História da ciência no Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre
A história da ciência no Brasil começou de maneira eficaz somente nas primeiras décadas do século XIX, quando a família real portuguesa, dirigida por D. João VI, chegou ao Rio de Janeiro, escapando do exército de Napoleão que invadira Portugal em 1807. Até então, o Brasil não possuía universidades, mídias impressas, bibliotecas e museus, em contraste às colônias da Espanha, que tiveram universidades desde o século XVI. Esta era uma política deliberada do poder colonial português, que temia o surgimento de classes de brasileiros educados impulsionados pelo nacionalismo e outras aspirações para a independência política, como ocorrido nos Estados Unidos e em algumas colônias espanholas da América Latina.
Período Colonial
[editar | editar código-fonte]As primeiras tentativas de estabelecer a ciência no Brasil foram feitas no século XVII, durante o domínio holandês em Pernambuco. No antigo Palácio de Friburgo, situado na então sede da colônia de Nova Holanda, Recife, foram instalados um observatório astronômico — o primeiro do Hemisfério Sul — e um jardim zoobotânico — o primeiro do continente americano, no qual foi reunida uma grande variedade de exemplares da flora e da fauna dos trópicos, que serviram de fonte para os primeiros tratados de história natural do Brasil, como a obra Historia Naturalis Brasiliae dos naturalistas Guilherme Piso e George Marcgraf.[1][2][3]
Dentro dessas viagens exploratórias que marcaram a vinda de europeus para analisar a natureza brasileira de forma científica está a vinda de jesuítas para realizar observações astronômicas. Esses jesuítas já se encontravam estabelecidos no Brasil.
Em 1783, ocorreu a expedição do naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira, que foi emitido pelo ministro principal de Portugal, Marquês de Pombal, para explorar e identificar a fauna, a flora e a geologia brasileiras. Suas coleções, entretanto, foram arruinadas na França, quando Napoleão invadiu, que estavam sendo transportadas para Paris por Étienne Geoffroy Saint-Hilaire. Em 1772, a primeira sociedade instruída, Sociedade Scientifica, foi fundada no Rio de Janeiro, mas durou somente até 1794. Também, em 1797, um instituto botânico foi fundado em Salvador, Bahia.
O D. João VI incentivou todos os acontecimentos da civilização europeia ao Brasil. Em um período curto (entre 1808 e 1810), o governo fundou a Academia Naval Real e a Academia Militar Real (ambas as escolas das forças armadas), a biblioteca nacional, os jardins botânicos reais, a Escola de Cirurgia da Bahia e a Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro
Dentre importantes viagens exploratórias realizadas no período, estiveram:
- Expedição portuguesa ou "Viagem Filosófica" (1785 a 1792): período de difusão das ideias iluministas em que a vinda do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, brasileiro formado na Universidade de Coimbra, explorou a região amazônica.
- Vinda ao Brasil pelo ilustrador brasileiro José Vieira Couto, formado em Coimbra, que fez um levantamento de recursos minerais, visando a ampliação e a diversificação da produção colonial. Entre suas funções, coube a ele: o planejamento e a realização de expedições para localização de recursos mineralógicos, a coleta de amostras e a realização de análises químicas visando sua classificação para a qual o naturalista mantinha um laboratório.
- Expedições de Manuel Arruda Câmara (1794 a 1799)
- Viagem de Henrique Koster (1808 a 1819)
- Viagem do príncipe Maximiliano (1815 a 1817): realizada sob influência de Alexander Humboldt, o qual fora impedido de entrar no páis em 1800, foi capitaneada pelo príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied, junto do ornitologista Freyreiss e do botânico Friedrich Sellow
- Expedição Rurik (1815 a 1818): com o conde Romanzov
- Expedição francesa (1816-1822): contou com o conde de Luxemburgo e Augustin Saint-Hilaire. Ocorreu de modo paralelo à Missão Artística Francesa, de Auguste-Marie Taunay, Nicolas-Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret e Joachim Lebreton
- Expedição austríaca (1817 a 1835): com Carl von Martius, Johann Baptist von Spix, Johann Emanuel Pohl, Johann Natterer e Thomas Ender
Reino Unido a Portugal e Primeiro Reinado
[editar | editar código-fonte]Após ser independente de Portugal, declaração feita pelo filho do rei, o D. Pedro I (que se transformou primeiro Imperador do novo país), suas políticas a respeito mais altamente da aprendizagem, a ciência e a tecnologia vieram a uma paralisação relativa. Neste período, ocorreram algumas expedições científicas realizadas por naturalistas europeus, além da imigração de alguns naturalistas do velho continente:
- Expedição Langsdorff (1824 a 1829), com o barão Langsdorff, Rugendas, Aimé-Adrien Taunay, Hércules Florence, Ludwig Riedel, Christian Hasse, e Nestor Rubtsov
- Peter Lund (1825)
- d'Orbigny (1826)
- Charles Darwin (1832), a bordo do HMS Beagle
Apesar disso as expedições brasileiras se tornaram raras. A mais significativa é a de Martim Francisco Ribeiro de Andrada e José Bonifácio de Andrada e Silva, em 1819.
A ciência se pautou nas descrições da fantástica biodiversidade brasileira, de suas flora e fauna, e também suas geologia, geografia e antropologia. Somando a isso, começou a criação construção de um museu nacional.
Na área educacional, as primeiras escolas de lei foram fundadas em 1827 em Recife e em São Paulo, mas pelas próximas décadas, a maioria dos advogados brasileiros estudou ainda em universidades europeias, tais como a famosa universidade de Coimbra.
Marcos cronológicos de fatos importantes para a ciência nesse período:
- 1808: Criação do Colégio Médico da Bahia (a partir de 1832, Faculdade de Medicina da Bahia); Escola Médica do Rio de Janeiro (também Faculdade de Medicina, em 1832); Horto, depois Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
- 1810: Academia Militar do Rio de Janeiro, que durante o século XIX deu origem, em 1855, à Escola Central e, em 1874, à Escola Politécnica.
- 1818: Museu Real, depois Museu Nacional de História Natural.
- 1838: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Segundo Reinado
[editar | editar código-fonte]As coisas começaram mudar após 1841, quando o filho o mais velho de D. Pedro I, Imperador D. Pedro II veio ao trono quando tinha 15 anos. Nos 50 anos seguintes, Brasil apreciou um monarquia constitucional estável. D. Pedro II era um monarca instruído que incentivava as artes, a literatura, a ciência e a tecnologia e tinha contatos internacionais extensivos nestas áreas. O suporte principal da ciência brasileira e do assento de seus primeiros laboratórios de pesquisa era o Museu Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, que existe até hoje. Foi nessa cidade que começaram as associações de profissionais em sociedades e academias. Com, por exemplo: a Sociedade de Medicina, de 1828, depois Academia Imperial de Medicina; Sociedade Vellosiana, feita por naturalistas, que durou de 1851 a 1855, com reuniões nas dependências no Museu Nacional; Reunião de engenheiros, a partir dos anos 1860, no Instituto Politécnico Brasileiro.
Dom Pedro desenvolveu um interesse pessoal forte e selecionou e convidou muitas personalidades científicas europeias respeitáveis, tais como von Ihering e Goeldi, para trabalhar no Brasil. E seus ministros e senadores assistiam freqüentemente a conferências científicas no museu. Lá, o primeiro laboratório do fisiologia foi fundado em 1880, sob João Baptista de Lacerda e Louis Couty.
Expedições do período:
- Henry Walter Bates (1848 a 1859)
- Alfred Wallace (1848 a 1852)
- Fritz Müller (1852)
- Expedição Thayer da Harvard University (1865 a 1866), com Louis Agassiz
- Expedições Morgan (1870 a 1878), com Charles Hatt e Orville Derby
- Hermann von Ihering (1880)
- Émil Goeldi (1880)
República Brasileira
[editar | editar código-fonte]O centralismo da produção científica no Rio de Janeiro começou a se espalhar pelas províncias brasileiras. Para isso foram criadas instituições de ensino, como as faculdades, os museus e as escolas. Tendo como foco a produção de saberes sobre a saúde, como a criação do primeiro serviço sanitário na cidade de São Paulo.
É nesse período que surgem em São Paulo a Escola Politécnica (1894), o Serviço Sanitário de caráter microbiológico (1892) e um Museu de História Natural (1894), todos de caráter público. Além disso, foram também instaladas no estado instituições privadas, como a escola de engenharia Mackenzie (1895) e a Escola de Farmácia (1898).
Em 1895 foi criada no Recife a Escola de Engenharia de Pernambuco.
No Rio Grande do Sul foram criadas uma Escola de Engenharia (1896), uma Escola Livre de Farmácia e Química Industrial (1896) e uma Escola Livre de Medicina e Farmácia (1897).
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b «Palácio de Friburgo, Recife, PE». Fundaj. Consultado em 14 de novembro de 2016
- ↑ «Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil». Google Books. Consultado em 14 de novembro de 2016
- ↑ «Recife recebeu primeiro horto zoobotânico do Brasil». Curiosamente. Consultado em 7 de abril de 2019
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- (Obs.: as seções acima foram retiradas do artigo "Ciência e tecnologia do Brasil".)
- FERRI, M.G.; MOTOYAMA, S. (coords.). História das Ciências no Brasil. Vols. I, II e III. São Paulo, EPU/Edusp/CNPq, 1979, 1980 e 1981.