos.[1]

Filho de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança, era o mais novo e único carioca de uma família baiana de 12 irmãos. A alcunha de "João da Baiana" veio do fato de sua mãe ser uma das conhecidas "tias" baianas[1], que trabalhavam como quituteiras e comandavam terreiros de candomblé no distrito da região central do Rio de Janeiro chamado de "Pequena África"[2]. Sua mãe, conhecida como Tia Perciliana, foi uma das pioneiras na introdução de novos instrumentos musicais ao gênero musical do samba, que então estava em plena formação.[3]

Cresceu na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, sendo amigo de infância de Donga e Heitor dos Prazeres.[1] Quando criança, frequentou as rodas de samba e macumba que aconteciam clandestinamente nos terreiros cariocas. Em 1908, quando o samba ainda era associado à vadiagem e combatido pela polícia, teve seu pandeiro apreendido ao se apresentar na tradicional Festa da Penha, festejo luso-brasileiro cuja popularidade entre a população negra do Rio era então crescente. Após o incidente, foi presenteado pelo Senador Pinheiro Machado, um dos homens mais poderosos da República à época e admirador confesso do músico (contratando-o, inclusive, para tocar em festas particulares), com um novo pandeiro em cujo couro estavam gravadas as palavras "Com a minha admiração, ao João da Baiana - Pinheiro Machado"[4], para que seu protegido não fosse mais privado do instrumento. O episódio exemplifica os tantos pontos de contato entre eminentes figuras políticas da Capital Federal e as manifestações culturais afro-brasileiras, então intensamente marginalizadas.

Ao longo das primeiras décadas do século XX, João da Baiana participou de uma série de ranchos e blocos carnavalescos, sendo tido como o introdutor do pandeiro no samba. Teve por muito tempo um emprego fixo não relacionado à música, inclusive recusando, em 1922, viajar com Pixinguinha e os Oito Batutas, orquestra negra de sucesso da qual fazia parte[5], para não perder o posto de fiscal da Marinha.

A partir de 1923, passou a compor músicas e a gravar em programas de rádio e, em 1928, foi contratado como ritmista. Além dos pandeiros, sua especialidade era o prato e faca, populares nas gravações da época. Algumas de suas composições da época foram "Pelo Amor da Mulata", "Mulher Cruel", "Pedindo Vingança" e "O Futuro É uma Caveira". Integrou alguns dos pioneiros grupos profissionais de samba, entre eles o Conjunto dos Moles, Grupo do Louro, Grupo da Guarda Velha e Diabos do Céu. Participou também da famosa gravação organizada por Heitor Villa-Lobos a bordo do navio "Uruguai" em 1940, para o disco "Native Brazilian Music", do maestro Leopold Stokowski, com sua música "Ke-ke-re-ké".

Na década de 1950 voltou a se apresentar nos shows do Grupo da Velha Guarda, organizados por Almirante, resultando em dois LPs registrados pela gravadora Sinter em 1955. No ano seguinte, a convite do jornalista e gestor cultural Ricardo Cravo Albin, gravou o primeiro depoimento para o acervo do Museu da Imagem e do Som (M.I.S.) do Rio de Janeiro[6]. Em 1968, participou, em conjunto com Pixinguinha e Clementina de Jesus do histórico LP "Gente da Antiga", produzido por Hermínio Bello de Carvalho, no qual lançou, entre outras, as ancestrais "Cabide de Molambo" e "Batuque na Cozinha", depois regravada por Martinho da Vila. É registrado, em 1966, pelo cineasta francês Pierre Barouh em seu documentário Saravah, que seria lançado em 1972; no filme, pode ser visto tocando junto a Pixinguinha e Baden Powell, dando depoimentos sobre sua trajetória no samba e dançando o miudinho[7].

Prato de João da Baiana (Acervo MIS-RJ)

Faleceu em 1974, aos 86 anos de idade, deixando um filho, Neoci (fruto de um relacionamento com a costureira Araci Andrade de Almeida, e que posteriormente se tornaria conhecido como integrante da ala de compositores do Cacique de Ramos[8] e membro fundador do grupo Fundo de Quintal[9]). Atualmente, alguns de seus pertences integram o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (www.mis.rj.gov.br), entre os quais o prato e faca de João da Baiana (Coleção Almirante), instrumentos que o consagraram.

Referências

  1. a b c «João da Baiana». Só Biografias. Consultado em 15 de janeiro de 2012 
  2. «A Pequena África que deu ao Rio o samba e identidade». Brazil Journal. 9 de julho de 2024. Consultado em 29 de agosto de 2024 
  3. «Axé Rio! A Participação das Tias Baianas na Construção da Cultura Popular Urbana do Rio de Janeiro, 1850-1930. - Brasil Escola». Meu Artigo Brasil Escola. Consultado em 29 de agosto de 2024 
  4. «João da Bahiana». Dicionário Cravo Albin. Consultado em 29 de agosto de 2024 
  5. «Legado do sambista João da Baiana é celebrado 50 anos após sua morte». Agência Brasil. 12 de janeiro de 2024. Consultado em 29 de agosto de 2024 
  6. «João da Bahiana». Dicionário Cravo Albin. Consultado em 2 de setembro de 2024 
  7. «João da Bahiana – Pixinguinha». Consultado em 2 de setembro de 2024 
  8. «SONORIDADES». cmcaciquederamos.com.br. Consultado em 2 de setembro de 2024 
  9. «Neoci». Dicionário Cravo Albin. Consultado em 2 de setembro de 2024