Homoafetividade – Wikipédia, a enciclopédia livre

Dois homens de mãos dadas como um ato homoafetivo em público (1993)

Homoafetividade é um neologismo para o conjunto de expressões de amor ou carinho entre pessoas do mesmo sexo ou gênero.[1] Refere-se, principalmente, aos sentimentos e emoções de apreço e admiração que se manifestam tanto por um homem por outro homem, como também por uma mulher por outra mulher, sem necessariamente ter significado erótico (homoerotismo), como nem sexual (homossexualidade) envolvido, podendo incluir o amor romântico (homorromanticidade) ou queerplatônico, união civil, amasiamento ou amabilidade, e casamento. É um conceito utilizado no campo das ciências sociais, como a sociologia e a psicologia,[2] também no direito e na teologia.[3]

Bandeira arco-íris dentro de um coração

As primeiras menções ao conceito de homoafetividade ocorreram em estudos sobre comportamento entre pessoas do mesmo sexo no início do século XXI.[4] A jurista e ativista brasileira pelos direitos homoafetivos,[5] Maria Berenice Dias, foi uma das pioneiras na cunhagem deste termo e na utilização do conceito aplicado ao direito da família, replicando-o posteriormente para outras disciplinas do conhecimento,[6] sendo uma das suas principais preocupações a eliminação da estigmatização de pessoas que mantêm um vínculo amoroso estável e duradouro com alguém do mesmo sexo.[6] Entretanto, em inglês, o neologismo homoaffectional já existia.[7][8]

Em termos semelhantes, mas com abordagens e escopos diferentes, o termo homossocialização é utilizado para a análise e investigação das interações sociais entre pessoas do mesmo gênero. No entanto, a homoafetividade também inclui as interações privadas e íntimas que dois homens ou duas mulheres podem vivenciar. Sob outras interpretações, como em certos estudos de gênero, também é entendido como o apreço e a irmandade (fraternidade ou sororidade) que alguém pode sentir por todas as pessoas de gênero semelhante.[9] As ações homoafetivas entre duas pessoas incluem, por exemplo, abraços, beijos, carícias, dar as mãos e qualquer outra demonstração de afeto, na esfera pública ou privada, independentemente de haver ou não sentido erótico envolvido e da orientação sexual de participantes. Ou seja, é possível que pessoas heterossexuais vivenciem comportamentos homoafetivos sem serem homo ou bissexuais,[10] dependendo de cada contexto e época do grau de tolerância social de cada um desses atos.[11]

O adjetivo é usado pela organização LGBT ABRAFH (Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas), que articula reivindicações por direitos de famílias homoparentais.[12][13]

Assexuais também podem vivenciar orientações afetivas,[14] incluindo a homoafetividade,[15] sem necessariamente vivenciar um comportamento homossexual,[16] usando homoafetivo como termo análogo a homorromântico.[17][18] A palavra poliafetividade, para se referir ao poliamor ou polifidelidade, também usa o mesmo sufixo.[19][20]

Referências

  1. ampas (18 de dezembro de 2004). «Homoafetividade: um novo substantivo». Portal Jurídico Investidura. Consultado em 20 de agosto de 2024 
  2. Lozano-González, Elizabeth S. (maio de 2018). «Análisis de las secuencias narrativas de cuatro sujetos sobre la aceptación y develamiento de su preferencia homoafectiva». Consultado em 20 de agosto de 2024 
  3. «El teólogo luterano Renato Lings dice que la Biblia ampara la homosexualidad». La Vanguardia (em espanhol). 31 de outubro de 2015. Consultado em 20 de agosto de 2024 
  4. Almeida, Álvaro; Castro, Pedro; Razuck, Fernando; Mamede, Walner (9 de novembro de 2016). «Género e identidad masculina en el nuevo milenio: La homo afectividad y la visión social basada en la filosofía de comportamiento GØy (g-cero-y).». Psicología, Conocimiento y Sociedad. 7 (1): 199–225. ISSN 1688-7026. Consultado em 20 de agosto de 2024 
  5. Barroso, Luís Roberto (30 de junho de 2007). «Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico das relações homoafetivas no Brasil». Boletim Científico Escola Superior do Ministério Público da União (22/23): 117–163. ISSN 2966-1420. Consultado em 27 de agosto de 2024 
  6. a b Schiavon, Fabiana (9 de dezembro de 2009). «Advogada recebe prêmio de Direitos Humanos por defesa de homoafetivos». Consultor Jurídico. Consultado em 20 de agosto de 2024 
  7. Forstein, Marshall (janeiro de 1988). «Homophobia: An Overview». Psychiatric Annals (em inglês) (1): 33–36. ISSN 0048-5713. doi:10.3928/0048-5713-19880101-10. Consultado em 27 de agosto de 2024 
  8. Lanser, Susan S. (janeiro de 2001). «Sapphic picaresque, sexual difference and the challenges of homo-adventuring». Textual Practice (em inglês) (2): 251–268. ISSN 0950-236X. doi:10.1080/09502360110044087. Consultado em 27 de agosto de 2024 
  9. Ariza-Sosa, Gladys Rocío; Gaviria, Silvia L.; Geldres-García, Denis A.; Vargas-Romero, Rosamarina (1 de abril de 2015). «Hombres cuidadores de vida: formación en masculinidades género-sensibles para la prevención de las violencias hacia las mujeres en Medellín». Revista Colombiana de Psiquiatría (2): 106–114. ISSN 0034-7450. doi:10.1016/j.rcp.2015.01.005. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  10. «Milly Lacombe - Milly: O que querem da vida homens como o homofóbico Mauricio Souza?». www.uol.com.br. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  11. Nebot García, Juan Enrique; Giménez García, Cristina; Ballester Arnal, Rafael (2018). «Experiencias homosexuales en jóvenes heterosexuales: diferencias de género». Servei de Comunicació i Publicacions. Investigació i gènere a la Universitat Jaume I 2018, 2018, ISBN 978-84-17429-06-5. 22 páginas. ISBN 978-84-17429-06-5. Consultado em 20 de agosto de 2024 
  12. Uziel, Anna Paula; Amorim, Saulo (19 de abril de 2024). «A ABRAFH e a visibilidade de famílias homotransparentais». Ciência & Saúde Coletiva: e19542023. ISSN 1413-8123. doi:10.1590/1413-81232024294.19542023. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  13. Serejo, Elias Santos; Cal, Danila; Lage, Leandro Rodrigues (15 de setembro de 2019). «AÇÃO COLETIVA POLÍTICA E LUTA POR RECONHECIMENTO: A ATUAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FAMÍLIAS HOMOTRANSAFETIVAS (ABRAFH) NA DEFESA DE OUTRAS MODALIDADES DE FAMÍLIAS». Logeion: Filosofia da Informação (1): 85–105. ISSN 2358-7806. doi:10.21728/logeion.2019v6n1.p85-105. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  14. «What It Means to Be Both Homoromantic and Asexual». Healthline (em inglês). 13 de julho de 2021. Consultado em 9 de setembro de 2024 
  15. Nicholson, Rebecca (18 de agosto de 2015). «'I'm a bisexual homoromantic': why young Brits are rejecting old labels». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 27 de agosto de 2024 
  16. «"Sou lésbica, mas me apaixonei por um homem"; o que é orientação romântica?». www.uol.com.br. 4 de outubro de 2019. Consultado em 5 de fevereiro de 2020. Arquivado do original em 15 de junho de 2021 
  17. «O que é assexual e como identificar: entenda orientação do personagem de Thiago Fragoso em Travessia». Estadão. Consultado em 27 de agosto de 2024 
  18. «O direito de família aplicado aos núcleos familiares poliafetivos». Universidade Federal de Uberlândia. Repositório Institucional - Faculdade de Direito (FADIR). 2017 
  19. Pinto, Inácio Emiliano Melo Mourão (2015). «União estável poliafetiva : o caminho aberto pelo reconhecimento da união estável homoafetiva». Consultado em 27 de agosto de 2024 
  20. «União poliafetiva - ficção ou realidade?». Migalhas. 2 de abril de 2015. Consultado em 27 de agosto de 2024