Moxabustão – Wikipédia, a enciclopédia livre

A acupuntura e a moxabustão da medicina tradicional chinesa
Património Cultural Imaterial da Humanidade

Aplicação de Moxa, ilustração de origem japonesa livro de Banshō myōhōshū (万象妙法集, 1853)
País(es)  China
Domínios Conhecimentos e usos relacionados com a natureza e o universo
Critérios R1, R2, R3, R4, R5
Referência en fr es
Região Ásia e Pacífico
Inscrição 2010 (5.ª sessão)
Lista Representativa

Moxabustão[1][2][nota 1] (também grafada moxibustão[3][4] [nota 2]) é uma espécie de acupuntura térmica, feita pela combustão da erva Artemisia sinensis e Artemisia vulgaris.

É uma técnica terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa. Baseia-se nos mesmos princípios e conhecimento dos meridianos de energia trabalhados na acupuntura, sendo amplamente utilizada nos sistemas de medicina tradicional da China, Japão, Coreia, Vietnã, Tibete, e Mongólia.

Pressupõe-se que a moxabustão trate e previna doenças, através da aplicação de calor em pontos e/ou em certas regiões do corpo humano.[5]

Desde 2010 que a acupuntura e a moxabustão estão classificadas pela UNESCO na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade[6]

Provém da aglutinação dos termos «moxa»[7][8][nota 3] e «combustão», com elisão do prefixo -com.[1]

A moxa[8] é o cone ou bastonete de algodão, misturado com substâncias vegetais, (tradicionalmente as já sobreditas artemísia-vulgar ou a artemísia-chinesa), que são queimadas e usadas com fins terapêuticos no ensejo da medicina tradicional chinesa, nomeadamente através da cauterização da pele.

A palavra «moxa», por seu turno, resulta do aportuguesamento do étimo japonês, mókusa, por seu turno uma aglutinação dos étimos moe kusa, que significam «erva para queimar».[8][7]

As primeiras referências ocidentais à moxabustão podem ser encontradas em cartas e relatórios escritos por missionários portugueses no Japão do século XVI. Eles a chamavam de "botão de fogo", uma expressão originalmente usada para ferros de cauterização ocidentais de cabeça redonda. Hermann Buschoff, que publicou o primeiro livro ocidental sobre o assunto em 1674, usou o termo japonês mókusa. Posteriormente, autores juntaram o termo "moxa" com o termo latino combustio ("queima").[9][10]

O nome da erva artemísia usada na moxabustão é ài ou àicǎo (艾, 艾草) em chinês[11] e yomogi (蓬) em japonês. Os nomes chineses para moxabustão são jiǔ (灸) e jiǔshù (灸術); os japoneses usam os mesmos caracteres e pronunciam kyū e kyūjutsu. Em coreano, a leitura é tteum (뜸). O folclore coreano atribui o desenvolvimento da moxabustão ao lendário imperador Dangun.[12]

O ideograma chinês para moxabustão compõe metade da palavra chinesa zhēnjiǔ, ou japonesa "shinkyu" (針灸), que é geralmente traduzida como "acupuntura" no ocidente.[carece de fontes?]

Teoria e prática

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A combustão da artemísia tem a propriedade de aquecer profundamente. A aplicação do calor produzido pela moxa nos pontos ou meridianos de acupuntura remove bloqueios de energia que obstruem o seu fluxo pelos meridianos. Ela também estimula a circulação suave de sangue no organismo. Alguns acreditam que ela elimine a umidade e o frio que promovem disfunções no organismo.[13] Também se acredita que ela tenha o poder de virar bebês que estão com posição invertida no útero.

Os praticantes alegam que a moxabustão é especialmente efetiva no tratamento de problemas crônicos, "condições de deficiência" e gerontologia. Bian Que (fl. circa 500 a.C.), um semilendário médico chinês da antiguidade e primeiro especialista em moxabustão, discutiu as vantagens da moxabustão sobre a acupuntura na sua obra clássica Bian Que Neijing. Ele afirmou que a moxabustão podia adicionar nova energia ao corpo e podia tratar tanto condições de excesso quanto de deficiência.

Os praticantes podem usar agulhas de acupuntura de vários materiais em combinação com a moxabustão.

Existem vários métodos de moxabustão. Três deles são: direto com cicatrização, direto sem cicatrização e moxabustão indireta. O primeiro coloca um pequeno cone de moxa sobre a pele, no acuponto, e queima até que a pele forme uma bolha. Posteriormente, ocorre a cicatrização do local.[14] O segundo método remove a moxa ardente da pele antes que ocorra lesão.[14] A moxabustão indireta mantém um charuto de moxa aceso próximo à pele de modo a aquecer o acuponto, ou coloca o charuto sobre uma agulha de acupuntura inserida no acuponto de modo modo a aquecê-la.[14]

Chuanwu lingji lu (Registro dos Ensinamentos Soberanos), de Zhang Youheng, foi um tratado de acumoxa completado em 1869. Ele apresentava várias ilustrações coloridas que mostravam os pontos onde a moxa podia ser aplicada para tratar as doenças.

O efeito do calor ou radiação infravermelha se soma à energia yang do corpo, potencializando esse aspecto (yang) da energia (chi), podendo inclusive ser conduzido até o seu extremo, ou seja, a transformação no aspecto oposto da energia (yin). O calor de um dia quente pode ser amenizado com xícara de chá.[carece de fontes?]

Na patologia chinesa, as doenças reumáticas são classificadas como doenças do frio, da tristeza e da umidade. O frio patogênico tem características Yin e consome o Qi (Chi) Yang. Predomina no inverno, assim como as doenças do frio. Pode ser causado por contração e estagnação ou por exposição ao frio após transpirar, ou ser apanhado pelo vento e chuva.[carece de fontes?]

A depleção do Yang pode ser percebida por: membros frios; palidez, diarreia com fragmentos de alimentos não digeridos nas fezes; urina límpida e abundante.[carece de fontes?]

A umidade predomina no final do verão, época de chuvas, torna-se susceptível aos seus efeitos patogênicos com o uso de roupas molhadas e/ou residência em locais úmidos, ou mesmo contatos frequentes (ocupacionais) com a água. Se caracteriza por indolência e estagnação além de sintomas como tontura, cansaço, opressão no peito e epigástrio, náusea, vômitos, viscosidade e sabor adocicados na boca. Doenças de pele, alergias, abcessos, úlceras gotosas, leucorreia de fluxo abundante são manifestações de seu poder patogênico. Como foi dito, pode se combinar com o frio ou calor.[carece de fontes?]

No ocidente, os efeitos da temperatura no corpo humano foram bastante estudados durante o final do século XIX e início do século XX consolidando-se no que é conhecido como hidroterapia ou termalismo. Atualmente, o tratamento com aplicação de calor (termoterapia) é administrado (geralmente com lâmpadas infravermelhas) por fisioterapeutas, embora ainda se utilizem saunas de vapor e banhos quentes. O ofurô, apesar de amplamente utilizado no Japão, aparentemente não integra o elenco das práticas médicas tradicionais da Ásia.[carece de fontes?]

Apesar da concepção de saúde-doença e tratamento da moxabustuão e acupuntura serem essencialmente semelhantes, não se aplica a moxabustão em todos os pontos de acupuntura. Kikuchi, em sua prática e seu livro sobre o tema, selecionou 78 pontos (tsubo em japonês) com indicação clínica e resultados empíricos de eficácia.[carece de fontes?]

Do ponto de vista ocidental, os efeitos da aplicação de calor são as alterações no comportamento metabólico/celular (elevação), circulatório (vaso-dilatação), na função nervosa (relaxamento muscular e sedação) Observe-se que, do ponto de vista da fisiologia chinesa, a energia yang corresponde à tonificação (aumento da taxa metabólica), e a diminuição da rigidez e espasmo favorecem o movimento e atividade.[carece de fontes?]

Bastão e cones pré-fabricados de artemísia para moxa

Efetividade e segurança

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A maior parte da pesquisa sobre moxabustão vem da China, e é geralmente de baixa qualidade.[15] Seus praticantes, no entanto, a veem como uma panaceia.[15]

Um artigo da Colaboração Cochrane encontrou evidências limitadas da efetividade da moxabustão no caso de bebês com posição invertida no útero, e pediu mais pesquisas sobre o tema.

A moxabustão também foi estudada no tratamento de dor,[16] câncer, acidente vascular cerebral,[17] colite ulcerosa,[18] obstipação[19] e hipertensão.[20] Artigos concluíram que tais estudos foram, no entanto, de baixa qualidade, com possível viés de publicação.[21]

A moxabustão tem o risco de efeitos adversos, incluindo queimadura e infecção.[15] Efeitos colaterais da moxabustão incluem náusea, irritação da garganta e dor abdominal proveniente de contrações.[22]

Referências

  1. a b S.A, Priberam Informática. «moxabustão». Dicionário Priberam. Consultado em 2 de dezembro de 2022 
  2. Infopédia. «moxabustão | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 2 de dezembro de 2022 
  3. S.A, Priberam Informática. «MOXIBUSTÃO». Dicionário Priberam. Consultado em 2 de dezembro de 2022 
  4. Infopédia. «moxibustão | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 2 de dezembro de 2022 
  5. Deng H, Shen X. The mechanism of moxibustion: ancient theory and modern research. Evid Based Complement Alternat Med. 2013;2013:379291. doi:10.1155/2013/379291
  6. UNESCO. «La acupuntura y la moxibustión de la medicina tradicional china». Consultado em 21 de janeiro de 2019 
  7. a b S.A, Priberam Informática. «moxa». Dicionário Priberam. Consultado em 2 de dezembro de 2022 
  8. a b c Infopédia. «moxa | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 2 de dezembro de 2022 
  9. Wolfgang Michel (2005). "Far Eastern Medicine in Seventeenth and Early Eighteenth Century Germany". Gengo Bunka Ronkyū 言語文化論究. Kyushu University, Faculty of Languages and Cultures. 20. [S.l.: s.n.] pp. 67–82. hdl:2324/2878. ISSN 1341-0032 
  10. Li Zhaoguo (2013). English Translation of Traditional Chinese Medicine: Theory and Practice. 上海三联书店. [S.l.: s.n.] 11 páginas. ISBN 978-7-5426-4084-0 
  11. Existem vários outros nomes em chinês, como bingtai 冰台、ecao 遏草、xiang'ai 香艾、qiai 蕲艾、aihao 艾蒿、jiucao 灸草﹑yicao 医草﹑huangcao 黄草﹑airong 艾绒
  12. Needham, J; Lu GD (2002). Celestial lancets: a history and rationale of acupuncture and moxa. [S.l.]: Routledge. 262 páginas. ISBN 0-7007-1458-8 
  13. «Moxibustion». Consultado em 20 de outubro de 2021 
  14. a b c «Moxibustion». Consultado em 20 de outubro de 2021 
  15. a b c Ernst E (2019). Alternative Medicine – A Critical Assessment of 150 Modalities. [S.l.]: Springer. pp. 182–183. doi:10.1007/978-3-030-12601-8. ISBN 978-3-030-12600-1. 
  16. Lee, Myeong Soo; Choi, Tae-Young; Kang, Jung Won; Lee, Beom-Joon; Ernst, Edzard (2010). Moxibustion for treating pain: a systematic review. The American Journal of Chinese Medicine. 38 (5). [S.l.: s.n.] pp. 829–38. 829–38 
  17. Lee, M. S.; Shin, B.-C.; Kim, J.-I.; Han, C.-h.; Ernst, E. (2010). "Moxibustion for Stroke Rehabilitation: Systematic Review". Stroke. 41 (4). [S.l.: s.n.] pp. 817–20. doi:10.1161/STROKEAHA.109.566851. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20150551 
  18. Lee, Dong-Hyo; Kim, Jong-In; Lee, Myeong Soo; Choi, Tae-Young; Choi, Sun-Mi; Ernst, Edzard (2010). "Moxibustion for ulcerative colitis: A systematic review and meta-analysis". BMC Gastroenterology. 10: 36. [S.l.: s.n.] PMC 2864201Acessível livremente. doi:10.1186/1471-230X-10-36. PMC 2864201. PMID 20374658. 
  19. Lee, Myeong Soo; Choi, Tae-Young; Park, Ji-Eun; Ernst, Edzard (2010). "Effects of moxibustion for constipation treatment: A systematic review of randomized controlled trials"]. Chinese Medicine. 5: 28. [S.l.: s.n.] PMC 2922210Acessível livremente. PMID 20687948. doi:10.1186/1749-8546-5-28. 
  20. Kim, Jong-In; Choi, Jun-Yong; Lee, Hyangsook; Lee, Myeong Soo; Ernst, Edzard (2010). A systematic review"]. BMC Cardiovascular Disorders. 10: 33. [S.l.: s.n.] doi:10.1186/1471-2261-10-33. PMC 2912786. PMID 20602794 
  21. Lee, Myeong Soo; Kang, Jung Won; Ernst, Edzard (2010). BMC Research Notes. 3: 284. [S.l.: s.n.] doi:10.1186/1756-0500-3-284. PMC 2987875. PMID 21054851 
  22. Coyle, M. E.; Smith, C. A.; Peat, B (2012). "Cephalic version by moxibustion for breech presentation". Cochrane Database of Systematic Reviews. 5 (5): CD003928. [S.l.: s.n.] doi:10.1002/14651858.CD003928.pub3. PMID 22592693 

Notas

  1. a palavra tanto se pode ler muʃɐbuʃˈtɐ̃w̃ como muksɐbuʃˈtɐ̃w̃
  2. a palavra tanto se pode ler muʃibuʃˈtɐ̃w̃ como muksibuʃˈtɐ̃w̃
  3. a palavra tanto se pode ler ˈmoʃɐ como ˈmoksɐ