Cura pela fé – Wikipédia, a enciclopédia livre

Cura pela fé, também chamada de cura espiritual, é o alegado uso de meios unicamente religiosos no tratamento de doenças, algumas vezes acompanhada da recusa de técnicas modernas de tratamento médico. A cura pela fé não é uma forma de medicina alternativa pois nestes casos a cura dá-se pela crença numa determinada religião ou entidade divina, ou ainda por auto-sugestão. A expressão é ocasionalmente usado em conexão com milagre

A cura pela fé está presente em movimentos religiosos cristãos, mas ocorre também em várias outras crenças religiosas.

Cura pela fé cristã

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No Cristianismo, a Bíblia registra várias curas entre os milagres de Jesus.[1] Jesus também disse que os crentes têm o poder de curar os enfermos imposição de mãos.[2]

No catolicismo, a cura pela fé é frequentemente atribuída à taumaturgia, na intercessão de santos por milagres.[3]

Os fiéis cristãos de tendência carismáticos (incluindo a Renovação Carismática Católica) que acreditam em curas sobrenaturais geralmente não condenam a prática de retenção de tratamentos médicos nos casos em que psicólogos determinam que reter esse tipo de tratamento seria prejudicial à saúde do paciente.

Cristianismo evangélico

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Imposição de mãos para a cura na Igreja Living Streams International Church, Accra, Gana, 2018.

Para a maioria dos cristãos evangélicos, a inerrância bíblica assegura que os milagres descritos na Bíblia ainda são relevantes e podem estar presentes na vida do crente.[4][5] Curas, sucessos acadêmicos ou profissionais, o nascimento de uma criança após várias tentativas, o fim de um vício, etc., seriam exemplos tangíveis da intervenção de Deus - com a e oração - pelo Espírito Santo.[6] Na década de 1980, o movimento neocarismático enfatizou novamente os milagres e a cura pela fé.[7] Em certas igrejas, um lugar especial é reservado para curas com imposição de mãos durante o serviço ou para campanhas evangelização.[8][9] A cura pela fé ou cura divina é considerada uma herança de Jesus adquirida por sua morte e ressurreição.[10]

Não há evidências científicas da eficácia da cura pela fé. Os seus praticantes apenas podem citar evidências anedóticas de casos onde ela foi bem sucedida, sem qualquer documentação adequada. Relatos de curas espirituais poderiam ainda significar melhora de sintomas ou doenças psicossomáticas, remissão espontânea de doenças ou ainda diagnóstico incorreto da doença prévia ou da cura posterior. Céticos ainda apontam que proponentes de "cura pela fé" ignoram o grande número de casos em que o paciente morre na tentativa de se curar somente pela fé ou os que se consideram erroneamente curados e abandonam os tratamentos adequados.

Não há nenhum estudo cientificamente adequado demonstrando que a cura pela fé religiosa, independente de qual for (cristã, xamânica, espírita, simpatias, etc.) tenha eficácia diferente da cura pela fé no tratamento inócuo (efeito placebo).[11] Esses dados também são apoiados por estudos mostrando que orações intercessórias, quando de desconhecimento do doente, não mudam em nada o curso da doença.

Muitas pessoas recorrem à "cura pela fé" em caso de doenças incuráveis.

Questões éticas em casos de recusa do tratamento convencional

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"Cura pela fé" pode acarretar em sérios problemas éticos para profissionais de medicina quando os pais não aceitam ou recusam cuidados médicos tradicionais para os filhos. Em alguns países, pais discutem que as garantias constitucionais de liberdade religiosa incluem o direito de manter curas alternativas para exclusão de cuidados médicos.

Advogados de medicina convencional discutem estudos que mostram que "cura pela fé" é tão efetiva quanto placebo, fazendo com que essa prática seja antiética de se manter quando há risco de morte ou quando há tratamentos com eficácia superior ao placebo.

Em geral, os médicos são responsáveis pelo tratamento oferecido a um paciente sob os seus cuidados. Em consequência, se julgam que o tratamento médico é necessário para salvar a vida ou a saúde de um indivíduo, balanceando esse julgamento com questões legais e privadas, podem agir contrariamente aos desejos do paciente (se este não tiver em condições de uma decisão consciente) ou de seus pais.

No caso de crianças, considera-se legalmente que são de responsabilidade do Estado e estão sob a tutela dos pais até atingirem a maioridade, quando são consideradas legalmente aptas a fazer uma decisão consciente sobre as suas convicções religiosas. Enquanto isso, os pais não podem impor sua crença aos filhos se as mesmas levarem a risco de morte. Nessas situações, se houver denúncia para as autoridades competentes, a tutela da criança é transferida para o Estado até que o risco seja eliminado e depois é reavaliada.

Em 2000, na Inglaterra, uma ordem do governo permitiu que uma criança, contra muito protesto de seus pais, fosse tratada pelos médicos. O mesmo ocorre no Brasil, mas não tão raramente.[carece de fontes?]

Controvérsias

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No Pentecostalismo, desvios acompanharam o ensino de cura pela fé. Em algumas igrejas, foi observado o preço da oração contra promessas de cura.[12] Alguns pastores e evangelistas foram acusados de reivindicar falsas curas.[13][14] As igrejas pentecostais que proíbem o uso de medicina têm causado mortes evitáveis, por vezes resultando na condenação de pais à prisão pela morte dos seus filhos. [15][16] Algumas igrejas, nos Estados Unidos ou Nigéria, aconselharam seus membros contra vacinação, dizendo que é para os fracos na fé e que com uma confissão positiva, eles estariam imunes.[17][18] Esta posição não é representativa de todas as igrejas evangélicas, como indica o documento "A Cura Milagrosa", publicado em 2015 pelo Conselho Nacional dos Evangélicos da França, que menciona que medicina é um dos dons de Deus feitos aos seres humanos.[19][20] Igrejas e certas organizações evangélicas humanitárias também estão envolvidas em programas de saúde médica.[21][22][23] Muitas igrejas evangélicas também abrigaram centros de vacinação.[24]

Notas e referências

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  1. Mark A. Lamport, Encyclopedia of Christianity in the Global South, Volume 2, Rowman & Littlefield, USA, 2018, p. 340
  2. Orlando O. Espín, James B. Nickoloff, An Introductory Dictionary of Theology and Religious Studies, Liturgical Press, USA, 2007, p. 756
  3. William J. Collinge, Historical Dictionary of Catholicism, Scarecrow Press, USA, 2012, p. 185, 391
  4. Sébastien Fath, Du ghetto au réseau: Le protestantisme évangélique en France, 1800-2005, Édition Labor et Fides, Genève, 2005, p. 28
  5. James Innell Packer, Thomas C. Oden, One Faith: The Evangelical Consensus, InterVarsity Press, USA, 2004, p. 104
  6. Franck Poiraud, Les évangéliques dans la France du XXIe siècle, Editions Edilivre, França, 2007, p. 69, 73, 75
  7. George Thomas Kurian, Mark A. Lamport, Encyclopedia of Christianity in the United States, Volume 5, Rowman & Littlefield, USA, 2016, p. 1069
  8. Cecil M. Robeck, Jr, Amos Yong, The Cambridge Companion to Pentecostalism, Cambridge University Press, UK, 2014, p. 138
  9. Béatrice Mohr e Isabelle Nussbaum, Rock, miracles & Saint-Esprit, rts.ch, Suíça , 21 de abril de 2011
  10. Randall Herbert Balmer, Encyclopedia of Evangelicalism: Revised and expanded edition, Baylor University Press, USA, 2004, p. 212
  11. Simon Singh, Edzard Ernst, Médecines douces : info ou intox ?, Cassini, 2014, 408
  12. Laure Atmann, Au nom de Dieu et… du fric!, notreafrik.com, Bélgica, 26 de julho de 2015
  13. Bbc, Un pasteur qui 'prétend guérir' le Sida condamné au Zimbabwe, bbc.com, Reino Unido, 6 de fevereiro de 2019
  14. Bbc, South Africa funeral firm to sue pastor for 'resurrection stunt', bbc.com, UK, 26 de fevereiro de 2018
  15. Noelle Crombie, Followers of Christ criminal investigations: A history, oregonlive.com, USA, 10 de março de 2017
  16. Jean François Channon Denwo, Au Cameroun, trois morts dans une Église évangélique qui interdit à ses patients les soins médicaux, africa.la-croix.com, França, 6 de março de 2019
  17. Marwa Eltagouri, A televangelist’s flu-season advice: ‘Inoculate yourself with the word of God’, cnn.com, USA, 6 de fevereiro de 2018
  18. Richard Burgess, Nigeria's Christian Revolution, Wipf and Stock Publishers, USA, 2008, p. 225
  19. Serge Carrel, Un texte du CNEF pour dialoguer autour de la guérison, lafree.ch, Suíça, 13 de maio de 2016
  20. CNEF, La guérison miraculeuse, lecnef.org, França, junho de 2015
  21. Stephen Offutt, New Centers of Global Evangelicalism in Latin America and Africa, Cambridge University Press, UK, 2015, p. 143
  22. Melani McAlister, The Kingdom of God Has No Borders: A Global History of American Evangelicals, Oxford University Press, USA, 2018, p. 223, 256
  23. Sharon Henderson Callahan, Religious Leadership: A Reference Handbook, SAGE Publications, USA, 2013, p. 494
  24. Deborah Barfield Berry, Faith groups step up to host vaccine sites, usatoday.com, USA, 24 de fevereiro de 2021
  • Herbert Benson, MD; Jeffery A. Dusek, PhD et al. Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP) in Cardiac Bypass Patients: A Multicenter Randomized Trial of Uncertainty and Certainty of Receiving Intercessory Prayer. Am Heart J. 2006;151(4):934-942
  • J M Aviles, S E Whelan, D A Hernke, et. al. Intercessory prayer and cardiovascular disease progression in a coronary care unit population: a randomized controlled trial. Mayo Clin Proc - Dec 2001
  • Kevin S Masters, Glen I Spielmans. Are there demonstrable effects of distant intercessory prayer? A meta-analytic review. Ann Behav Med -agosto de 2006
  • Michael Shermer. Flying carpets and scientific prayers. Scientific experiments claiming that distant intercessory prayer produces salubrious effects are deeply flawed. Sci Am - Novembro de 2004
  • James Randi. The Faith Healers. Prometheus Books, 1989
  • Robert L. Park. Voodoo Science: The Road from Foolishness to Fraud. Oxford University Press, 2001
  • irmão José. A Cura pela Fé. Editora AMCGuedes, 2012