Filosofia indiana – Wikipédia, a enciclopédia livre

Shânkara (788-820) foi o principal filósofo da escola advaita vedânta, que é um dos ramos da filosofia vedanta

A filosofia indiana se refere ao conjunto de escolas filosóficas que se desenvolveram no subcontinente indiano ao longo da história. A filosofia indiana principiou com a literatura oral que deu origem aos Vedas antes de 1500 a.C. e se desenvolveu ao longo do tempo, sob a forma de comentários, em três grandes linhasː hinduísmo, jainismo e budismo.[1] Uma classificação tradicional hindu divide as escolas de filosofia em ástica e nástica, dependendo de um de três critérios alternativos: se acredita nos Vedas como uma fonte válida de conhecimento; se a escola acredita nas premissas de Bramã e Atmã; e se a escola acredita em vida após a morte e em Devas.[2][3][4]

Existem seis grandes escolas de filosofia védica—Niaia, Vaisheshika, Sânquia, Ioga, Mīmāṃsā e Vedanta, e cinco grandes escolas heterodoxas (xramânicas)—jaina, budista, Ājīvika, Ajñana e Charvaca. No entanto, existem outros métodos de classificação; Vidyaranya, por exemplo, identifica dezesseis escolas de filosofia indiana incluindo aquelas que pertencem às tradições xaiva e raseśvara.[5][6]

A filosofia indiana promoveu extensas discussões sobre ontologia (metafísica, Brahman-Atman, Sunyata-Anatta), meios confiáveis de conhecimento (epistemologia, pramanas), sistema de valores (axiologia) e outros tópicos.[7][8][9]

Fundamentos da filosofia indiana

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A palavra sânscrita darshana designa cada concepção distinta da filosofia indiana e significa literalmente “ponto de vista”, pois sua raiz drish tem como sentido principal o de “ver”; ela não pode significar propriamente um “sistema”.

Na Índia antiga, cada divisão do conhecimento estava diretamente relacionada a uma arte e a um modo de vida. O conhecimento não era apenas aprendido por meio de livros, palestras, seminários e debates, mas conquistado por meio do aprendizado ao lado de um mestre competente. Era necessário que o discípulo, se entregasse aos ensinamentos do professor, sendo pré-requisitos básicos a obediência (susrusa) e a fé absoluta (sraddha).[10]

Sendo assim, a filosofia oriental é, sobretudo, acompanhada e amparada pela prática de um estilo de vida: a reclusão monástica, o ascetismo, a meditação, a oração, os exercícios de Yoga são complementares às horas diárias dedicadas aos estudos filosóficos. Esse conhecimento se manifesta sob formas simbólicas, sejam elas divindades ou signos. Neste sentido, a filosofia da Índia está correlacionada à religião e a cultura de forma análoga com que a filosofia ocidental está para as ciências naturais e seus métodos de investigação.[10]

O hinduísmo, que surgiu por volta de 1500 a.C., é um grupo de tradições religiosas e filosóficas que têm, como ponto em comum, o respeito à autoridade dos Vedas e dos Upanixades (comentários dos Vedas). Algumas dessas tradições são as escolas Mimamsa, Samkhya, Yoga, Nyaya, Vaisesika e Vedanta, além dos ensinamentos dos gurus.[11]

Uma importante escola filosófica materialista e ateia da Índia Antiga foi a escola Carvaka, que desapareceu antes do ano 1000. Ela negava tradicionais elementos do pensamento indiano, como os Vedas, o carma e a reencarnação.[1]

O jainismo baseia-se nos ensinamentos de Mahavira (599-671 a.C.) e outros Tirthankaras. Prega a não violência (Ahimsa) e diz que o universo é eterno, não existindo, portanto, a figura de um Deus criador. Outros importantes pensadores jainistas foram Umaswati (circa século II a.C.), Kundakunda (circa século I a.C.) e Yasovijaya Gani (1624-1688). [12]

O budismo nasceu no nordeste indiano com Sidarta Gautama (circa 563-483 a.C.). Ele pregava que a extinção das paixões poderia conduzir o ser humano à salvação. Após a morte de Sidarta, destacaram-se dois outros filósofos indianos que deram prosseguimento a seu pensamentoː Nagarjuna (circa 150-250), que fundou a escola maaiana; e Sāntaraksita (725-788).[13]

Por volta do século IV a.C., foi escrito o Artaxastra, um tratado sobre filosofia política que é, frequentemente, comparado com O Príncipe, de Nicolau Maquiavel.[1]

Idade Contemporânea

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Com o domínio britânico (1750-1947), vários pensadores e movimentos indianos procuraram adaptar o pensamento tradicional indiano à época contemporâneaː

Influência no ocidente

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No final do século XVIII, começaram a ser realizadas as primeiras traduções dos livros clássicos indianos para as línguas ocidentais. No início do século XIX, os Upanixades e o budismo muito influenciaram as ideias do filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Em meados desse século, o hinduísmo influenciou na formulação da doutrina espírita. No final desse século, o hinduísmo influiu poderosamente na criação da Sociedade Teosófica. Na década de 1950, o budismo influenciou a obra do escritor estadunidense Jack Kerouac. Nas décadas de 1960 e 1970, a filosofia indiana inspirou a contracultura no ocidente. Dessa época em diante, muitos famosos músicos ocidentais foram influenciados por ela, como os Beatles (em especial, o guitarrista George Harrison), John McLaughlin, Carlos Santana, Raul Seixas, Paulo Coelho, Tomaz Lima e Madonna.[carece de fontes?]

  1. a b c MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 286.
  2. Bowker, John. Oxford Dictionary of World Religions. p. 259
  3. Doniger, Wendy (2014). On Hinduism. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-936008-6 
  4. Nicholson, Andrew J. (2013). Unifying Hinduism: Philosophy and Identity in Indian Intellectual History. Columbia University Press. ISBN 978-0231149877. Capítulo 9
  5. Cowell, E. B.; Gough, A. E. (2001). The Sarva-Darsana-Samgraha or Review of the Different Systems of Hindu Philosophy. Trubner's Oriental Series. Taylor & Francis. ISBN 978-0-415-24517-3. p. xii.
  6. Nicholson, Andrew J. (2010). Unifying Hinduism: Philosophy and Identity in Indian Intellectual History. Columbia University Press. pp. 158-162.
  7. Roy W. Perrett (2001). Indian Philosophy: Metaphysics. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-0-8153-3608-2 
  8. Stephen H Phillips (2013). Epistemology in Classical India: The Knowledge Sources of the Nyaya School. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-136-51898-0 
  9. Arvind Sharma (1982). The Puruṣārthas: a study in Hindu axiology. [S.l.]: Asian Studies Center, Michigan State University ;
    Purusottama Bilimoria; Joseph Prabhu; Renuka M. Sharma (2007). Indian Ethics: Classical traditions and contemporary challenges. [S.l.]: Ashgate. ISBN 978-0-7546-3301-3 
  10. a b Zimmer, Heinrich. Filosofias da Índia. [S.l.]: Palas Athena. p. 50,51. ISBN 9788572420020 
  11. MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 287.
  12. MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 287-288.
  13. MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 275,286.
  14. MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 288, 289.
  • Mohanty, Jitendra Nath. Reason and Tradition in Indian Thought - An Essay on the Nature of Indian Philosophical Thought (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  • Jonardon, Ganeri (ed.). The Oxford Handbook of Indian Philosophy (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  • Raghuramaraju, A. (2007). Debates in Indian Philosophy: Classical, Colonial, and Contemporary (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  • Krishna, Daya (1991). Indian Philosophy - A Counter Perspective (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  • CHATIOPADHYAYA, DEBIPRASAD (1993). What Is Living and What Is Dead Indian in Philosophy (em inglês). [S.l.]: PEOPLE'S PUBLISHING HOUSE 
  • Isayeva, Natalia (1993). Shankara and Indian Philosophy (em inglês). [S.l.]: State University of New York Press