Demografia das orientações sexuais – Wikipédia, a enciclopédia livre

A demografia das orientações sexuais é uma tentativa de quantificar a proporção de cada orientação sexual das populações do mundo. Os dados geralmente levam em conta apenas a autodeclaração, logo não revelam aqueles que escondem sua orientação sexual. Estudos onlines anônimos tem resultados de pessoas lésbicas, gays e bissexuais (LGB) muito maiores do que os feitos pessoalmente ou por telefone. É comum que o número de "não respondeu" e "outros" seja maior que o número de pessoas LGB.

Problemas metodológicos

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Esses estudos demográficos de orientação sexual encontram diversos problemas metodológicos. Primeiro, existe um grande número de indivíduos que prefere não revelar sua orientação em pesquisas, por exemplo por medo de ser descoberto no trabalho, medo de sofrer violência, por pressão social ou familiar ou por influência religiosa.[1]

Além disso, a definição de homossexual, heterossexual e bissexual não é um consenso, alguns estudos consideram que o que define alguém como homo, hétero ou bissexual é a atividade sexual, outros consideram que é a atração e desejo sexual, mesmo em ausência de atividade sexual, e outros consideram como uma identificação pessoal, mesmo quando há atividade sexual homossexual. Quando o estudo pergunta sobre "sentir atração por alguém do mesmo sexo" o número de respostas é consideravelmente maior do que identificar-se como lésbica, gay ou bissexual.[2]

Outro problema é que pessoas inseguras de sua sexualidade ou que desejam omitir sua orientação sexual simplesmente se recusam a participar e não aparecem nos dados.[3]

A primeira demografia de comportamento sexual humano foi feita nos EUA pelo Dr. Alfred Kinsey em seus livros "Comportamento Sexual no Macho Humano" (1948) e "Comportamento Sexual na Fêmea Humana" (1953). Estes estudos utilizaram um espectro de sete pontos para definir o comportamento sexual, usando 0 para completamente heterossexual a 6 para completamente homossexual. Na pesquisa de Kinsey, 37% dos homens dos EUA tinham atingido o orgasmo através do contato com outro homem e 13% das mulheres tinham atingido o orgasmo através do contato com outra mulher. Em seu estudo, cerca de 10% dos homens se relacionavam com predomínio de atividade homossexual e 11% se relacionavam igualmente com homens e mulheres.[4] Entre mulheres, 9% das mulheres solteiras e 3% das divorciadas se relacionavam predominantemente com mulheres e 7% das mulheres solteiras e 4% das divorciadas igualmente com homens e mulheres.[5]

Em um estudo polonês comparando métodos, quando o questionário anônimo era em papel, apenas 6% dos entrevistados relatavam sentir atração pelo mesmo sexo, em comparação a 12% dos entrevistados online. Admitir praticar sexo anal como passivo foi quase dez vezes menor em papel (0,1%) do que online(1%). Não houve outras diferenças significativas em outros aspectos da vida sexual, e os dois conjuntos de voluntários foram semelhantes em idade, educação e localização geográfica.[6]

Em 2019, 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais no Brasil.[7]

Em 2009, em uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo em 10 capitais do Brasil, 7,8% dos homens diziam-se gays e 2,6% bissexuais, para um total de 10,4%; 4,9% das mulheres diziam-se lésbicas e 1,4% bissexuais, para um total de 6,3%.[8]

Em 2019, pesquisa do IBGE identificou que 2,9 milhões de adultos se declararam homossexuais ou bissexuais, que correspondia a 1,9% da população maior de 18 anos.[9]

A proporção de pessoas LGBTQIAP+ assumidas no Brasil (7,5%) é maior que a média mundial de 3%.[carece de fontes?]

Dos homens da cidade do Rio de Janeiro, 19,3% eram gays ou bissexuais. Das mulheres da cidade de Manaus, 10,2% eram lésbicas ou bissexuais.[8]

Posto População homossexual e

bissexual masculina

População homossexual

e bissexual feminina

Cidade Porcentagem Cidade Porcentagem
1 Rio de Janeiro 19,3% Manaus 10,2%
2 Brasília 10,8% Rio de Janeiro 9,3%
3 Fortaleza 10,6% Fortaleza 8,1%
4 Salvador 9,6% São Paulo 7%
5 São Paulo 9,4% Salvador 6,3%
6 Belo Horizonte 9,2% Curitiba 5,7%'
7 Cuiabá 8,7% Brasília 5,1%
8 Curitiba 7,4% Porto Alegre 4,8%
9 Porto Alegre 7,1% Belo Horizonte 4,5%
10 Manaus 6,5% Cuiabá 2,6%

Estados Unidos

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Estimativa da faculdade de direito da UCLA em 2006 sobre a população LGB americana em cada cidade considerando atração sexual do sexo oposto:[10]

Posição Cidade % da
populaçao
população LGB
população posição
1 New York City 6% 272,493 1
2 Los Angeles 5.6% 154,270 2
3 Chicago 5.7% 114,449 3
4 San Francisco 15.4% 94,234 4
5 Phoenix 6.4% 63,222 5
6 Houston 4.4% 61,979 6
7 San Diego 6.8% 61,945 7
8 Dallas 7.0% 58,473 8
9 Seattle 12.9% 57,993 9
10 Boston 12.3% 50,540 10
11 Filadélfia 4.2% 43,320 11
12 Atlanta 12.8% 39,085 12
13 San Jose 5.8% 37,260 13

Nas grandes pesquisas americanas, apenas 3 a 4% da população assumem a identidade lésbica, gay ou bissexual. A porcentagem é muito menor em cidades pequenas e do interior, entre pessoas idosas e entre casados. A maioria das pessoas LGB se concentram nas grandes cidades, muitas vezes com bairros próprios.[11]

Em uma pesquisa online nacionalmente representativa de 7.841 adultos franceses realizado pelo IHOP no início de 2011, 90,8% se identificaram como heterossexuais, 3,6% se identificaram como homossexuais, 3% como bissexual e 3% como "outro" ou não responderam.[12]

Em um estudo neerlandês online com 3145 homens e 3283 mulheres, 3,6% dos homens e 1,4% das mulheres se identificaram como gays. Outros 5,5% dos homens e 7,4% das mulheres se identificaram como algum nível bissexual. Por outro lado, 10% dos homens e 11% das mulheres relataram sentir atração sexual por alguém do mesmo sexo, um número consideravelmente maior que os que se identificam como LGB.[13]

Ao serem solicitados a se posicionar na escala Kinsey, 72% de todos os adultos se identificaram como totalmente heterossexual (0, na escala Kinsey) e 4% totalmente homossexual (6, na escala Kinsey). Entre os jovens de 16 a 24 anos, apenas 46% se identificaram como totalmente heterossexuais. Quando perguntados apenas se se consideravam heterossexuais, gays ou bissexuais, 89% responderam se identificar como heterossexuais. Esse estudo foi feito em 2015 com 1,632 adultos.[14]

Uma pesquisa aleatória com 7.725 italianos entre 18 e 74 anos, conduzido pelo ISTAT entre junho e dezembro de 2011, revelou que 77% se declaram heterossexuais, 2,4% da população se declara ser homo ou bissexuais, 0,1% transexual, 4% responderam "outro" e 15,6% não respondeu. Ao perguntar quantas pessoas durante suas vidas se apaixonaram, amaram ou que tiveram relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo, o percentual aumentou para 6,7% da população.[15]

Em sondagem com mil portugueses maiores de 15 anos, realizada em 2005 pelo jornal Expresso através de questionários anônimos e confidenciais: 7% afirmaram ser homossexuais, 2,9% bissexuais e 90,1% heterossexuais. Houve pouca diferença entre homossexuais e bissexuais homens (10,1%) e mulheres (9,8%).[16]

Em outra sondagem, feita em 2012, com 1220 portugueses maiores de 18 anos, usando um questionário de 100 perguntas: 77,5% dos portugueses diz-se exclusivamente heterossexual, 2,1% predominantemente heterossexual, 0,6% bissexual, 0,4% predominantemente homossexual e 1,6% exclusivamente homossexual. Os restantes inquiridos preferiram não responder. Dentre os que se identificam como heterossexuais: 5,7% relataram já ter beijado, 1,3% relatam sentir atração e 1% relataram já ter feito sexo com alguém do mesmo sexo.[17]

Em uma pesquisa anônima de 1.978 estudantes do ensino médio do sexo masculino realizado em 2003, 7% relataram moderada atração ao mesmo sexo e 4% relataram forte atração.[18]

Referências

  1. How Many LGBT People Are There? Should It Matter? The huffington post, fev 2016. http://www.huffingtonpost.com/james-peron/how-many-lgbt-people-are-there-should-it-matter_b_2007499.html
  2. American Psychological Association. "Answers to Your Questions: For a Better Understanding of Sexual Orientation & Homosexuality" (PDF). Psychology Help Center. Retrieved 23 June 2014.
  3. Maslow, A. H., and Sakoda, J. (1952). Volunteer error in the Kinsey study, Journal of Abnormal Psychology. 1952 Apr;47(2):259-62.
  4. Kinsey, et al. 1948. Sexual Behavior in the Human Male, Table 147, p. 651
  5. Kinsey, et al. 1953. Sexual Behavior in the Human Female, p. 488
  6. Skowronski, D.; Beisert, M.; Nowicka, M.; Halemba, K.; Izdebska, A.; Sawczuk-Slupinska, S. (1 de abril de 2008). «T01-O-19 The analysis of sexual lifestyles of adult Poles. Comparison of an internet-based survey and paper-based survey». Sexologies. Abstracts of the 9th Congress of the European Federation of Sexology: S56. ISSN 1158-1360. doi:10.1016/S1158-1360(08)72669-0. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  7. «IBGE divulga 1º levantamento sobre homossexuais e bissexuais no Brasil». Agência Brasil. 25 de maio de 2022. Consultado em 13 de junho de 2022 
  8. a b «Censo». Mundo Mais. 16 de março de 2009. Consultado em 10 de outubro de 2012. Arquivado do original em 6 de julho de 2011 
  9. «Em pesquisa inédita do IBGE, 2,9 milhões de adultos se declararam homossexuais ou bissexuais em 2019 | Agência de Notícias». Agência de Notícias - IBGE. 25 de maio de 2022. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  10. Gary J. Gates Same-sex Couples and the Gay, Lesbian, Bisexual Population: New Estimates from the American Community Survey PDF (2.07 MB). The Williams Institute on Sexual Orientation Law and Public Policy, UCLA School of Law, October 2006. Retrieved August 4, 2015.
  11. Gary J. Gates. LGBT Demographics: Comparisons among population-based surveys. Set. 2014. [1]
  12. Le profil de la population gay et lesbienne en 2011 (PDF) (Em francês)
  13. Bakker, F. (2009). Seksuele gezondheid in Nederland 2009 (PDF)
  14. YouGov UK 2015 Half of young people say they are not 100% heterosexual
  15. La popolazione omosessuale nella società italiana – Testo integrale (PDF) (em italiano). 17 May 2012. pp. 17–18.
  16. [2]
  17. [3]
  18. Michael C. Seto; Cecilia Kjellgren; Gisela Priebe; Svein Mossige; Carl Göran Svedin; Niklas Långström (2010). "Sexual Coercion Experience and Sexually Coercive Behavior: A Population Study of Swedish and Norwegian Male Youth". Child Maltreatment 15 (3): 219–228. doi:10.1177/1077559510367937.