Segunda Guerra Civil da Costa do Marfim – Wikipédia, a enciclopédia livre
Segunda Guerra Civil da Costa do Marfim | |||
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Crise na Costa do Marfim de 2010–2011 | |||
Mapa da ofensiva de Ouattara realizada em março de 2011. | |||
Data | fevereiro - 11 de abril de 2011 | ||
Local | Costa do Marfim | ||
Desfecho | Vitória das forças de Ouattara Queda e captura de Gbagbo | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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1.500[9] – 3.000[10] mortos e 100 desaparecidos,[11] um milhão fugiram desde as contestadas eleições.[12] |
A Segunda Guerra Civil na Costa do Marfim[13][14] eclodiu em fevereiro de 2011 quando começaram os combates entre as forças leais ao presidente eleito e o governo de facto no oeste do país.[15][16]
O conflito armado ocorreu devido à escalada de violência com a crise política causada pela recusa do presidente derrotado Laurent Gbagbo em aceitar a vitória do líder da oposição Alassane Ouattara por uma estreita margem no segundo turno das eleições presidenciais em 28 de Novembro de 2010. Gbagbo contava com a lealdade das forças armadas para permanecer no poder, mas com uma forte rejeição por parte dos cidadãos e da comunidade internacional.
Depois de ficar claro as posições de ambos os lados, toda a comunidade internacional (notavelmente a União Europeia, Estados Unidos, a Organização das Nações Unidas, a União Africana e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) se posicionou favorável aos resultados proclamados pela Comissão Eleitoral que deram Ouattara como o vencedor nas eleições.[17]
Depois de meses de negociações infrutíferas e de violência esporádica entre partidários de ambos os lados, protestos reprimidos pelo exército e pela polícia e ataques a adversários políticos entre os diferentes lados, a crise tornou-se uma guerra civil quando as milícias de Ouattara tomaram o controle do norte do país em março de 2011 e Gbagbo entrincheirou-se na antiga capital e maior cidade, Abidjã.
As organizações internacionais relataram inúmeros casos de violações dos direitos humanos por ambos os lados, particularmente na cidade de Duékoué, onde em 29 de março, pelo menos 800 pessoas foram massacradas por militantes dos dois lados.[18] Embora as tropas rebeldes avançassem ao sul, tomando a nova capital de Iamussucro em 30 de março sem resistência,[19] as forças da ONU e da França deram apoio militar às forças do mandatário eleito.[20]
No dia seguinte, as milícias de Ouattara entraram em Abidjã produzindo uma terrível batalha na cidade, cerca de 2.000 a 3.000 rebeldes entraram nela embora o presidente eleito declarou toque de recolher por três dias.[21] Enquanto as tropas internacionais intervieram especialmente nos combates pela cidade, Gbagbo havia deixado apenas uma pequena fração de suas forças, a maioria de sua guarda pessoal e jovens militantes, muitos dos seus oficiais haviam desertado passando ao lado inimigo ou fugido do país.[2]
A batalha de Abidjã foi encerrada com a captura de Gbagbo em sua residência em 11 de abril oficialmente terminando também a guerra civil.[22]
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Confrontos
[editar | editar código-fonte]Durante o mês de fevereiro, as forças leais a Ouattara iniciaram uma ofensiva no oeste do país na qual conseguiriam conquistar cinco localidades que, até aquele momento, estavam sob o controle do lado oposto. No entanto, em março de 2011 começam os combates diretos entre os rebeldes de Ouattara e as forças do governo, nas principais cidades do país, resultando em cerca de mil civis mortos no oeste marfinense, além de aproximadamente de 450 mil refugiados,[23] chegando a luta às ruas da maior cidade do país, Abidjã em abril de 2011, com combates e fogo de artilharia em torno do palácio presidencial e da televisão estatal.[24]
Em Abidjã
[editar | editar código-fonte]A partir de 22 de fevereiro e durante todo o mês de março de 2011,[25] houve confrontos na principal cidade do país, Abidjã, entre o chamado "Commando Invisible", liderado por Ibrahim Coulibaly, dito "IB", e tropas leais a Laurent Gbagbo. Não é claro, porém, que esse grupo armado seja favorável a Ouattara.[26] Esses confrontos ocorreram principalmente em Abobo (cuja população votou majoritariamente em Ouattara), mas também em Adjamé, no norte de Abidjã, Yopougon, Koumassi e Treichville. A Missão da ONU na Costa do Marfim (ONUCI) acusa os partidários de Laurent Gbagbo de atirar em civis, fazendo uma dezena de mortos em Abobo.[27]
No oeste do país
[editar | editar código-fonte]No início de março de 2011, explode um conflito em Moyen-Cavally, no oeste da Costa do Marfim. Em 18 de fevereiro de 2011, a ONUCI se retira de Toulépleu.[28] Em 6 de março, após os combates, as Forces nouvelles, pró-Ouattara, tomam Toulépleu a milicianos e mercenários liberianos.[29] Em 13 de março, Doké é controlada pelas Forces Nouvelles.[30] Em 21 de março, é a vez de Bloléquin,[31] após a criação das Forças Republicanas da Costa do Marfim (Forces républicaines de Côte d'Ivoire, FRCI).[32] Em 28 de março, é a cidade de Duékoué que cai.[33] Isto permite às FRCI ter acesso às estradas que levam ao porto de San-Pédro, situado a pouco mais de 300 km, na região do Bas-Sassandra, e à capital política, Iamussucro.
Em 2 de abril, a Organização das Nações Unidas responsabilizou as forças do presidente eleito, Ouattara, por pelo menos 220 das 330 mortes já confirmadas durante a tomada da cidade de Duékoué. As demais teriam sido causadas pelas tropas fiéis a Gbagbo.[34] No mesmo dia, a organização de assistência humanitária Caritas, ligada à Igreja Católica, informou que mais mil civis morreram durante os confrontos em Duékoué. Representantes da Cruz Vermelha estimavam em 800 o número de mortes em combates na cidade ao longo da semana.[35]
Generalização do conflito
[editar | editar código-fonte]Em 28 de março, paralelamente à ofensiva contra Duékoué, as FRCI atacam Daloa, no centro-oeste, e Bondoukou, no leste,[36] da qual assumem o controle em 29 de março.[37] Em 30 de março, as tropas pró-Ouattara tomam Soubré,[38] Tiébissou,[39] Gagnoa,[40] Guibéroua,[40] Bocanda,[40] San-Pédro,[41] e finalmente entram na capital, Yamoussoukro.[42][43]
Em 31 de março, a capital econômica do país, Abidjã, foi totalmente cercada pelas forças pró-Ouattara. Em algumas horas, muitos membros do exército e da polícia desertam, tal como o próprio chefe do estado-maior, general Philippe Mangou, que busca refúgio na embaixada da África do Sul, juntamente com sua família. As tropas ainda fiéis a Gbagbo se reagruparam em torno do palácio presidencial.[44]
Na tarde de 11 de abril, tropas da ONU e do presidente-eleito Ouattara fizeram o assalto final ao palácio presidencial, prendendo e depondo o presidente Gbagbo, levado para um hotel em Abdijan, onde foi mantido sobre supervisão da ONU, encerrando a luta de meses pelo poder no país.[45][46]
Situação humanitária
[editar | editar código-fonte]Os conflitos na Costa do Marfim provocaram o deslocamento de quase um milhão de pessoas,[47] sobretudo provenientes do oeste do país e da comuna de Abobo. Essas pessoas se dirigem em primeiro lugar a outras áreas da Costa do Marfim, onde existem 735.000 refugiados,[48] mas também à Libéria, onde há 120.000 refugiados,[49] e a vários outros países vizinhos: Gana, Guiné, Togo, Mali, Nigéria, Níger, Benim e Burquina Fasso.[48]
- Refugiados marfinenses cruzam a fronteira com a Libéria, fugindo da guerra civil no país.
- Campo de Bahn, condado de Nimba (Libéria), a 50 km da fronteira marfinense.
- Família de refugiados no campo de refugiados de Bahn.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c ONUCI: Operación de Naciones Unidas en Costa de Marfil
- ↑ a b c Rebels wonder; where did Gbagbo go - Times LIVE 1 de abril de 2011.
- ↑ a b Alassane Ouattara | Laurent Gbagbo | Ivory Coast 1 de abril de 2011.
- ↑ Army for ”all Ivorians” takes first steps from chaos | Sunday times Arquivado em 14 de março de 2012, no Wayback Machine. 1 de abril de 2011.
- ↑ Pro-Ouattara forces claim Cote d’Ivoire town | Wadhaf news 28 de marzo de 2011.
- ↑ Ivory Coast Rebels Say Seizure of Town Expands Advance - NYTimes.com 6 de marzo de 2011.
- ↑ UN, French troops attack Cote d'Ivoire's Gbagbo military camp 5 de abril de 2011.
- ↑ Soro's forces warn Ghana | General News 2011-05-18 | Ghanaweb.com 18 de mayo de 2011.
- ↑ BBC News - Q&A Ivory Coast crisis 13 de abril de 2011.
- ↑ UN troops surround Gbagbo's last defenders | Top News | Reuters 7 de abril de 2011.
- ↑ New proof of Ivory Coast vote killings Arquivado em 17 de fevereiro de 2011, no Wayback Machine. 15 de febrero de 2011.
- ↑ BBC News - Ivory Coast Ouattara fighters 'capture Yamoussoukro' 31 de marzo de 2011.
- ↑ Ivory Coast Dragged Into Civil War - OnIslam, 7 de março de 2011.
- ↑ BBC - Andrew Harding on Africa Civil war, Ivory Coast-style 9 de abril de 2011.
- ↑ Fighting flares in western Ivory Coast News.com.au 7 de março de 2011.
- ↑ «ONU alerta para risco de guerra civil na Costa do Marfim». Estado de Minas. 24 de fevereiro de 2011
- ↑ UN: Ivory Coast Crisis Not Over Yet | Africa | English - VOA news 11 de abril de 2011.
- ↑ Pro-Ouattara forces launch palace assault - Africa - Al Jazeera English 5 de abril de 2011.
- ↑ Pro-Ouattara forces reach Ivorian capital | Top News | Reuters 30 de marzo de 2011.
- ↑ Strikes by U.N. and France Corner Leader of Ivory Coast - NYTimes.com 4 de abril de 2011.
- ↑ BBC News - Ivory Coast Gbagbo and Ouattara in Abidjan battle Arquivado em 21 de março de 2012, no Wayback Machine. 1 de abril de 2011.
- ↑ Ivory Coast strongman arrested after French forces intervene - The Washington Post 11 de abril de 2011.
- ↑ «Ivory Coast crisis: 'Nearly 450,000 refugees'» (em inglês). BBC. Consultado em 3 de abril de 2011
- ↑ «Ivory Coast: Battle for Abidjan intensifies». BBC News. 3 de abril de 2011. Consultado em 3 de abril de 2011
- ↑ Côte d`Ivoire: la crise depuis le second tour de la présidentielle. AFP 4 de março de 2011.
- ↑ Le "commando invisible" d'Abidjan, anti-Gbagbo ou pro-Ouattara ?, por Guy Kerivel. Reuters, 27 de março de 2011.
- ↑ « Côte d'Ivoire: Ouattara prend le pas sur Gbagbo », L'Humanité, 30 de março de 2011.
- ↑ Sécurité de l`Ouest : Le contingent Onuci de Toulépleu démantelé. Le Nouveau Reveil / Abidjan.net, 18 de fevereiro de 2011.
- ↑ Les Forces Nouvelles ont pris Toulépleu, por Laurent Beugré. Le Nouveau Réveil, 7 de março de 2011.
- ↑ Côte d'Ivoire : La ville de Doké aux mains des forces nouvelles Arquivado em 14 de outubro de 2017, no Wayback Machine. Lesafriques
- ↑ Bloléquin occupée par les Forces nouvelles - L’entrée et la sortie de Guiglo bloquées par les Fds, por Blaise Bonsie. Inter, 22 de março de 2011.
- ↑ Côte d’Ivoire: Alassane Ouattara met en place les Forces républicaines de Côte d'Ivoire Arquivado em 27 de maio de 2011, no Wayback Machine. sur afriquejet.com
- ↑ Les pro-Ouattara revendiquent la prise de Duékoué[ligação inativa] Nouvelobs
- ↑ ONU responsabiliza presidente eleito por massacre na Costa do Marfim. O Globo, 3 de abril de 2011.
- ↑ Organização católica aponta mil mortos em Costa do Marfim. Folha de S.Paulo, 2 de abril de 2011.
- ↑ Sécurisation des villes du pays - Les Frci avancent, Gbagbo négocie, por Kesy B. Jacob. Nord-Sud, 29 de março de 2011.
- ↑ Côte d`Ivoire: les forces pro-Ouattara contrôlent Bondoukou (est). AFP, 29 de março de 2011.
- ↑ Les pro-Ouattara prennent Soubré. AFP, 30 de março de 2011.
- ↑ Côte d'Ivoire : la capitale aux mains des pro-Ouattara. AFP, 30 de março de 2010.
- ↑ a b c Opération "restaurer la paix et la démocratie en Côte d’Ivoire" - Gagnoa, Guibéroua, Bocanda et San-Pedro aux mains des FRCI. Le Patriote, 31 de março de 2011.
- ↑ Romandie News, 31 de março de 2011.
- ↑ Des combattants pro-Ouattara sont entrés à Yamoussoukro. AFP, 30 de março de 2011.
- ↑ Côte d`Ivoire: les forces pro-Ouattara contrôlent Yamoussoukro (habitants). AFP, 30 de março de 2011.
- ↑ Figaro 31 de março de 2011
- ↑ Stearns, Scott. «Ivory Coast's Gbagbo Captured at Presidential Compound». Voice of America. Consultado em 11 de abril de 2011
- ↑ «Gbagbo, wife in Ouattara's custody in I.Coast: UN». Reuters. Consultado em 11 de abril de 2011
- ↑ Près d'un million de déplacés en Côte d'Ivoire, selon le HCR. Radio-Canada.ca/Agence France Presse/ Reuters, 25 de março 2011
- ↑ a b Réfugiés : «L’exode dans la panique», carte page 4, Libération, 1º de abril de 2011.
- ↑ Hundreds Die In Battle For Ivory Coast City. Sky.com, 2 de abril de 2011