Satiagraa – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Satiagraa[1] ou Satyagraha é um termo hindi (सत्याग्रह) composto por duas palavras: Satya, que pode ser traduzida como verdade; e agraha que significa firmeza, constância, [2] é uma filosofia desenvolvida por Mohandas Karamchand Gandhi (também conhecido como "Mahatma" Gandhi: Grande alma Gandhi) para o movimento de Resistência não violenta na Índia em vistas de estabelecer a igualdade econômica[3] inclusive.
Gandhi empregou o satyagraha na campanha de independência da Índia e também durante sua permanência na África do Sul. A teoria do satyagraha influenciou Martin Luther King, Jr. durante a campanha que ele liderou pelos direitos civis nos Estados Unidos da América.[4]
Significado do termo
[editar | editar código-fonte]Este termo, um dos principais ensinamentos do indiano Mahatma Gandhi, designa o princípio da não-agressão, uma forma não-violenta de protesto, que não deve ser confundida com uma adesão à passividade, é uma forma de ativismo que muitas vezes implica a desobediência civil.
Gandhi descreveu a Satyagraha como:
Tenho também a chamada força do amor ou força da alma. Eu descobri o satyagraha pela primeira vez no inicio da minha busca pela verdade que não admitia o uso da violência contra um adversário, pois o mesmo deve ser desarmado dos seus erros com paciência e compaixão. Sendo o que parece ser verdade para um e um erro para o outro. E paciência significa auto-sofrimento. Assim, a doutrina passou a significar reivindicação de verdade, não pela inflição de sofrimento sobre o adversário, mas sobre si mesmo. [5]
A resistência não violenta
[editar | editar código-fonte]Quando Gandhi desenvolveu sua filosofia de não-violência, ele não encontrava uma palavra adequada para defini-la em inglês, então decidiu usar a palavra sânscrita, satyagraha.
No contexto do movimento da Índia em busca da independência, o "satyagrahi" ("aquele que pratica a "satyagraha") é a pessoa que, após ter procurado a verdade em espírito de paz e benevolência, e tendo compreendido tal verdade em termos de um mal ou um erro a ser corrigido, afirma a sua verdade em confronto aberto com o mal através da prática da não violência, já que a utilização da violência resultaria precisamente de uma percepção distorcida da verdade. Em seu ato de resistência bem intencionado, o satyagrahi sempre informa seu adversário sobre suas intenções e evita sistematicamente a prática de ocultar estratégias de combate que lhe possam ser vantajosas. Pensada nesses termos, a "satyagraha" é menos um ato de desafio com vistas à conquista do que uma tentativa de conversão que deveria, idealmente, ter como resultado nem a vitória e nem a derrota de cada uma das partes conflitantes, mas antes uma nova ordem harmônica.
Gandhi escreveu:
"A distinção entre a resistência passiva como é entendida e praticada no ocidente do satyagraha que eu desenvolvi como uma doutrina lógica e espiritual. É uma metáfora para a não-violência. Eu frequentemente usava "resistência passiva" e "satyagraha" como termos sinônimos: mas com o desenvolvimento da doutrina do satyagraha, a expressão "resistência passiva" deixa de ser sinônimo, pois a resistência passiva pode fazer uso da violência, como no caso das sufragistas e tem sido universalmente reconhecida como uma arma dos fracos. Além disso, resistência passiva não envolve necessariamente a adesão à verdade completa em todas as circunstâncias. Portanto, ela é diferente do satyagraha em três aspectos essenciais: satyagraha é uma arma dos fortes; ela não admite o uso da violência sob qualquer circunstância; ela sempre insiste em defender a verdade. Acho que isto já fez a distinção perfeitamente clara."[6]
Princípios para Satyagrahis
[editar | editar código-fonte]Gandhi imaginou satyagraha como não apenas uma tática para ser usado em luta política, mas como um solvente universal de injustiça. Ele considera que é igualmente aplicável em grande escala da luta política e de conflitos interpessoais e que deve ser ensinado a todos. [7]
Ele fundou a Sabarmati Ashram para ensinar satyagraha. Ele pediu aos satyagrahis seguissem os seguintes princípios: [8]
- Não violência (Ahimsa)
- Verdade - isso inclui honestidade, mas ultrapassa ao dizer que vivem plenamente de acordo com a verdade e com na devoção a ela.
- Não-roubar
- Não-posse (não é a mesma coisa que pobreza)
- Trabalho Corporal ou trabalhar pelo pão de cada dia
- Dieta
- Destemor
- Igualdade de respeitar todas as religiões
- Estratégia Econômica como o boicote (boicote aos produtos ingleses)
- Libertar-se do conceito de intocabilidade
Em outra ocasião, ele citou outras sete regras como "essencial para todos os Satyagrahi na Índia": [9]
- Ter uma fé viva em Deus
- Acreditar na verdade e na não-violência e que ter fé na bondade intrínseca da natureza humana esperando que ela seja evocada pelo sofrimento de se manter no satyagraha
- Deve levar uma vida casta, e estar disposto a morrer ou perder todas as suas posses
- Deve vestir um khadi
- Deve abster-se do álcool e outros intoxicantes
- Deve proceder de acordo com todas as regras de disciplina conhecidas
- Deve obedecer a regras da prisão ao menos que sejam especialmente concebidas para quebrar o seu auto-respeito`
Regras para campanhas usando o Satyagraha
[editar | editar código-fonte]Gandhi propôs uma série de regras para satyagrahis em uma campanha de resistência:
- Trabalhar sem ira
- Sofrer pela ira do adversário
- Nunca retaliar a agressões ou punições; mas não submeter-se, sem medo de punição ou agressão, a uma ordem dada com fúria
- Apresentar-se voluntariamente à prisão ou ao confisco de seus próprios bens
- Se você é responsável por uma propriedade, defenda-a (de forma não-violenta) com a sua vida
- Não amaldiçoar ou praguejar
- Não insultar o adversário
- Nem saudar, nem insultar a bandeira do seu oponente ou dos líderes do seu adversário.
- Se alguém tenta insultar ou agredir o seu adversário, defenda-o (sem violência) com a sua vida
- Enquanto prisioneiro, se comportar com cortesia e obedecer os regulamentos da prisão (exceto aqueles que são contrários ao auto-respeito)
- Como um prisioneiro, não peça tratamento especial ou mais favorável
- Como um prisioneiro, não seja rápido na tentativa de ganhar conveniências cuja privação não implicam qualquer prejuízo para a sua auto-estima
- Alegremente obedeça as ordens dos líderes da ação de desobediência civil
- Não selecionar ou escolher quais as ordens que deve obedecer, se você achar a ação tenha algo de impróprio ou imoral, corte sua ligação com a ação totalmente.
- Não fazer a sua participação condicionada à companheiros que cuidem dos seus dependentes enquanto você estiver participando da campanha ou na prisão, não esperava que eles forneçam esse apoio
- Não tornar sua causa um querelas de coisas banais
- Não tomar partido em disputas, mas só auxiliar aquele partido que está comprovadamente certo; em caso de conflito inter-religioso, dê sua vida para proteger (de forma não-violenta) às pessoas em perigo de ambos os lados
- Evitar ações que possam originar conflitos banais
- Não tomar parte em procissões que firam a sensibilidades religiosas de qualquer comunidade
Satyagraha, em conflitos de grande escala
[editar | editar código-fonte]Ao utilizar satyagraha em conflito políticos em grande escala envolvendo a desobediência civil, Gandhi acreditava que a satyagrahis deve receber formação para assegurar a disciplina. Ele escreveu que "só quando uma pessoa tenha demonstrado a sua lealdade ativa obedecendo a legislação do Estado que eles adquirem o direito de desobediência civil".
Por isso, faz parte da disciplina dos satyagrahis:
- Viver com sua ou suas esposas sem atos sexuais, ou somente após pronuciamento com seu líder.
- Apreciar as demais leis do Estado, e cumprí-las voluntariamente se possível, e não desacatar seu respeito próprio.
- Tolerar essas leis, mesmo quando são incômodas.
- Estar dispostos a sofrer a dor da, perda de propriedade, e suportar o sofrimento que pode ser infligido à família e amigos. [10]
Essa obediência não pode ser apenas crítica, mas extraordinária:
[...] um homem honesto e respeitável não começará de repente roubar, haja ou não uma lei à favor ou contra o roubo, mas este mesmo homem não sentirá remorso em não observar a lei sobre acender os faróis da sua bicicletas após escurecer. [...] Mas ele observará qualquer lei obrigatória, ainda que apenas para escapar do transtorno de enfrentar um processo por violação da lei. Tal submissão não é, contudo, o desejo espontâneo de obediência que se requer de um Satyagrahi. [11]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Rebelião de Bambata - luta entre os colonizadores ingleses e zulus, na África do Sul onde Gandhi serviu como voluntário e que mudou-lhe a percepção de como lutar contra o inimigo poderoso por meio da não-violência.
- Ahimsa
- Não violência
- Marcha do Sal
- Não matar
- Operação Satiagraha
Referências
- ↑ Grande enciclopédia portuguesa e brasileira: ilustrada com cêrca de 15.000 gravuras e 400 estampas a côres. [S.l.]: Editorial Enciclopédia. 1959
- ↑ Gandhi, MK (Minha vida e minhas experiências com a verdade) Notas pag. 429
- ↑ Selected Works of Mahatma Gandhi, Vol III, cap 13
- ↑ Collected Works of Mohandas Gandhi, IX, 148
- ↑ Gandhi, M.K. Statement to Disorders Inquiry Committee 5 de Janeiro de 1920 (The Collected Works of Mahatma Gandhi vol. 19, p. 206)
- ↑ Gandhi, MK "Carta ao Sr. -" 25 de janeiro de 1920 (A Collected Works of Mahatma Gandhivol. 19, p. 350)
- ↑ Gandhi, MK "A teoria e a prática do (Satyagraha),Indian Opinion de 1914
- ↑ Gandhi, MK Resistência Não-violenta(Satyagraha)(1961), p. 37
- ↑ Gandhi, MK "Qualificações para Satyagraha"'Casal Índia 8 ago 1929
- ↑ Gandhi, MK "Pré-requisitos para Satyagraha" Young India, 1 de agosto de 1925
- ↑ Gandhi, MK "Um erro de cálculo do tamanho do Himalaia" em Autobiografia de Gandhi (Minha vida e minhas experiências com a verdade) Parte 5 Capítulo 33