Liga de Unidade e Ação Revolucionária – Wikipédia, a enciclopédia livre
Liga de Unidade e Ação Revolucionária | |
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Datas das operações | 1967 – 1976 |
Líder(es) | Hermínio da Palma Inácio |
Área de atividade | Portugal |
Ideologia | Antifascismo a Extrema-esquerda |
Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR)[1] foi um movimento político fundado em Paris, em 19 de julho de 1967, sob a liderança de Hermínio da Palma Inácio, depois do assalto ao banco de Portugal na Figueira da Foz. Foi dissolvida em 1976.
Fundação
[editar | editar código-fonte]Princípios
[editar | editar código-fonte]O seu manifesto publicado a Janeiro de 1974, “Por uma utilização correcta dos novos métodos de luta, pela Revolução Socialista” terá sido redigido sobretudo por Armando Ribeiro, Fernando Pereira Marques e Rui Pereira. A Revolução Socialista da Luar não queria a ditadura do proletariado, mas sim a democracia directa.[2]
Membros e breve historial
[editar | editar código-fonte]Fundadores:[3]
- Hermínio da Palma Inácio: Sabota 28 aviões (1947); viveu na clandestinidade, torturado pela PIDE, foge do Aljube em Maio de 1948. Conhece Humberto Delgado e Henrique Galvão, organizando o desvio de um avião da TAP, em 1961, para distribuir panfletos. Em França e Espanha é detido por "banditismo" a pedido do Estado Novo, mas é libertado pelos tribunais. Depois de várias ações pela LUAR será preso e "barbaramente torturado". Será libertado aquando da Revolução de Abril. Adere eventualmente ao Partido Socialista. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade em 2000.
- Camilo Mortágua: Participa no desvio do Santa Maria (1961) e no desvio do avião da TAP (1961), antes da Operação Mondego com a LUAR.
- Emídio Guerreiro, futuro líder interino (na ausência, por motivos de saúde, de Francisco Sá Carneiro) do Partido Popular Democrático (hoje PSD)
- Fernando Pereira Marques, futuro deputado do Partido Socialista.
Outros membros incluíam:[3]
- António Barracosa deserta do serviço militar na Guiné, tendo conversas com Amílcar Cabral. Da Guiné segue para Argel, e depois França, juntando-se a Mortágua. Participa nas ações da Figueira da Foz, Évora e Covilhã. Foi detido durante quatro meses na Bélgica, passando depois a residir em Argel. Depois da Revolução volta, conclui o curso de Direito e torna-se professor do ensino secundário, chegando a ser Diretor de Escola.
- Armando Ribeiro
- José Hipólito Santos colaborou com a Seara Nova e com o MUD-Juvenil. Participa na revolta da Sé (1959) e na revolta de Beja (1961). Participa no Maio de 1968, foi dirigente da LUAR e do PRP, preso político e exilado em Argel. Profissionalmente, foi professor universitário em Paris e Lisboa, e perito das Nações Unidas. Continuou a participar civicamente.
- Luis Benvindo foi despertado para a política por Humberto Delgado, participa nas ações da Figueira da Foz, Évora e Covilhã. Homem de confiança de Palma Inácio. Tenta voltar a Portugal, mas acaba emigrado em Bruxelas, mantendo a sua participação cívica.
Atividades e ações[2] [3]
[editar | editar código-fonte]A LUAR defendia a "violência revolucionária e acções armadas contra o regime, também com sabotagem de meios usados na guerra colonial. Porém, era rejeitado o recurso a actos terroristas e o assassínio de pessoas".[2]
Jornal Fronteira
[editar | editar código-fonte]Publicado desde Paris.
Assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz (Operação Mondego)
[editar | editar código-fonte]Uma brigada oposicionista, em 17 de maio de 1967, liderada por Palma Inácio, assalta a agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, desviando vinte e nove mil contos.[nota 1] Tomam um pequeno avião no campo de aviação de Cernache e conseguem escapar. A LUAR (Liga de Unidade e Ação Revolucionária) é fundada em Paris, em 19 de junho, sob a liderança do chefe operacional de tal assalto.
Ocupação da Casa de Portugal, Paris
[editar | editar código-fonte]Durante o Maio de 1968, em Paris, participam na ocupação da Casa de Portugal na Cidade Universitária.
Assalto ao Quartel de Évora (Operação Diana)
[editar | editar código-fonte]A 17 de Setembro de 1967 recuperam pistolas e munições
Plano de Ocupação da Covilhã (Operação Matias)
[editar | editar código-fonte]Planeiam tomar a Covilhã, fazer uma declaração ao país e evacuar. Tal não se efetiva, levando à prisão vários operacionais, incluindo Palma Inácio.
“Operação Primavera”
[editar | editar código-fonte]A 30 de Abril de 1969, a LUAR sabota três pilares de alta-tensão no Porto e faz detonar uma explosão junto ao Consulado Americano do Porto.
Fuga da sede da PIDE
[editar | editar código-fonte]A 8 de maio de 1969, a LUAR promove a fuga de Palma Inácio da sede da PIDE no Porto.
Sabotagem de fragatas
[editar | editar código-fonte]A 12 de outubro de 1969, a LUAR patrocina a sabotagem de fragatas da Marinha de Guerra num estaleiro de Hamburgo.
Assalto a consulados da ditadura
[editar | editar código-fonte]A LUAR assaltou consulados de Portugal em Roterdão (1 de Maio de 1971) e Luxemburgo (4 de Junho de 1971).
Assalto a carrinha de valores
[editar | editar código-fonte]A 9 de abril de 1972, a LUAR assaltou uma carrinha do Banco da Agricultura, em Paris.
Pós 25 de Abril
[editar | editar código-fonte]Atividades armadas
[editar | editar código-fonte]No pós 25-de Abril, as atividades armadas da LUAR estiveram em ponto morto.[4]
É, apesar disso, acusada por fontes, ainda hoje obscuras, de estar envolvida na Operação "Matança de Páscoa", suposta operação militar de preparação de um golpe de estado em Portugal que envolveria o assassínio de centenas de personalidades contrárias a Moscovo. Levará à precipitação da Intentona de 11 de Março por António Spínola e seus aliados.[5]
Não há qualquer indicação desse rumor da "matança" ser verdadeiro, sendo contrária à limitada violência da LUAR.[6] Vasco Lourenço sugere que possam ter sido os serviços secretos americanos ou russos para se livrarem de Spínola.[7]
Atividades políticas
[editar | editar código-fonte]No seguimento do Verão Quente, a 25 de Agosto de 1975 a LUAR junta-se na Frente de Unidade Popular com outros partidos de esquerda com o objetivo de apoiar o V Governo Provisório de Vasco Gonçalves e em oposição à contestação liderada pelo Partido Socialista. Com a saída do PCP a 28 de Agosto, o movimento será denominado de Frente de Unidade Revolucionária (FUR). A FUR inclui ainda MDP/CDE, MES, FSP - Frente Socialista Popular, LCI, e PRP/BR. Com a demissão do governo a 6 de Setembro, a FUR dissolve-se.
A LUAR dissolve-se em 1976.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Notas
- ↑ Segundo o site da Pordata, em 1967 a quantia de 29 mil contos ou 29 000 000 escudos, equivale a 10 235 393 euros. Trata-se de transformar os valores a preços correntes (ou nominais, com inflação) de um determinado ano em valores a preços constantes (reais, sem inflação) de 2020.
Referências
[editar | editar código-fonte]Citações
- ↑ «Página de "25 de Abril"». Consultado em 30 de março de 2016. Arquivado do original em 9 de abril de 2016
- ↑ a b c «Em directo da redacção - Fundador da LUAR conta tempos de resistência armada à ditadura». RFI. 12 de março de 2024. Consultado em 20 de outubro de 2024
- ↑ a b c José Hipólito Santos (2011) Felizmente houve a LUAR. Âncora Editora.
- ↑ António Almeida Santos (2000) Quase Retratos. Notícias Editorial, Lisboa)
- ↑ «Boletim Informativo do Movimento das Forças Armadas» (PDF). Rua das Trinas, nº 49, Lisboa: Instituto Hidrográfico. Boletim Informativo do Movimento das Forças Armadas (16). 23 de abril de 1975
- ↑ Noronha, Ricardo (2016). «Anatomia de um golpe de estado fracassado». Ler História: 71–87. ISSN 0870-6182. doi:10.4000/lerhistoria.2487. Consultado em 1 de dezembro de 2024
- ↑ Carvalho, Miguel (2017). Quando Portugal ardeu. Histórias e segredos da violência política no pós-25 de Abril. [S.l.]: Oficina do Livro
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Ferreira, Ana (2015). «Luta Armada em Portugal (1970-1974)» (PDF). NOVA FCSH. Cópia arquivada (PDF) em 20 de março de 2020
- Fernando Pereira Marques (2024) O Desejo de Revolução. Materiais para a história do PREC. Ephemera. Tinta da China.
- José Hipólito Santos (2011) Felizmente houve a LUAR. Âncora Editora.