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João Gaspar Simões

João Gaspar Simões, Sintra 1963
Conhecido(a) por Primeiro biógrafo e primeiro editor da obra de Fernando Pessoa.
Nascimento 25 de fevereiro de 1903
Figueira da Foz, Reino de Portugal Portugal
Morte 6 de janeiro de 1987 (83 anos)
Lisboa, Portugal
Cônjuge Mécia de Vasconcelos Gonçalves Neves (1926-1961, divórcio)

Isabel da Nóbrega (1954-1968) (concubinato)

Filho(a)(s) Maria Joana Gaspar Alpuy
Alma mater Universidade de Coimbra
Ocupação Escritor e crítico literário
Prémios Prémio da Imprensa, Prémio O Primeiro de Janeiro
Género literário Crítica, romance, conto, novela, memórias, teatro, história da literatura portuguesa e brasileira.
Movimento literário Presença
Magnum opus História do Romance Português, 3 vols.

João Gaspar Simões GOSE (Figueira da Foz, 25 de fevereiro de 1903Lisboa, 6 de janeiro de 1987) foi um novelista, dramaturgo, biógrafo, historiador da literatura portuguesa, ensaísta, memorialista, crítico literário, editor e tradutor português.

João Gaspar Simões nasceu a 25 de fevereiro de 1903, em São Julião, Figueira da Foz, distrito de Coimbra.

Filho de João Simões, grande comerciante da Figueira da Foz, e de sua mulher Constança Neto Gaspar, doméstica, foi baptizado a 18 de julho de 1903.[1] Fez a instrução básica na sua terra natal, a Figueira da Foz e a partir dos 11 anos frequentou como interno o Colégio Lyceu Figueirense (1914), terminando o ensino liceal em Coimbra, no Liceu José Falcão.

[carece de fontes?] Nunca exerceu profissão na área jurídica, mas tinha o sonho de ser diplomata.[2]

Durante os seus anos de estudo fundou algumas revistas literárias de grande importância para a cultura portuguesa: de 1924 a 1925 a revista Tríptico, com Branquinho da Fonseca (seu condiscípulo dos tempos do liceu) e Vitorino Nemésio, entre outros; nos seus 9 números colaboraram também Aquilino Ribeiro, José Régio, Alberto de Serpa, Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes; e de 1927 a 1940 foi um dos fundadores[2] e dirigiu até ao seu último número (56) a revista Presença, em parceria com José Régio, Adolfo Casais Monteiro e Branquinho da Fonseca, que estaria na origem do movimento literário do mesmo nome, também chamado Segundo Modernismo, que viria a ter enorme influência na literatura portuguesa. Foram colaboradores doutrinários do "presencismo", entre outros, Delfim Santos, Alberto de Serpa, Luís de Montalvor, Mário Saa, Raul Leal e António Botto. A ação dos 'presencistas' foi fundamental para o estudo e valorização do Primeiro Modernismo de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Também colaborou nas revistas Princípio [3] (1930) e Sudoeste [4] (1935) e ainda na revista Mundo Literário [5] (1946-1948) na qual se encontram alguns ensaios, contos e críticas literárias da sua autoria.

Fez tirocínio para Conservador do Museu Machado de Castro em Coimbra e nessa qualidade transferiu para esse Museu a valiosa coleção de antiguidades chinesas doada pelo poeta Camilo Pessanha e que se encontrava em depósito no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa. Foi Presidente da Associação Académica de Coimbra em 1930-31. A partir de 1935 foi revisor da Imprensa Nacional passando para a Biblioteca desta instituição em 1940. Entre 1942 e 1945 dirigiu o programa de traduções da casa editora Portugália, em Lisboa.

Uma das facetas mais importantes da sua obra de crítico e de editor foi a de ter sido o primeiro biógrafo e também o primeiro editor[2] (com Luís de Montalvor) de Fernando Pessoa, de quem tinha sido amigo e correspondente. No domínio da literatura estrangeira divulgou e traduziu vários autores russos e anglófonos, entre eles Dostoiévski, Liev Tolstói, George Eliot[2], Jane Austen[2] e Elizabeth Gaskell[2] (novelista também celebrizada por ter sido a biógrafa de Charlotte Brontë e cuja obra foi publicada por sua iniciativa na Portugália), combatendo o "francesismo" então reinante e contribuindo para a ampliação dos horizontes literários e estéticos do mundo lusófono e a europeização da então muito provinciana cultura portuguesa. A partir de 1946 finalizou a sua carreira de romancista para iniciar a sua produção dramatúrgica. A sua obra crítica é respeitada pelo seu vasto espírito enciclopédico e pela pertinência dos seus julgamentos, ainda que por vezes fosse julgada demasiado dependente do historicismo e biografismo. Alguma da sua crítica destinava-se a divulgar e valorizar autores estrangeiros que também traduzia, ou fazia traduzir e publicava nas coleções que dirigia. Ao longo de décadas foi incansável a sua atividade de recensão nas páginas literárias de diversos jornais, entre eles o Diário de Lisboa[2], o Diário de Notícias, o Diário Popular, O Primeiro de Janeiro e o Mundo Literário. Manteve sempre fortes ligações ao mundo da imprensa, que lhe atribuiu 3 dos 4 prémios que o distinguiram em Portugal, e foi o último diretor do jornal O Século.

Proferiu numerosas conferências sobre literatura em Portugal e no Brasil e em várias cidades europeias, tendo participado como orador convidado no First International Symposium on Fernando Pessoa realizado em 1977 na Brown University, Providence, USA, e no Second International Symposium on Fernando Pessoa em 1983, na Vanderbilt University, Nashville, USA.

A 13 de Julho de 1981 foi-lhe atribuído o grau de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.[6] Foi sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras[7] e colaborador da Enciclopédia Britânica.

De 1954 a 1968 viveu com a escritora Isabel da Nóbrega,[8] que depois o trocaria pelo ainda desconhecido José Saramago. Em 1975, Gaspar Simões publicou As Mãos e as Luvas, amargo e irónico roman à clef sobre a sua vida sentimental, e em que Isabel da Nóbrega surge sob o nome de Tininha (ou Albertina).

João Gaspar Simões morreu a 6 de Janeiro de 1987, em Lisboa.

Em homenagem à importância da sua obra foi o seu nome atribuído a diversas ruas em Portugal: na Figueira da Foz onde nasceu e em Foros de Amora (Seixal), na Aldeia de Juzo (Cascais), em Leça da Palmeira (Matosinhos) e em Albufeira (Algarve); e no Brasil, no Bairro Diadema, distrito de Jabaquara, cidade de São Paulo (SP).

  • Elói ou Romance numa Cabeça, 1932 - com ele obteve o "Prémio da Imprensa" nesse ano.
  • Uma História de Província: I parte — Amores Infelizes, 1934; II parte — Vida Conjugal, 1936; 2ª ed. num só vol., 1943; 3ª ed. separada.
  • Pântano, 1940; 2ª ed. 1946.
  • Amigos Sinceros, 1941; 2ª ed. 1962.
  • A Unha Quebrada (novela), 1941.
  • Eduarda (novela), 194?.
  • O Marido Fiel, 1942.
  • Internato, 1946; 2ª ed. revista 1969.
  • As Mãos e as Luvas (Retrato em Corpo Inteiro), 1975.
  • O Vestido de Noiva, 1952.
  • Teatro (Jantar de Família, Tem a Palavra o Diabo, Uma Mulher sem Passado), 1953.
  • Pedido de Casamento (inédita).
  • Marcha Nupcial, 1964.

Biografia e história literária

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  • Igualmente premiada, com o Prémio "O Primeiro de Janeiro", foi a sua biografia Eça de Queirós, o Homem e o Artista, 1945, reeditada com o título Vida e Obra de Eça de Queirós, 1973 e segs.
  • Vida e Obra de Fernando Pessoa — História duma Geração, Vol. I: Infância e adolescência; Vol. II: Maturidade e morte, 1950.
  • História da Poesia Portuguesa — Das Origens aos Nossos Dias, (acompanhada de uma antologia), Vol. I, 1955; Vol. II, 1956; Vol. III, 1959.
  • História do Movimento da «Presença» (seguida de uma antologia), 1958.
  • Eça de Queirós — A Obra e o Homem, 1961.
  • Antero de Quental — Vida, Pensamento, Obra, 1962.
  • Fernando Pessoa — Escorço interpretativo da sua vida e obra, 1962, reeditado como Fernando Pessoa, Breve Escorço da sua Vida e Obra, 1983 e segs.
  • Júlio Dinis — A Obra e o Homem, 1963?.
  • Itinerário Histórico da Poesia Portuguesa de 1189 a 1964, 1964.
  • 50 Anos de Poesia Portuguesa — do Simbolismo ao Surrealismo, 1967.
  • História do Romance Português, Vol. I: 1969; Vol. II: 1972; Vol. III: 1978.
  • Camilo Pessanha — A Obra e o Homem, 1967.
  • A Geração de 70 — Alguns Tópicos para a sua História, s/d [1971?].
  • Retratos de Poetas que Conheci, 1974.
  • Perspectiva Histórica da Poesia Portuguesa — Dos Simbolistas aos Novíssimos, 1976.
  • José Régio e a História do Movimento da «Presença», 1977.
  • Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil (textos de JGS et al.), São Paulo, 1986.

Ensaio e crítica literária

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  • Temas foi o seu primeiro livro de ensaios, publicado na "Presença" em 1929, e que inclui o primeiro estudo literário dedicado a Fernando Pessoa que era então quase desconhecido.
  • O Mistério da Poesia — Ensaios de Interpretação da Génese Poética, 1931.
  • Tendências do Romance Contemporâneo, 1933.
  • Novos Temas — Ensaios de Literatura e Estética, 1938.
  • António Nobre, Precursor da Poesia Moderna (conferência, com uma breve antologia), 1939.
  • Crítica iniciada em 1942: Crítica I – A Prosa e o Romance Contemporâneos, 1942; Crítica II – vol. 1: Poetas Contemporâneos 1938 – 1961 [1961]; vol. 2: Poetas Contemporâneos 1946 – 1961 [1962?]; Crítica III – Romancistas Contemporâneos 1942 – 1961, s/d [1969?], obra pela qual recebeu o Prémio "Diário de Notícias" em 1970; Crítica IV – Contistas, Novelistas e Outros Prosadores Contemporâneos 1942 – 1979, 1981; Crítica V – Críticos e Ensaístas Contemporâneos 1942 – 1979, 1983; Crítica VI – O Teatro Contemporâneo 1942 – 1982, 1985.
  • Caderno dum Romancista, 1942.
  • Ensaio sobre a Criação no Romance, 1944.
  • A Arte de Escrever Romances (conferência lida no salão do Teatro de S. Luiz na "Tarde Literária" de 8 de fevereiro de 1947, 1947.
  • Liberdade do Espírito, 1948.
  • Natureza e Função da Literatura, 1948.
  • Garrett — Quatro Aspectos da sua Personalidade (conferências integradas na homenagem do Ateneu Comercial do Porto ao Poeta natural daquela Cidade), 1954.
  • Quatro Estudos — Júlio Dinis. Balzac e a Arte do Romance. Somerset Maugham, dramaturgo. Jorge de Lima e a sua 'Cosmogonia' ou 'Invenção de Orfeu', Rio de Janeiro, 1961.
  • Interpretações Literárias — Balzac e a Arte do Romance; Leão Tolstoi, Romancista; Jorge de Lima e a 'Cosmogonia' ou 'Invenção de Orfeu'; Sentido Criador em Júlio Dinis, Afonso Duarte, Poeta Antigo e Moderno; James Joyce e a Sua Obra, 1961.
  • Literatura, Literatura, Literatura... — De Sá de Miranda ao Concretismo Brasileiro, 1964.
  • Almeida Garrett, Vida, Pensamento, Obra, 1964.
  • Novos Temas, Velhos Temas — Ensaios de Literatura e Estética Literária, 1967.
  • Fernando Pessoa — Heteropisicografia, 1973.
  • Fernando Pessoa na Perspectiva da Presença, 1978.

Edição e estudos introdutórios

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  • Obras Completas de Fernando Pessoa, 4 vols. (com Luís de Montalvor, para a ed. Ática), 1942-1945.
  • Perspectiva da Literatura Portuguesa do século XIX (Dir., pref. e notas bibliográficas de JGS), Vol. I, 1947; Vol II, 1948.
  • Garrett — Poetas de Ontem e de Hoje (Biografia, exame crítico e antologia por JGS), 1954.
  • Eça de Queirós — Trechos escolhidos (Compil. e apres. por JGS), Rio de Janeiro 1957.
  • Teatro de Oscar Wilde (Pref. de JGS e trad. de Januário Leite), sd.
  • O Crocodilo de Dostoiévski (Pref. de JGS e trad. de Isabel da Nóbrega), 1966.

Tradução (elenco parcial)

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  • Jean Cocteau, Os Meninos Diabólicos (Les enfants terribles), 1939.
  • Dostoiévski, Está Morta!: Novela Fantástica, 1940.
  • Charlotte Brontë, A Paixão de Jane Eyre (em colaboração com Mécia), 1941.
  • D. H. Lawrence, Filhos e Amantes, 1943.
  • Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão (em colaboração com Charles David Ley).
  • Contos Ingleses de Defoe a Huxley.
  • Katherine Mansfield, O Garden-Party.
  • Henry James, Calafrio.
  • Prosper Mérimée, Carmen (em colaboração com Mécia).
  • Meredith, O caso do General Ople.
  • Georges Bernanos, Diário de um Pároco de Aldeia, 1955.
  • William Beckford, Diário de William Beckford em Portugal e Espanha — The Journal in Portugal and Spain 1787-1788, 1957.
  • Leão Tolstói, Guerra e Paz (Trad. integral, notas e um est. biográfico e crítico por JGS), 1957.
  • Georges Bernanos, A Alegria, 1959.
  • Tchekov, David Magarshack, 1960.
  • Thomas Mann, O Cão e o Dono, 1962.
  • Suetónio, Os Doze Césares, 1963.
  • Gogol, O Inspector, 1963.
  • Ivan Turgenev, Pais e Filhos, 1963.
  • Daniel Defoe, Diário da Peste de Londres, 1964.
  • Dostoiévski, Crime e castigo (Prestuplenie i nakavanie), 1964.
  • Dostoiévski, Diário de Raskolnikov, 1964.
  • Leão Tolstói, A Manhã de um Senhor, 1966.
  • Leão Tolstói, Ana Karenina, 1971.
  • Leão Tolstói, A Felicidade Conjugal. Sonata a Kreutzer, 1978.

Principais temas

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De acordo com o subtítulo de uma das suas obras: "Romance numa cabeça", para João Gaspar Simões "não há romance onde não houver imaginação psicológica"; ...'À introspeção, ao psicologismo, à sinceridade, à revelação do eu profundo, como dizia, nessa altura, o filósofo em voga, Bergson, cabiam o renovo de um género'... (Retratos, 67).

Referências

  1. Assento de baptismo nº 83/1903, cota 404, São Julião da Figueira da Foz.
  2. a b c d e f g FIGUEIREDO, Leonor (6 de janeiro de 2007). «Gaspar Simões, o temido 'homo criticus' de Lisboa». Diário de Notícias. Consultado em 11 de junho de 2014. Arquivado do original em 14 de julho de 2014 
  3. Rita Correia (11 de dezembro de 2008). «Ficha histórica:Princípio : publicação de cultura e política (1930)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 27 de março de 2015 
  4. Rita Correia (18 de maio de 2011). «Ficha histórica: Sudoeste : cadernos de Almada Negreiros (1935)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 5 de novembro de 2015 
  5. Helena Roldão (27 de janeiro de 2014). «Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Novembro de 2014 
  6. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "João Gaspar Simões". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 11 de junho de 2014 
  7. «Sócios Correspondentes e Patronos». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 11 de junho de 2014 
  8. Isabel da Nóbrega na Infopedia
Fontes

Ligações externas

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Precedido por
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Sócio correspondente da ABL - cadeira 2
19701987
Sucedido por
Mário Soares