Cortina de Vidro – Wikipédia, a enciclopédia livre

Cortina de Vidro
Cortina de Vidro
Informação geral
Formato Telenovela
Gênero
Duração 50 minutos
Criador(es) Walcyr Carrasco
Elenco
País de origem Brasil
Idioma original português
Episódios 168
Produção
Diretor(es) Guga de Oliveira
Roteirista(s) Miguel Filiage
Tema de abertura "Prazer sem Fim", Jane Duboc
Empresa(s) produtora(s) Art Vídeos Produções
Miksom
Exibição
Emissora original SBT
Formato de exibição 480i (SDTV)
Transmissão original 23 de outubro de 1989 – 5 de maio de 1990

Cortina de Vidro é uma telenovela brasileira produzida pela Art Vídeos Produções e pela Miksom e exibida pelo SBT entre 23 de outubro de 1989 e 5 de maio de 1990, em 168 capítulos. Foi a primeira novela desde o encerramento da produção dramarúrgica do canal em 1985 com Uma Esperança no Ar. Foi escrita por Walcyr Carrasco, com colaboração de Miguel Filiage, sob direção de John Herbert e Álvaro Fugulin e direção geral de Guga de Oliveira.

Contou com Herson Capri, Betty Gofman, Sandra Annenberg, Esther Góes, Antônio Abujamra, Débora Duarte, Sérgio Mamberti e Norma Blum nos papéis principais.

Edifício Dacon, localizado na zona sul de São Paulo, foi escolhido cenário principal da trama.

Após quatro anos sem produzir novelas, desde o fim de Uma Esperança no Ar (1985), Silvio Santos solicitou que o núcleo fosse reativado, porém para evitar gastos, firmou um acordo com a produtora Art Vídeos Produções (AVP), no qual ficou definido que a empresa produziria a novela de forma completamente independente, sem qualquer uso de estúdios ou equipamentos do SBT, e a emissora apenas exibiria e cuidaria da divulgação, dividindo os lucros em 50% da receita arrecadada.[1]

Antes de falecer, Bráulio Pedroso havia sugerido para Sílvio a ideia de uma telenovela sobre um homem rico que se disfarçava de pobre para se aproximar da mulher que ama, inspirada em Sassaricando (1987), porém afirmou que não tinha vontade de desenvolve-la.[2] Walcyr Carrasco, que até então era jornalista e havia trabalhado apenas como colaborador de Manoel Carlos no seriado Joana (1985), foi escolhido para escrever a história a partir da ideia de Bráulio, tendo total liberdade para criar os personagens e dar o rumo que quisesse.[2] O título é uma referência ao Edifício Dacon, conhecido como "cortina de vidro" por sua estética completamente envidraçado, o qual serviu de cenário principal para a trama.[3] As gravações iniciaram-se em 10 de julho, quando a Miksom também entrou na produção para cuidar da sonografia.[4] Foram gastos 3,5 milhões de dólares para a produção geral da obra, média de 20 mil dólares por capítulo.[5]

A direção optou pelo Sistema Betacam em alta definição e revelou referências cinematográficas para a composição da telenovela: Let's Make Love (1960), The Odd Couple (1968), Norma Rae (1979), Fama (1980) e Fatal Attraction (1987).[6]

Escolha do elenco

[editar | editar código-fonte]

Sílvio Santos encontrou uma brecha no contrato da Rede Globo com seus atores: na época o contrato prévia que artistas da casa não poderiam trabalhar diretamente em outras emissoras, mas não dizia nada sobre produções independentes.[7] Assim, Silvio conseguiu escalar vários atores com contratos vigentes com a Globo para sua novela através da AVP sem que eles saíssem da concorrente, sendo que tal manobra fez com que a emissora redigisse um novo modelo de contrato de exclusividade a partir de 1990.[7]

Originalmente Nívea Maria foi escalada como a antagonista Glória e chegou a realizar os primeiros ensaios, porém um mês depois deixou o projeto alegando que viajar para São Paulo semanalmente seria desgastante, sendo que Lúcia Veríssimo e Irene Ravache recusaram a personagem até cair nas mãos de Esther Góes.[8] Lucélia Santos, Cássia Kiss e Lucinha Lins recusaram o papel da sindicalista Ângela, que acabou ficando para a novata Sandra Annenberg.[7][8] Nuno Leal Maia interpretaria um antagonista chamado Alex, porém, após atritos com a produtora, ele deixou o elenco e o personagem foi cancelado.[8]

John Herbert aceitou integrar a novela pela oportunidade de também trabalhar como diretor. Débora Duarte e Herson Capri foram os primeiros nomes anunciados.[3][9]

Herdeiro das Tecelagens Mill, Frederico Stuart (Herson Capri) é um milionário poderoso e bem sucedido, mas frustrado por ter abdicado na juventude do sonho de ser ator para seguir o destino imposto pelos falecidos pais. Ele é noivo da fútil Leda (Nicole Puzzi), que vê nele a chance de se casar com um homem rico, o que irrita Glória (Esther Góes), prima do empresário e que sempre o amou em segredo, tentando tirar qualquer outra mulher de seu caminho. Após um mal entendido, Frederico vai parar em um teste de teatro do diretor Ulisses Filho (Odilon Wagner), onde se apaixona pela doce atriz e bailarina Branca (Betty Gofman), uma moça independente e talentosa, que acredita que os homens de negócio jamais entenderiam as artes. O empresário decide então fingir que é um aspirante a ator pobre para ingressar na peça e conquistar Branca.

Essa mentira, porém, também o aproxima de Ângela (Sandra Annenberg), operária da tecelagem e líder do sindicado dos operários que luta por melhores condições dos trabalhadores, fazendo com que Frederico fique dividido entre as duas mulheres, colocando ambas na mira das armações de Glória. Na tecelagem ainda trabalham Giovana (Débora Duarte) e Cristóvão (Sérgio Mamberti), grandes amigos de Frederico que o ajudam em sua vida dupla para descobrir o amor verdadeiro, e Arnon (Antônio Abujamra), um corrupto nefasto que lhe rouba discretamente e abusa sexualmente da própria filha, a adolescente Michele (Carola Scarpa). Apaixonado pela moça, Marcelo (Jayme Periard), é quem decide investigar a mudança repentina de personalidade dela, que cai em depressão.

Filipe (John Herbert) e Artur (Gianfrancesco Guarnieri) são cômicos inimigos que disputam o amor da fogosa Emanuelle (Matilde Mastrangi). Já Clarisse tem que reconstruir a vida aos 45 anos após ser trocada pelo marido, William (Adriano Reys), pela jovem Paloma (Ângela Figueiredo). O filho deles, Romeu (José Américo Magno), é um jovem reprimido pelo machismo do pai, que não tem coragem de assumir ser gay e ter um namoro com Nicolau (George Otto).

Estreou em 23 de outubro de 1989 às 19h30, após um intervalo de três anos sem transmissão de telenovelas brasileiras na emissora. A abertura retrata uma figura feminina em trajes íntimos sob o tema "Prazer sem Fim", executado por Jane Duboc. Annette Schwartsman, jornalista da Folha de S.Paulo, evidenciou que a vinheta de abertura traz a impressão de "uma novela ousada, moderna e tipicamente paulista, [em que] cenas de uma relação sexual misturam-se com dança e flashes da cidade".[10]

Foi exibido na Itália no Syndication entre janeiro e maio de 1993 com o título L'Amore Vero Non Si Compra,onde foi um grande sucesso reprisado outras quatro vezes. Foi exibida em 1995 na RTP1 de Portugal.

No dia 26 de Novembro de 2024, durante o Programa do Ratinho foi usado imagens da novela como forma de conhecer a história de Aldine Müller na televisão, enquanto participava do quadro “Gol Show”.

Ator/Atriz Personagem
Herson Capri Frederico Stuart Mill
Betty Gofman Branca Araújo
Sandra Annenberg Ângela Cortez
Esther Góes Glória Mill
Antônio Abujamra Arnon Balakian
Débora Duarte Giovana Meira
Sérgio Mamberti Cristóvão
Norma Blum Clarisse Diniz
Adriano Reys William Diniz
Gianfrancesco Guarnieri Artur Cortez
John Herbert Filipe
Odilon Wagner Ulisses Filho
Jayme Periard Marcelo
Carola Scarpa Michele Meira Balakian
Ângela Figueiredo Paloma
Neco Vila Lobos Romeu Diniz
George Otto Nicolau
Matilde Mastrangi Emanuelle
Gésio Amadeu Ezequiel
Raymundo de Souza Dantas
Luís Carlos de Moraes Victor
Kate Hansen Cíntia
Ariclê Perez Mirtez
Renato Borghi Ricardo
Rosi Campos Jussara
Simone Soares Úrsula
Luciano Quirino Eduardo
Alessandra Silva Mariana Cortez
Amanda Silva Luciana Cortez

Participações especiais

[editar | editar código-fonte]
Ator/Atriz Personagem
Nicole Puzzi Leda Magalhães
Miriam Mehler Sílvia
Malu Pessin Marta
José Carlos Sanches Nando
Aldine Müller Judith
Jorge Kajuru Antero Rox
Cláudio Curi Dico
Geraldo Del Rey Romão
Liza Vieira Cláudia
Tuna Dwek Rosário
Jacques Lagoa Waldemar
Fábio Tomasini
Gianni Ratto como ele mesmo
Ivaldo Bertazzo como ele mesmo
N.º TítuloMúsica Duração
1. "A Mais Bonita"  Chico Buarque e Bebel Gilberto  
2. "Prazer sem Fim"  Jane Duboc  
3. "Paixão e Saudade"  Gil e Guaxupé  
4. "Pintou um Bode"  Paulinho da Viola  
5. "Paixão É Assim"  Marcelo Barra  
6. "Cidade"  Rick e Nando  
7. "Ainda Te Procuro"  Ivan Lins  
8. "Cortina de Vidro"  Antônio Marcos  
9. "Quem Viver, Verá"  Joanna  
10. "Esse Amor É Loucura"  Elymar Santos  
11. "Não Minto p'ra Mim"  Zizi Possi  
12. "Etc"  Caetano Veloso  
13. "Coração Urbano"  Eliete Negreiros  
14. "Lambe-lambe"  Trio Los Angeles  
15. "Super-homem, a Canção"  Gilberto Gil  
16. "De Volta ao Começo"  Gonzaguinha  
17. "Let the River Run"  Carly Simon  

Lançamento e repercussão

[editar | editar código-fonte]

O superintendente comercial do SBT, Rubens Carvalho dos Santos, à época do lançamento de Cortina de Vidro, almejou que a trama alcançasse 15 pontos na Grande São Paulo e 10 no restante do país. Para tanto, quarenta chamadas comerciais foram preparadas em parceria com empresas como a Johnson & Johnson.[11]

Avaliação em retrospecto

[editar | editar código-fonte]

Em um editorial publicado pela Revista Visão, a obra é avaliada acerca dos temas abordados: "os atrativos da trama são os de sempre: contraste entre riqueza e pobreza, sonhos de ascensão social, golpes no mercado financeiro e uma boa dose de sexo e malícia; Walcyr Carrasco, no entanto, garante que há uma diferença básica na sua história, especialmente na modernidade do texto".[12] Por outro lado, Maria Helena Dutra, crítica e jornalista d'O Dia, apontou inúmeros pontos negativos da telenovela e a comparou com um "grande sanduíche de lanchonete multinacional [...] em todos os ingredientes já testados na indústria alimentícia do gênero misturados no balcão, à frente de todos, sem qualquer preocupação com originalidades, sabores especiais ou requintes de temperos. Tudo preparado por uma equipe que tem a franquia do título da empresa mas ainda não está suficientemente adestrada para melhorar e temperar esta comida rápida". Por fim, destacou um começo mal programado, que aspira ao fracasso, mas "superior a O Sexo dos Anjos e Top Model".[13]

O escritor Bráulio Tavares, em uma crítica para o Jornal do Brasil, criticou negativamente a atuação de Herson Capri, que "não corresponde ao empresário texano" e acrescenta que "Cortina de Vidro é mais uma, cujos diálogos parecem a transcrição das legendas de um filme americano. Fica a impressão de que as pessoas que escrevem novelas só andam de helicóptero".[14] As contradições entre a interpretação da personagem principal e sua construção subjetiva foram destacadas também por Ana Carmen Foschini, da Folha de S.Paulo: "faz uma arqueologia fora de hora na direção de imagens e atores, na criação de personagens e no texto pouco coloquial; [a telenovela] caminha à deriva, sem imprimir um estilo próprio de ser novela. Ainda não sabe se vai ser pastelão, dramalhão ou pós-tudo. Involuntariamente, é a estrela da temporada de caça a bobagens".[15]

Referências

  1. «A primeira». Jornal do Brasil. 9 de junho de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  2. a b «SBT x Globo». Jornal do Brasil. 19 de maio de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  3. a b «TVS». Jornal do Brasil. 31 de maio de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  4. «Estreia». Jornal do Brasil. 25 de junho de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  5. Comodo, Roberto (20 de outubro de 1989). «SBT lança novela». Jornal do Brasil. Consultado em 5 de março de 2019 
  6. «SBT estreia sua co-produção em setembro». Folha de S.Paulo. 19 de julho de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  7. a b c «Lucélia Santos integra elenco da novela Cortina de Vidro, do SBT». Folha de S.Paulo. 25 de junho de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  8. a b c «Lucélia Santos integra elenco da novela Cortina de Vidro, do SBT». SBTpédia. Consultado em 21 de maio de 2021 
  9. «Até que enfim...». Jornal do Brasil. 25 de agosto de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  10. Schwartsman, Annette (18 de outubro de 1989). «SBT faz novela em ritmo de clip contra a Globo». Folha de S.Paulo. Consultado em 5 de março de 2019 
  11. «A novela do SBT». Meio & Mensagem. 1 de julho de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  12. «Boa aposta nos clichês». Visão. 25 de outubro de 1989. Consultado em 5 de março de 2019 
  13. Dutra, Maria Helena (26 de outubro de 1989). «Iniciativa muito mal programa». O Dia. Consultado em 5 de março de 2019 
  14. Tavares, Bráulio (29 de outubro de 1989). «Cortina esquemática». Jornal do Brasil. Consultado em 5 de março de 2019 
  15. Foschini, Ana Carmen (25 de outubro de 2019). «SBT exibe arsenal de bobagens em sua novela». Folha de S.Paulo. Consultado em 5 de março de 2019 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]