Maria Eugénia Varela Gomes – Wikipédia, a enciclopédia livre

Maria Eugénia Varela Gomes
Nascimento 1925
Évora
Morte 22 de Novembro de 2016
Nacionalidade português
Ocupação Activista política e assistente social

Maria Eugénia de Bilnstein Sequeira Varela Gomes (Évora, 1925 - 22 de Novembro de 2016), foi uma activista política e assistente social, que se destacou pelos seus esforços contra o regime ditatorial português, sendo considerada uma importante figura pela defesa dos direitos dos presos políticos durante aquele período.[1] Esteve casada com o capitão João Varela Gomes, que participou na tentativa de revolução falhada em 31 de Dezembro de 1961.[1]

Nascimento e educação

[editar | editar código-fonte]

Nasceu na cidade de Évora, em 1925, numa família de tendências conservadoras, estando o seu pai integrado nas forças armadas.[1] Foi educada num ambiente católico, tendo frequentado o Colégio do Sagrado Coração de Jesus.[1]

Carreira profissional e activismo político

[editar | editar código-fonte]

Integrou-se no Instituto de Serviço Social, tendo sido como assistente social que se envolveu no meio operário, na Década de 1950.[2] Trabalhou junto da fábrica de cortiça da Mundet, no Seixal e posteriormente no Bairro da Boavista, em Lisboa, onde testemunhou os graves problemas sociais e económicos entre os habitantes dos bairros da lata.[2]

Iniciou as suas actividades políticas como apoiante do padre Abel Varzim, que estava a ser alvo de perseguições devido aos seus esforços contra a pobreza.[3] Maria Varela Gomes liderou uma representação ao Cardeal Cerejeira, de forma a pedir a sua intervenção a favor do padre Abel Varzim.[3] Porém, apesar do Cardeal ter recebido a delegação, acabou por não apoiar o padre.[3] Em 1951, casou com o capitão João Varela Gomes,[2] tendo o casal tido dois filhos e duas filhas.[1] Em 1956, começou a trabalhar no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde ficou à frente do Serviço Social, mas foi forçada a abandonar o seu emprego apenas dois anos depois, devido aos seus ideais políticos.[2]

Em 1958 colaborou na campanha eleitoral de Humberto Delgado, e esteve envolvida na revolta falhada da Sé, em 11 de Março de 1959,[2] motivo pelo qual foi alvo de uma investigação, mas não chegou a ser presa.[1] Em 1961 colaborou na campanha eleitoral para a Assembleia Nacional, durante a qual Varela Gomes foi o único militar no activo que se assumiu como candidato pela oposição, tendo também considerado a principal figura da resistência ao regime.[1]

Na noite de 31 de Dezembro de 1961 para 1 de Janeiro de 1962, João Gomes comandou as forças revoltosas durante uma tentativa falhada de golpe em Beja.[1] Ao saber que o seu marido tinha ficado gravemente ferido durante a intentona, Maria Eugénia partiu para Beja, mas regressou a Lisboa quando foi informada pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado.[1] Porém, quando chegou à capital, Maria Eugénia descobriu que tinha sido enganada e foi novamente para Beja, onde foi detida e transportada para Lisboa,[1] em 6 de Janeiro, acusada de estar envolvida no golpe falhado.[2] Entretanto, João Varela Gomes já tinha sido submetido a uma operação e estava a recuperar, tendo sido autorizado pela polícia política a manter correspondência com a sua esposa, embora fortemente censurada.[1]

Maria Eugénia foi então interrogada e torturada, incluindo um longo período de tortura do sono, tendo conseguido resistir com sucesso aos agentes da polícia política.[1] Depois de cerca de dois anos e meio de prisão[1] no Forte de Caxias, foi libertada em 27 de Junho de 1963, devido à falta de provas e por não ter confessado,[2] antes do seu julgamento, que só realizou em 1964.[1] Por seu turno, João Varela Gomes foi condenado a seis anos de cadeia, só tendo sido solto em 1968.[1]

Nos quatro anos após a sua libertação, Maria Eugénia integrou-se na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, à qual deu um grande impulso, começando igualmente a colaborar com a Amnistia Internacional.[3] Também fez parte da Frente Patriótica de Libertação Nacional, como parte de uma célula que também incluía Jorge Sampaio e Etelvina Lopes de Almeida.[2] Também travou conhecimento com outros importantes personalidades do movimento revolucionário, como Virgínia Moura, Manuel Sertório, Álvaro Cunhal, Ramos de Almeida e Sérgio Vilarigues.[2] Assumiu uma posição de destaque dentro do sindicalismo, e em 1973 fez parte da campanha eleitoral, tendo sido espancada pela polícia de choque após o final de um comício.[2]

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, Maria Eugénia começou a colaborar com vários advogados e membros da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, no sentido de impulsionar a libertação dos presos políticos, e o apoio aos refugiados por motivos políticos, tendo estado envolvida na libertação dos presos de Caxias.[2] Recusou as compensações financeiras às quais tinha direito, devido à perseguição a que tinha sujeita pelo regime ditatorial, e devido ao seu despedimento compulsivo da BP e do Hospital de Santa Maria.[3]

João Varela Gomes participou na golpe falhado de 25 de Novembro de 1975, na sequência do qual foi alvo de um mandato de captura.[1] Assim, refugiou-se em Angola, para onde Maria Varela Gomes partiu nos princípios de 1976.[1] O casal permaneceu em Luanda até 1977, tendo fugido daquele país devido à repressão política instituída pelo presidente Agostinho Neto, na sequência de um golpe militar falhado de 27 de Maio.[1] Estiveram em Moçambique até a Lei da Amnistia ter sido aprovada pela Assembleia da República Portuguesa, tendo nessa altura regressado a Lisboa.[1]

Família e falecimento

[editar | editar código-fonte]

Em 1998 o casal perdeu um dos filhos, João António, e em Abril de 2016 faleceu o outro filho, o escritor Paulo Varela Gomes.[1]

Maria Eugénia Varela Gomes faleceu em 22 de Novembro de 2016, aos 90 anos de idade.[1] O velório foi organizado na Basílica da Estrela, em Lisboa, tendo o corpo sido depois cremado no Cemitério do Alto de São João.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v «Lisboa: Morreu Maria Eugénia Varela Gomes. Esposa do Capitão Varela Gomes.». Lidador Notícias. 22 de Novembro de 2016. Consultado em 26 de Junho de 2020 
  2. a b c d e f g h i j k CARRAPATOSO, Miguel Santos (21 de Novembro de 2016). «Morreu Maria Eugénia Varela Gomes, a "mãe coragem" do antifascismo». Observador. Consultado em 26 de Junho de 2020 
  3. a b c d e «Morreu Maria Eugénia Varela Gomes». Rádio Televisão Portuguesa. 22 de Novembro de 2016. Consultado em 26 de Junho de 2020 

Ligações Externas

[editar | editar código-fonte]
Ícone de esboço Este artigo sobre um(a) político(a) é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.