Problema mente-corpo – Wikipédia, a enciclopédia livre
O problema mente-corpo é uma questão filosófica tratada nos campos da metafísica e da filosofia da mente. O problema levantou-se devido ao facto que os fenômenos mentais parecerem qualitativa e substancialmente diferentes dos corpos de onde parecem depender.[1][2][3]
Existem algumas teorias principais para a resolução do problema. O dualismo mente-corpo é a teoria que diz que a mente e o corpo são duas substâncias diferentes. O monismo é a teoria que diz que a mente e o corpo são, na realidade, uma única substância. Os monistas, também chamados materialistas ou fisicalistas, afirmam que ambas são matéria, e os monistas idealistas apoiam que ambas estão situadas na mente. Os monistas neutrais apoiam que ambas as substâncias são reduzíveis a uma terceira substância neutral.[4]
O problema foi identificado por René Descartes, no sentido conhecido pelo mundo ocidental. Mas a questão já havia sido abordada por filósofos da era anterior a Aristóteles[5] e na filosofia do avicenismo.[6]
Correlatos neurais
[editar | editar código-fonte]Os correlatos neuronais da consciência constituem o menor conjunto de eventos e estruturas neurais suficientes para uma dada percepção consciente ou memória explícita. Este caso envolve potenciais de ação sincronizados em neurônios piramidais neocorticais.[7]
Os correlatos neurais da consciência "são o menor conjunto de mecanismos cerebrais e eventos suficientes para algum sentimento consciente específico, tão elementar quanto a cor vermelha ou tão complexo quanto a sensação sensual, misteriosa e primitiva evocada ao olhar para [uma] cena de selva... "[8] Os neurocientistas usam abordagens empíricas para descobrir correlatos neurais de fenômenos subjetivos.[9]
Objeção de Searle
[editar | editar código-fonte]John Searle nega o dualismo cartesiano,[10] a ideia de que a mente é uma forma separada de substância do corpo, porque isso contraria toda a nossa compreensão da física, e ao contrário de Descartes, ele não traz Deus para o problema.[11][12]
Searle rejeita o dualismo de propriedades e qualquer tipo de dualismo, a alternativa tradicional para o monismo.[13] Ele considera que a distinção é um erro. Ele rejeita as ideias de que porque a mente não é objetivamente visível[14], não cai sob a rubrica do fisicalismo.[15][16]
Em "O mistério da consciência"[17], Searle diz:
“Esta época é, ao mesmo tempo, a mais excitante e a mais frustrante, em minha vida intelectual, para o estudo da consciência. Excitante porque o tema consciência voltou a ser respeitado – de fato, quase que considerado central – como matéria de investigação da filosofia, psicologia, ciências cognitivas e até da neurociência. Frustrante porque todo o assunto ainda está infestado de equívocos e erros que eu supunha já terem sido superados” (Searle, 1998, p.23)
Esses equívocos ainda dizem respeito ao problema da oposição dualista da tradição filosófica.[17]
Searle argumenta que o problema mente-corpo tradicional tem uma "solução simples": os fenômenos mentais são causados por processos biológicos no cérebro e são eles mesmos características do cérebro.[18]
Parapsicologia
[editar | editar código-fonte]A expressão também é usada no contexto da parapsicologia para justificar o estudo de assuntos paranormais como mediunidade, percepção extrassensorial, clarividência, telepatia[19] e a suposta existência da alma.[20]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Bunge, Mario (2014). The Mind–Body Problem: A Psychobiological Approach. London: Elsevier. ISBN 9781483150123
- ↑ Bunge, Mario (2010). Matter and Mind: A Philosophical Inquiry. Dordrecht: Springer Science & Business Media. ISBN 9789048192250
- ↑ Damasio, Antonio R. (1996). O Erro de descartes. São Paulo: Companhia das Letras. OCLC 683860086
- ↑ Introdução à Filosofia da Mente, por K. T. Maslin - [1][ligação inativa]
- ↑ The mind-body problem by Robert M. Young
- ↑ edited by Henrik Lagerlund. (30 de setembro de 2007), Forming the Mind: Essays on the Internal Senses and the Mind/Body Problem from Avicenna to the Medical Enlightenment, ISBN 9781402060830, Springer Science+Business Media
- ↑ Koch, Christof, 1956- (2004). The quest for consciousness : a neurobiological approach. Denver, Colo.: Roberts and Co. OCLC 53331669
- ↑ Blackmore, Susan (26 de novembro de 2013). Consciousness: An Introduction (em inglês). [S.l.]: Routledge. pp. Capítulo 10 – pg. 157
- ↑ Kramnick, Jonathan (7 de setembro de 2018). Paper Minds: Literature and the Ecology of Consciousness (em inglês). [S.l.]: University of Chicago Press. p. 122
- ↑ Almeder, Robert (2013). «Objeções materialistas contra o dualismo cartesiano». Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo). 40 (4): 150–156. ISSN 1806-938X. doi:10.1590/s0101-60832013000400005
- ↑ Caplan, Bryan (1992). «Solving the Mind-Body Problem: Dualism vs. Searle». Universidade George Mason
- ↑ Hannan, Barbara (9 de julho de 2019). «The Mind-Body Problem and Substance Dualism». Routledge: 1–13. ISBN 978-0-429-30785-0
- ↑ Searle, John R. «Why I am not a property dualist». Cambridge: Cambridge University Press: 152–160. ISBN 978-0-511-81285-9
- ↑ Searle, John R. (julho de 2007). «Dualism revisited». Journal of Physiology-Paris. 101 (4-6): 169–178. ISSN 0928-4257. doi:10.1016/j.jphysparis.2007.11.003
- ↑ Searle, John R. (10 de junho de 2010). «Consciousness and the Problem of Free Will». Oxford University Press: 121–134. ISBN 978-0-19-538976-0
- ↑ Lawrence Berkeley National Laboratory. United States. Department of Energy. Office of Scientific and Technical Information. (2008). Searle's"Dualism Revisited.". [S.l.]: Lawrence Berkeley National Laboratory. OCLC 727216289
- ↑ a b «O Mistério Da Consciência - Livro - WOOK». www.wook.pt. Consultado em 23 de agosto de 2020
- ↑ A Redescoberta da Mente por John Searle (The Rediscovery of the Mind -1992)
- ↑ Alvarado, Carlos S. (2013). «Fenômenos psíquicos e o problema mente-corpo: notas históricas sobre uma tradição conceitual negligenciada» (PDF). Revista de Psiquiatria Clínica. 40 (4): 157-161
- ↑ Alcock, James E. (1987). «Parapsychology: Science of the anomalous or search for the soul?». Behavioral and Brain Sciences (em inglês). 10 (4): 553–565. ISSN 1469-1825. doi:10.1017/S0140525X00054467