Moral católica – Wikipédia, a enciclopédia livre
De acordo com a Igreja Católica, a teologia moral é a parte da Teologia católica "que se ocupa do estudo sistemático dos princípios éticos da doutrina sobrenatural revelada", aplicando-os de seguida à vida quotidiana do católico e da Igreja. Esta teologia está, em parte, englobada pela teologia sistemática. Mas, apesar disso, muitas vezes ela também está associada à teologia prática [1].
O Evangelho e as verdades e doutrinas reveladas, estudadas pela teologia dogmática, estão essencialmente ligadas a uma ética e conduta moral. "A doutrina revelada, a rigor, é uma ética, pois apresenta, no seu conjunto, as normas exigidas para o relacionamento dos homens entre si e para com Deus" [1]. Esta ética e moral, que "preparam-nos para sermos o tipo de pessoa que pode viver com Deus" na vida eterna, giram por isso à volta do "desafio da dádiva de si mesmo aos outros" e a Deus [2]. Por isso, estas normas devem ser praticadas no quotidiano "como expressão da plena aceitação da mensagem evangélica" e da vontade de Deus pela humanidade [1]. A prática desta moral católica, cuja parte fundamental e obrigatória são os Dez Mandamentos, serve para libertar o Homem da "escravidão do pecado" [3], que é um autêntico "abuso da liberdade" [4]. Isto porque "só nos tornamos livres se conseguirmos ser melhores" e ser "atraídos para o bem e o belo" [5], visto que a bondade e as bem-aventuranças "definem o contexto para a vida moral cristã" [6].
Segundo a doutrina da Igreja Católica, "a questão moral é o cerne da problemática soteriológica, pois a salvação depende da nossa conduta, após a justificação recebida com a graça do batismo". O objetivo da teologia moral "é levar as virtudes cristãs à excelência", até o fim das vidas de cada católico [1].
Moralidade dos actos
[editar | editar código-fonte]Segundo a doutrina da Igreja Católica, "a moralidade dos actos humanos depende de três fontes: do objecto escolhido, ou seja, dum bem verdadeiro ou aparente; da intenção do sujeito que age, isto é, do fim que ele tem em vista ao fazer a acção; das circunstâncias da acção, onde se incluem as suas consequências". Estas circunstâncias podem anular, "atenuar ou aumentar a responsabilidade de quem age, mas não podem modificar a qualidade moral dos próprios actos, não tornam nunca boa uma acção que, em si, é má", visto que "o fim não justifica os meios". Por isso, a transgressão de uma regra moral implica a escolha do mal e por isso o cometimento de pecados [7].
Moralidade das paixões
[editar | editar código-fonte]Segundo a concepção católica, as paixões são "os afectos, as emoções ou os movimentos da sensibilidade – componentes naturais da psicologia humana – que inclinam a agir ou a não agir em vista do que se percebeu como bom ou como mau. As principais são o amor e o ódio, o desejo e o medo, a alegria, a tristeza e a cólera. A paixão fundamental é o amor, provocado pela atracção do bem." [8].
Ainda segundo a doutrina católica, "as paixões não são nem boas nem más em si mesmas: são boas quando contribuem para uma acção boa; são más, no caso contrário." Logo, elas podem ser assumidas, guiadas e ordenadas pelas virtudes ou pervertidas e desorientadas pelos vícios [9].
Dignidade, liberdade e consciência moral
[editar | editar código-fonte]Como já foi tratado nas secções "Homem, a sua Queda e o Pecado original", "Demónios e Mal" e "Justificação, Graça, Misericórdia, Mérito e Liberdade, o Homem possui dignidade, que está radicada na sua "criação à imagem e semelhança de Deus", o que implica necessariamente que o Homem possui liberdade e consciência moral. A liberdade é uma capacidade inseparável e inalienável do Homem [10], dado por Deus, "de agir e não agir", "de escolher entre o bem e o mal", "praticando assim por si mesmo acções deliberadas". Este poder único, que "atinge a perfeição quando é ordenada para Deus" [11], "torna o homem responsável pelos seus actos, na medida em que são voluntários, embora a imputabilidade e a responsabilidade de um acto possam ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência suportada, o medo, as afeições desordenadas e os hábitos" [12]. A "escolha do mal é um abuso da liberdade, que conduz à escravatura do pecado", porque o Homem tem uma consciência moral [11].
Quando escuta esta consciência, "o homem prudente pode ouvir a voz de Deus" [13], que o ordena a praticar o bem e a evitar o mal, em conformidade e guiada pela razão, pela doutrina e pela Lei de Deus, especialmente pela regra de ouro e pelos mandamentos de amor [14]. "Graças a ela, a pessoa humana percebe a qualidade moral dum acto a realizar ou já realizado, permitindo-lhe assumir a responsabilidade." [13]. O Homem, como possui dignidade, não deve ser impedido ou obrigado "a agir contra a sua consciência" [14], devendo por isso "obedecer sempre ao juízo certo da sua consciência, mas esta também pode emitir juízos erróneos" [15]. Para que isto não aconteça, é preciso rectificá-la e torná-la perfeita, para ela estar em sintonia com a vontade divina, através da educação, "da assimilação da Palavra de Deus e do ensino da Igreja". "Além disso, ajudam muito na formação moral a oração e o exame de consciência", bem como os dons do Espírito Santo e "os conselhos de pessoas sábias" [16].
Lei moral
[editar | editar código-fonte]A Lei moral ou Lei de Deus, sendo uma obra divina, "prescreve-nos caminhos e normas de conduta que levam à bem-aventurança prometida, proibindo-nos os caminhos que nos desviam de Deus" [19]. A Lei moral é percebida pelo Homem devido à sua consciência moral e à sua razão. Esta lei é constituída pela Lei natural, que está "escrita pelo Criador no coração de cada ser humano" [20]; pela Antiga Lei, revelada no Antigo Testamento; e pela Nova Lei, revelada no Novo Testamento por Jesus.
A Lei natural, sendo "universal e imutável", "manifesta o sentido moral originário que permite ao homem discernir, pela razão, o bem e o mal". Como todos os homens (fiéis ou infiéis) a percebam, ela é de cumprimento obrigatório [20], mas ela nem sempre é totalmente compreendida, devido ao pecado. Por isso, Santo Agostinho afirma que "Deus «escreveu nas tábuas da Lei o que os homens não conseguiam ler nos seus corações»" [21], dando assim origem à Antiga Lei, que "é o primeiro estádio da Lei revelada". Resumida nos Dez Mandamentos, ela "exprime muitas verdades que são naturalmente acessíveis à razão", coloca "os alicerces da vocação do homem, proíbe o que é contrário ao amor de Deus e do próximo e prescreve o que lhe é essencial" [22].
A Antiga Lei, sendo ainda imperfeita, "prepara e dispõe à conversão e ao acolhimento do Evangelho" [23] e da Nova Lei, que é a "perfeição e cumprimento", mas não a substituição, da Lei natural e da Antiga Lei [18]. Esta Nova Lei ou Lei evangélica "encontra-se em toda a vida e pregação de Cristo e na catequese moral dos Apóstolos", sendo o Sermão da Montanha "a sua principal expressão" [17]. Esta Lei já perfeita e plenamente revelada "resume-se no mandamento do amor a Deus e ao próximo", e é considerada por São Tomás de Aquino como «a própria graça do Espírito Santo, dada aos crentes em Cristo» [18].
Dez Mandamentos
[editar | editar código-fonte]Como os Dez Mandamentos (ou Decálogo) é a síntese da Lei de Deus (e não só da Antiga Lei) e a base mínima e fundamental da moral católica, a Igreja insiste aos seus fiéis o cumprimento obrigatório destas regras [25], que já tinham sido reveladas no Antigo Testamento. Aliás, segundo as próprias palavras de Jesus, é necessário observá-los para "entrar na vida eterna" (Mt 19,16-21) [26], além de ser necessário para o "o povo mostrar a sua pertença a Deus e responder com gratidão à sua iniciativa de amor" [27]. Estes mandamentos, que "enuncia deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo" [25], dão a conhecer também a vontade divina e, ao todo, são dez:
- 1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
- 2º - Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.
- 3º - Guardar domingos e festas de guarda.
- 4º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
- 5º - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo).
- 6º - Guardar castidade nas palavras e nas obras.
- 7º - Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
- 8º - Não levantar falsos testemunhos.
- 9º - Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
- 10º- Não cobiçar as coisas alheias.
Segundo a doutrina católica sobre os Dez Mandamentos, esses mandamentos podem ser resumidos em apenas dois, que são: "amar a Deus sobre todas as coisas"; e "amar ao próximo como a nós mesmos". A transgressão de um mandamento infrige todo o Decálogo, porque é um "conjunto orgânico e indissociável" [28].
Virtude
[editar | editar código-fonte]
A virtude, que se opõe ao pecado, é uma qualidade moral, "uma disposição habitual e firme para fazer o bem", sendo "o fim de uma vida virtuosa tornar-se semelhante a Deus" [29]. Segundo a Igreja Católica, existe uma grande variedade de virtudes que derivam da razão e da fé humanas. Estas, que se chamam virtudes humanas, regulam os actos, as paixões e a conduta moral humanas [30], sendo as mais importantes as virtudes cardinais, que são quatro [31]:
- a Prudência, que "dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir" [32].
- a Justiça, que é uma "constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido" [33].
- a Fortaleza que "assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem" [34].
- a Temperança que "modera a atracção dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados" [35].
Mas, para que as virtudes humanas se atinjam a sua plenitude, elas têm que ser vivificadas e animadas pelas virtudes teologais, que têm "como origem, motivo e objecto imediato o próprio Deus". Elas são infundidas no homem com a graça santificante e tornam os homens capazes de viver em relação com a Santíssima Trindade [36]. As virtudes teologais são três:
- Fé: por causa dela, o homem acredita e "entrega-se a Deus livremente. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus" [37].
- Esperança: por meio dela, os crentes esperam a vida eterna e o Reino de Deus, colocando a sua confiança perseverante nas promessas de Cristo [38].
- Caridade (ou Amor): através dela, "amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da Lei", sendo por isso «o vínculo da perfeição» (Col 3,14) [39]. O Amor é também visto como uma "dádiva de si mesmo" e "o oposto de usar" (ver subsecção Amor, Sexualidade e Castidade) [40].
Pecado
[editar | editar código-fonte]Segundo santo Agostinho de Hipona, o pecado "é «uma palavra, um acto ou um desejo contrários à Lei eterna»", causando por isso ofensa a Deus e ao seu amor. Logo, este acto do mal fere a natureza e a solidariedade humanas. "Cristo, na sua morte na cruz, revela plenamente a gravidade do pecado e vence-o com a sua misericórdia" [41]. Há uma grande variedade de pecados, distinguindo-lhes "segundo o seu objecto, ou segundo as virtudes ou os mandamentos a que se opõem. Podem ser directamente contra Deus, contra o próximo e contra nós mesmos. Podemos ainda distinguir entre pecados por pensamentos, por palavras, por acções e por omissões" [42].
A repetição de pecados gera vícios, que "'são hábitos perversos que obscurecem a consciência e inclinam ao mal. Os vícios podem estar ligados aos chamados sete pecados capitais, que são: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça ou negligência" [43]. A Igreja ensina também que temos responsabilidade "nos pecados cometidos por outros, quando culpavelmente neles cooperamos" [44].
Quanto à sua gravidade, os pecados cometidos pela humanidade podem ser divididos em:
- pecados mortais, que são cometidos quando "há matéria grave [...] e deliberado consentimento". Ao afastarem o Homem da caridade e da graça santificante, eles "conduz-nos à morte eterna do Inferno, se deles não nos arrependermos" sinceramente [45];
- pecados veniais, que são cometidos "sem pleno consentimento" ou "se trata de matéria leve". Eles, apesar de afectar o nosso caminho de santificação, merece apenas "penas purificatórias temporais", nomeadamente no Purgatório [46].
Todos estes pecados pessoais devem-se ao enfraquecimento da natureza humana, que passou a ficar "submetida à ignorância, ao sofrimento, ao poder da morte, e inclinada ao pecado". Isto é causada pelo pecado original (veja a subsecção Homem, a sua Queda e o Pecado original), que é transmitido a todos os homens, sem culpa própria, devido à sua unidade de origem, que é Adão e Eva. Eles desobedeceram à Palavra de Deus no início do mundo, originando este pecado, que, felizmente, pode ser actualmente perdoado (mas não eliminado) pelo Baptismo. [47]
Perdão e indulgências
[editar | editar código-fonte]Porém, como o amor de Deus é infinito e como Jesus já se sacrificou na cruz, todos os homens, católicos ou não, podem ser perdoados por Deus a qualquer momento, desde que eles se arrependam de um modo livre e sincero[48] e se comprometam em fazer os possíveis para perdoar os seus inimigos [49]. Este perdão tão necessário pode ser concedido por Deus sacramentalmente e por meio da Igreja, pela primeira vez, através do Baptismo e depois, ordinariamente, através da Reconciliação [45].
Mas, Deus também pode conceder este perdão através de muitas maneiras diferentes (ou até mesmo directamente), para todos aqueles que se arrependeram (incluindo os não católicos) [50]. Mas, o perdão divino não significa a eliminação das penas temporais, ou seja, do mal causado como consequência dos pecados cuja culpa já está perdoada. Neste caso, para as eliminar, é necessário obter indulgências e praticar boas obras durante a vida terrena ou ainda, depois de morrer, uma purificação da alma no Purgatório, com a finalidade de entrar puro e santo no Céu [51].
Amor, sexualidade e castidade
[editar | editar código-fonte]Em relação à sexualidade, a Igreja Católica convida todos os seus fiéis a viverem na castidade, que é uma "virtude moral e um dom de Deus" [53] que permite a "integração positiva da sexualidade na pessoa" [53]. Esta integração tem por objectivo tornar possível "a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual" [54], supondo por isso de "uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz" [55]. "A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardinal da temperança" [56].
Logo, "todo o baptizado é chamado à castidade" [57] porque a sexualidade só se "torna pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher" [54], ambos unidos pelo sacramento do Sagrado Matrimónio (que é indissolúvel) [58]. Por isso, os actos sexuais só podem "ter lugar exclusivamente no Matrimónio; fora dele constituem sempre um pecado grave" [59]. Por estas razões, o sexo pré-marital [60], "o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro" e os actos sexuais entre homossexuais são condenados pela Igreja como sendo "expressões do vício da luxúria" [61].
Para a Igreja, o Amor é uma virtude teologal [39], uma "dádiva de si mesmo" e "é o oposto de usar" [40] e de afirmar-se a si mesmo [62]. Aplicado nas relações conjugais humanas, o Amor verdadeiramente vivido e plenamente realizado é uma "comunhão de entrega e receptividade" [63], de "dádiva mútua do eu e [...] de afirmação mútua da dignidade de cada parceiro". Esta comunhão "do homem e da mulher" [63] é "um ícone da vida do próprio Deus" [64] e "leva não apenas à satisfação, mas à santidade" [63]. Este tipo de relação conjugal proposto pela Igreja "exige permanência e compromisso", que só pode ser autenticamente vivido "no seio dos laços do Matrimónio" [65].
Por esta razão, a sexualidade não exerce só a função de procriar, mas também um papel importante na vida íntima conjugal. Usando as palavras do Catecismo da Igreja Católica, a sexualidade, que "é fonte de alegria e de prazer" [67], "ordena-se para o amor conjugal do homem e da mulher" [68] e para "a transmissão da vida" [69]. A sexualidade (e o sexo) é também considerada como a grande expressão "humana e totalmente humanizada" do Amor recíproco, que é assente na "dádiva de si mesmo", "no encontro de duas liberdades em entrega e receptividade mútuas", onde o homem e a mulher se unem e se complementam [70]. Este verdadeiro e íntegro amor conjugal, onde a relação sexual é vivida honesta e dignamente, só é possível graças à castidade conjugal [71]. Esta virtude permite uma vivência conjugal perfeita assente "na fidelidade e na fecundidade" matrimoniais [69].
Para além da castidade conjugal (que não implica a abstinência sexual dos casados), existem ainda diversos regimes de castidade: a virgindade ou o celibato consagrado (para, como por exemplo, os religiosos, as pessoas consagradas e os clérigos), e "a castidade na continência" ou abstinência (para os não casados) [72].
Preservativos e DSTs
[editar | editar código-fonte]Segundo a doutrina católica, o uso atual e indiscriminado de preservativos incentiva um estilo de vida sexual imoral, promíscuo, irresponsável e banalizado, onde o corpo é usado como um fim em si mesmo e o parceiro(a) é reduzido(a) a um simples objeto de prazer. Esse tipo de vida sexual é fortemente condenado pela Igreja Católica.[73] Em relação ao uso do preservativo como um método contraceptivo, a Igreja Católica condena também expressamente o seu uso.[74].
O Papa Bento XVI reafirmou, durante a sua visita aos Camarões e à Angola (17 de Março a 23 de Março de 2009), que somente a distribuição de preservativos não ajuda a controlar o problema da SIDA, mas, pelo contrário, contribuiria para "piorar a situação". Tais declarações desencadearam uma tempestade de críticas e condenações por parte de governos e das ONGs. O director executivo do Fundo Mundial de Luta contra a SIDA, a tuberculose e o paludismo, Michael Kazatchine, pediu a Bento XVI que retirasse as suas declarações "inaceitáveis". [75]
Contudo, em 2010, o Papa Bento XVI afirmou, de forma coloquial e não oficial, que o uso do preservativo pode ser justificável em alguns casos pontuais para diminuir o risco de contágio às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), "como por exemplo a utilização do preservativo por um(a) prostituto(a)". Porém, o Papa defendeu que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando a abstinência e a fidelidade conjugal não resultarem. Para o Papa, "a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade", por isso ele reafirma que o uso de preservativos não é "a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV" e não é "uma solução verdadeira e moral". Segundo a doutrina católica, a fidelidade no casamento, o amor recíproco, a castidade e a abstinência são os melhores meios de combater as DSTs.[73][76] [77][78]
Homossexualidade
[editar | editar código-fonte]Os actos sexuais entre pessoas com tendências homossexuais são considerados moralmente errados porque "violam a iconografia de diferenciação e complementariedade sexuais [a união homem-mulher], que tornam o amor sexual possível como acto de entrega e reciprocidade mútuas, e porque são, de natureza, incapazes de gerar vida" [79]. Entretanto, para a Igreja, ter tendências homossexuais não é considerado um pecado, mas apenas uma "provação" proveniente de uma tendência desordenada. O pecado está em ceder a essas tendências e adoptá-las na prática [80]. Na mesma linha de pensamento, a Igreja repudia qualquer reconhecimento legal das uniões entre pessoas do mesmo sexo [81].
Mas a Igreja Católica não discrimina injustamente os homossexuais. Na verdade, aconselha seus fiéis respeitarem sempre as pessoas, e pretende ajudá-los antes de tudo a viver na castidade e "na integridade do amor na entrega de si mesmos e para evitarem actos sexuais que são, pela natureza, moralmente desordenados, porque são actos de afirmação de si mesmo e não dádiva de si mesmo" [79]. A Igreja ainda convida os homossexuais a "aproximarem-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã", através do oferecimento das suas dificuldades e sofrimentos como um sacrifício para Deus, das "virtudes do autodomínio [...], do apoio duma amizade desinteressada, da oração e da graça sacramental" [80].
Vida, planejamento familiar e contracepção
[editar | editar código-fonte]A Igreja Católica considera a Vida humana como "sagrada" e como uma das maiores dádivas e criações divinas (logo, é um valor absoluto e inalienável) [83], por isso condena, entre outras práticas, a violência [84], o homicídio, o suicídio, o aborto induzido, a eutanásia [85], a clonagem humana (seja ela reprodutiva ou terapêutica) [86] e as pesquisas ou práticas científicas que usam células-tronco extraídas do "embrião humano vivo" (o que provocam a morte do embrião) [87]. Para a Igreja, a Vida humana deve ser gerada naturalmente pelo sexo conjugal [88] e tem início na fecundação (ou "concepção") e o seu fim na morte natural [89] [90]. Segundo esta lógica, a reprodução medicamente assistida é também considerada imoral porque "dissocia a procriação" do acto sexual conjugal, "instaurando assim um domínio da técnica sobre a origem e o destino da pessoa humana" [91].
Quanto à regulação dos nascimentos, a Igreja defende-a como uma expressão e "componente da paternidade e maternidade responsáveis" à construção prudente de famílias, desde que não seja realizada com base no egoísmo ou em "imposições externas" [92]. Mas, esta regulação só pode ser feita através do planeamento familiar natural, que utiliza métodos naturais como a continência periódica e o recurso aos períodos infecundos [92]. A pílula, a esterilização directa, o preservativo e outros métodos de contracepção são expressamente condenados [93].
A Igreja ensina inclusivamente que os métodos naturais são formas mais humanistas e responsáveis de viver a responsabilidade procriadora porque, quando usados correctamente, aumentam e fortalecem a comunicação e o amor entre os cônjuges; promovem o auto-conhecimento do corpo; nunca tem efeitos colaterais no organismo; e promovem a ideia de que a fertilidade é uma riqueza e dádiva divina que pode e deve ser utilizada em momento oportuno [94].
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Teologia cristã
- Teologia moral
- Doutrina da Igreja Católica
- Igreja Católica
- Críticas à Igreja Católica
- Doutrina Social da Igreja
- Doutrina católica sobre os Dez Mandamentos
- Casuística
- Hieronymus Noldin (de)
Referências
- ↑ a b c d Doutrina Católica - Teologias Arquivado em 25 de agosto de 2006, no Wayback Machine. e Doutrina Católica - Teologia Moral Arquivado em 27 de outubro de 2009, no Wayback Machine.
- ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 5, pág. 81
- ↑ «Teologia Moral, na "Doutrina Católica"». Consultado em 11 de fevereiro de 2009. Arquivado do original em 27 de outubro de 2009
- ↑ Catecismo da Igreja Católica (CIC), n. 387
- ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 5, pág. 86
- ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 5, pág. 80 e 83
- ↑ Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC), n. 367 e 368
- ↑ Ibidem, n. 370
- ↑ Ibidem, n. 371
- ↑ Ibidem, n. 365
- ↑ a b Ibidem, n. 363
- ↑ Ibidem, n. 364
- ↑ a b Ibidem, n. 372
- ↑ a b Ibidem, n. 373
- ↑ Ibidem, n. 376
- ↑ Ibidem; n. 374
- ↑ a b Ibidem, n. 421
- ↑ a b c Ibidem, n. 420
- ↑ Ibidem; n. 415
- ↑ a b Ibidem, n. 416
- ↑ Ibidem, n. 417
- ↑ Ibidem, n. 418
- ↑ Ibidem, n. 419
- ↑ Verbetes "Moisés" e "Mandamentos da Lei de Deus", da Enciclopédia Católica Popular
- ↑ a b CCIC; n. 438 e 440
- ↑ Ibidem, n. 434
- ↑ Ibidem; n. 437
- ↑ Ibidem, n. 439
- ↑ CCIC, n. 377
- ↑ Ibidem, n. 378
- ↑ Ibidem, n. 379
- ↑ Ibidem, n. 380
- ↑ Ibidem, n. 381
- ↑ Ibidem, n. 382
- ↑ Ibidem, n. 383
- ↑ Ibidem, n. 384
- ↑ Ibidem, n. 386
- ↑ CCIC, n. 387
- ↑ a b Ibidem; n. 388
- ↑ a b GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo, Lisboa: Bertrand Editora (tradução de 2002); cap. 6, pág. 101
- ↑ Ibidem, n. 392
- ↑ Ibidem, n. 393
- ↑ Ibidem, n. 398
- ↑ Ibidem, n. 399
- ↑ a b Ibidem, n. 395 Erro de citação: Código
<ref>
inválido; o nome "Perdao2" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes - ↑ Ibidem, n. 396
- ↑ Ibidem, n. 76 e 77
- ↑ Ibidem, n. 391
- ↑ CCIC, 595
- ↑ Verbete "Perdão" da Enciclopédia Católica Popular
- ↑ CCIC, n. 312
- ↑ "Teologia das Virtudes Ascéticas: A Castidade" (secção O Modo Mais Perfeito de Viver a Castidade) Arquivado em 11 de abril de 2008, no Wayback Machine., do site Sociedade Católica
- ↑ a b CCIC, n. 488
- ↑ a b CIC, n. 2337
- ↑ Ibidem, n. 2339
- ↑ Ibidem, n. 2341
- ↑ Ibidem, n. 2348
- ↑ CCIC, n. 346
- ↑ CIC, n. 2390
- ↑ CCIC, n. 502
- ↑ Ibidem, n. 492
- ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 105
- ↑ a b c GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 106-107
- ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 108
- ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 102
- ↑ JAMES LIKOUDIS, "Patroness of Purity - St. Maria Goretti, Virgin and Martyr"
- ↑ CIC, n. 2362
- ↑ Ibidem, n. 2360
- ↑ a b Ibidem, n. 2363
- ↑ GEORGE WEIGEl, A Verdade do Catolicismo; cap. 6; págs. 101, 104 e 105
- ↑ GEORGE WEIGEl, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 102
- ↑ CIC, n. 2349
- ↑ a b «Igreja, sexo e camisinhas». Diocese de Joinville. Consultado em 8 de Junho de 2009. Arquivado do original em 30 de janeiro de 2008
- ↑ Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 498
- ↑ «França condena declarações do Papa sobre o preservativo». Público. 18 de Março de 2010. Consultado em 24 de Outubro de 2010[ligação inativa]
- ↑ «VERDADE DOS FATOS SOBRE BENTO XVI E O USO DE CAMISINHA». Beraká. 21 de Novembro de 2010. Consultado em 22 de Novembro de 2010
- ↑ «Papa justifica o preservativo em alguns casos, mas confirma o Magistério». Zenit. 21 de Novembro de 2010. Consultado em 22 de Novembro de 2010[ligação inativa]
- ↑ «Il Papa, la Chiesa e i segni dei tempi» (em italiano). L'Osservatore Romano. 21 de Novembro de 2010. Consultado em 22 de Novembro de 2010
- ↑ a b GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 114
- ↑ a b Catecismo da Igreja Católica (CIC); n. 2357 - 2359.
- ↑ CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, "Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais"; n. 11 (2003)
- ↑ Verbete "Humanae vitae (HV)", da Enciclopédia Católica Popular
- ↑ CIC, n. 2258
- ↑ CCIC, n. 477
- ↑ Ibidem, n. 470
- ↑ CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução "Dignitas Personae"; n. 28 a 30 (2008)
- ↑ Ibidem, n. 32
- ↑ CIC, n. 2366 e 2367
- ↑ CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução "Dignitas Personae"; n. 16 (2008)
- ↑ CIC, n. 2319
- ↑ Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 499
- ↑ a b Ibidem, n. 497
- ↑ Ibidem, n. 498
- ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, págs. 110-111
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Moral Theology - Catholic Encyclopedia (newadvent.org)
- Teologia moral: compêndio de moral católica para o clero em geral e leigos Teodoro da Torre del Greco (padre, O.F.M.Cap.)
- Curso de Teologia Moral – Mater Ecclesiae
- Régis Jolivet - Tratado De Filosofia - Tomo IV - Moral