Estação Ferroviária de Castelo de Vide – Wikipédia, a enciclopédia livre
Castelo de Vide | |||
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a estação de Castelo de Vide, em 2007 | |||
Identificação: | 58503 CVD (Castelo Vide)[1] | ||
Denominação: | Estação de Castelo de Vide | ||
Administração: | Infraestruturas de Portugal (até 2020: centro;[2] após 2020: sul)[3] | ||
Classificação: | E (estação)[1] | ||
Linha(s): | Ramal de Cáceres (PK 223+421) | ||
Altitude: | 426 m (a.n.m) | ||
Coordenadas: | 39°25′22.07″N × 7°29′22.43″W (=+39.4228;−7.48956) | ||
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Município: | Castelo de Vide | ||
Inauguração: | [quando?] | ||
Encerramento: | 1 de fevereiro de 2011 (há 13 anos) | ||
Website: |
A Estação Ferroviária de Castelo de Vide é uma gare encerrada do Ramal de Cáceres, que servia o concelho de Castelo de Vide, no distrito de Portalegre, em Portugal.
Descrição
[editar | editar código-fonte]Localização e acessos
[editar | editar código-fonte]Esta interface encontra-se junto à localidade de Castelo de Vide,[4] junto à Zona Industrial de Castelo de Vide, distando do centro urbano (Praça D. Pedro V) cerca de quatro quilómetros, mormente pela EN246-1.[5]
Infraestrutura
[editar | editar código-fonte]Em Janeiro de 2011, apresentava duas vias de circulação, ambas com 215 m de comprimento, e uma plataforma, com 95 m de extensão, e 40 cm de altura.[6] O edifício de passageiros situa-se do lado sul-sudeste da via (lado direito do sentido ascendente, para Cáceres).[7][8]
Painéis de azulejo
[editar | editar código-fonte]A estação está decorada com vários painéis de azulejo com pintura hiper-realista, retratando vários aspectos da vivência tradicional, e alguns monumentos da vila, como o quadro "Fonte da Vila", contrastando com molduras rectilíneas de carácter modernista, policromadas e com desenhos de elementos vegetalistas.[9] Os azulejos são da autoria de Jorge Colaço, e foram produzidos pela Fábrica Lusitânia.[10][11]
História
[editar | editar código-fonte]Inauguração
[editar | editar código-fonte]A construção do Ramal de Cáceres iniciou-se em 15 de Julho de 1878, pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, tendo o ramal entrado ao serviço em 15 de Outubro do ano seguinte, e inaugurado oficialmente em 6 de Junho de 1880.[12][13] A abertura desta estação possibilitou um aumento nas relações comerciais com Castelo de Vide, melhorando consideravelmente a situação económica da povoação.[13]
Século XX
[editar | editar código-fonte]Em 1913, existia uma carreira de diligências entre esta estação e a vila de Castelo de Vide.[14] Nos princípios da década de 1930, as condições de acesso à estação foram muito melhoradas devido à renovação da estrada que a ligava a Póvoa e Meadas e à povoação de Castelo de Vide.[15]
Ligação planeada a a Fratel e Estremoz
[editar | editar código-fonte]Em 1892, foi classificada uma linha de Estremoz, na Linha de Évora, a Vila Velha de Ródão, na Linha da Beira Baixa, por Portalegre e Castelo de Vide.[16] Embora fosse considerada um elemento valioso na rede ferroviária portuguesa por ligar a Linha da Beira Baixa às linhas do Sul e Sueste, as autoridades militares opuseram-se à sua construção, motivo pelo qual foi planeada de via estreita.[16] Este empreendimento foi reavivado nos finais da década, quando se iniciou o planeamento da rede ferroviária complementar ao Sul do Tejo, embora apenas de Estremoz a Castelo de Vide por Portalegre, tendo sido novamente planeada como de via estreita devido às exigências dos militares.[17] No entanto, não foi escolhido para fazer parte do Plano da Rede Complementar ao Sul do Tejo, decretado em 27 de novembro de 1902, tendo sido inserido depois por um decreto de 7 de maio de 1903, mas apenas até Portalegre.[17] O contrato foi assinado em 9 de dezembro de 1903 com o empresário José Pedro de Matos, que cerca de um ano depois apresentou um projecto para a linha, de Estremoz a Castelo de Vide, com um comprimento de 101,7 km.[17] Um decreto de 27 de Junho de 1907 mudou a concessão para via larga e autorizou o futuro prolongamento até à Linha da Beira Alta,[17] com um prazo de construção de três anos.[13]
As obras iniciaram-se a partir de Estremoz, tendo sido construídos alguns quilómetros de infraestrutura até Sousel, mas o concessionário não conseguiu reunir os fundos suficientes para continuar, pelo que pediu uma garantia de juro.[17] Este processo arrastou-se, especialmente devido à queda da monarquia em 1910, e em Dezembro de 1911 faleceu José Pedro de Matos, paralisando temporariamente os trabalhos.[17] Nessa altura, o engenheiro Andigier fez um reconhecimento da zona por ordem de Francisco Mercier, construtor da Linha do Vouga, tendo proposto que a linha seguisse o vale de Escusa entre a cidade de Portalegre e a estação de Castelo de Vide, e que o ponto de bifurcação na Linha da Beira Baixa deveria em Fratel, uma vez que a gare de Ródão não apresentava as condições necessárias para esta função.[16] O concurso foi aberto em 15 de Janeiro de 1914, mas não surgiram concorrentes, uma vez que existia algum receio em fazer investimentos, devido aos sinais da futura guerra mundial.[17] Desta forma, uma lei de 2 de Junho de 1914 autorizou o governo a lançar títulos de dívida para financiar a construção da linha, cujas obras foram reiniciadas.[17] O primeiro lanço da linha, até Sousel, entrou ao serviço em 34 de Agosto de 1925.[17] Em 1927, foi iniciado o processo para a revisão do plano da rede ferroviária,[17] tendo para isso sido formada em 1929 uma comissão técnica, que propôs a continuação da linha já iniciada, fixando o ponto de bifurcação na Linha da Beira Baixa em Fratel.[18] No entanto, os militares voltaram a opor-se ao projecto, pelo que o Plano Geral da Rede Ferroviária, decretado em 28 de março de 1930, apenas classificou a linha até à cidade de Portalegre, eliminando do percurso a passagem pela gare de Castelo de Vide, e a bifurcação em Fratel.[17] O lanço entre Sousel e Cabeço de Vide abriu em 1937,[19] tendo a linha sido concluída até Portalegre em 1949.[20]
Em 1 de setembro de 1939, a Gazeta dos Caminhos de Ferro reportou que a cidade de Portalegre tinha enviado uma comissão ao governo para pedir vários melhoramentos para a região, incluindo a continuação da linha de Cabeço de Vide até Fratel, passando por esta estação, mas o Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco exprimiu algumas reservas em relação a este pedido, devido à crise que os caminhos de ferro estavam a atravessar naquele período.[16]
Século XXI
[editar | editar código-fonte]No dia 1 de Fevereiro de 2011, a empresa Comboios de Portugal terminou todos os comboios Regionais no Ramal de Cáceres, ficando esta estação sem quaisquer serviços.[21][22][23] No ano seguinte todo o ramal foi removido da rede em exploração pelo regulador, explicitamente indicando o interface de Castelo de Vide.[24]
Atualmente,[quando?] parte do Ramal de Cáceres é utilizada para fins turísticos com um serviço de rail bike entre esta estação e Marvão-Beirã.[25]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Comboios de Portugal
- Infraestruturas de Portugal
- Transporte ferroviário em Portugal
- História do transporte ferroviário em Portugal
Referências
- ↑ a b (I.E.T. 50/56) 56.º Aditamento à Instrução de Exploração Técnica N.º 50 : Rede Ferroviária Nacional. IMTT, 2011.10.20
- ↑ Diretório da Rede 2021. IP: 2019.12.09
- ↑ Diretório da Rede 2025. I.P.: 2023.11.29
- ↑ «Castelo de Vide - Ramal de Cáceres». Infraestruturas de Portugal. Consultado em 31 de Maio de 2017
- ↑ «Cálculo de distância rodoviária (39,42270; −7,48940 → 39,41530; −7,45590)». OpenStreetMaps / GraphHopper. Consultado em 31 de agosto de 2023: 4010 m: desnível acumulado de +160−33 m
- ↑ «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2012. Rede Ferroviária Nacional. 6 de Janeiro de 2011. p. 71-85
- ↑ (anónimo): Mapa 20 : Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1985), CP: Departamento de Transportes: Serviço de Estudos: Sala de Desenho / Fergráfica — Artes Gráficas L.da: Lisboa, 1985
- ↑ Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1988), C.P.: Direcção de Transportes: Serviço de Regulamentação e Segurança, 1988
- ↑ SAPORITI, 2006:286
- ↑ SAPORITI, 2006:304
- ↑ PEREIRA, 1995:417-418
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (1 de Janeiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 70 (1681). p. 9-12. Consultado em 31 de Maio de 2017 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
- ↑ a b c VIDEIRA, 2008:202-203
- ↑ «Serviço de Diligencias». Guia official dos caminhos de ferro de Portugal. Ano 39 (168). Outubro de 1913. p. 152-155. Consultado em 3 de Março de 2018 – via Biblioteca Nacional de Portugal
- ↑ RALO, 1995:79
- ↑ a b c d SOUSA, José Fernando de (1 de Setembro de 1939). «O Caminho de Ferro de Portalegre: Passado e Presente» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1241). p. 412-414. Consultado em 2 de Novembro de 2017 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
- ↑ a b c d e f g h i j k SOUSA, José Fernando de (1 de Fevereiro de 1937). «Abertura do novo troço da Linha de Portalegre» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1179). p. 75-77. Consultado em 2 de Novembro de 2017 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
- ↑ SOUSA, José Fernando de (1 de Março de 1935). «O Problema da Defesa Nacional pelo coronel Raul Esteves» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1133). p. 101-103. Consultado em 25 de Janeiro de 2013 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
- ↑ MARTINS et al, 1996:259
- ↑ REIS et al, 2006:98
- ↑ «Serviços regionais no ramal de Cáceres suprimidos em Fevereiro». Sol. 17 de Janeiro de 2011. Consultado em 28 de Outubro de 2011
- ↑ BENTO, José Amaro (2 de Fevereiro de 2011). «Medida com custos sociais, económicos e ambientais». Público. Consultado em 28 de Outubro de 2011
- ↑ AMARO, José Bento (1 de Fevereiro de 2011). «Lotação esgotada para o último silvo da "Calhandra" no ramal de Cáceres». Público. Consultado em 22 de Janeiro de 2013. Arquivado do original em 6 de fevereiro de 2011
- ↑ 62.º Aditamento à Instrução de Exploração Técnica N.º 50. IMTT, 2012.08.16. («Distribuída pelo 62º aditamento»)
- ↑ «Rail Bike Marvão»
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- PEREIRA, Paulo (1995). História da Arte Portuguesa. III. Barcelona: Círculo de Leitores. 695 páginas. ISBN 972-42-1225-4
- RALO, José António Carrilho (1995). Recordações da Aldeia. Lisboa: Câmara Municipal de Castelo de Vide e Colibri - Artes Gráficas. 144 páginas
- REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- SAPORITI, Teresa (2006). Azulejaria no Distrito de Portalegre. Lisboa: Dinalivro, Distribuidora Nacional de Livros, Lda. 381 páginas. ISBN 972-97653-3-2
- VIDEIRA, César (2008) [1908]. Memória Histórica da Muito Notável vila de Castelo de Vide 3.ª ed. Lisboa: Edições colibri e Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora. 294 páginas. ISBN 978-972-772-802-2
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Fotografia da estação de Castelo de Vide, no sítio electrónico Transportes XXI»
- «Página sobre a estação de Castelo de Vide, no sítio electrónico Wikimapia»
- Estação Ferroviária de Castelo de Vide na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural