Luislinda Valois – Wikipédia, a enciclopédia livre
Luislinda Valois | |
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11.ª Ministra dos Direitos Humanos do Brasil | |
Período | 3 de fevereiro de 2017 a 19 de fevereiro de 2018 |
Presidente | Michel Temer |
Antecessor(a) | Nilma Lino Gomes |
Sucessor(a) | Gustavo do Vale Rocha |
Secretária de Promoção da Igualdade Racial do Brasil | |
Período | 13 de junho de 2016 a 2 de fevereiro de 2017 |
Ministro da Justiça | Alexandre de Moraes |
Dados pessoais | |
Nome completo | Luislinda Dias de Valois Santos |
Nascimento | 20 de janeiro de 1942 (82 anos) Salvador, BA, Brasil |
Nacionalidade | brasileira |
Alma mater | Universidade Católica do Salvador |
Prêmio(s) | |
Filhos(as) | 1 |
Partido | PSDB (2013–2017) |
Religião | Candomblé |
Ocupação | desembargadora, jurista e política |
Luislinda Dias de Valois Santos GCRB · GCMD (Salvador, 20 de janeiro de 1942) é uma jurista, magistrada e política brasileira. É desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) e foi ministra dos Direitos Humanos do Brasil.[3][4]
Foi filiada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) de 2013 até 2017[5] e disputou eleição para deputada federal, pela Bahia, em 2014.
Tendo ingressado na magistratura, em 1984, e se aposentado, em 2011, foi a terceira juíza negra da Bahia.[nota 1]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Filha de seu Luiz, um motorneiro de bonde e de dona Lindaura, uma passadeira e lavadeira e neta de escravo, sofreu ainda na infância o preconceito racial, circunstância que lhe inspirou a buscar a judicatura. Relata que um professor solicitou a compra de material de desenho, tendo o pai de Luislinda adquirido material precário. À vista do material, o professor teria dito: "Menina, deixe de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa dos brancos". Ela chorou, mas teria lhe respondido: "Vou é ser juíza e lhe prender".[6]
Carreira Jurídica
[editar | editar código-fonte]Estudou Teatro e Filosofia antes de se formar em Direito na Universidade Católica do Salvador (UCSAL).[6]
Foi procuradora-geral do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), hoje Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e mais tarde passou em primeiro lugar num concurso para a Advocacia-Geral da União (AGU).[6]
Tornou-se juíza de direito em 1984, adotando o uso de colares de candomblé em suas audiências.[6] Foi autora da primeira sentença de condenação por racismo no país, em 1993.[4][7] Criou, em 2003, o projeto "Balcão de Justiça e Cidadania", para resolução de conflitos em áreas pobres de Salvador.
Em 2009, publicou o livro O negro no século XXI.[4] Em 2011, foi promovida, por antiguidade, a desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), aposentando-se alguns meses depois.[4][8] No mesmo ano é premiada com a Camélia da Liberdade, em reconhecimento a personalidades que promovem ações de inclusão social de afrodescendentes.
Carreira Política
[editar | editar código-fonte]Eleições de 2014
[editar | editar código-fonte]Em 2013, entrou na carreira política, filiando-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).[9] Candidatou-se a deputada federal pela Bahia nas eleições de 2014, mas não logrou êxito.[10] Após as eleições, Luislinda passou a ser utilizada como ícone da imagem de promoção da igualdade racial pelos tucanos, tendo em vista seu histórico na militância contra o racismo e a intolerância religiosa no Brasil.[11] Apoiou Aécio Neves no primeiro e no segundo turno.
Ministra dos Direitos Humanos
[editar | editar código-fonte]No Governo Michel Temer, foi indicada em junho de 2016 para ocupar a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, estrutura subordinada ao Ministério da Justiça. No dia 2 de fevereiro de 2017, foi anunciada ministra dos Direitos Humanos,[12][13] tomando posse no cargo no dia seguinte.[14]
A atuação de Luislinda no ministério dos Direitos Humanos serviu para melhorar a imagem do governo que, no início, não tinha nenhuma mulher e nenhuma pessoa negra ocupando ministérios. Em março de 2017, a ministra solicitou ao Supremo Tribunal Federal que todas as gestantes e mãe de filhos pequenos possam converter a prisão provisória para a prisão domiciliar, assim como foi concedida à ex-primeira dama do Rio de Janeiro, Adriana Ancelmo.[15] Essa reivindicação elevou a popularidade da ministra perante os movimentos negros e feministas, que demandavam por tais medidas.
Ao longo da carreira, recebeu diversos prêmios, alguns relacionados aos projetos que criou.[4][16]
Desfiliação do PSDB e saída do governo
[editar | editar código-fonte]Em dezembro de 2017, Luislinda se desfiliou do PSDB por conta da evasão do partido dos ministérios do governo. Os ministros tucanos da Secretaria de Governo do Brasil e do Ministério das Cidades já haviam pedido demissão, sobrando apenas o ministro das relações exteriores, Aloysio Nunes.[17] O PRB solicitou a ocupação do ministério por conta da falta de apoio do PSDB da Câmara nas denúncias contra o presidente. A indicação feita pelo PRB foi a da deputada federal Tia Eron, membro da bancada evangélica.[18] Por fim, Luislinda também entregou o cargo em 19 de fevereiro de 2018,[19] sendo sucedida pelo advogado Gustavo do Vale Rocha.
Controvérsias
[editar | editar código-fonte]Solicitação de acúmulo de salário
[editar | editar código-fonte]No final de outubro de 2017, Luislinda protocolou um requerimento à Casa Civil pedindo acumulação integral do salário de desembargadora aposentada, de R$ 30.471, com o de ministra, de R$ 30.934, o que totalizaria um salário mensal de R$ 61.405. Segundo a lei do teto do funcionalismo público, o salário máximo de um servidor é de R$ 33,7 mil, valor recebido pelos ministros do Supremo Tribunal Federal – por isso, seu salário à época não tinha acumulação integral, ficando no teto de R$ 33,7 mil, além dos direitos inerentes ao cargo como moradia em apartamento funcional, veículo com motorista e viagens de avião pela Força Aérea Brasileira. Na justificativa de seu requerimento, Luislinda alegou que "quem trabalha sem receber é escravo", e que o cargo lhe impõe custos como "se vestir com dignidade" e "usar maquiagem". Diante da repercussão negativa do episódio, Luislinda desistiu do requerimento no início de novembro.[20][21][22] Apesar disso, em 2020, o STF determinou que a ex-desembargadora receba o valor de R$ 490.000,00, pela União, por abate do teto constitucional.[23]
Preta, pobre e da periferia
[editar | editar código-fonte]Em novembro de 2017, Luislinda usou a referência de "preta, pobre e da periferia" para se descrever em um evento no Rio de Janeiro onde anunciaria o investimento de 157 milhões nos programas sociais do estado. Porém, a repercussão deu-se de forma negativa, pois há menos de um mês a ministra reivindicou um salário de R$ 61.405, acumulando aposentadoria e salário de ministra, além de ter um padrão de vida luxuoso por ter sido juíza e desembargadora.[24]
Primeira juíza negra do Brasil
[editar | editar código-fonte]Luislinda entrou para a magistratura em 1984. Sendo assim, a repercussão de ter sido a primeira juíza negra do Brasil serviu de promoção para a imagem do governo federal. No entanto, uma magistrada aposentada chamada Mary de Aguiar Silva reclamou o título para si, pois seu ingresso na magistratura ocorreu em 1962. Em 2010, o TJ-BA fez uma sessão solene para homenagear as magistradas negras do Estado e Luislinda aparecia como a terceira na cronologia.[25] Apesar do evento, Luislinda continuou usando o título de primeira juíza negra em programas de televisão, além de ter usado tal título para fazer propaganda do governo da Bahia em 2013 e no Planalto como ministra.
Notas
- ↑ Segundo o TJ-BA, Luislinda Valois foi a terceira magistrada negra no Estado da Bahia, depois de Mary de Aguiar Silva, nomeada em 1962, e Alexandrina de Almeida Santos, nomeada em 1967.[4][6]
Referências
- ↑ «Decreto presidencial de 19 de abril de 2017». Imprensa Nacional (pdf). Consultado em 2 de outubro de 2020
- ↑ «Decreto presidencial de 6 de junho de 2017». Imprensa Nacional (pdf). Consultado em 2 de outubro de 2020
- ↑ «Justificativa ao Projeto de Lei 63/2011» (PDF). Câmara Municipal de São Paulo. 2011. Consultado em 22 de novembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 7 de novembro de 2017
- ↑ a b c d e f Marques, José (12 de fevereiro de 2017). «Magistrada aposentada reivindica título de primeira juíza negra do país». Folha de S.Paulo. Consultado em 22 de novembro de 2017
- ↑ «Luislinda Valois não é mais do PSDB e deve ser substituída no Ministério dos Direitos Humanos - Política - Estadão». Estadão
- ↑ a b c d e «Luislinda, a Iansã de toga». Yahoo. Consultado em 1 de julho de 2015. Arquivado do original em 6 de julho de 2015.
- ↑ «Mais sobre Luislinda Valois dos Santos» (PDF). sindjus. Consultado em 22 de novembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016
- ↑ «Após oito anos de espera, Luislinda Valois é nomeada desembargadora». G1. 19 de dezembro de 2011. Consultado em 22 de novembro de 2017
- ↑ «Luislinda Valois, primeira juíza negra do Brasil, filia-se ao PSDB». PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira. 3 de outubro de 2013. Consultado em 22 de novembro de 2017
- ↑ «Luislinda Valois 4533». Eleições 2014
- ↑ «Propaganda do PSDB esconde Doria e apresenta Luislinda Valois». Poder360. 11 de maio de 2017
- ↑ «Após críticas, Temer escolhe desembargadora negra para secretaria». Notícias ao Minuto Brasil. 4 de junho de 2016. Consultado em 22 de novembro de 2017
- ↑ Amaral, Luciana (2 de fevereiro de 2017). «Planalto anuncia nomeação de Imbassahy e novo Ministério dos Direitos Humanos». G1
- ↑ «Luislinda Valois toma posse no novo Ministério dos Direitos Humanos». G1. 3 de fevereiro de 2017
- ↑ «GaúchaZH». gauchazh.clicrbs.com.br. Consultado em 15 de dezembro de 2017
- ↑ Rossetto, Marcela (28 de junho de 2013). «Mulher, negra e juíza». Revista Visão Jurídica
- ↑ «Ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois se desfilia do PSDB». G1
- ↑ «PRB quer Tia Eron no lugar de Luislinda no Ministério dos Direitos Humanos». O Globo. 16 de novembro de 2017
- ↑ «Luislinda Valois entrega cargo de ministra dos Direitos Humanos». G1. 19 de fevereiro de 2018. Consultado em 2 de março de 2018
- ↑ Matais, Andreza; Trindade, Naira (2 de novembro de 2017). «Ministra diz que precisa ganhar mais porque cargo exige roupa, maquiagem e mais despesas». Coluna do Estadão. Consultado em 22 de novembro de 2017
- ↑ Ramalho, Renan (2 de novembro de 2017). «Ministério diz em nota que Luislinda Valois desistiu de reivindicar salário de R$ 61 mil». G1. Consultado em 22 de novembro de 2017
- ↑ Lewgoy, Júlia (2 de novembro de 2017). «Ministra cita escravidão e pede salário de R$ 61 mil ao governo». exame.abril.com.br. EXAME. Consultado em 23 de novembro de 2017
- ↑ Cardozo, Cláudia. «STF manda União ressarcir Luislinda Valois em R$ 490 mil por abate de teto constitucional». www.bahianoticias.com.br. Consultado em 20 de junho de 2020
- ↑ «Ministra Luislinda diz que é 'pobre' e da 'periferia'». O Globo. 13 de novembro de 2017
- ↑ «Magistrada aposentada reivindica título de primeira juíza negra do país». Folha de S.Paulo
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