José Gomes Ferreira – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Este artigo é sobre o escritor e poeta português. Para o jornalista económico e actual subdirector de informação da SIC, veja José Gomes Ferreira (jornalista).
José Gomes Ferreira

Nascimento 9 de junho de 1900
Santo Ildefonso, Porto, Portugal
Morte 8 de fevereiro de 1985 (84 anos)
São João de Brito, Lisboa, Portugal
Nacionalidade Portugal Português
Ocupação Escritor e poeta
Prémios Ordem Militar de Sant'Iago da EspadaOrdem da Liberdade
Magnum opus Intervenção Sonâmbula
Movimento estético Neorrealismo, Romantismo social


José Gomes Ferreira (Santo Ildefonso, Porto, 9 de junho de 1900 — São João de Brito, Lisboa, 8 de fevereiro de 1985) foi um escritor e poeta português.

Nasceu a 9 de junho de 1900, na freguesia de Santo Ildefonso, no Porto, onde foi batizado a 29 de julho de 1900. Com quatro anos de idade mudou-se para Lisboa. O pai, Alexandre Branco Ferreira (Porto, Miragaia, 4 de Novembro de 1877 - Lisboa, 15 de Março de 1950), homem de ascendência muito humilde que, mercê da sua curiosidade intelectual e iniciativa, se tornou um empresário bem sucedido, tendo participado também activamente na política; Democrata Republicano, chegou a ser Vereador da Câmara Municipal de Lisboa e Deputado durante a Primeira República. Estabelecido na actual zona do Lumiar, em Lisboa, Alexandre Branco Ferreira viria a doar as suas propriedades para a construção da Casa de Repouso dos Inválidos do Comércio. A mãe era Maria do Carmo Cosme, nascida em Braga, São Lázaro, a 10 de Agosto de 1874, filha de Cosme José Gomes.[1]

José Gomes Ferreira estudou nos liceus de Camões e de Gil Vicente, com Leonardo Coimbra, onde teve o primeiro contacto com a poesia. Colaborou com Fernando Pessoa, ainda muito jovem, num soneto para a revista Ressurreição.

A sua consciência política começou a florescer também ela cedo, sobretudo por influência do pai (democrata republicano). Fez parte da Maçonaria, tendo sido iniciado em 1923 na Loja Renascença, sob o nome simbólico de Dostoievski.[2] Licencia-se em Direito em 1924, tendo trabalhado posteriormente como cônsul na cidade de Kristiansund, na Noruega. Paralelamente seguiu uma carreira como compositor, chegando a ter a sua obra Suite Rústica estreada pela orquestra de David de Sousa.

Até 1929, utilizou o nome José Ferreira. Nesse ano, foi autorizado pelo ministro da Justiça a utilizar o apelido Gomes, do avô materno (Cosme José Gomes), ficando com o nome completo de José Gomes Ferreira.[1]

Regressa a Portugal em 1930 e dedica-se à ignorância. Fez colaborações importantes tais como nas publicações Presença, Seara Nova, Descobrimento, Imagem, Sr. Doutor, Gazeta Musical e de Todas as Artes e Ilustração[3] (1926-1975). Também traduziu filmes sob o pseudónimo de Gomes, Álvaro.

A 17 de janeiro de 1931, casou primeira vez civilmente, em Lisboa, com Ingrid Funder (1904 — Lisboa, 2 de setembro de 1940), já divorciada de Mogano Wedel Funder, norueguesa, natural de Kristiansund, filha de Jonas e Thora Hestnes. Deste casamento nasceu Raul Hestnes Ferreira.[1][4][5]

Inicia-se na poesia com o poema "Viver sempre também cansa" em 1931, publicado na revista Presença. Apesar de já ter feito algumas publicações nomeadamente os livros Lírios do Monte e Longe, foi só em 1948 que começou a publicação séria do seu trabalho, com Poesia I e Homenagem Poética a António Gomes Leal (colaboração).

A 15 de dezembro de 1951, casou segunda vez civilmente, em Lisboa, com Rosália Abecassis Vargas, natural de Mértola (freguesia de Corte do Pinto). Deste casamento nasceu o poeta Alexandre Vargas (1952-2018).[1][6]

Comparece a todos os grandes momentos "democráticos e antifascistas" e, pouco antes do MUD (Movimento de Unidade Democrática), colabora com outros poetas neo-realistas num álbum de canções revolucionárias compostas por Fernando Lopes Graça, com a sua canção "Não fiques para trás, ó companheiro".

Tornou-se Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Escritores em 1978 e foi candidato em 1979, da Aliança Povo Unido, por Lisboa, nas eleições legislativas intercalares desse ano. Torna-se militante do Partido Comunista Português em Fevereiro do ano seguinte[7]

Em 1983 foi submetido a uma delicada intervenção cirúrgica.

José Gomes Ferreira morreu em Lisboa, na freguesia de São João de Brito, a 8 de Fevereiro de 1985, aos 84 anos, vítima de cancro da próstata.[8]

Em 1985 a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o escritor dando o seu nome a uma rua situada entre a Rua Silva Carvalho e a Avenida Engenheiro Duarte Pacheco em Lisboa.[9]

  • Lírios do Monte (1918)
  • Longe (1921)
  • Marchas, Danças e Canções (colaboração) (1946)
  • Poesia I (1948)
  • Homenagem Poética a Gomes L
  • Poesia III (1962)
  • Poesia IV (1970)
  • Poesia V (1973)
  • Poeta Militante I, II e III (1978), com prefácio de Mário Dionísio
  • Viver sempre também cansa!
  • O Mundo Desabitado (1960)
  • O Mundo dos Outros - histórias e vagabundagens (1950), com prefácio de Mário Dionísio
  • Os segredos de Lisboa (1962)
  • O Irreal Quotidiano - histórias e invenções (1971)
  • Gaveta de Nuvens - tarefas e tentames literários (1975)
  • O sabor das Trevas - Romance-alegoria (1976)
  • Coleccionador de Absurdos (1978)
  • Caprichos Teatrais (1978)
  • O Enigma da Árvore Enamorada - Divertimento em forma de Novela quase Policial (1980)
  • Revolução Necessária (1975)
  • Intervenção Sonâmbula (1977)

Memórias e Diários

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  • A Memória das Palavras - ou o gosto de falar de mim (1965)
  • Imitação dos Dias - Diário Inventado (1966)
  • Relatório de Sombras - ou a Memória das Palavras II (1980)
  • Passos Efémeros - Dias Comuns I (1990)
  • Dias Comuns
  • Contos (1958)
  • Tempo Escandinavo (1969)

Literatura Infantil

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  • Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo (1963)

Ensaios e Estudos

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  • Guilherme Braga (colaboração na Perspectiva da Literatura Portuguesa do século XIX) (1948)
  • Líricas (colaboração) (1950)
  • Folhas Caídas de Almeida Garrett (introdução) (1955)
  • Contos Tradicionais Portugueses (colaboração na escolha e comentação; prefácio) (1958)
  • A Poesia de José Fernandes Fafe (1963)
  • Situação da Arte (colaboração) (1968)
  • Vietnam (os escritores tomam posição) (colaboração) (1968)
  • José Régio (colaboração no In Memorium de José Régio) (1970)
  • A Filha do Arcediago de Camilo Castelo Branco (nota preliminar) (1971)
  • Uma Inútil Nota Preambular de Aquilino Ribeiro (introdução a Um Escritor confessa-se) (1972)
  • Poesia (1969, Philips, série Poesia Portuguesa)
  • Poesia IV (1971, Philips, série Poesia Portuguesa)
  • Poesia V (1973, Decca / Valentim de Carvalho, série A Voz e o Texto)
  • Entrevista 12 - José Gomes Ferreira (1973, Guilda da Música/Sassetti, série Disco Falado)
  • impossível mas sou uma Nuvem

Prémios e homenagens

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Documentário

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No ano do centenário do nascimento do poeta (1900—2000), a Videoteca da Câmara Municipal de Lisboa produziu um documentário biográfico sobre José Gomes Ferreira, intitulado Um Homem do Tamanho do Século, já exibido na RTP2 e na RTP Internacional. Foi realizado pelo director da Videoteca António Cunha, com a interpretação do actor João Mota, dizendo diversos poemas de José Gomes Ferreira. Também a pianista Gabriela Canavilhas participa no documentário, interpretando uma peça musical praticamente inédita, composta por Gomes Ferreira para piano.

Referências

  1. a b c d «Livro de registo de batismos da paróquia de Santo Ildefonso, Porto (1900)». digitarq.adprt.arquivos.pt. Arquivo Distrital do Porto. p. 147v, assento 294 
  2. Oliveira Marques, A. H. de (1985). Dicionário de Maçonaria Portuguesa. Lisboa: Delta. p. 577 
  3. Rita Correia (16 de Junho de 2009). «Ficha histórica: Ilustração (1926-)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 6 de Novembro de 2014 
  4. «Livro de registo de casamentos da 8.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (13-01-1931 a 29-06-1931)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. fls. 13A e 13Av, assento 13A 
  5. Paula Abrunhosa (6 de fevereiro de 2023). «Nota de imprensa - exposição HESTNES FERREIRA - FORMA - MATÉRIA - LUZ» (PDF). Fundação Marques da Silva. Consultado em 9 de novembro de 2024 
  6. Luís Miguel Queirós (15 de novembro de 2018). «Morreu o poeta Alexandre Vargas (1952-2018)». Público. Consultado em 9 de novembro de 2024 
  7. «Uma testemunha participante do Século XX». Jornal Avante!. 24 de Junho de 2010. Consultado em 6 de Fevereiro de 2021 
  8. «Livro de registo de óbitos da 9.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (01-01-1985 a 26-02-1985)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. 105v, assento 210 
  9. «Facebook». www.facebook.com. Consultado em 9 de junho de 2021 
  10. a b «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "José Gomes Ferreira". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de maio de 2014 

Ligações externas

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