Terminal Rodoviário da Luz – Wikipédia, a enciclopédia livre
- Nota: Este artigo se refere ao terminal rodoviário. Se procura a estação ferroviária homônima, consulte Estação da Luz.
Terminal Rodoviário da Luz | |
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Terminal Rodoviário da Luz e parte da Praça Julio Prestes, 1975 Museu da Cidade de São Paulo | |
Uso atual | Imóvel demolido |
Informações históricas | |
Inauguração | 25 de janeiro de 1961 |
Fechamento | maio de 1982 |
Projeto arquitetônico | Carlos Lemos |
Localização | |
Coordenadas | Rodoviária da Luz |
Localização | Avenida Duque de Caxias, 907 - Luz, São Paulo, SP |
O Terminal Rodoviário da Luz foi o principal terminal rodoviário da cidade de São Paulo até o ano de 1982, quando foi construído o Terminal Rodoviário Tietê. Ficava localizado na Praça Júlio Prestes, na região da Luz, no centro de São Paulo.
História
[editar | editar código-fonte]Já houvera intenção, no início dos anos 1950, de se fazer uma estação rodoviária em São Paulo na região da Luz, mas em pleno Parque da Luz, ideia que acabaria rejeitada.[1] O terminal de passageiros da Luz, com dezenove mil metros quadrados,[2] foi inaugurado em 25 de janeiro de 1961,[3] próximo às estações ferroviárias da Luz e Júlio Prestes, centralizando o transporte intermunicipal da cidade na mesma região. A obra foi construída durante a gestão do governador Ademar de Barros, pela parceria dos empresários Carlos Caldeira Filho e Octávio Frias de Oliveira com a prefeitura de São Paulo. Destacavam-se em sua arquitetura, de autoria do arquiteto Carlos Lemos, o chafariz no hall central e as pastilhas coloridas nas paredes internas, que foram eliminados quando o local foi reformado para abrigar um shopping, anos mais tarde.[2] A rodoviária foi um dos primeiros locais na cidade a receber aparelhos de televisão em cores, na primeira metade dos anos 1970, o que atraiu muitos interessados em assistir a jogos de futebol.[2][4]
Já no primeiro mês de funcionamento moradores do bairro de Campos Elísios, no entorno da estação, reclamaram de um suposto aumento na criminalidade da região e do "trânsito infernal".[3] Os 2,5 mil ônibus que passavam diariamente pela rodoviária chegavam a levar até uma hora para percorrer um trecho que não chegava a ter duzentos metros.[3] Para aliviar o trânsito da região, em outubro de 1977 a CMTC transferiu diversos pontos de ônibus que ficavam na Praça Júlio Prestes para a Praça Princesa Isabel, a duas quadras da estação.[5] "O terminal urbano da Praça Júlio Prestes afetava diretamente a circulação dos ônibus de transporte intermunicipal e interestadual", explicou à época o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo.[5] Dois meses depois houve outra tentativa de aliviar o trânsito na região, com a abertura de uma rua particular que dava aos ônibus acesso direto às plataformas 21 a 25.[6]
Para o urbanista Jorge Wilheim, em entrevista publicada no Jornal da Tarde em 2010, faltou planejamento: "Historicamente, rodoviárias já contribuem pela degradação da região. Depois, com a desativação, houve uma estrutura ociosa de hotéis e bares que se tornaram alvo fácil para a degradação da área."[3] Com o crescimento da cidade e o aumento considerável do transporte rodoviário de passagem pela cidade, a Rodoviária da Luz tornou-se saturada. Assim, em 1977 foi inaugurado o Terminal Intermunicipal Jabaquara, para descentralizar as operações.[7] Em 9 de maio de 1982 o governador Paulo Maluf inaugurou o novo terminal de passageiros, o Tietê, desativando o antigo.[7] Após a desativação da estação o prédio foi vendido a um grupo de empresários e no local passou a funcionar a partir de 1988[7] o shopping popular Fashion Center Luz.
Complexo Cultural Luz
[editar | editar código-fonte]Em 2007, o governador José Serra anunciou que iria desapropriar o antigo prédio para a instalação de um centro cultural público, com a inclusão de um teatro e uma escola de dança. O projeto de construção do Complexo Cultural Luz era a principal obra com o objetivo de recuperar a região da Luz, conhecida como "Cracolândia", tinha orçamento de seiscentos milhões de reais — o dobro do custo inicial estimado — e abrigaria o Teatro da Dança de São Paulo.[3] Haveria três teatros, incluindo um com capacidade para 1 750 pessoas e seria ainda a sede do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim e da São Paulo Companhia de Dança. O projeto, porém, foi criticado por representantes da sociedade civil, tal como o Instituto de Arquitetos do Brasil. Entre as críticas, está o fato de ter sido contratado com dispensa de licitação escritório estrangeiro para criar o projeto arquitetônico — o suíço Herzog & de Meuron —, pagando-se valor muito acima do praticado no mercado arquitetônico brasileiro: foram gastos 49 milhões de reais do Tesouro estadual paulista.[8] Além disso, o projeto foi feito sem haver certeza de que haverá recursos para implementá-lo.[8]
O prédio foi desocupado já em 2007,[7] mas a demolição só começou em 12 de abril de 2010, e a previsão para o início das obras era em janeiro de 2011, com inauguração do complexo em 2014.[3] As obras ficaram interrompidas por cerca de um mês no segundo semestre, por causa de uma liminar impetrada por uma das empresas que perderam a licitação para a demolição.[9]. O projeto do Complexo Cultural Luz foi, todavia, abandonado em 2015.[10] A decisão de cancelar o projeto veio após decisão do Tribunal de Justiça de declarar nulo o contrato entre o Governo estadual e o escritório de arquitetura suíço Herzog & de Meuron, autor do projeto do complexo, devido à modalidade de contratação escolhida em 2007: dispensa de licitação, tida como injustificada.[10] Foi determinado que o ex-secretário da Cultura João Sayad teria de ressarcir o Estado; ele prometeu recorrer da decisão. Em 2019, o Tribunal de Contas Estadual negou irregularidade na contratação.[11]
Complexo Júlio Prestes
[editar | editar código-fonte]Ainda em 2015, cogitaram-se novos usos para o terreno, tais como a construção de moradias populares e um hospital.[10] Em 2016, já na gestão estadual de Geraldo Alckmin, foi criado um novo projeto para o mesmo local: o Complexo Júlio Prestes, que contaria com torres residenciais para famílias de baixa renda, uma creche e a nova sede da escola de música Tom Jobim, que contará com salas de aula, arquivo musical, biblioteca, sala para ensaio de orquestra e uma especial para apresentação.[12] Foi autorizada a construção de 1,2 mil moradias populares.[13] Os moradores seriam selecionados por sorteio e entre os requisitos havia o de pelo menos um dos ocupantes do imóvel ter emprego fixo no Centro. Em 2018, as primeiras habitações começaram a ser entregues.[12]
Referências
- ↑ «'Não deve o Jardim da Luz ser sacrificado para dar lugar à Estação Rodoviária'». Folha de S. Paulo (9 029). São Paulo: Empresa Folha da Manhã S.A. 2 de setembro de 1953. pp. pág. 8
- ↑ a b c «Pastilhas coloridas, chafariz e TVs eram a 'marca registrada'». Jornal da Tarde (14 477). São Paulo: S.A. O Estado de S. Paulo. 13 de abril de 2010. pp. pág. 4A. ISSN 1516-294X. Consultado em 13 de abril de 2010
- ↑ a b c d e f Vitor Hugo Brandalise (13 de abril de 2010). «Rodoviária da Luz começa a ser demolida». Jornal da Tarde (14 477). São Paulo: S.A. O Estado de S. Paulo. pp. pág. 4A. ISSN 1516-294X. Consultado em 13 de abril de 2010
- ↑ Abilio Guerra (Março de 2016). «A antiga Rodoviária da Luz:Sobre a autoria do projeto do edifício». Vitruvius. Consultado em 15 de novembro de 2020
- ↑ a b «Ônibus urbanos deixam a Estação Rodoviária». Folha de S. Paulo (17 723). São Paulo: Empresa Folha da Manhã S.A. 11 de outubro de 1977. pp. pág. 19
- ↑ «Nova travessa junto à Estação Rodoviária». Folha de S. Paulo (17 793). São Paulo: Empresa Folha da Manhã S.A. 20 de dezembro de 1977. pp. pág. 17
- ↑ a b c d Vitor Hugo Brandalise (13 de abril de 2010). «Demolição de rodoviária começa a mudar a Luz». O Estado de S. Paulo (42 546). São Paulo: S.A. O Estado de S. Paulo. pp. pág. C12. ISSN 1516-2931. Consultado em 13 de abril de 2010
- ↑ a b Fernando Mellis (25 de março de 2014). «Complexo Cultural Luz: para arquitetos brasileiros, governo jamais pagaria R$ 49 mi por projeto nacional». R7 (42 546). São Paulo. Consultado em 30 de agosto de 2020
- ↑ Rodrigo Burgarelli e Diego Zanchetta (1 de outubro de 2010). «Recomeça demolição da rodoviária». Jornal da Tarde (14 648). São Paulo: S.A. O Estado de S. Paulo. pp. pág. 5A. ISSN 1516-294X
- ↑ a b c Amanda Massuela, Elvis Pereira e Ingrid Fagundez (8 de novembro de 2015). «Governo desiste de erguer complexo cultural em terreno na região da Luz». Folha de S.Paulo (14 648). São Paulo
- ↑ TCE nega irregularidade em projeto milionário que nunca saiu do papel
- ↑ a b Governo entrega moradias construídas na região da Luz
- ↑ Antiga rodoviária na Luz ganhará 1.200 moradias populares