Música barroca – Wikipédia, a enciclopédia livre

Música barroca é toda música ocidental correlacionada com a época cultural homônima na Europa, que vai desde o surgimento da ópera por Claudio Monteverdi no século XVII, até a morte de Johann Sebastian Bach, em 1750.[1]

Trata-se de uma das épocas musicais de maior extensão, fecunda, revolucionária e importante da música ocidental, e provavelmente também a mais influente. As características mais importantes são o uso do baixo contínuo, do desejo e da harmonia tonal, em oposição aos modos gregorianos até então vigente. Na realidade, trata-se do aproveitamento de dois modos: o modo jônico (modo "maior") e o modo eólio (modo "menor").

Do Período Barroco na música surgiu o desenvolvimento tonal, como os tons dissonantes por dentro das escalas diatônicas como fundação para as modulações dentro de uma mesma peça musical; enquanto em períodos anteriores, usava-se um único modo para uma composição inteira causando um fluir incidentalmente consonante e homogêneo da polifonia. Durante a música barroca, os compositores e intérpretes usaram ornamentação musical mais elaboradas e ao máximo, nunca usada tanto antes ou mais tarde noutros períodos, para elaborar suas ideias; fizeram mudanças indispensáveis na notação musical, e desenvolveram técnicas novas instrumentais, assim como novos instrumentos. A música, no Barroco, expandiu em tamanho, variedade e complexidade de performance instrumental da época, além de também estabelecer inúmeras formas musicais novas. Inúmeros termos e conceitos deste Período ainda são usados até hoje.

O apogeu da música instrumental

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Pela primeira vez na história, música e instrumento estão em perfeita igualdade. Nesse período a instrumentação atinge sua primeira maturidade e grande florescimento. Pela primeira vez surgem gêneros musicais puramente instrumentais, como a suíte e o concerto. Nesta época surge também o virtuosismo, que explorar instrumento musical... Johann Sebastian Bach e Dietrich Buxtehude foram os maiores virtuoses do órgão. Jean-Philippe Rameau, Domenico Scarlatti e François Couperin eram virtuoses do cravo. Antonio Vivaldi e Arcangelo Corelli eram virtuoses no violino.

A época das orquestras de câmara

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O barroco foi a época de máximo desenvolvimento de instrumentos como o cravo e o órgão, mas também surgiram várias peças para grupos pequenos de instrumentos, que iam de três até nove instrumentistas.

Início do Barroco (c. 1580 — c. 1630)

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Muitas das inovações associadas com a música Barroca foram estimuladas por um desejo contínuo, já evidente durante o Renascimento, de recuperar a música da antiguidade clássica. Os grego antigos haviam escrito repetidamente sobre os poderes da música de incitar paixões nos ouvintes. Entretanto, os poucos manuscritos de música Grega antiga conhecidos na época eram pouco compreendidas, o que permitiu muita especulação sobre a sua natureza. Ao final do século XVI, um grupo de poetas, músicos e nobres, entre eles Vincenzo Galilei, Giulio Caccini e Ottavio Rinuccini, passaram a se reuinir na casa do Conde de Vernio (Giovanni de' Bardi) em Florença, com a finalidade de discutir assuntos relacionados às artes, e em especial a tentativa de recriar o estilo de canto dos dramas Gregos antigos.

Dos encontros da Camerata Fiorentina, como este grupo passou a ser conhecido, surgiu um estilo musical que estabelecia que o discurso era o aspecto mais importante na música. O ritmo da música deveria ser derivado da fala, e todos elementos musicais contribuiam para descrever o afeto representado no texto, sistematizando-se a chamada doutrina dos afetos, de grande influência para o desenvolvimento da música barroca. Portanto, este estilo, que logo foi conhecido como seconda pratica para contrastar com a polifonia renascentista tradicional ou prima pratica, era composto por uma única parte vocal acompanhada por uma parte instrumental.

Esse acompanhamento era chamado de baixo contínuo, e consistia de uma única melodia anotada, sobre a qual um grupo de instrumentos adicionavam as notas necessárias para preencher a harmonia implícita no baixo, frequentemente assinaladas através de cifras indicando os intervalos apropriados. O baixo continuo estabeleceu uma polaridade entre os registros extremos: a melodia aguda e o linha do baixo eram os elementos essenciais, e as partes intermediárias eram deixadas ao gosto dos intérpretes. Nos anos 1630, esta combinação passou a ser designada pelo termo monodia, um estilo que se encontra entre a fala e o canto. Essa flexibilidade permitiu que os solistas ornamentassem as melodias livremente sem precisar se preocupar com regras de contraponto, permitindo assim que demonstrarem suas habilidades virtuosísticas. Para tirar máximo proveito da capacidade de cada instrumento ou da voz, os compositores começaram a desenvolver escritas idiomáticas para cada meio, ao contrário da música renascentista onde as partes poderiam ser executadas intercambiavelmente com instrumentos ou com voz ou com a boca

Não é possível dizer que o início do Barroco já apresentava um sistema tonal definido, porém se observa uma preferência gradual pelas escalas diatônicas maiores ou menores, e um maior senso de centro de atração tonal. A emergência da seconda pratica não significou que a tradição polifônica havia sido suplantada; ambos estilos coexistiram por todo o período barroco. Claudio Monteverdi publicou madrigais escritos em ambas práticas, e a mesma flexibilidade na escrita também teve lugar na air de cour francesa.

A monodia, combinada com a nova técnica do recitativo, finalmente permitiu aos compositores escrever uma ópera, ou seja, um drama cantado do início ao fim. A ópera L'Orfeo de Monteverdi de 1607 é usualmente considerada a primeira obra a combinar música e drama satisfatoriamente. Na Alemanha, Heinrich Schütz adaptou as novas técnicas para alguns de seus motetos sacros policorais, e foi o compositor da primeira ópera alemã, Dafne (1627).

A maior parte da música instrumental publicada nesta época são as suítes de danças em vários movimentos e as variações sobre transcrições de obras vocais (geralmente intituladas canzonas, partitas ou sonatas) ou sobre baixos ostinatos (chacona ou passacaglia). Gêneros livres, como a fantasia e a tocata para instrumentos de teclado também faziam parte destas coleções.

Particularidades do estilo barroco

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Desenvolvimento extenso do uso da polifonia e contraponto. Os acordes tem uma ordem hierárquica em suas progressões tonais, tanto funcional como cadencial.[2] que definem a tonalidade progressiva do barroco musical. A harmonia era acompanhada e definida pelo basso continuo criando uma necessidade do intérprete de ser um virtuoso na arte do período para não deixar a musicalidade se desviar do aspecto tonal da época - visto que quase sempre o basso continuo não era escrito e chamava pela improvisação, dando então o dom de virtuosidade a quem melhor improvisasse.
O contraponto era intenso, especialmente na forma de tema e variação. A modulação tonal na música barroca é freqüente. Devido a incapacidade física de um cravo prover dinâmicas variadas a arte da música barroca voltava a habilidade da performance em termos de articulação. Entre outras particularidades dos estilos desenvolvidos na música barroca, incluem-se:

  • Monodia;
  • homofonia com uma voz diferente cantando por cima do acompanhamento, como nas árias italianas;
  • Expressões mais dramáticas, como na ópera.
  • Combinações de Instrumentações e vozes mais variadas em conjunto a oratórios e cantatas
  • Notes inégales (Francês para "notas desiguais") usadas. Técnica barroca que envolvia o uso de notas pontuadas que eram usadas para substituir notas não pontuadas, dentro de um mesmo tempo que alternavam entre duração de valores longos e curtos;
  • a ária (curta peça cantada em uma cantata, ou instrumental na suíte);
  • o Ritornello (símbolo que significa o retorno a certo trecho da música);
  • o concertante (o estilo que contrasta entre a orquestra e os instrumentos solo, ou pequeno grupo de instrumentistas);
  • instrumentação precisa anotada (no período anterior, a Renascença, a partitura raramente listava os instrumentos);
  • Escrita Idiomática (Linha melódica escrita para um instrumento específico)
  • Notação musical para interpretação virtuosa, tanto instrumental como vocal
  • ornamentação
  • Desenvolvimento profuso na tonalidade da música ocidental (escala maior e menor)
  • cadenza, uma seção ad lib nas cadências das partituras para o virtuoso improvisar.

Compositores barrocos escreveram em diversos gêneros musicais; incluem-se diversos estilos inovadores para a época. A ópera foi inventada na Renascença, mas foi no Barroco que Alessandro Scarlatti, Handel e outros desenvolveram grandes obras. O oratório chegou a grande popularidade com Bach e Handel; ambos a opera e o oratório usavam forma musical semelhantes, tal como o uso da ária da capo.

Na música litúrgica, a Missa e os motetos não foram tão importantes, mas a cantata prosperou, principalmente nos trabalhos de Bach e outros compositores protestantes. Música para o organista virtuoso floriu, com o uso das tocatas, fugas, e outros trabalhos.

Sonatas instrumentais e suítes para dança foram escritas para instrumentos individuais, para grupos de música de câmara, e pequenas orquestras. O concerto emergiu, tanto na forma para o intérprete solista como para orquestra, assim como o concerto groso qual um grupo pequeno de solistas criam simultaneamente um contraste com um grupo maior que intercalam suas partes com perguntas e respostas do diálogo melódico. A Abertura francesa com o seu típico contraste de seções rápidas e outras lentas, adicionaram grandeza a muitas cortes nas quais eram apresentadas.

As obras para teclado eram algumas vezes escritas para grupos maiores. Novamente, existe um grande número de obras de Bach escrita tanto para os instrumentos solo, como concertos e o mesmo tema se apresenta em arranjos de concerto para orquestra, ou suíte. Grandes trabalhos de Bach que culminaram na música da Idade Barroca inclui: O Cravo Bem Temperado, as Variações Goldberg, e a Arte da Fuga.

O barroco alemão iniciou-se com Heinrich Schütz (1585-1672), considerado o "pai da música alemã". Johann Hermann Schein (1586-1630), Samuel Scheidt (1587-1654) e Michael Praetorius (1571-1621), contemporâneos de Heinrich Schütz, também são bastante notáveis nessa época.

Na primeira metade do século XVIII, destacaram-se Johann Sebastian Bach, Georg Friedrich Händel e Georg Phillipp Telemann, seguidos por Johann Pachelbel, Johann Jakob Froberger e Georg Muffat.

Diz-se que Johann Sebastian Bach foi o maior compositor do barroco alemão (e um dos mais importantes da história da música), por ter esgotado todas as possibilidades da música barroca. Sua morte é considerada como o ponto final do Período Barroco.

Na Itália, o nome mais destacado foi Antonio Vivaldi, autor de numerosos concertos, óperas e oratórios. A ele é atribuída a composição da série de concertos As Quatro Estações, provavelmente a mais difundida de todas as peças desse período. Foi o responsável por estabelecer definitivamente a forma do concerto, que continua a ser composta até os dias atuais.

Claudio Monteverdi foi considerado o "pai da ópera". A ele é atribuído o mérito de ter introduzido e popularizado o gênero, que já vinha sendo desenvolvido desde Jacopo Peri, com as obras Dafne e Euridice. Monteverdi também é o autor da ópera mais antiga ainda hoje representada: L'Orfeo, obra que conta a história do amor proibido de dois seres.

Outros compositores do barroco italiano foram Arcangelo Corelli e Domenico Scarlatti – este último, o maior expoente da música para cravo desse período.

A tradição musical do barroco francês deu-se principalmente com Juvens St Louis, que introduziu a ópera francesa, e Jean-Philippe Rameau, que desenvolveu obras para cravo. Outro compositor importante do período foi François Couperin, autor de peças musicais sacras.

Portugal e Brasil

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No Brasil, Antônio José da Silva, o Judeu, escreveu notáveis obras posteriormente musicadas por Antonio Teixeira, com quem trabalhou em óperas como "As variedades de Proteu", quando se encontrava em Portugal.

Em Portugal, também Francisco António de Almeida e João Rodrigues Esteves trabalharam no domínio da Ópera e das obras vocais. Carlos Seixas destacou-se no campo da literatura para tecla, com mais de 700 sonatas, inovando também no reportório orquestral, com uma "Abertura em Ré Maior" em estilo francês, uma "Sinfonia em Si bemol Maior" em estilo italiano e um "Concerto para cravo e orquestra em Lá Maior", um dos primeiros exemplares do género na Europa e um contributo original para o desenvolvimento do Barroco.

Linha do tempo

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Ver artigo principal: Compositores do Barroco

Esta é uma linha do tempo com os principais e mais influentes compositores barrocos, separados por período e estética musical.

Giovanni Battista PergolesiAntónio TeixeiraBaldassare GaluppiCarlos SeixasFrancisco António de AlmeidaJohann Adolf HasseJohann Joachim QuantzPietro LocatelliGiuseppe TartiniJohann Friedrich FaschFrancesco GeminianiSilvius Leopold WeissGeorge Frideric HandelDomenico ScarlattiJohann Sebastian BachJean-Philippe RameauGeorg Philipp TelemannJan Dismas ZelenkaAntonio VivaldiTomaso AlbinoniJohann Caspar Ferdinand FischerFrancois CouperinAlessandro ScarlattiHenry PurcellMarin MaraisArcangelo CorelliJohann PachelbelHeinrich Ignaz BiberDiogo Dias MelgásDieterich BuxtehudeMarc Antoine CharpentierJean-Baptiste LullyLouis CouperinJohann Jakob FrobergerHenri DumontGiacomo CarissimiSamuel ScheidtHeinrich SchützGirolamo FrescobaldiGregorio AllegriClaudio MonteverdiJan Pieterszoon SweelinckJacopo Peri

Principais compositores do período barroco

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Orquestras e grupos barrocos na atualidade

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Referências

  1. Palisca 2001.
  2. Estas progressões tonais mudam do costumário medieval e renascentista I, iii, vi, V, para o Barroco, I, IV, V, ii, V, IV, I