Cristianismo e paganismo – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Desde o século IV, quando se tornou religião oficial do Império Romano, o cristianismo e o paganismo começaram a disputar espaço e influência entre os fiéis.
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História
[editar | editar código-fonte]O cristianismo é visto inicialmente pelos romanos à luz das suas raízes judaicas na província de Judeia, palco de muitas revoltas ao longo dos séculos de sua ocupação, a preocupação das autoridades romanas incidindo sobretudo nas consequências da incompatibilidade do dogma de monoteísmo e a permanência pacífica das minorias cristãs no império politeísta; preocupações à semelhança das acusações romanas contra o próprio Jesus, em que este foi condenado pelo crime político de ser "rei dos judeus" (contrariando a supremacia das instituições romanas coloniais), a perseguição aos cristãos no Império Romano viria sobretudo em consequência do que as autoridades viam como desafios à ordem pública romana e seus elementos políticos.
No entanto, num contexto de crescente instabilidade do império, a popularidade do cristianismo viria a ser tal que cada vez mais romanos se cristianizaram, e se viraram contra o culto dos seus antepassados conforme as doutrinas cristãs. A primeira proibição efectiva dos cultos pagãos foi decretada no Império Romano em 392, mas já durante o jugo de Constantino se vinha a consolidar o anti-paganismo no Estado romano, com o crescente consolidar institucional e teológico do cristianismo. Ainda assim, o populismo de massas do cristianismo viria a ser exemplificado pelo linchamento de Hipácia, no fim tumultuoso do governo do emperador cristão Valentiniano III.[1] Em torno do fim do século IV, deram-se a últimas tentativas da aristocracia colocar pagãos à chefia do Império, como no caso de Juliano, ou do "usurpador" Eugénio.[2][3] Alguns historiadores defendem até que, tal como apontado por Damáscio, Antémio seria um cripto-pagão, sendo certo que importantes seus sócios eram pagãos.[nota 1][5]
Em 435 as medidas contra certos tipos de paganismo foram reforçadas com a pena de morte para quem continuasse a fazer rituais pagãos, alguns envolvendo sacrifícios de animais e, mais excepcionalmente, pessoas.[nota 2][6][7][8][9] As dificuldades da Igreja ainda cresceram com as invasões bárbaras do século V, que muitos historiadores apontam ser o marco da queda do Império Romano. A maioria dos invasores eram pagãos, mas verificou-se um ponto de viragem à volta do ano 500, quando os Francos e outros se converteram do paganismo ao cristianismo. Na Península Ibérica, alguns dos "grandes trabalhos" de "re-educação" foram levados a cabo por figuras como Martinho de Dume, como atestado no seu "De Correctione Rusticorum", em que registra práticas pagãs e denuncia o arianismo dos suevos que então controlavam a Galécia. No Império, com a conversão dos lombardos arianos e dos pagãos anglo-saxónicos à volta do ano 680, o cristianismo passou a dominar quase por completo o espaço cultural da Europa ocidental.
Entre os habitantes do campo e nos estratos mais baixos da sociedade, porém, o paganismo continuou de forma mais ou menos mitigada. Os pagãos não se tornaram cristãos do dia para a noite. Os sacerdotes cristãos passaram a cristianizar muitas festas pagãs, dando-lhes um novo sentido. A maioria dos templos Pagãos foram sendo derrubados e no seu lugar erigidas igrejas da nova fé. O que a Igreja não conseguia destruir das antigas práticas religiosas, adaptava, transformando-as em práticas cristãs. No Natal, por exemplo, mantiveram-se ao lado do culto associado ao nascimento de Jesus, as fogueiras e as festas dos caretos (no nordeste transmontano de Portugal), etc. Naquela época os Romanos festejavam Saturno e o nascimento do deus Mitra - cultuado entre os soldados romanos. Os camponeses começaram a aceitar a religião que falava de Jesus, um homem que havia sido pregado na cruz pelos romanos. Ele lembrava o deus Odin que havia se pendurado em uma árvore para adquirir a sabedoria das Runas.[carece de fontes] Com o tempo passaram a associar Maria, mãe de Jesus, à Mãe Terra.[carece de fontes]
Durante um longo período, houve uma fé dupla: acreditavam em Jesus, mas não abandonavam inteiramente as suas crenças e práticas pagãs. Isso foi mais claro nas regiões germânicas onde a influência do cristianismo faz-se sentir nas inscrições em que se nota uma clara mistura das duas crenças quando lemos em uma mesma pedra a invocação de protecção ao deus Thor e, ao mesmo tempo, ao Cristo.[carece de fontes]
Ainda hoje, algumas orações cristãs de gosto popular, apresentam paralelismos em recitações de encantamentos pagãos. Algumas invocavam Jesus e diversos deuses Celtas a um só tempo. Não vamos pensar que tal dominação ocorreu de forma pacífica ou rápida. Na verdade, a Igreja Católica nunca conseguiu extinguir, de fato, as crenças classificadas pagãs.[carece de fontes]
Em Mani (Grécia), encontramos pagãos helénicos até pelo menos o século IX, conforme registrado no De Administrando Imperio de Constantino VII, que atesta a sua existência pelo menos até ao seu suprimir por Basílio I.[10]
No final do século XIV, a perseguição aos "hereges" assumiu também a forma de perseguição a cultos e práticas pagãs. Durante quase 400 anos, muitas pessoas morreram acusadas de prática de bruxaria, época conhecida como "Caça às bruxas". Muitos dos acusados eram denunciados por médicos, tentando implantar a medicina científica contra os curandeiros e "bruxos" adeptos das medicinas naturais.carece de fontes]
Desde finais do século VII e até 1789 - ano da Revolução Francesa - o paganismo esteve praticamente ausente nas altas esferas intelectuais e políticas do mundo ocidental, mas se mantendo na pintura, literatura, ocultismo, sociedades secretas, alquimia e astrologia.[11][verificar]
Notas
- ↑ Antémio teve muitos pagãos como colaboradores: Marcelino, mestre dos soldados e governador da Ilíria, era pagão, tal como o amigo de Antémio, o místico e filósofo, Cônsul de 470 e Prefeito urbano, Méssio Febo Severo, que resguardou politicamente.[4]
- ↑ Dependendo do paganismo em questão. No da própria Roma, sacrifício humano seria um ritual extremamente raro e circunstancial, a prática ilegalizada no geral em 97 DC, executada apenas pela mão das mais altas entidades religiosas do Estado de Roma, em situações como alguns Triunfos, nos quais prisoneiros de guerra eram cerimonialmente executados defronte do Templo de Júpiter Capitolino (como Vercingetórix e outros celtas gauleses no Triunfo de Júlio César). Em 534, Justiniano I faria um triunfo cujo fim seria não o sacrifício de prisioneiros, mas uma recitação de oração cristã e prostração de generais leais ao imperador.
Referências
- ↑ Edward Jay Watts (2006). City And School In Late Antique Athens And Alexandria. [S.l.]: University of California Press. pp. 197–198. ISBN 978-0-520-24421-4 (em inglês)
- ↑ J. N. Hillgarth, ed., Christianity and Paganism, 350-750: The Conversion of Western Europe, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1986, p. 2; Theodosian Code, XVI, 10, 12 (392), trad. de Pharr, pp. 473-74.
- ↑ Cameron, Alan (21 de dezembro de 2010). The Last Pagans of Rome (em inglês) 1 ed. [S.l.]: Oxford University Press
- ↑ O'Flynn, John M. (1991). «A Greek on the Roman Throne: The Fate of Anthemius». Historia: Zeitschrift für Alte Geschichte (1): 122–128. ISSN 0018-2311. Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ Damáscio, Vita Isidori no Epitome de Photius, citado em MacGeorge, Penny, Late Roman Warlords, Oxford University Press, 2002, ISBN 0-19-925244-0, p. 52.
- ↑ Beard, Mary (2007). The Roman triumph. Cambridge (Mass.): the Belknap press of Harvard university press
- ↑ Hillgarth, Jocelyn N.; American Council of Learned Societies, eds. (1986). Christianity and paganism, 350-750: the conversion of Western Europe. Col: Middle Ages Rev. ed ed. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. p. 49
- ↑ Carver, Dawn F.; Watson, J.; Curtiss, J. (4 de maio de 2018). «Ritual Killing in Ancient Rome: Homicide and Roman Superiority». Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ Schultz, Celia E. (2010). «The Romans and Ritual Murder». Journal of the American Academy of Religion (2): 516–541. ISSN 0002-7189. Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ Greenhalgh, P. A. L.; Eliopoulos, Edward (1985). Deep into Mani: journey to the southern tip of Greece. London ; Boston: Faber and Faber
- ↑ J. N. Hillgarth, ed., Christianity and Paganism, 350-750: The Conversion of Western Europe, Philadelphia