SMS Blücher (1908) – Wikipédia, a enciclopédia livre

SMS Blücher
 Alemanha
Operador Marinha Imperial Alemã
Fabricante Estaleiro Imperial de Kiel
Homônimo Gebhard Leberecht von Blücher
Batimento de quilha 21 de fevereiro de 1907
Lançamento 11 de abril de 1908
Comissionamento 1º de outubro de 1909
Destino Afundado na Batalha de Dogger
Bank
em 24 de janeiro de 1915
Características gerais
Tipo de navio Cruzador blindado
Deslocamento 17 500 t (carregado)
Maquinário 3 motores de tripla-expansão
18 caldeiras
Comprimento 161,8 m
Boca 24,5 m
Calado 8,56 a 8,84 m
Propulsão 3 hélices
- 32 000 cv (23 500 kW)
Velocidade 24,5 nós (47 km/h)
Autonomia 6 600 milhas náuticas a 12 nós
(12 200 km a 22 km/h)
Armamento 12 canhões de 210 mm
8 canhões de 149 mm
16 canhões de 88 mm
4 tubos de torpedo de 450 mm
Blindagem Cinturão: 60 a 180 mm
Convés: 50 a 70 mm
Torres de artilharia: 60 a 180 mm
Barbetas: 180 mm
Casamatas: 140 mm
Torre de comando: 80 a 250 mm
Tripulação 41 oficiais
812 marinheiros

O SMS Blücher foi o último cruzador blindado operado pela Marinha Imperial Alemã. Sua construção em fevereiro de 1907 no Estaleiro Imperial de Kiel e foi lançado ao mar em abril de 1908, sendo comissionado na frota alemã em outubro do ano seguinte. O projeto do navio foi desenvolvido com o objetivo de fazer frente ao que os alemães acreditavam ser novos cruzadores blindados britânicos, mas que na verdade eram os mais poderosos cruzadores de batalha. Era armado com uma bateria principal composta por doze canhões de 210 milímetros montados em seis torres de artilharia duplas, tinha um deslocamento carregado de mais de dezessete mil toneladas e alcançava uma velocidade máxima de 24 nós.

O Blücher foi usado como navio-escola de artilharia durante a maior parte de sua carreira em tempos de paz. A Primeira Guerra Mundial começou em agosto 1914, com o cruzador participando de ações de bombardeio litorâneo contra o Reino Unido, primeiro em novembro contra a cidade de Yarmouth e depois em dezembro contra as cidades de Scarborough, Hartlepool e Whitby. Esteve na Batalha de Dogger Bank em 24 de janeiro de 1915, quando foi alvejado várias vezes por navios britânicos a ponto de ter sua velocidade reduzida. O Blücher acabou ficando para trás e os britânicos acabaram concentrando todas as suas forças nele, afundando-o depois de alvejá-lo e torpedeá-lo dezenas de vezes.

Desenvolvimento

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Os cruzadores blindados alemães foram concedidos para diferentes tarefas. Foram projetados para enfrentar as forças de reconhecimento inimigas e também lutar na linha de batalha.[1] O SMS Fürst Bismarck, o primeiro de seu tipo, teve sua construção acelerada especificamente para ser enviado à China para ajudar da subjugação do Levante dos Boxers em 1900. Navios seguintes, com exceção da Classe Scharnhorst, serviram com a frota nas forças de reconhecimento.[2]

A Dieta Imperial aprovou o financiamento para o Blücher em 26 de maio de 1906 junto com aquele para os dois primeiros couraçados da Classe Nassau. O navio seria muito maior e mais poderoso que seus predecessores, mas manteve a designação de cruzador blindado a fim de esconder sua natureza.[3] Seu projeto foi influenciado pela necessidade de se igualar aos cruzadores blindados que estavam sendo construídos no Reino Unido. Os alemães esperavam que estas novas embarcações fossem armadas com seis ou oito canhões de 230 milímetros.[4] Em resposta, a Marinha Imperial Alemã aprovou um projeto com doze canhões de 210 milímetros que era significativamente mais poderoso que a predecessora Classe Scharnhorst, que era armada com apenas quatro canhões do mesmo tamanho.[5]

O adido naval alemão obteve os detalhes dos novos navios britânicos, a Classe Invincible, uma semana depois da decisão de autorizar a construção do Blücher. As embarcações na verdade seriam armadas com oito canhões de 305 milímetros do mesmo tipo instalados em couraçados. Os alemães logo permaneceram que isso era um novo tipo de navio de guerra que depois ficou conhecido como cruzador de batalha. Já era muito tarde para alterar o projeto do Blücher quando os detalhes da Classe Invincible foram descobertos, além de que não havia dinheiro para isso, assim os trabalhos seguiram como planejado.[6] Desta forma a embarcação estava obsoleta antes mesmo de sua construção começar e foi rapidamente superada pelos couraçados alemães, com primeiro dos quais, o SMS Von der Tann, sendo encomendado em 1907.[7] O Blücher mesmo assim foi geralmente empregado junto com a esquadra de cruzadores de batalha.[4]

Características

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O Blücher em 1910

O Blücher tinha 161,1 metros de comprimento da linha de flutuação e 161,8 metros de comprimento de fora a fora. Tinha uma boca normal de 24,5 metros, porém redes antitorpedo foram posteriormente instaladas nas duas laterais, o que aumentava a boca para 25,62 metros. Tinha um calado de 8,84 metros à vante e 8,56 metros à ré. Seu deslocamento normal era de 15 842 toneladas, enquanto o deslocamento carregado chegava a 17,5 mil toneladas. Seu casco foi construído com armações de aço transversais e longitudinais, tendo treze compartimentos estanques e um fundo duplo que abrangia aproximadamente 65 por cento do comprimento do casco.[8]

O navio tinha um movimento gentil e uma pequena arfagem, mas sofria de um balanço sério e chegava a altear em até dez graus e perder 55 por cento de sua velocidade com o leme virado completamente. Sua altura metacêntrica era de 1,63 metro. Tinha uma tripulação padrão de 41 oficiais e 812 marinheiros, mas podia crescer em catorze oficiais e 62 marinheiros quando servia de capitânia. Também carregava várias embarcações menores, incluindo dois barcos de piquete, três barcas, dois lanchas, dois yawls e um bote.[8]

O sistema de propulsão do Blücher era composto por dezoito caldeiras de tubos d'água a carvão divididas em três salas de caldeiras. Alimentavam três motores verticais de tripla-expansão com quatro cilindros, cada um girando uma hélice: a central tinha 5,3 metros de diâmetro, enquanto as duas laterais tinha 5,6 metros. Tinha um único leme para direção. Os três motores ficavam divididos em três salas de máquinas individuais. A energia elétrica era produzida por seis turbogeradores que geravam até mil quilowatts a 225 volts.[8]

Tinha uma velocidade máxima projetada de 24,5 nós (45,4 quilômetros por hora), mas durante seus testes marítimos alcançou 25,4 nós (47 quilômetros por hora). Foi projetado para carregar novecentas toneladas de carvão, porém espaços vazios no casco podiam ser usados para expandir o carregamento em até 2 510 toneladas. Isto proporcionava uma autonomia de 6,6 mil milhas náuticas (12,2 mil quilômetros) a uma velocidade de cruzeiro de doze nós (22 quilômetros por hora), ou 3 250 milhas náuticas (6 020 quilômetros) a dezoito nós (33 quilômetros por hora).[8] Durante seus testes marítimos os motores conseguiram gerar uma potência de 37 799 cavalos-vapor (28 187 quilowatts).[9]

O armamento principal do Blücher era composto por doze canhões calibre 45 de 210 milímetros montados em seis torres de artilharia duplas, uma à vante e outra à ré da superestrutura, enquanto as restantes ficavam divididas em duas em cada lateral. Cada arma tinha um carregamento de 85 projéteis para 1 020 no total.[8] Eles pesavam 108 quilogramas e tinham 61 centímetros de comprimento, sendo disparados e uma velocidade de saída de novecentos metros por segundo.[10] Os canhões podiam abaixar até cinco graus negativos e elevar até trinta graus, o que dava um alcance máximo de 19,1 quilômetros.[8] A cadência de tiro era de quatro a cinco disparos por minuto.[10][11]

O armamento secundário tinha oito canhões calibre 45 de 149 milímetros montados em casamatas MPL C/06 individuais,[12][13] quatro em cada lateral no centro da embarcação.[8] Estas armas tinham um alcance máximo de 13,5 quilômetros.[11] Cada canhão tinha um carregamento de 165 projéteis para 1 320 no total, tendo uma cadência de tiro de cinco a sete disparos por minuto.[12] Os projéteis pesavam 45,3 quilogramas[13] e eram carregados com uma carga de propelente RPC/12 de 13,7 quilogramas dentro de um cartucho de latão.[12] A velocidade de saída era de 835 metros por segundo,[11] esperando-se que o cano da arma precisasse ser substituído depois de 1,4 mil disparos.[12]

Também tinha dezesseis canhões calibre 45 de 88 milímetros, quatro em casamatas próximas da ponte de comando, quatro em casamatas na proa, quatro em casamatas na popa e as quatro restantes em montagens giratórias próximas da superestrutura. Cada arma tinha um carregamento de duzentos projéteis para 3,2 mil no total,[8] tendo uma cadência de tiro de quinze disparos por minuto. Disparavam projéteis altamente explosivos de dez quilogramas[13] carregados com uma carga de propelente RPC/12 de três quilogramas. Estes canhões tinham uma velocidade de saída de 650 metros por segundo e uma vida útil de sete mil disparos.[14] O alcance máximo era de 10,7 quilômetros.[13]

Por fim, o Blücher foi equipado com quatro tubos de torpedo submersos de 450 milímetros, um na proa, um na popa e um em cada lateral. Carregava onze torpedos.[8] Estes tinham uma ogiva de 110 quilogramas e duas configurações: 32 nós (59 quilômetros por hora) para dois quilômetros e 36 nós (67 quilômetros por hora) para 1,5 quilômetro.[13]

O Blücher era protegido por uma blindagem cimentada Krupp. Seu cinturão principal tinha 180 milímetros de espessura na parte central do navio onde estavam as salas de máquinas, depósitos de munição e outras áreas vitais, diminuindo para oitenta milímetros em áreas menos importantes do casco. As extremidades do navio não eram protegidas. Atrás do toda extensão do cinturão havia uma camada de trinta milímetros de teca. O cinturão também era suplementado por uma antepara antitorpedo de 35 milímetros,[8] mas ela só abrangia a área entre a primeira e última torres de artilharia.[15] O convés blindado tinha entre cinquenta e setenta milímetros, com as áreas mais importantes sendo protegidas pela espessura maior e as outras com a menor. A torre de comando de vante era a parte mais protegida da embarcação com laterais de 250 milímetros e teto de oitenta milímetros, enquanto a torre de comando de ré era bem menos protegido com laterais de 140 milímetros e teto de trinta milímetros. A cidadela central tinha uma blindagem de 160 milímetros. As torres de artilharia tinham tetos de oitenta milímetros e laterais de 180 milímetros, já as casamatas das armas de 149 milímetros tinham 140 milímetros de proteção.[8]

O Blücher foi nomeado em homenagem ao general-marechal de campo prussiano Gebhard Leberecht von Blücher,[16] tendo sido encomendado sob o nome provisório "E" já que era uma nova adição à frota alemã.[4] Seu batimento de quilha ocorreu em 21 de fevereiro de 1907 no Estaleiro Imperial de Kiel e foi lançado ao mar em 11 de abril de 1908, sendo comissionado na frota em 1º de outubro de 1909. Serviu normalmente até 1911, quando passou a ser usado como navio-escola para os artilheiros navais da Marinha Imperial. Foi transferido em 1914 para o I Grupo de Reconhecimento junto com os cruzadores de batalha Von der Tann, SMS Moltke e a capitânia SMS Seydlitz.[8]

Início da guerra

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O Blücher c. 1913–1914

A Primeira Guerra Mundial começou em agosto de 1914 e a primeira operação do Blücher foi uma varredura inconclusiva do Mar Báltico à procura de forças russas. O navio mais sete couraçados pré-dreadnought da IV Esquadra de Batalha, cinco cruzadores rápidos e 24 barcos torpedeiros foram para o Báltico em 3 de setembro em uma tentativa de atrair parte da frota russa para que pudesse ser destruída. O cruzador rápido SMS Augsburg encontrou os cruzadores blindados russos Bayan e Pallada ao norte da ilha de Dagö. O navio alemão tentou atrair os russos em direção do Blücher e das outras embarcações, mas os oponentes não caíram na armadilha e em vez disso recuaram para o Golfo da Finlândia. A operação terminou no dia 9 sem nenhum grande confronto entre as duas frotas.[17]

O Blücher, Von der Tann, Moltke, Seydlitz e quatro cruzadores rápidos deixaram a Baía de Jade em 2 de novembro e navegaram em direção do litoral britânico. Chegaram perto de Great Yarmouth ao amanhecer do dia seguinte e bombardearam seu porto enquanto o cruzador rápido SMS Stralsund criava um campo minado. O submarino britânico HMS D5 respondeu ao bombardeio, mas bateu em uma das minas colocada pelo Stralsund e afundou. Os alemães pouco depois voltaram para casa. No caminho uma neblina cobriu a Angra da Heligolândia e assim os navios receberam ordens de pararem e esperarem a visibilidade melhorar para que assim pudessem navegar em segurança pelos campos minados defensivos. Entretanto, o cruzador blindado SMS Yorck cometeu um erro de navegação e foi parar em um campo minado alemão, batendo em duas minas e afundando.[18]

Scarborough, Hartlepool e Whitby

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O almirante Friedrich von Ingenohl, o comandante da Frota de Alto-Mar, decidiu realizar outro ataque contra o litoral britânico na esperança de atrair uma parte da Grande Frota britânica para que pudesse ser destruída.[18] Uma força de bombardeio formada pelo Blücher, Moltke, Von der Tann, Seydlitz e o novo cruzador de batalha SMS Derfflinger, os cruzadores rápidos Stralsund, SMS Kolberg, SMS Strassburg e SMS Graudenz, mais duas esquadras de barcos torpedeiros deixaram a Baía de Jade às 3h20min CET de 15 de dezembro. Os navios navegaram para o norte além da ilha da Heligolândia até alcançarem o farol do Recife de Horns, quando então viraram para o oeste em direção da cidade de Scarborough. O resto da Frota de Alto-Mar, consistindo em catorze couraçados dreadnought e oito pré-dreadnoughts, mais uma força de escolta de dois cruzadores blindados, sete cruzadores rápidos e 54 barcos torpedeiros, partiu também doze horas depois com o objetivo de proporcionar cobertura distante para a força de bombardeio.[19]

O cruzador rápido SMS Magdeburg tinha encalhado no Golfo da Finlândia em 26 de agosto de 1914 e seus destroços foram capturados pela Marinha Imperial Russa, que encontrou os livros de código alemães junto com cartas de navegação do Mar do Norte. Estes documentos foram repassados para a Marinha Real Britânica, cuja divisão de criptoanálise começou a decifrar os códigos alemães e em 14 de dezembro interceptou mensagens relacionadas com a iminente ação de bombardeio litorâneo.[19] Os detalhes exatos eram desconhecidos, mas presumia-se que a Frota de Alto-Mar permaneceria no porto, assim como tinha ocorrido no bombardeio anterior. Os britânicos enviaram uma força de quatro cruzadores de batalha com o apoio de seis couraçados e duas esquadradas de cruzadores com o objetivo de emboscarem os alemães.[20]

Mapa do bombardeio de Hartlepool

O corpo principal da Frota de Alto-Mar encontrou contratorpedeiros britânicos na noite do dia 15 para o 16. Ingenohl, temendo um ataque de torpedos noturno, ordenou uma retirada.[20] A força de bombardeio não sabia do recuo do resto da frota e prosseguiu como planejado. As embarcações se dividiram em dois grupos ao chegarem no litoral britânico: o Seydlitz, Moltke e Blücher foram para o norte bombardear Hartlepool, enquanto Von der Tann e Derfflinger foram para o sul bombardear Scarborough e Whitby. Apenas Hartlepool era defendida por baterias de artilharia costeira. O Blücher seis durante o bombardeio, sofrendo nove mortos e três feridos, porém os danos foram mínimos.[21] Os dois grupos se reencontraram às 9h45min do dia 16 e iniciaram se retorno para casa.[22]

Os cruzadores de batalha britânicos nesta altura estavam em posição para interceptar a rota de fuga dos alemães, enquanto outras forças estavam à caminho para completarem o cerco. Os cruzadores rápidos do II Grupo de Reconhecimento começaram a passar às 12h25min pelas forças britânicas à procura dos cruzadores de batalha alemães. O Stralsund foi avistado e isto foi relatado ao vice-almirante David Beatty, o comandante dos cruzadores de batalha britânicos, que ordenou às 12h30min que seus navios seguissem em direção dos navios inimigos. Beatty presumiu que os cruzadores rápidos eram a vanguarda dos cruzadores de batalha, mas estes na verdade estava aproximadamente cinquenta quilômetros à vante. Os cruzadores rápidos britânicos, que estavam escoltando os cruzadores de batalha, foram destacados para perseguirem os cruzadores, mas uma mensagem mal interpretada os fez retornaram para suas posições de escolta. Esta confusão permitiu que os cruzadores rápidos alemães escapassem e alertassem seus cruzadores de batalha. Estes viraram para o nordeste e escaparam.[23]

Britânicos e alemães ficaram decepcionados que não conseguiram enfrentar seus oponentes. A reputação de Ingenohl sofreu enormemente, com o capitão de mar Magnus von Levetzow do Moltke ficando furioso e afirmou que o almirante tinha recuado "porque estava com medo de 11 contratorpedeiros britânicos que poderiam ter sido eliminados ... sob a liderança atual realizaremos nada". A história oficial alemã criticou Ingenohl por não usar suas forças rápidas para determinar o tamanho da força britânica, afirmando que "ele decidiu por uma medida que não apenas ameaçou seriamente o avanço de suas forças no litoral Inglês, mas também privou a Frota Alemã de um sinal e vitória certa".[24]

Batalha de Dogger Bank

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Ver artigo principal: Batalha de Dogger Bank (1915)

Os alemães descobriram no início de janeiro de 1915 que navios britânicos estavam realizando reconhecimento da área de Dogger Bank. Ingenohl estava inicialmente relutante em tentar destruir essas forças, pois o I Grupo de Reconhecimento estava temporariamente enfraquecido com o Von der Tann em manutenção. O contra-almirante Richard Eckermann, o Chefe do Estado-Maior da Frota de Alto-Mar, insistiu pela operação, assim Ingenohl cedeu e ordenou que os cruzadores de batalha fossem para Dogger Bank.[25]

O I Grupo de Reconhecimento sob o comando do contra-almirante Franz Hipper, composto pelo Seydlitz, Moltke, Derfflinger e Blücher, partiu em 23 de janeiro com os cruzadores rápidos Graudenz, Stralsund, Kolberg e SMS Rostock, mais dezenove barcos torpedeiros da V Flotilha e da II e XVIII Meia-Flotilhas. O Graudenz e o Stralsund foram colocados na vanguarda, enquanto o Kolberg e o Rostock ficaram a estibordo e bombordo, respectivamente. Cada cruzador rápido tinha meia-flotilha de barcos torpedeiros consigo.[25]

Mapa da Batalha de Dogger Bank

Os britânicos novamente interceptaram e decifraram as transmissões alemães. Eles não descobriram detalhes exatos da operação, mas foram capazes de deduzir que os cruzadores de batalha iriam realizar uma operação na área de Dogger Bank. A 1ª Esquadra de Cruzadores de Batalha de Beatty foi enviada junto com a 2ª Esquadra de Cruzadores de Batalha do contra-almirante Gordon Moore e a 2ª Esquadra de Cruzadores Rápidos do comodoro William Goodenough, que se encontraram às 8h00min do dia 24 com os contratorpedeiros da Força de Harwich do comodoro Reginald Tyrwhitt à aproximadamente trinta milhas náuticas (56 quilômetros) de Dogger Bank.[25]

O Kolberg avistou o cruzador rápido HMS Aurora e vários contratorpedeiros às 8h14min. O primeiro disparou e acertou o segundo duas vezes. Este disparou de volta e também acertou seu inimigo duas vezes. Hipper imediatamente direcionou seus cruzadores de batalha para combate, mas quase simultaneamente o Stralsund avistou uma grande quantidade de fumaça ao seu noroeste. Foi logo identificado que isto era navios britânicos de grande porte se aproximando rapidamente.[26] Hipper posteriormente comentou:

Hipper virou para o sul a fim de fugir, mas foi limitado a 23 nós (43 quilômetros por hora), que era a velocidade máxima do Blücher. Os cruzadores de batalha britânicos estavam navegando a 27 nós (cinquenta quilômetros por hora) e rapidamente alcançaram os alemães. O HMS Lion abriu fogo contra o Blücher às 9h52min a uma distância de por volta de dezoito quilômetros, com o HMS Princess Royal e HMS Tiger também abrindo fogo pouco depois.[26] Os primeiros acertos no Blücher ocorreram às 10h09min, com os alemães abrindo fogo dois minutos depois, concentrando-se principalmente no Lion, que estava a dezesseis quilômetros. Este foi acertado na linha de flutuação às 10h28min, permitindo que água entrasse em um depósito de carvão.[27] Por volta do mesmo momento o Blücher acertou um projétil de 210 milímetros na primeira torre de artilharia do navio britânico. O projétil não penetrou na blindagem, mas a onda de choque mesmo assim temporariamente incapacitou o canhão esquerdo.[28] O HMS New Zealand também começou a disparar contra o Blücher às 10h30min. Sua distância tinha diminuído para dezesseis quilômetros cinco minutos depois, momento em que toda a linha alemã estava dentro do alcance dos navios britânicos. Beatty assim ordenou que seus cruzadores de batalha enfrentassem seus opostos, assim o New Zealand ficou designado para enfrentar o Blücher.[29]

O Blücher adernando e em chamas

O Blücher estava seriamente danificado às 11h00min depois de ser alvejado várias vezes. Enquanto isso, o Seydlitz, Derfflinger e Moltke tinham concentrado seus disparos no Lion e acertado várias vezes, incapacitando dois de seus três dínamos e inundando a sala de máquinas de bombordo. O HMS Indomitable se juntou à batalha às 11h48min e foi direcionado a destruir o danificado Blücher, que já estava em chamas e com um adernamento sério para bombordo.[29] Um dos sobreviventes relatou posteriormente a situação:

O ataque britânico foi interrompido por relatos de submarinos à vante. Beatty imediatamente ordenou manobras evasivas, o que permitiu que os navios alemães aumentassem distância de seus inimigos.[30] Nesta altura o último dínamo operacional do Lion parou de funcionar, reduzindo sua velocidade para apenas quinze nós (28 quilômetros por hora). O navio era a capitânia de Beatty e ele emitiu a ordem de "Enfrentar a retaguarda do inimigo" para os cruzadores de batalha restantes, mas confusão com os sinais fez com que todos atacassem apenas o Blücher.[31] Este resistiu o máximo que pode, afugentando ataques de quatro cruzadores rápidos e quatro contratorpedeiros. Entretanto, o Aurora o acertou com dois torpedos. Nesta altura apenas sua torre de artilharia de ré ainda estava funcionando. Mais sete torpedos foram lançados a queima-roupa, fazendo o navio emborcar e afundar às 13h13min. O Blücher foi acertado por vários torpedos e setenta a cem projéteis durante a batalha.[32]

Contratorpedeiros britânicos aproximaram-se para resgatar sobreviventes, porém o dirigível alemão L5 achou que o Blücher era um cruzador de batalha britânico e assim tentou bombardear os contratorpedeiros, que recuaram.[31] O número exato de mortes é desconhecido: Paul Schmalenbach relatou que foram resgatados seis oficiais de um total de 29 e 275 marinheiros de 999, totalizando 747 mortos.[32] Já Erich Gröner examinou fontes oficiais alemãs e afirmou que houve 792 mortos,[8] enquanto James Goldrick disse que documentos britânicos relatam 243 sobreviventes de uma tripulação de pelo menos 1,2 mil.[33] Dentre os resgatados estava o capitão de mar Alexander Erdmann, o oficial comandante do Blücher, mas ele morreu de pneumonia enquanto era mantido como um prisioneiro de guerra.[31] Outros vinte tripulantes também morreram ainda presos.[32]

O Blücher emborcando

O concentração no Blücher permitiu que o Moltke, Seydlitz e Derfflinger escapassem.[34] Hipper originalmente planejava usar seus cruzadores de batalha para virar e tentar flanquear os britânicos com o objetivo de resgatar o cruzador blindado, mas abandonou o plano e o navio assim que foi informado sobre os danos do Seydlitz, sua capitânia.[31] Ele depois comentou seu decisão:

Beatty transferiu sua capitânia para o Princess Royal, mas nesta altura os alemães já estavam muito distantes para que pudessem ser alcançados, assim a perseguição foi encerrada às 13h50min.[31] O imperador Guilherme II ficou furioso pela perda do Blücher e quase naufrágio do Seydlitz, assim ordenou que a Frota de Alto-Mar não deixasse o porto. Eckermann foi promovido e Ingenohl forçado a renunciar de seu posto, sendo substituído pelo almirante Hugo von Pohl.[35]

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Ligações externas

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