Jogral – Wikipédia, a enciclopédia livre
Jogral ou joglaria (do provençal joglar, substantivação do adjetivo latino joculáris,e: 'divertido, burlesco, risível'), na lírica medieval até o século X, era o artista profissional de origem popular, um vilão (não pertencente à nobreza) que tanto atuava em apresentações públicas nas praças, quanto nos palácios senhoriais no papel de bufão, com suas sátiras, mágicas, acrobacias, mímica.[1] No dizer de Jacinto do Prado Coelho, "homens de condição inferior que ora cantavam música e poesia alheias, ora eles próprios compunham, para tirarem proveito da sua arte".[2] Os jograis podem ser equiparados aos comediantes latinos (mimi, histriones, scurrae, thymelici) e aos scopas germânicos (aedos), que viajando por palácios, as gestas da nobreza bárbara. Segundo Menéndez Fidai, "jograis eram todos aqueles que ganhavam a vida atuando perante um público, para recreá-lo com a música, com a literatura, com charlatanices ou com prestidigitações, acrobacias e mímicas."[3] Modernamente jogral é um modo de declamação de poemas, ou canções por um coro, alternando entre o canto e a fala.[4]
A joglaria é bem mais antiga que o trovadorismo. Na Península Ibérica e em outras regiões, conforme testemunhos pelo menos desde a época de Afonso II de Aragão (1180) o jogral era figura obrigatória em todos os festejos. Jograis e segréis representam a antiga cultura popular da Península, sobretudo da Galiza. A partir do século X, os jograis também recitavam canções de gesta. Alguns jograis, além de executantes, também compunham as suas próprias melodias e poemas ou introduziam variantes nos poemas, adaptando-o ao seu próprio gosto ou inserindo passagens pessoais. Por exemplo, o clérigo Gonçalo de Berceo se dizia "jogral de São Domingos de Silos", pois pusera em versos a biografia do santo. No século XI, surge nova designação occitânica para o poeta-músico: trobador. Da Provença, que vivia um período de quase dois séculos de paz, vieram os trovadores, que transmitem sua arte refinada aos luso-galegos - "en maneira de provençal a fazer agora un cantar d'amor".[5] Os jograis, assim como os menestréis, começam a divulgar a poesia trovadoresca, cantando-a e tocando instrumentos como a viela, o alaúde, ou a cistre. Após o século XIV, o termo "jogral" ganhou o sentido de artista popular itinerante. O jogral é como um poema, podendo ser cantado ou não. Também pode definir-se como a arte de poetizar por duas ou mais pessoas. E consiste em pronunciar versos engraçados com o propósito de divertir as pessoas e, no caso de antigamente, o rei. Hoje, os que realizam jogral, são os artistas de rua, chamados antigamente Bobos da Corte, que eram empregados do rei e tinham função de diverti-lo com rimas, poemas, jograis, mímicas, brincadeiras, adivinhas, trava-línguas... Enfim, entreter a corte. Os jograis exprimiam-se na língua do povo (menosprezada pelos intelectuais), quer fosse o francês antigo ou outras línguas regionais (normando, picardo, occitano, bretão), em oposição ao latim, a língua culta da época. Nesse sentido, distinguiam-se dos clérigos, que se expressavam em latim, desprezavam a língua vulgar e usavam termos pejorativos, como joculares ou histriones, para aqueles que se exibiam nas feiras e praças. Esses clérigos eram os responsáveis pelo registo escrito dos textos. Assim, dado o seu desprezo pela cultura popular[6], poucos textos nas línguas faladas pelo povo, anteriores ao século XII, foram escritos, copiados e preservados, exceto por algumas hagiografias.
No século XIII, os jograis serão crescentemente desprezados. "Menestrel" é a designação que os músicos da corte passarão a adotar a partir do século XIV, quando o termo "jogral" passa a ter conotação pejorativa de 'truão, vagabundo'. Os limites entre de classe entre trovadores e jograis são, no entanto, muito imprecisos, exceto pelo fato de que os jograis eram "profissionais", isto é, recebiam dinheiro pelas suas apresentações, ao contrário dos trovadores - ainda que houvesse trovadores que também ganhavam a vida como jograis. Arnaut Daniel, por exemplo, era da nobreza, mas atuava como jogral para se sustentar. A partir do século XIV, a figura do jogral deriva para a simples condição de músico ou de bobo, e abandona o ofício poético. Um outro tipo, o segrel, que existiu somente na escola galego-portuguesa, configura uma categoria intermediária entre o trovador e o jogral. Distinguia-se do trovador, por compor a troco de pagamento, e do jogral, por ser um fidalgo, embora sem recursos para aspirar à condição de cavaleiresco. O segrel perambulava de corte em corte, a cavalo, acompanhado de seu jogral, ou engajava-se nas hostes reais, para exercer seu ofício de artista.[7][8]
Outra acepção
[editar | editar código-fonte]Jogral é grupo que declama poemas ou textos literários em coro, isto é, um coral falado - eventualmente alternando canto e recitativo, partes individuais e coletivas. Mesmo quando é apenas falado, as falas ocorrem dentro de uma ordem, que confere uma musicalidade e ritmo à declamação. Mas isso ficava á critério dos praticantes. Ou, antigamente, ao critério do rei.
O jogral atualmente é declamado maioritariamente nas igrejas, pentecostais. Em Angola o jogral é prática obrigatória em quase todas igrejas pentecostais. Ao longo do tempo o jogral tem registrados grandes evoluções. Hoje o jogral é combinado com peças teatrais, dança e música. [1]
Referências
- ↑ a b Dicionário Houaiss: 'jogral']
- ↑ A poesia trovadoresca.
- ↑ MENÉNDEZ PIDAL. R. Poesía juglaresca y juglares. Buenos Aires. Espasa-Calpe, 1942. p. 12, apud Affonso Robl. In Lourenço:jogral impertinente.
- ↑ «Jogral: o que é e o que significa». Significados. Consultado em 16 de dezembro de 2022
- ↑ Lourenço:jogral impertinente, por Affonso Robl.
- ↑ O papel do amor cortês e dos jograis na Educação da Idade Média: Guilherme da Aquitânia (1071-1127) e Ramon Llull (1232- 1316)", por Ricardo da Costa. In: CASTRO, Roberto C. G. (org.). O Intérprete do Logos – Textos em homenagem a Jean Lauand. São Paulo: Factash Editora / ESDC, 2009 (ISBN 97-8858-9909-9-69), p. 231-244.
- ↑ «Literatura Portuguesa - Trovadorismo 1189 (ou 1198) ? - 1385)». Consultado em 5 de agosto de 2011. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2014
- ↑ Literatura Portuguesa I - Poesia trovadoresca galego-portuguesa Arquivado em 2 de fevereiro de 2014, no Wayback Machine. por José Carreiro.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- O sonho de Martim Moxa – a crítica social na poesia de um jogral ibérico do século XIII, por José D’Assunção Barros. Fragmentos, n° 33, p. 155/162. Florianópolis, jul - dez, 2007
- VASCONCELOS, Carolina Michaëlis. Glosas marginais ao cancioneiro medieval português. Unicamp/ Universidade de Coimbra / Universidade de Santiago de Compostela, 2005.