Mor Gonçalves de Sousa – Wikipédia, a enciclopédia livre
Mor Gonçalves de Sousa | |
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Rica-Dona | |
Nascimento | 1210 |
Morte | 7 de setembro de 1283 |
Sepultado em | Mosteiro de Salzedas, Tarouca, Viseu, Portugal |
Cônjuge | Afonso Lopes de Baião |
Dinastia | Sousa |
Pai | Gonçalo Mendes II de Sousa |
Mãe | Teresa Soares de Ribadouro |
Religião | Catolicismo romano |
Brasão |
Mor Gonçalves de Sousa (c.1210 – 7 de setembro de 1283[1]) foi uma Rica-dona do Reino de Portugal tendo o seu período de vida, de aproximadamente 70 anos, abrangido os reinados de D. Sancho I de Portugal, D. Afonso II de Portugal e dos irmãos D. Sancho II de Portugal e D. Afonso III de Portugal, ainda sobrevivendo a este último. Foi senhora, por casamento, de Baião e Penaguião. Poderá ter estado ligada ao movimento trovadoresco português, sendo a sua família a maior patrocinadora da arte e o seu marido parece estrear-se na composição durante a crise política de 1247.
Primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Mor era filha de Gonçalo Mendes II de Sousa, influente magnate e chefe da família de Sousa, e de Teresa Soares de Ribadouro, neta de Egas Moniz IV de Ribadouro, conhecido como O Aio, outra figura não menos influente no passado. Pertencia assim a uma das cinco principais famílias nobres do Reino de Portugal, a Casa de Sousa.
O conflito dos Sousas com a corte e a saída de Portugal
[editar | editar código-fonte]Mor nasceu num período especialmente conturbado para a sua família. Tivera início o turbulento reinado de Afonso II de Portugal, marcado por violentos conflitos internos entre o rei e as suas irmãs Mafalda, Teresa e Santa Sancha de Portugal, a quem Sancho legara em testamento, sob o título de rainhas, a posse dos castelos de Montemor-o-Velho, Seia e Alenquer, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos. Ora, Afonso, tentando evitar a supremacia da influência dos nobres no seu governo, pretendia centralizar o seu poder, mas para isso incorria contra as irmãs e em último caso contra o testamento paterno, do qual Gonçalo Mendes, pai de Mor, ficara encarregue de defender. Foi a primeira vez que a, firme apoiante da realeza portuguesa desde a sua fundação, se lhe opôs., o que levou ao afastamento da corte, intensificando o desacordo[2].
Este conflito seria resolvido com intervenção do Papa Inocêncio III; o rei indemnizaria as infantas com uma soma considerável de dinheiro, e a guarnição dos castelos foi confiada a cavaleiros templários, mas era o rei que exercia as funções soberanas sobre as terras e não as infantas. Porém os Sousas seriam renegados durante todo o reinado, e assim sendo saíram de Portugal, refugiando-se em outras cortes peninsulares.[3].
Regresso e o patrocínio da cultura
[editar | editar código-fonte]A morte prematura de Afonso II em 1223 permitiu o regresso da família de Mor, aproveitando a menoridade de Sancho II de Portugal para voltarem a ganhar influência. De facto, o seu pai consegue novamente a mordomia em dezembro de 1224, mantendo-se depois na corte sem o cargo até 1226[4], e fica à frente do governo de várias tenências, sobretudo na região da Beira. Em algumas delas terá acedido por morte do cunhado, Lourenço Soares de Ribadouro[2]. Há notícias de atos violentos durante o seu período de governo em Lamego[4].
Gonçalo acompanha ainda o monarca em novas batalhas contra os muçulmanos, presenciando as tomadas de Elvas (24 de setembro de 1230) e Arronches. Em Elvas, a comitiva do rei teria chegado tarde, uma vez que as tropas do infante D. Pedro já haviam tomado a cidade com o auxílio de freires portugueses e das tropas de Afonso IX de Leão. Porém tanto Elvas como Juromenha são entregues a Sancho II[4].
A família de Sousa seria a maior patrocinadora da trovadorismo, e Mor estava ligada a variados trovadoresː o seu tio, Garcia Mendes II, os primos Gonçalo Garcia e Fernão Garcia, e o seu marido, Afonso Lopes de Baião. O trovador D. Abril confirma uma doação do seu pai, que ainda arma cavaleiro Gonçalo Gomes de Briteiros, irmão do trovador Rui Gomes de Briteiros[5].
O ambiente geralmente régio em que se centrava esta atividade deparava-se em Portugal com um ambiente mais senhorial, que era o que de facto recebia e fazia florescer o trovadorismo, na língua vernácula (galego-português), em oposição à preferência da cúria régia pelo latim tradicional que continuava a manifestar-se em documentos desta proveniência[5].
Da guerra civil ao casamento
[editar | editar código-fonte]O seu pai, Gonçalo Mendes II, começa a preparar a sua redenção por todas as injustiças e maus atos que fizera no passado. com doações ao Mosteiro de Pombeiro, ligado desde cedo à família. O seu pai viria a falecer a 25 de abril de 1243, tendo sido sepultado na abadia de Alcobaça.[2].
Ambiente de corte
[editar | editar código-fonte]O ambiente na corte pioraria após morte de Gonçalo; Sancho II revelar-se-ia apoiante da política do pai, mas não a consegue pôr em prática, pois os nobres que o influenciaram no início do reinado começaram a provocar várias atrocidades contra as populações, gerando-se uma sensação generalizada de insegurança, agravada pelo facto de o rei deixar de cumprir as obrigações que protegem o povo. Desta forma há imensas notícias de povoações que entregam a sua segurança ao nobre ao invés do rei[4]. Mais do que nunca, o rei rebaixava-se ao primeiro entre pares. O constante descontentamento das várias classes levou a que o Papa Inocêncio IV o declarasse incapaz e o depusesse formalmente, gerando-se uma guerra que opôs o rei ao conde Afonso de Bolonha, seu irmão, apoiado pelo Papa. A vitória de Afonso e a sua ascensão ao trono viria a mudar o ambiente de tensão que Mor teria talvez vivido nos primeiros anos de vida.
Afonso, o conde de Bolonha, acaba por se declarar vencedor da guerra em 1247, e o rei Sancho, que havia sido deposto por uma bula do Papa Inocêncio IV, sai definitivamente de Portugal e refugia-se em Toledo, Reino de Castela, onde falece no ano seguinte. Afonso só se começa a designar III após a morte do irmão, usando até então o título de Regente de Portugal.
Casamento
[editar | editar código-fonte]Foi por esta altura, certamente antes de 1251, que casou com Afonso Lopes de Baião, filho de Lopo Afonso de Baião e Aldara Viegas de Alvarenga. Este casamento foi frutífero para ambas as famílias, pois mantiveram-se unidas até à sua extinção (que curiosamente se terá dado na mesma alturaː a década de 80 do século XIII). Porém eram parentes próximos, pelo que se obteve, a 11 de outubro de 1252, a bula Affectu benevolentia, com a qual obtinha do Papa a dispensa necessária para continuarem casados. O casal não teve descendência. A ascensão de Afonso III significou também o início da ascensão do marido de Mor, que foi largamente recompensado com várias tenências, a partir de 1246, e ainda com um assento no conselho régio.
O casamento abriu também, para Afonso Lopes, as portas para o florescimento cultural que a família de Mor presenciava desde a segunda década do século, quando se começou a afirmar como um centro de cultura trovadoresca.
Gestão fundiária
[editar | editar código-fonte]Mor e as irmãs viriam a tornar-se nas herdeiras fundiárias do pai nos termos de Lamego, Armamar, Tarouca, entre outros. A ausência do irmão delas, Mendo Gonçalves II de Sousa, pode sugerir que tenha falecido antes do pai[6].
Mor deteve muitos haveres nas terras de Basto, sobretudo no concelho de Celorico de Basto e vizinhosː alguns partilhados com as suas irmãs, outros deteve-os sozinha, e partilhando-os depois com o seu marido.
Em 1270 entra em conflito com o seu primo Gonçalo Garcia de Sousa pela herança dos pais. Tendo o seu marido exercido como seu representante junto de Gonçalo Garcia e do Rei, a quem pediram para mediar a partilha, a Mor couberam-lhe os bens de sua mãe acima do rio Douro, e a Gonçalo Garcia o restante. Este tornar-se-ia genro do rei no ano seguinte[7].
Morte e posteridade
[editar | editar código-fonte]Mor Gonçalves falece a 7 de setembro de 1283. É provável que não tenha sobrevivido ao marido, uma vez que há notícias, de 1284, que provam uma contenda do viúvo Afonso com a Sé de Lamego pelo testamento da sua falecida esposa, por bens em Lamego, na qual a Sé saiu vitoriosa. Afonso não teria sobrevivido muito mais a essa contenda[7]. É provável que possa ter saído novamente de Portugal em 1280, e morreria pouco depois do seu regresso em 1284. Sabe-se que por falta de descendência as suas terras foram distribuídas entre o Mosteiro de Salzedas e a Coroa[8]. Deve ter-se sepultado no Mosteiro de Salzedas, dado que nesse mosteiro celebra-se o seu aniversário mortuário[9].
Referências
- ↑ Ventura 1992, p. 599.
- ↑ a b c Sottomayor-Pizarro 1997.
- ↑ Há várias referências, neste período, a membros da família em outras cortesː Garcia Mendes II, tio de Mor, ter-se-ia refugiado em Leão ou na Galiza; há notícias também de Gonçalo Garcia, seu primo, na corte aragonesa.
- ↑ a b c d Ventura 1992, p. 432.
- ↑ a b Oliveira 2001.
- ↑ GEPB 1935-57, vol.29, p. 897-98.
- ↑ a b Sottomayor-Pizarro 1997, p. 294.
- ↑ Ventura 1992, p. 294.
- ↑ Reis 1934.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Atlântida-Livraria Editora, Lda, 2ª Edição, Coimbra, 1946, Tomo XII-P-pg. 147
- Oliveira, António Resende de (2001). O trovador galego-português e o seu mundo. I. Lisboa: Editorial Notícias. ISBN 972-46-1286-4
- Oliveira, António Resende de (1992). Depois do Espetáculo Trovadoresco - A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos sécs. XIII e XIV. Porto: [s.n.]
- Reis, Baltasar dos (1934). Livro da fundação do Mosteiro de Salzedas. Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa
- Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325). I. Porto: Universidade do Porto
- Manuel José da Costa Felgueiras Gayo, Nobiliário das Famílias de Portugal, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989. vol. X-pg. 322 (Sousas).
- Ventura, Leontina (1992). A nobreza de corte de Afonso III. II. Coimbra: Universidade de Coimbra