Onda de calor no Brasil em 2023 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Onda de calor no Brasil em novembro de 2023
Data 7 a 19 de novembro de 2023[1][2]
Local Brasil
Tipo Onda de calor
Causa Anticiclone, El Niño e mudanças climáticas
Resultado Consequências:
  • Mortes
  • Riscos à saúde
  • Incêndios florestais
  • Desabastecimento de água
  • Recordes de temperatura
  • Cancelamento de eventos

A onda de calor no Brasil em novembro de 2023 foi um fenômeno climático de calor extremo e ausência de chuvas que afetou o país nesse período. Teve início na Região Centro-Oeste no dia 7 de novembro, quando as temperaturas já chegaram aos 42 °C em Mato Grosso do Sul, mas nos dias seguintes se intensificou em tamanho e intensidade, afetando áreas de todas as regiões brasileiras,[1] principalmente o Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste.[3]

Mato Grosso do Sul e Minas Gerais registraram as maiores temperaturas da onda de calor, com marcas acima de 43 °C durante vários dias em ambos os estados, sobretudo de 12 a 19 de novembro de 2023.[4] No dia 19, o município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, observou máxima de 44,8 °C, a maior temperatura registrada no Brasil pelo INMET.[5][6]

Nos meses de agosto, setembro e outubro de 2023 o Brasil já havia enfrentado outras três ondas de calor intensas, porém a de novembro foi mais abrangente e intensa,[7][8] apontada pela MetSul Meteorologia como uma das mais fortes da história do país.[1] Em dezembro, uma nova onda de calor foi registrada, mas com menor força. Todos os meses de julho a novembro de 2023 bateram recordes de temperatura média no Brasil.[9]

Avenida Independência, em Piracicaba (SP), durante um dia de intenso calor e quase sem nuvens (13 de novembro de 2023).

Enquanto que Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste foram as regiões mais afetadas, com vários dias seguidos com temperaturas acima de 40 °C, chegando a anomalias de 15 °C acima da média do mês, apenas o Sul foi pouco atingido.[3] A região da Amazônia também vinha enfrentando, desde junho, uma seca sem precedentes e recordes de baixos níveis de rios.[10][11] Alertas de calor extremo foram divulgados por institutos de meteorologia, como a MetSul Meteorologia e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) nos dias que antecederam o avanço da onda de calor,[12] com expectativa de durar de uma a duas semanas, dependendo da região.[1]

O evento foi formado a partir de uma massa de ar quente vinda da Argentina, Bolívia e Paraguai. A atuação anormal de um anticiclone, uma grande área de alta pressão atmosférica também chamada de "bolha de calor", foi a responsável pela manutenção de vários dias seguidos sem nuvens e com temperaturas acima do normal.[1] Isso contrasta com o padrão normal de novembro na maioria das áreas afetadas, nas quais deveria ocorrer o começo da estação das chuvas.[7] O fenômeno El Niño é um fator que contribuiu com o calor e ar seco extremos, uma vez que ele altera a circulação de ventos na atmosfera e dificulta o avanço de frentes frias sobre a América do Sul.[7] Entretanto, houve a influência das mudanças climáticas no agravamento das ondas de calor brasileiras,[13] acompanhando a tendência de aquecimento da Terra.[8]

A ausência de nuvens e chuva por um longo período foi fundamental para que as temperaturas se elevassem muito.[9] Durante a onda de calor, a umidade do ar em níveis médios da atmosfera, em associação às altas temperaturas, conseguiu provocar chuvas e trovoadas em pontos isolados, mas sem forças para amenizar o calor por muitas horas.[14][15] Uma frente fria conseguiu avançar sobre partes das regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil a partir do dia 19 de novembro, reduzindo a intensidade da onda de calor e provocando chuvas mais abrangentes e temporais localizados.[2] O choque entre o ar quente da onda de calor e o ar mais frio da baixa pressão favoreceu a formação de áreas de chuva mais intensas.[16] Apesar da diminuição das temperaturas, o esperado era que elas continuassem acima da média.[2]

Extremos de temperatura

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Condições de poucas nuvens e calor intenso em Coronel Fabriciano, MG (14 de novembro de 2023).

Em Cuiabá a temperatura passou dos 40 °C por treze dias seguidos, de 6 a 18 de novembro de 2023,[20] com a maior sendo de 42 °C no dia 13, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). No Rio de Janeiro a máxima chegou a 42,5 °C no dia 18.[4] Em 16 de novembro, Goiânia chegou aos 39,7 °C, recorde para um dia de novembro segundo o INMET.[21] A cidade de São Paulo registrou 37,7 °C nos dias 13 e 14 de novembro de 2023, recorde para novembro e segunda maior temperatura já medida pela estação convencional do Mirante de Santana do INMET. Perde apenas para os 37,8 °C de 17 de outubro de 2014.[22]

Em Campo Grande as temperaturas passaram de 37 °C em sete dias consecutivos, de 11 a 17 de novembro, com um pico de 37,7 °C no dia 16.[4] Em Belo Horizonte passaram de 37 °C em seis dias seguidos, de 13 a 18 de novembro, com a maior sendo de 37,9 °C nos dias 14 e 16, registrada pelo INMET na Pampulha.[4][23]

Consequências

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O fenômeno climático contribuiu com o aumento dos incêndios do Pantanal.[24] Mais de um milhão de hectares do bioma foram consumidos pelo fogo desde o começo do mês, mais de três vezes do que o registrado durante o ano de 2022 todo.[25] Em Minas Gerais, por sua vez, o registro de incêndios aumentou 133% de 1º a 15 de novembro em comparação com novembro de 2022 inteiro. O mesmo período teve mais atendimentos de incêndio do que os meses de novembro de 2021 e de 2022 juntos.[26] O norte mineiro teve o quadro de seca agravado pela onda de calor, uma vez que o fenômeno atrasou o retorno da estação das chuvas. A estação seca de 2023, que já havia começado mais cedo, também se prolongou, provocando seca de cursos hídricos, falta d'água em cidades e comunidades, destruição de plantações e morte de criações de gado.[27] No país, houve um aumento de 74% na ocorrência de incêndios florestais.[28]

Em Belo Horizonte a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) alegou que o consumo de água aumentou em 20%, o que teria motivado desabastecimento em áreas da cidade e da região metropolitana.[29] No Espírito Santo a sequência de dias quentes e secos e o aumento do consumo afetou o abastecimento de água em 53 municípios.[30] Por influência da onda de calor, o consumo instantâneo de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) atingiu um recorde às 14h17min (UTC−3) do dia 13 de novembro.[20]

A onda de calor coincidiu com o segundo domingo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 12 de novembro, prejudicando a concentração dos participantes das provas em escolas sem ar condicionado.[31] Houve registros de jovens que passaram mal devido às altas temperaturas.[32][33] Em algumas instituições de ensino houve o cancelamento parcial ou total de aulas presenciais ou suspensão de aulas de educação física.[34][35] As mortes e atendimentos médicos relacionados à exposição ao calor também se intensificaram. Somente no estado de São Paulo, o aumento desse tipo de atendimento ambulatorial foi de 102,5% em relação a 2022.[28]

No dia 17 de novembro de 2023, cerca de mil pessoas desmaiaram durante o show da turnê mundial The Eras Tour, da cantora estadunidense Taylor Swift, realizado no Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro.[36] A estudante Ana Clara Benevides Machado sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu durante o concerto.[37][38][39] No dia a temperatura havia chegado aos 39,1 ºC na cidade, segundo o INMET. Contudo, a entrada de água foi proibida pela empresa responsável pela organização. No dia seguinte, a temperatura chegou aos 42,5 °C, a maior de 2023, e a organização decidiu adiar o show que estava marcado para a noite.[40]

Referências

  1. a b c d e Metsul Meteorologia (8 de novembro de 2023). «Brasil terá onda de calor incomum e uma das mais intensas da história». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  2. a b c Metsul Meteorologia (18 de novembro de 2023). «Frente fria acaba com a onda de calor neste domingo em vários estados». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  3. a b Meteored (9 de novembro de 2023). «Onda de calor pode durar até duas semanas, provocar temperaturas de até 45ºC e vários recordes em boa parte do Brasil». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  4. a b c d e f g h i j k l Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). «Valores Extremos - Temperatura Máxima». Consultado em 19 de novembro de 2023 
  5. a b G1 (20 de novembro de 2023). «Calor de 44,8°C: Araçuaí (MG) tem o dia mais quente da história do Brasil, diz Inmet». Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  6. a b Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) [@inmet_] (20 de novembro de 2023). «#Calor: Araçuaí (MG) teve a maior temperatura já registrada no Brasil, até o momento!» (Tweet) – via Twitter 
  7. a b c Josélia Pegorim (10 de novembro de 2023). «Brasil enfrenta nova onda de calor em 2023 e muito forte». Climatempo. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  8. a b Metsul Meteorologia (9 de novembro de 2023). «O mapa do clima no Brasil que espanta os cientistas no mundo». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  9. a b G1 (14 de dezembro de 2023). «Onda de calor: animação mostra as temperaturas fora da curva em dezembro nos últimos 60 anos». Consultado em 25 de dezembro de 2023. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2023 
  10. Gabriel Sérvio (10 de novembro de 2023). «Seca histórica na Amazônia chega ao quinto mês». Olhar Digital. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  11. Serviço Geológico do Brasil (10 de novembro de 2023). «Seca na região amazônica: após registrarem subidas, alguns rios voltam a descer». Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  12. Estadão (10 de novembro de 2023). «Brasil terá onda de calor com temperaturas perto dos 40ºC: por que está tão quente este ano?». Estadão. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  13. Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) (11 de outubro de 2023). «Influência da mudança do clima foi maior do que El Niño na onda de calor de setembro, diz estudo». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  14. Rayllan Oliveira (15 de novembro de 2023). «MG enfrenta semana de forte calor, e pode ter chuva a partir desta quarta-feira». O Tempo. Consultado em 25 de dezembro de 2023. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2023 
  15. Hora 1 (16 de novembro de 2023). «Onda de calor 'prende' chuva no Sul e pode provocar temporais isolados pelo Brasil; entenda». G1. Consultado em 25 de dezembro de 2023. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2023 
  16. G1 (18 de novembro de 2023). «Depois de uma semana de recordes de calor, chuva chega ao Rio». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  17. Weather Wunderground. «Conselheiro Pena - Minas Gerais - ICONSE15 - November 13, 2023». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  18. Weather Wunderground. «Coronel Fabriciano - Minas Gerais - ICORON2 - November 13, 2023». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  19. Weather Wunderground. «Conselheiro Pena - Minas Gerais - ICONSE15 - November 19, 2023». Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  20. a b c Metsul Meteorologia (19 de novembro de 2023). «Primavera de calor extremo é sinal de verão ainda mais quente no Brasil?». Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  21. O Popular (17 de novembro de 2023). «Goiânia bate novo recorde de dia mais quente em novembro; temperatura chegou a 39,7°C». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  22. Estadão (14 de novembro de 2023). «Pelo terceiro dia consecutivo, SP tem temperatura recorde do ano». Exame. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  23. O Tempo (17 de novembro de 2023). «Com chuva de granizo, BH registra calor de mais de 37ºC pelo 5º dia seguido». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  24. Público (16 de novembro de 2023). «Incêndios no Pantanal brasileiro disparam com onda de calor». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  25. Brasil de Fato (18 de novembro de 2023). «Após onda de calor e incêndios no Pantanal, Inmet alerta para temporais em 17 estados e no DF». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  26. Isabela Bernardes (18 de novembro de 2023). «MG vive temporada atípica de incêndios, com 133% de aumento». Jornal Estado de Minas. Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  27. Luiz Ribeiro (20 de novembro de 2023). «Seca prolongada no sertão mineiro». Jornal Estado de Minas. Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  28. a b O Globo (15 de novembro de 2023). «Mortes relacionadas à onda de calor são registradas pelo país e SP fala em 102,5% de aumento nos atendimentos em hospitais». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  29. Rayllan Oliveira (16 de novembro de 2023). «Copasa diz que falta de água na Grande BH é 'fenômeno atípico' e culpa o calor». O Tempo. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  30. A Gazeta (16 de novembro de 2023). «Onda de calor afeta abastecimento de água em cidades do ES, alerta Cesan». Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  31. João Conrado Kneipp e Claudia Assencio (12 de novembro de 2023). «Candidatos do Enem 2023 relatam perrengues causados pelo calor: 'prova de resistência', diz jovem de Campinas». G1. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  32. Gabriel Barros (12 de novembro de 2023). «Estudante passa mal com calor de quase 40ºC e não consegue fazer prova». Folha Vitória. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  33. Gabriel Ferreira Borges (12 de novembro de 2023). «Enem 2023: calor desconcentra candidatos e até provoca pressão baixa». O Tempo. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  34. Jornal Diário do Aço (16 de novembro de 2023). «Calor leva à alteração do sistema de aulas no Cefet em Timóteo». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  35. Correio do Povo (14 de novembro de 2023). «Onda de calor afeta mais de 2 mil cidades no Brasil e até suspende aulas». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  36. USA Today (17 de novembro de 2023). «'There's people that need water.' Taylor Swift pauses Eras show in Rio to help fans» (em inglês). Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  37. BBC News (18 de novembro de 2023). «Taylor Swift 'devastated' as fan dies before show» (em inglês). Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  38. Harry Taylor (18 de novembro de 2023). «Taylor Swift fan dies before Brazil concert amid sweltering conditions» (em inglês). The Observer. Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  39. Charisma Madarang (18 de novembro de 2023). «Taylor Swift 'Devastated' After Fan Dies Before Show in Brazil» (em inglês). Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 
  40. G1 (18 de novembro de 2023). «'Decepção', 'desrespeito', 'falta de profissionalismo': as reações dos fãs de Taylor Swift sobre o adiamento do show no Rio». Consultado em 19 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de novembro de 2023 

Ligações externas

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