Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda – Wikipédia, a enciclopédia livre
Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda José Marcelino de Figueiredo | |
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Retrato de Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, gravura de Francesco Bartolozzi (1812) | |
Governador do Rio Grande do Sul | |
Período | 23 de abril de 1769 a 1771 |
Dados pessoais | |
Nascimento | 16 de abril de 1735 Bragança, Reino de Portugal |
Morte | 28 de abril de 1814 (79 anos) Lisboa, Reino de Portugal |
Nacionalidade | Português |
Profissão | Militar, administrador colonial |
Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, mais conhecido no Brasil como José Marcelino de Figueiredo (Bragança, 16 de abril de 1735 — Lisboa, 28 de abril de 1814), foi um militar e administrador colonial português. Foi governador da Capitania do Rio Grande de São Pedro, de 23 de abril de 1769 a 26 de outubro de 1771 e de 11 de junho de 1773 a 31 de maio de 1780.[1]
A tradição lhe dá origem na antiga aristocracia portuguesa, mas segundo Fábio Kühn seu avô fora sapateiro. De toda forma, encaminhou-se para o serviço militar, ingressando tardiamente (aos 27 anos) no Regimento dos Voluntários Reais sediado no Faro, com o posto de cadete. Deve logo ter provado valor, pois dois anos depois já era capitão de cavalaria.[2]
Consta que tinha uma índole turbulenta, o que acabou envolvendo-o numa tragédia: uma rude discussão com um colega de regimento, o escocês John MacDonell, terminou em assassinato. Julgado pelo Conselho de Guerra, foi condenado à pena de morte. Mas algum alto protetor deve ter intervindo, visto que sua pena foi não apenas suspensa, como ele foi promovido a coronel da cavalaria. Contudo, o crime não podia ser apagado, então ele foi enviado ao Brasil. Um ofício da Corte enviado em 1765 ao vice-rei Antônio Álvares da Cunha dava instruções para que o recebesse e empregasse sob um pseudônimo: “Até o presente andou refugiado, e agora buscou ocultamente o serviço, e sendo como é oficial de préstimos, não é justo que se perca; não convindo, porém, que se saiba que tornou a ele: [...] o admita em qualquer dos Regimentos dessa Capitania com o [...] referido nome de José Marcelino; e guardando-se um inviolável segredo no referido”.[2]
Foi assim que, com o nome de José Marcelino de Figueiredo, chegou ao Rio de Janeiro, sendo logo enviado à Capitania do Rio Grande, onde fez uma carreira-relâmpago.[3] Nesta época o território estava em disputa com os espanhóis, que em 1763 haviam ocupado a capital, a vila de Rio Grande. Em maio de 1767 recebeu ordens do governador para retomar a cidade, mas houve resistência e o plano fracassou. Então voltou ao Rio de Janeiro.[2]
Em breve estaria de volta ao sul, designado como governador em 1769. Quando tomou posse, em 23 de abril, não lhe agradou do local onde fora instalada a nova capital, Viamão. Foi então visitar o Porto dos Casais, onde tinham se estabelecido os casais açorianos e, desde então, passou a trabalhar para que a nova capital fosse para lá transferida. Em 1771 recebeu do vice-rei autorização para preparar a mudança.[3]
Passou dois anos na função de governador, e neste período frustrou uma nova tentativa dos espanhóis de invadirem a Capitania, vencendo com uma hábil estratégia forças bastante superiores em número, o que lhe aumentou a fama na Corte, mas acabou afastado do governo por causa de sua rebeldia. Sua atuação passou por uma devassa, e António de Almeida Soares Portugal, o novo vice-rei, deixou um testemunho: “Sou obrigado a dizer [...] que contra a limpeza de mãos do coronel José Marcelino não tenho cousa alguma, antes me consta ter servido com grande isenção, e os seus erros todos são nascidos de uma vaidade de fidalguia e de ciência que lhe parece estar superior a todos".[2]
De volta ao Rio de Janeiro em 1771, José Marcelino determinou que seu substituto, o tenente-coronel António da Veiga de Andrade passasse a tratar da urbanização do Porto dos Casais. Em 5 de abril de 1773, já brigadeiro, foi reconduzido à governança, e de volta à província, realizou detalhada inspeção nas obras de transferência da capital, fixando sua residência no Porto dos Casais no dia 25 de julho de 1773, data em que a localidade transformou-se em capital da província.[3] No entanto, seu temperamento não se modificara, e continuou gerando controvérsias e conflitos. Entrou várias vezes em atrito com a Câmara de Vereadores, o que por fim custou-lhe o cargo de governador, sendo removido em 1780.[2]
Novamente no Rio, ali casou-se em 1781 com dona Joana Correia de Sá e Castro, de ilustre família, descendente de Salvador Correia de Sá e Benevides, que por três vezes fora governador do Rio e o responsável pela libertação de Angola dos holandeses.[2] Com ela foi pai de Bernardo Correia de Castro e Sepúlveda e António Correia de Castro Sepúlveda.[3] Em 1783 recebeu enfim licença para voltar a Portugal, o que vinha pleiteando há muitos anos.[2]
Em seu retorno foi plenamente reabilitado, reassumindo seu verdadeiro nome e sendo honrado com a governança de sua cidade natal. Em 1789 foi enobrecido, recebendo o título de fidalgo da Casa Real, e pouco depois, foi nomeado ao distinguido posto de governador das armas de Trás-os-Montes. Demonstraria ainda seu valor como militar, já no posto de tenente-general, sendo em 1808 um dos líderes da Revolta de Trás-os-Montes, que pretendeu expulsar o invasor francês.[2][3] Na sequência foi nomeado para o Conselho de Guerra do Reino, com o posto de general.[4] Nas palavras de Kühn,
- "Sepúlveda morreu em 1814, exatamente meio século depois de ter sido condenado à morte. A decisão de poupar-lhe a vida não poderia ter sido mais benéfica para o Império lusitano. Mesmo encrenqueiro e desobediente, ele ajudou Portugal em duas frentes: a garantir a fronteira meridional da América e a resistir contra invasores franceses na Europa. Seja como José Marcelino, seja como Manuel, não há dúvida: ele inscreveu seu(s) nome(s) na História".[2]
Referências
- ↑ Riograndino da Costa e Silva, Notas à Margem da História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1968, p. 215
- ↑ a b c d e f g h i Kühn, Fábio. "De condenado a herói" Arquivado em 5 de julho de 2015, no Wayback Machine.. In: Revista de História, 2009; (40)
- ↑ a b c d e Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre : EDIUFRGS, 2006. 4ª ed., p. 382
- ↑ Fonte, Barroso da. Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, vol. I., 1998
Precedido por José Custódio de Sá e Faria | Governador do Rio Grande do Sul 1769 — 1771 | Sucedido por António da Veiga de Andrade |
Precedido por António da Veiga de Andrade | Governador do Rio Grande do Sul 1773 — 1780 | Sucedido por Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara |