Medicina evolutiva – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Evolução |
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Diagrama da divergência dos grupos taxonómicos modernos em relação aos seus ancestrais comuns. |
Tópicos fundamentais |
Medicina evolutiva ou medicina Darwiniana é um campo de aplicação da teoria da evolução que busca entender a saúde e a doença na modernidade. As pesquisas e práticas médicas habitualmente concentram-se nos mecanismos moleculares e fisiológicos subjacentes às doenças e mais recentemente em evidências clínicas obtidas em estudos clínicos, enquanto a medicina evolutiva busca compreender a moldagem desses mecanismos e a intrínseca vulnerabilidade a doenças que os seres humanos possuem. A abordagem evolutiva da medicina tem impulsionado avanços importantes na compreensão do câncer,[1] de doenças autoimunes[2] e da anatomia geral do corpo humano.[3] A integração da medicina evolutiva nas universidades tem sido um lento processo, devido às limitações curriculares que as instituições apresentam.[4]
Histórico
[editar | editar código-fonte]Charles Darwin não envolveu a medicina em seu trabalho evolutivo. No entanto, inúmeros biólogos apreciam a teoria dos germes e suas implicações para a compreensão dos agentes patogênicos, bem como a necessidade de um organismo de defender-se contra eles. A medicina, por sua vez, ignorou a evolução e, em vez disso, concentrou-se em causas mecânicas.
“ | A medicina se modelou após mudanças ligadas à mecânica física, derivada de Galileo Galilei, Isaac Newton e Descartes. Como resultado, a medicina tornou-se mecanicista, materialista, reducionista, de característica linear e determinista. O seu finco é a explicação de doenças, sintomas, sinais e causas de nível individual, materialista, anatômico e estrutural. Foca, ainda, no estudo de mudanças internas do corpo, como infecções, o comportamento de agentes tóxicos ou agentes traumáticos. (Weiner H, 1998)[5] | ” |
O biólogo evolucionista foi primeiro cientista a aplicar a teoria evolutiva no contexto da saúde, em função da senescência,[6] isto é, o processo natural de envelhecimento ligada às células e aos processos envolvidos. Na década de 1950, o psicólogo John Bowlby abordou o desenvolvimento infantil desordenado a partir de uma perspectiva evolucionista. O etologista Nikolaas Tinbergen foi responsável pelo desenvolvimento teórico em relação à etologia dos mecanismos evolutivos e suas relações com outros fatores. Os livros "Evolutionary Biology and the Treatment of Signs and Symptoms of Infectious Disease" (1980), de Paul Ewald, e "The Dawn of Darwinian Medicine" (1991), de William Nesse, contribuíram para a relação médica-evolucionista moderna.[7][7][7][8][9]
O etologista Randolph M. Nesse foi responsável pelo desenvolvimento teórico em relação à etologia dos mecanismos evolutivos e suas relações com outros fatores. O biólogo evolucionista resumiu a importância da evolução para a medicina:
“ | Todas as características biológicas precisam de dois tipos de explicação, um de aproximação e outro evolucionário. A explicação por aproximação de uma doença sugere o que está errado nos mecanismos do corpo dos indivíduos afetados. Uma explicação evolutiva é completamente diferente. Ao invés de explicar o porquê das pessoas serem diferentes, explica por que todos nós temos vulnerabilidade para doenças. Por que todos nós temos o dente sido, apêndice e células que podem se dividir descontroladamente? (Nesse RM, 2008)[10] | ” |
Adaptações humanas
[editar | editar código-fonte]Restrições
[editar | editar código-fonte]AS adaptações só podem ocorrer se forem evolutivas. Adaptações que limitam a saúde não são, portanto, possíveis de ocorrência.
- O DNA não pode ser totalmente impedido de sofrer mudança ou replicação. Como exemplo, o câncer, que ocorre por mutações somáticas, não foi completamente eliminado da seleção natural
- Os seres humanos não podem biossintetizar a vitamina C. Portanto, correm o risco de adquirir escorbuto, doença causada pela ingestão dietética insuficiente da vitamina C
- Os neurônios que trabalham com o sistema óptico, evoluíram para dentro de células com camadas pigmentadas. Criou-se, portanto, uma restrição na evolução do sistema óptico, de modo que o nervo óptico é obrigado a sair da retina pelo disco óptico. Por sua vez, cria-se um ponto cego dentro da região ocular. Portanto, o risco de glaucoma, doença que aumenta a pressão do olho, está vulnerável a um possível aumento. Em seguida, a danificação do nervo óptico causa danos à visão[11]
Trocas e conflitos de substâncias
[editar | editar código-fonte]- Nas mulheres, houve eficiência e melhora do tamanho do canal do parto[12]
- Encefalização e mudança do tamanho do intestino[13]
- Proteção da pigmentação da pele contra raios ultravioleta, além da síntese de vitamina D na pele[14]
Competição genética
[editar | editar código-fonte]- Suscetibilidade às doenças, sejam sexuais ou não, devido a escolha do parceiro[15]
- Conflito intragenômico entre a mãe e o feto, resultando em pré-eclâmpsia[16][17]
Acometimentos evolutivos
[editar | editar código-fonte]Durante a evolução humana, os seres evoluíram para viver como caçadores e coletores em tribos.[18][19] Os tempos passaram e esta mudança de comportamento ligado à modernidade, trouxe suscetibilidade aos humanos, dando origem a uma série de doenças caracterizadas como "doenças da civilização". O homem evoluiu para desfrutar dos recursos disponíveis no meio-ambiente.
“ | Os ambientes modernos podem causar muitas doenças, como síndromes, deficiências, escorbuto e raquitismo. (Williams, 1991)[20] | ” |
Mudanças na dieta
[editar | editar código-fonte]Em contraste com a dieta dos homens primordiais, a dieta ocidental moderna contém grandes quantidades de gordura, sal, carboidratos, açúcares refinados e farinhas. Consequentemente, causam sérios problemas de saúde, tais como:[21][22][23]
- Riscos de saúde ligados aos alimentos transgênicos
- Cárie
- Alimentos com alto índice glicêmico
Expectativa de vida
[editar | editar código-fonte]O envelhecimento atual está associado ao surgimento de aterosclerose, doenças cardiovasculares, câncer, artrite, catarata, osteoporose, diabetes tipo 2, hipertensão e doença de Alzheimer. A incidência das doenças, como supracitado, aumenta de acordo com o envelhecimento das pessoas e, com a idade, aumenta-se o risco de câncer.[24] Cerca de 150.000 pessoas morrem diariamente, em todo o mundo, vítimas de doenças relacionadas à idade. Nos países industrializados, a ocorrência de doenças referentes à idade sobe em cerca de 90%.[24]
Prática de exercícios físicos
[editar | editar código-fonte]O homem contemporâneo pratica menos exercícios físicos do que os seus ancestrais. A prática de exercício físico atualmente está relacionada após o surgimento de doenças. Essa situação leva ao corpo a ter mudanças no seu metabolismo, ocasionando estresse, inflamações e doenças crônicas.[25][26][27][28][29][30]
Higiene
[editar | editar código-fonte]O homem contemporâneo, devido a tratamentos médicos e saneamento básico melhorados, estão amplamente livres de parasitas e de doenças ligadas ao intestino. Embora a higiene seja importante para a vivência humana, problemas relacionados ao sistema imunológico começam a aparecer, mesmo que haja uma busca para manter a saúde com qualidade. Crê-se que, a ausência de exposição a microorganismos que evoluíram no sistema imunológico, trouxeram problemas ao ser humano.
“ | Os microorganismos e macroorganismos, como helmintos da lama, dos animais e das fezes, desempenham um papel importante na regulação do sistema imunológico. (Rook, 2012)[31] | ” |
A exposição está ligada ao papel crucial que os organismos apresentam na proteção contra doenças modernas, como inflamações generalizadas e o Alzheimer.[32]
Evolução dos estágios vitais
[editar | editar código-fonte]Inicial
[editar | editar código-fonte]Outros
[editar | editar código-fonte]- Aterosclerose[46]
- Artrite e inflamações crônicas[34][35][36]
- Tosse[9]
- Fibrose cística[47]
- Oclusão[48]
- Diabetes tipo 2[49][50]
- Diarreia[51]
- Hipertensão arterial essencial[52]
- Febre[53][54]
- Hipertensão gestacional
- Gota[55]
- Hemocromatose[56][57]
- Deficiência de ferro[58]
- Obesidade[59][60]
- Fenilcetonúria[61]
- Placebo[62]
- Osteoporose[63]
- Doenças polimórficas ligadas à hemoglobina[64]
- Anemia falciforme[65][66]
- Distúrbio comportamental ligado a doenças[67]
- Câncer ovariano[68]
Psicologia evolutiva
[editar | editar código-fonte]As hipóteses de adaptação humana quanto à etiologia de transtornos psicológicos são, na maioria das vezes, baseadas em analogias com perspectivas evolutivas sobre disfunções de cunho médico e fisiológico.[69][70]
Causas possíveis de anormalidades psicológicas em função da evolução humana Baseado em Buss (2011),[71] Gaulin & McBurney (2004),[72] Workman e Reader (2004)[73] | ||
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Causa possível | Disfunção fisiológica | Disfunção psicológica |
Adaptação de defesa |
| Depressão ou ansiedade (respostas funcionais ao estresse) |
Adaptação de subproduto | Gás intestinal (subproduto da digestão de fibras) | Fetiches sexuais (possível subproduto de adaptações da libido, imprimindo o desejo sexual em objetos e situações incomuns) |
Adaptações de múltiplos efeitos |
| Aumento da criatividade, surgimento do transtorno bipolar e predisposição para esquizofrenia (adaptações com efeitos positivos e negativos em função do desenvolvimento humano) |
Adaptação de deformação | Alergias (respostas ao sistema imunológico) | Autismo (mal funcionamento da teoria da mente) |
Adaptação morfológica de frequência |
| Traços e desordem de personalidade (possível desenvolvimento de estratégias comportamentais em sociedade) |
Adaptação de incompatibilidade ambiental | Surgimento de diabetes tipo 2 | Interação frequente com estranhos, predispondo maior incidência de depressão e de ansiedade |
Adaptação de curvatura | Diferenças de altura | Personalidade introvertida ou extrovertida |
É possível, portanto, associar outros surgimentos de doenças e acometimentos por saúde humana com um fator psicológico.
Leitura
[editar | editar código-fonte]Livros
[editar | editar código-fonte]- Williams, George; Nesse, Randolph M. (1996). Why We Get Sick: the new science of Darwinian medicine. New York: Vintage Books. ISBN 0-679-74674-9
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Artigos on-line
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