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Escola Estadual Campos Salles
Escola Estadual Campos Salles
Fachada E.E. Campos Salles
Informação
Localização São Paulo, São Paulo,
Rua São Joaquim, 288
Tipo de instituição Ensino público
Fundação 1911 (113 anos)
Abertura 1911 (113 anos)
Fechamento 1992
Mantenedora Governo de São Paulo
Afiliações Museu Manabu Mabe, Grupo escolar

A Escola Estadual de Primeiro Grau Campos Salles ou E.E.P.G.Campos Salles, foi uma escola estadual localizada no bairro da Liberdade, na rua São Joaquim, próxima à estação São Joaquim da linha 1-azul do metrô, da cidade de São Paulo. Faz parte do conjunto de cerca de cento e setenta escolas erguidas pelo governo paulista da Primeira República entre 1890 e 1930,[1] sendo fundada no ano de 1911. Foi incendiada por alunos no final de 1992, encerrando suas atividades enquanto instituição de ensino. Ao ano de 2002, o prédio foi tombado pelo Governo do Estado de São Paulo.[2][1]

Durante o período da Primeira República, ocorreram algumas reformas no sistema educacional do país, como por exemplo a inserção de séries que separavam os alunos por idade. Com isso, no período entre 1890 e 1930, o governo paulista levantou um grupo de cerca de cento e setenta escolas estaduais. Essas foram as primeiras escolas públicas de São Paulo, representantes do primeiro plano educacional do Brasil e foram chamadas de Grupo Escolar. A E.E.P.G. Campos Salles faz parte deste grupo escolar, sendo fundada em 1911. O prédio localizado no tradicional bairro japonês da Liberdade, no centro da capital paulistana, serviu como instituição de ensino primário até a década de 90, quando sofreu um incêndio ao final de um ano letivo.[1][3][4]

Em 31 de dezembro de 1992, o prédio do colégio estadual Campos Salles foi invadido por quatro ex-alunos pré-adolescentes, que causaram um incêndio. Os alunos se justificaram alegando que sofreram injustiças no colégio enquanto estudavam nele e que o incêndio seria uma forma de vingança contra os professores que os injustiçaram. O incêndio atingiu principalmente a cobertura, forros e piso do prédio e o deixou em risco de desabamento, o que encerrou as atividades educacionais do local. Os alunos foram realocados para as escolas vizinhas E.E.P.S.G. Presidente Roosevelt e E.E.P.S.G. Caetano de Campos. Uma curiosidade sobre o fato é que após o incêndio, as roupas dos ex-alunos invasores foram estendidas em um varal nos fundos do pátio.[5]

Características Arquitetônicas

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Porta dos fundos

A E.E.P.G. Campos Salles segue o modelo arquitetônico do Grupo Escolar, trazendo características de uma arquitetura monumental e edificante, que proporciona à escola primária finalidades políticas e sociais, com o objetivo de propagar o regime republicano. Foi projetada pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi em um primeiro momento. O arquiteto é conhecido pelo seu estilo floral. Depois sofreu influências de arquitetos do Departamento de Obras do Estado, recém-criado na época.[2][6]

As primeiras escolas públicas paulistas eram inspiradas em modelos ecléticos e neoclássicos europeus. Possuíam até dois andares e cerca de oito a vinte salas de aula, que eram moduladas e as carteiras dos alunos, que sentavam em dupla,  eram fixadas no chão e eram divididas por corredores centrais. As plantas de quase todas as escolas do Grupo Escolar eram em forma das letras U ou H -no caso da Campos Salles, em H, e as escolas diferenciavam-se apenas pela fachada. Os materiais utilizados na construção foram telhas e tijolos de barro e taipa, mármore e madeira no piso, divisórias e portas.[7]

Mas diferentemente dos modelos europeus, as escolas públicas paulistas da Primeira República não possuem espaços de moradia para zelador, auditórios e espaços propícios para aulas de ginástica. Até o ano em que encerrou suas atividades, A escola Campos Salles não havia incluído em seu prédio esses espaços, contando apenas com um pequeno pátio descoberto nos fundos.[7]

O terreno da E.E.P.G. Campos Salles possui uma área de mil quinhentos e vinte e três metros quadrados e sua construção tem uma área de mil seiscentos e trinta e dois metros quadrados.[8]

Significado Histórico Cultural

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Por fazer parte do Grupo Escolar, a Campos Salles carrega em sua história uma marca de inovação na educação do país. Sua criação trouxe a proposta de obter características da escola graduada, que classificava alunos por seu nível de conhecimento, dando origem às classes e séries. Esse modelo já era seguido por diversos países da Europa e Estados Unidos, a fim de implantar a educação popular. Tal mudança no sistema de ensino trouxe a implementação de matérias simultâneas, horários estabelecidos, calendário de aulas, sistema de avaliação, exames finais, divisão do trabalho docente em cargos como diretores, coordenadores, orientadores, supervisores e professores e então surgiu a necessidade de criação de prédios com várias salas de aula, capazes de abrigar todas essas mudanças.[9]

A Campos Salles possuía ensino primário, que nesse novo sistema, oferecia um programa com matérias que proporcionavam a educação física, intelectual e moral. Foi nessa época também que a escola passou a assumir a função de formação social, ao ensinar regras de comportamento bem como práticas higiênicas, modos de boa educação e importância do trabalho, gerando o desenvolvimento da sociedade capitalista, principalmente em espaços urbanos. O ensino passou a ser educação, em vez de instrução. A rigidez disciplinar exigida aos alunos também é uma das marcas desse novo sistema, pois acreditava-se que isso contribuía com a formação integral da criança, que foram reconhecidas como seres em desenvolvimento. O Estado de São Paulo foi pioneiro no que diz respeito aos Grupos Escolares e mais tarde, esse sistema se espalhou para outros estados brasileiros. Os republicanos se apropriaram dessa reforma educacional para afirmar a distância de tempos passados e menos civilizados.[9][10]

Ao possuir esse significado histórico e cultural de caráter inovador e por suas características arquitetônicas expressas pelo conjunto de edificações de prédios escolares voltados para o ensino público, a E.E.P.G. Campos Salles entrou para o grupo de bens tombados do Estado de São Paulo no ano de 2002, que visou a preservação da representatividade da arquitetura escolar erguida durante a Primeira República.[2]

Processo de Tombamento

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No ano de 1996 foi iniciado o processo de tombamento da E.E.P.G. Campos Salles, anexado ao processo de tombamento de cento e sessenta e duas escolas do Estado de São Paulo, conduzido pelo Condephaat, ou Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo. A princípio, o processo foi protestado pela então Secretária da Educação Rose Neubauer da Silva, por conta do elevado risco de desabamento decorrente do incêndio e por dispensar uma reconstrução para fins de retomar a função educativa, tendo em vista que as demandas escolares já haviam sido atendidas por duas escolas próximas, que também faziam parte do Grupo Escolar.[11]

A diretoria técnica do Condephaat realizou uma vistoria no mês de julho do mesmo ano para verificar os danos causados pelo incêndio de 1992 e concluiu que, apesar de danos causados a detalhes decorativos em relevo, que seriam interessantes ao preservamento, o tombamento ainda seria pertinente, pois poderia ser reformado de acordo com imagens antigas do colégio, mantendo assim seu estilo arquitetônico preservado. Um engenheiro também foi chamado para fazer a segunda vistoria, que aconteceu em abril do ano seguinte, e fornecer um laudo alegando que o incêndio não havia comprometido definitivamente o edifício.[11]

Hall em reforma

No entanto, a Fundação para o Desenvolvimento Escolar, ou FDE, não possuía quaisquer intenções de reforma ou reconstrução do prédio onde funcionava a Campos Salles e havia até uma intenção de demolição por acreditar que a estrutura estava totalmente comprometida após o incêndio. O Condephaat então solicitou uma reunião com a FDE a fim de propor outra solução que não a demolição do prédio, mas não só de restauração, como também de uso, tendo em vista que o prédio não era mais necessário para atividades escolares.[11]

A terceira vistoria foi realizada em outubro do ano de 1998 pela diretoria técnica do Condephaat, após uma imobiliária conseguir a autorização do então governador Mário Covas para a venda do terreno, sob o argumento de que o edifício era irrecuperável. Foi enviada uma carta à Secretaria do Governo contestando a autorização da venda, pois o prédio já estava em estudo de tombamento e que, caso fosse restaurado, faria parte de um grupo de mais cento e sessenta e uma escolas públicas tombadas. Foram usados também argumentos de comparação a outros bens incendiados que foram recuperados e reutilizados, como o Theatro Pedro II de Ribeirão Preto e a antiga Casa Ramos de Azevedo, no próprio bairro da Liberdade.[8]

A Imprensa Oficial também pressionou o Governo do Estado em prol da restauração do prédio, alegando que nada havia sido feito para reparar os danos causados desde o incêndio, acumulando resíduos e grande quantidade de sujeira e que isso deixava cerca de três mil e quinhentos alunos da E.E.P.S.G. Presidente Roosevelt expostos aos estragos e risco de desabamento, além do descontentamento da população local com o descaso por parte das autoridades.[8]

Uma nova carta foi enviada às autoridades pelo próprio presidente do Condephaat, na qual uma outra vistoria foi solicitada para depois da limpeza do local e foi feito um orçamento de um milhão de reais para a recuperação do prédio. Após sofrer as referidas pressões, o Governo do Estado cedeu ao tombamento da E.E.P.G. Campos Salles, bem como sua restauração. O processo de tombamento do prédio teve sua concretização pelo Condephaat em 29 de julho de 2002 e no ano de 2014, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP) reconheceu o processo também como tombamento municipal. O número do processo é 24929/86 e está disponível para consulta digital.[8][12]

Atualmente, o prédio tombado onde funcionava a E.E.P.G. Campos Salles está passando por uma reforma projetada pelo arquiteto Victor Hugo Mori, especialista na área de restauração de bens de interesse histórico e com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, da Prefeitura do Município de São Paulo, do Condephaat e da Lei de Incentivo à Cultura, abrigará o Museu de Arte Moderna Nipo-Brasileira Manabu Mabe, em homenagem ao pintor de mesmo nome, que tinha o sonho de ter um museu para expôr suas obras.[13][14]

Museu Manabu Mabe

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A reforma na antiga Campos Salles começou no ano de 2008 e dará lugar ao Museu Manabu Mabe, que contará com diversas salas de exposição permanente das obras do pintor japonês Manabu Mabe e de outros artistas nipo-brasileiros, além de exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais. Também serão expostas obras de outros artistas de países asiáticos tais quais Tomoo Handa, Tadashi Kaminagai, Yoshiya Takaoka, Flávio Shiró, Tomie Ohtake, Jorge Mori, Tikashi Fukushima e Kazuo Wakabayashi. Além das salas de exposição, a reforma promete um auditório com capacidade para duzentas e cinqauenta pessoas, a fim de receber diversos eventos artísticos como palestras, workshops, congressos e exibição de vídeos, filmes e peças teatrais. O projeto propõe também salas de cursos e oficinas de arte, como cerâmica e aquarela.[14][15]

Referências

  1. a b c «Processo 24329-86» (PDF). Escolas da Primeira República. 16 de novembro de 2016. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  2. a b c «Ficha de Identificação». www.arquicultura.fau.usp.br. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  3. «A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA PRIMEIRA REPÚBLICA: A PERSPECTIVA DE LIMA BARRETO. Artigos. História, Sociedade e Educação no Brasil - HISTEDBR - Faculdade de Educação - UNICAMP». www.histedbr.fe.unicamp.br. Consultado em 17 de novembro de 2016 
  4. «Tombadas 126 escolas, as primeiras da República - São Paulo - Estadão». Estadão 
  5. «Violência e Educação» (PDF). Consultado em 16 de novembro de 2016 
  6. Schueler e Magaldi, Alessandra e Ana Maria. «Educação escolar na Primeira República: memória, história e perspectivas de pesquisa» (PDF). Consultado em 16 de novembro de 2016 
  7. a b Carvalho, Telma. «Arquitetura escolar inclusiva: construindo espaço para educação infantil». Consultado em 16 de novembro de 2016 
  8. a b c d «Processso 24929/86 - Vol. II» (PDF) 
  9. a b «GRUPO ESCOLAR . Glossário. História, Sociedade e Educação no Brasil - HISTEDBR - Faculdade de Educação - UNICAMP». www.histedbr.fe.unicamp.br. Consultado em 23 de novembro de 2016 
  10. Souza, Rosa Fátima de (1998). «Templos de civilização: a implantação da escola primária graduada no Estado de São Paulo (1890-1910)». São Paulo: UNESP. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  11. a b c «Processso 24929/86 - Vol. I» (PDF). Consultado em 16 de novembro de 2016 
  12. «RESOLUÇÃO Nº 29» (PDF). CONPRESP. 2014. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  13. «Instituto Manabu Mabe». Consultado em 23 de novembro de 2016 
  14. a b «Conheça o Museu Manabu Mabe». www.mabe.com.br. Consultado em 23 de novembro de 2016 
  15. «Prédio de antigo colégio deve dar lugar a museu na Liberdade - BOL Notícias». noticias.bol.uol.com.br. Consultado em 23 de novembro de 2016 
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