Fetichismo da mercadoria – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fetichismo da mercadoria é a percepção das relações sociais envolvidas na produção, não como relações entre as pessoas, mas como as relações econômicas entre o dinheiro e as commodities negociadas no mercado. Sendo assim, o fetichismo da mercadoria transforma os aspectos subjetivos (abstração de valor econômico) em objetivos (coisas reais que as pessoas acreditam ter valor intrínseco).

De acordo com a crítica de Karl Marx no âmbito da economia política, o fetichismo da mercadoria surge como um fenômeno social e psicológico onde as mercadorias aparentam ter vontade independente de seus produtores. Em O Capital (volume 1), Marx explica o fetichismo da mercadoria:[1]

"Consideremos duas mercadorias, por exemplo, ferro e trigo. As proporções, quaisquer que sejam, em que elas são trocáveis, podem sempre ser representadas por uma equação em que uma dada quantidade de trigo é igualada a certa quantidade de ferro…O que nos diz tal equação? Nos diz que, em duas coisas diferentes – em um quarter de trigo e x quintais de ferro -, existe em quantidades iguais algo comum a ambos. As duas coisas devem, portanto ser iguais a uma terceira, que em si mesma não é uma nem outra. Cada uma delas, no que se refere ao valor de troca, deve ser redutível a esta terceira coisa… Este “algo” em comum não pode ser uma propriedade natural das mercadorias. Tais propriedades são consideradas apenas à medida que afetam a utilidade de tais mercadorias, em que as tornam valores de uso. Mas a troca de mercadorias é evidentemente um ato caracterizado por uma abstração total do valor de uso.

(...)

Uma mercadoria, portanto, é algo misterioso simplesmente porque nela o caráter social do trabalho dos homens aparece a eles como uma característica objetiva estampada no produto deste trabalho; porque a relação dos produtores com a soma total de seu próprio trabalho é apresentada a eles como uma relação social que existe não entre eles, mas entre os produtos de seu trabalho(…). A existência das coisas enquanto mercadorias, e a relação de valor entre os produtos de trabalho que os marca como mercadorias, não têm absolutamente conexão alguma com suas propriedades físicas e com as relações materiais que daí se originam… É uma relação social definida entre os homens que assume, a seus olhos, a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. A fim de encontrar uma analogia, devemos recorrer às regiões enevoadas do mundo religioso. Neste mundo, as produções do cérebro humano aparecem como seres independentes dotados de vida, e entrando em relações tanto entre si quanto com a espécie humana. O mesmo acontece no mundo das mercadorias com os produtos das mãos dos homens. A isto dou o nome de fetichismo que adere aos produtos do trabalho, tão logo eles são produzidos como mercadorias, e que é, portanto inseparável da produção de mercadorias."[2]

Segundo Marx, o fetichismo é uma relação social entre pessoas, mediada por coisas. O resultado é a aparência de uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas. As pessoas agem como coisas e as coisas, como pessoas.

No caso da produção de mercadorias, ocorre que a troca de mercadorias é a única maneira na qual os diferentes produtores isolados de mercadorias se relacionam entre si. Dessa maneira, o valor das mercadorias é determinado de maneira independente dos produtores individuais, e cada produtor deve produzir sua mercadoria em termos de satisfação de necessidades alheias. Disso resulta que a mercadoria mesma (ou o mercado) parece determinar a vontade do produtor e não o contrário.

Marx afirma que o fetichismo da mercadoria é algo intrínseco à produção de mercadorias, já que na sociedade capitalista, o processo de produção se autonomiza com relação à vontade do ser humano. Tal autonomia desaparecerá apenas quando o ser humano controlar de maneira consciente o processo de produção, numa livre associação de indivíduos, o que só é possível de ser feito abolindo a propriedade privada dos meios de produção e transformando-os em propriedade coletiva; acabando com o caráter mercantil dos bens e preservando somente seu valor de uso. Isso significa uma revolução nas relações de produção e de distribuição dos meios de vida.[carece de fontes?]

Marx também argumenta que a economia política clássica não pode sair do fetichismo da mercadoria, pois considera a produção de mercadorias como um dado natural e não como um modo de produção histórico e, portanto, transitório.

Desse fetichismo que se dá na produção e na troca de mercadorias resulta a sobrestimação teórica do processo de troca sobre o processo de produção. Daí o culto ao mercado de parte de alguns economistas, que consideram a oferta e a procura como as determinações fundamentais do preço das mercadorias.

Desenvolvimento posterior do conceito

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Após Marx, vários autores posteriormente retomam o tema, como Adorno, que se aprofunda no tema aplicado às artes, principalmente à música e cinema, e depois Guy Debord, na sua análise da Sociedade do Espetáculo, mostrando que o fetiche de mercadoria, na atual situação do capitalismo foi levado muito além do que era no tempo de Marx.[3]

Referências

  1. MARX, Karl. O Capital, Capítulo I, Seção 4.
  2. Terry Eagleton Marx e a Liberdade
  3. DEBORD: ESPETÁCULO, FETICHISMO E ABSTRATIFICAÇÃO. Viana, Nildo. Revista Panorama, nº I, Agosto de 2011. edição on-line. Universidade Federal de Goiás. Acessível em: http://seer.ucg.br/index.php/panorama/article/viewFile/1601/1008 Arquivado em 27 de julho de 2016, no Wayback Machine. Visitado em: Sáb Out 10 00:37:13 BRT 2015.

Ligações externas

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